O Leão e o Macaco escrita por Aldemir94


Capítulo 1
Capítulo 1




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Em uma certa savana da mãe África vivia um poderoso leão, cujo rugido afugentava até os mais valentes animais que ousassem cruzar seu caminho.

Suas patas pisavam a terra de forma solene, sua pelagem macia gerava admiração de todos os outros animais e sua exuberante juba reluzia ante a luz do dia, como se fosse inteiramente feita de ouro.

Além de muito belo, o grande leão tinha garras afiadas que diariamente davam fim aos pobres coitados que eram escolhidos como presas do nobre felino.

Por essas e inúmeras outras qualidades, não havia criatura naquela savana que olhasse para aquele animal tão nobre e duvidasse de seu direito natural ao comando, pelo qual todos o saudavam como o quase divino rei de todos os animais, fossem eles da África ou de qualquer outro ponto do planeta; aquela fera era tão majestosa que deveria ser reconhecida como soberana de todos os seres vivos do mundo inteiro! 

Infelizmente, apesar de todo o reconhecimento que recebia por suas louváveis virtudes, o grande leão era acometido por uma insuperável arrogância.

Devido a esse mal, a fera rodeou-se de animais tolos e interesseiros, que desejavam apenas obter prestígio às suas custas e fugir dos acessos de fúria do grande felino.

 Para piorar, o leão tinha o costume de maltratar os animaizinhos menores, embora ainda recebesse tratamento respeitoso da parte deles.

O felino puxava a cauda dos macaquinhos, ameaçava devorar seus filhotes (pois adorava ver suas expressões de pânico), derrubava certas árvores onde passarinhos faziam seus ninhos, estivessem ou não com ovinhos para chocar, dentre outras inúmeras maldades.

Era vergonhoso que alguém tão grande fosse capaz de atos tão indignos, mas aquele leão era demasiado ignorante: tinha à sua volta apenas os animais mais tolos e mesquinhos que só tinham por habilidade elogiar seu poderoso mestre e paparicá-lo sempre que fosse conveniente.

Um dia, quando estava entediado, o grande leão derrubou uma árvore antiga, onde vivia uma mamãe macaca, seu esposo e seu filhote único.

Enquanto seu séquito ria a valer, o leão disse a pobre família:

— Esta árvore bloqueava minha vista, agora sumam da minha frente, antes que eu os devore!

— Os céus o punirão, monstro! – berrou mamãe macaca – Hoje seus rugidos são de alegria, mas amanhã serão de lamento!

— Tirou nossa casa sem motivo, fera ingrata! – disse papai macaco – Nenhum mal fizemos a você! Acaso não reconhecemos sua autoridade e elogiamos tuas virtudes? Por qual razão nos fizeste tamanha maldade?!

—Silêncio! – gritou o leão, rugindo tão poderosamente, que fez a própria terra estremecer.

Tremendo retaliação por terem ofendido o felino, a família de macacos correu dali, levando consigo seu filhotinho, cujo braço direito estava ferido devido a queda.

Enquanto os primatas se distanciaram, o leão percebeu o olhar de pavor do pequeno macaquinho, o que fez a fera rir até não poder mais.

Dois dias depois, o grande leão saiu para observar seus domínios, desde o Kilimanjaro até o lago onde todos bebiam.

Após saciar a sede, o exuberante animal resolveu passear junto de seu séquito de paparicadores quando, inesperadamente, caiu em um buraco e ficou preso.

No começo seus servos ficaram assombrados com o fato, porém, quando perceberam que isso os livrava de um tirano cruel e arrogante, puseram-se a dançar e cantarolar.

O leão pediu por ajuda, mas tudo o que recebeu de seus “leais súditos” foram cusparadas e palavras de ofensa:

— Pobre gatinho! Quer que o tiremos desse buraco? – disse um pássaro do séquito – Pois é melhor se acostumar com ele!

— Olhem só, o poderosos rei! – zombou um javali – Não parece mais tão poderoso quanto antes, não é verdade, amigos?

Após ridicularizarem seu antigo mestre por mais algum tempo, os animais que tanto o louvaram e exaltaram, jogaram-lhe pedras e depois foram-se para suas tocas, deixando o pobre leão sozinho.

Três dias se passaram e nenhum animal se dispôs a ajudar o grande felino; ele havia sido demasiado perverso para que alguém fosse capaz de sentir qualquer pena dele.

Enfraquecido, o leão entrou em desespero, sabendo que em poucos dias morreria de fome ou sede.

De repente, da forma mais inesperada quanto possível, apareceu o pequeno macaquinho, com uma tala no braço enrolada por cipós, que se pôs a olhar nos olhos daquele que, poucos dias antes, havia trazido a tragédia para sua família:

— Onde estão teus criados, grande leão? – perguntou o filhote.

— Foram-se – respondeu o felino.

— Onde estão teus amigos, grande leão?

— Eu tive bajuladores – respondeu o leão –, mas jamais encontrei um amigo.

— Onde está todo o teu poder, grande leão? – perguntou o humilde filhote.

— Sem liberdade não há poder – lamentou o leão – E eu não tenho mais liberdade .

— E para onde foi tua liberdade, grande leão? Foi tomada por este buraco?

— Não – respondeu o leão – Minha liberdade foi tomada por minha arrogância, porque nos dias de glória não fui bom para os outros animais.

Nesse momento o macaquinho pegou algo e atirou em direção ao leão, que se encolheu, temendo que fosse alguma pedra.

Quando fitou o objeto atirado, percebeu que não era uma pedra, mas uma escada feita de cipós e galhos de árvore.

Após sair do buraco, o grande leão se desculpou com o pequeno macaquinho e buscou compensar todos aqueles que havia prejudicado.

Com o passar do tempo, os animais passaram a ver seu grande soberano com olhos não mais carregados por medo, mas respeito legítimo e amor sincero.

Quanto aos bajuladores, como o grande leão não via mais utilidade para eles, resolveram partir para outras terras, onde seus elogios vazios e sorrisos falsos encontrassem serventia para alguém cujo caráter se assemelhasse ao deles.



Fim


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