Bird on a Wire escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 1
Bird on a Wire




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Já era madrugada quando pôde fechar os olhos e sentir os poros se abrindo lentamente, sob a água quente na banheira de ferro vermelho. Fazia três dias que não descansava, organizando as tropas, distribuindo instruções e combatendo o exército inatural do Lorde Sombrio. 

O cansaço era apenas físico, contudo. Seu objetivo maior continuava intacto, intocado em sua determinação de derrotar o mal maior que habitava a Terra-Média, mas como Elrond havia apontado, logo suas decisões se tornariam dúbias e reflexivas de sua exaustão. Por isso, de nada adiantaria continuar em campo naquele momento, empurrando seus limites ao extremo. 

A barraca instalada apenas para ela, junto à encosta de uma montanha, não era grande, mas lhe soava bastante confortável para preservar sua privacidade e a dignidade de seu posto de comandante. Além da banheira instalada junto a um biombo de madeira, adornado com floreios de cenas de guerra pateticamente poéticas, rodeada por toalhas e roupas mais leves do que a armadura diária que a mantinha em estado de alerta constante, havia uma cama de madeira, mais do que a maioria dos meros soldados possuíam, um baú pesado com seus pertences e uma mesa de madeira repleta de mapas e anotações referentes à guerra.

Optou por deixar a iluminação mais baixa, apenas um dos lampiões acesos junto à sua cama, a fim de tentar fazer sua mente se desligar de toda a adrenalina da batalha daquele dia. Ainda era capaz de sentir em seu corpo o reflexo da urgência, dos pés se afundando em palmos de barro sujo, do sangue orc se infiltrando em sua pele clara junto à terra e o suor de horas combatendo, da sensação de enfiar a lâmina no inimigo e vê-lo sucumbir à sua frente, da vontade de não parar até ver o último cair. Bem como seu líder. 

A guerra não deslumbrava à Galadriel, mas era inundada com cada nuance dela. Escolhera assim e, há séculos, mesmo que soubesse tudo o que se seguiria depois, não teria escolhido diferente; não conhecendo a história de quem se levantara contra o obscuro. Mas, às vezes, no silêncio da madrugada escura, na expectativa do nascer de um dia e na iminência de mais um combate, desejava que fosse o último. Todos os dias, ainda que racionalmente soubesse que isso não estava nem perto de ser alcançado, desejava que fosse o fim. Às vezes, para bem ou para mal, tão esgotada se encontrava. 

— Gosto de estar aqui.

A voz suave e conhecida cortou a cabana e Galadriel tencionou cada músculo, não se impedindo de levar as duas mãos até as bordas da banheira, como que para se manter estacada. Havia deixado de ser tão impulsiva, mas ainda via alguma dificuldade em se manter no controle. Tentou normalizar a respiração e levantou o queixo, se voltando para a figura alta junto à mesa de anotações. Fosse comum como os homens e imortais que a rodeavam, teria ouvido sua chegada, no mínimo, mas ele não era nada como os outros. 

Ele analisava os mapas ali com aparente desinteresse, as chamas alaranjadas do lampião brilhando de maneira sombria nos olhos azuis, que assumira para tentar impressioná-la, nas feições de aparente cavalheiro em que costumava aparecer para ela. Para tentá-la. Por alguma razão, ele sempre voltava para vê-la, provocá-la, tentar semear uma semente de dúvida em sua mente. Sabia que era um de seus costumes, ludibriar os grandes senhores sobre os quais tinha interesse, mas também tinha a impressão de que, ali, havia algo de diferente. 

Observou quando se voltou à elfa, os olhos faiscando em frieza e algo mais. Em Halbrand, eles pareciam, simplesmente, astutos. No Senhor do Escuro, eram cortantes e perturbadores - de uma forma que, realmente, a fazia tremer por dentro. Tinha impressão de que ele tinha conhecimento disso, Sauron costumava enxergar e se aproveitar das fraquezas de quem tentava enganar. 

— Gosto de estar entre os humanos. 

Ele completou, começando a se aproximar, sem pressa. Não havia nada que pudesse fazer contra ele, não fisicamente. Galadriel era uma guerreira, apenas, não possuía grandes poderes místicos que justificassem um embate direto. Ela perderia e seu exército ficaria à mercê da crueldade que ele vinha demonstrando em campo. 

— Porquê? - Perguntou tão baixo quanto. 

— Tem algo… No medo percorrendo em suas veias, que me lembra, como é… Sentir uma emoção assim. - Ele deu a volta na banheira, os olhos nunca a deixando e nem ao seu corpo, como que decidindo qual seria seu próximo passo. - É interessante o quão distante é, no entanto. Como se… Pudesse apenas contemplar de longe. 

Ele divagava com ela como se divagasse com uma amiga, o que detestava. Não era a primeira vez que aparecia naquela forma e sempre odiava a intimidade com que falava, com que a olhava e, principalmente, com que a desejava. Apesar de tudo, quando o via fazer isso, tendo-a como alvo, conseguia sentir a reação física ante tudo que era lógico e estabelecido sobre aquela criatura. 

— O que faz aqui? 

O acompanhou levar as mãos às costas, desejando que tivesse uma adaga próxima à mão para apunhalá-lo em seu coração. Apesar da aparência de Halbrand, ele não se vestia mais como o ferreiro sem terras, mas como um lorde, todo em negro. Gibão, botas de couro e calças normais, de aparência cara. Nada de armaduras, no entanto, como se um dia não tivesse sido o tenente de Morgoth ou fosse, agora, o arquiteto de todo o mal que habitava a Terra-Média. 

Ele sorriu, aparentando julgá-la tola e meneou a cabeça, decidindo se acomodar na borda da banheira de ferro, logo ao seu lado, a posição claramente superior à sua. Mais uma demonstração de poder, mais um passo para a intimidade indesejada que ele insistia em deixar claro que possuíam devido a tudo o que aconteceu, desde que foram resgatados e levados para Númenor. Às vezes, pensava naquilo, tentando ignorar a pontada distante em seu peito, julgando a peça de pouco humor que o destino a pregara. 

Inclinando a cabeça de forma que os fios castanhos também o fizessem, ele observou as gotas d’água em seu pescoço, escorrendo para a água turva que cobria seu corpo. Não tinha vergonha de sua nudez ou qualquer coisa relacionada à tanto, mas o olhar dele parecia ser capaz de enxergá-la para além do que podia ver, como se, de fato, a conhecesse e ao seu corpo. 

— Esta guerra… Já dura muito tempo, Galadriel. - Ele praticamente murmurou, levando um dos longos dedos à sua clavícula, a maneira calma como falava refletida  na paciência com que carregava uma gota d’água pela pele molhada, subindo pelo pescoço até que sumira em meio ao contato. Embaixo disso, seus ombros tencionaram e ela engoliu em seco. - Mesmo você sabe disso. 

— Só haverá paz quando você estiver derrotado. 

Ele sorriu um pouco mais, os dedos seguindo para sua mandíbula bem desenhada e levantando seu rosto de forma lenta, como que examinando suas feições delicadas de maneira calma, exercendo um direito inexistente de reivindicá-la. Galadriel quis enforcá-lo, ao mesmo tempo em que desejou chorar pela impotência e pela frustração de como se sentira enganada após a descoberta da verdadeira identidade dele, ainda que houvesse acontecido anos antes. 

— Há um jeito, Galadriel. De poupar a vida de seus soldados. Um jeito em que eles podem voltar para a casa, para as suas famílias e seus próprios negócios… Sem luta.  - Enquanto falava, os dedos se instalaram de vez em seu queixo, sem força ou subjugação, como uma cobra.  - Está em suas mãos. Sempre esteve. 

A elfa respirou fundo e fechou os olhos ante o toque quente, se espalhando como ferro por sua pele e, consequentemente, suas veias. Agora que conseguia vê-lo para além da aparência de homem, era capaz de sentir a energia poderosa a dominando através de cada poro seu, se aproveitando de sua decepção inicial por ter se deixado enganar como uma humana tola. 

Antes, acreditava que homens e mulheres sem qualquer tipo de instrução mágica estavam mais à mercê dos discursos, promessas e presentes de Sauron, mas ele sempre voltava para provar à Galadriel que ela já estivera naquela posição, mais de uma de vez, explorando sua fraqueza e até seu desejo.

— Vá embora. 

Desejou que fosse da mesma forma que chegara, em silêncio e sem se despedir. Mas, ao contrário disso, o Lorde Sombrio se inclinou mais, de forma que suas respirações se misturavam e os fios de cabelo dele pudessem tocar seu rosto. Quis se afastar e se deixar levar por ele quase que na mesma medida, embora seu instinto sempre a refreasse. 

— Você pode conceder a eles a misericórdia que tanto desejam. - A mão dele se infiltrou em sua nuca, firmemente se enredando junto aos longos fios longos de seu cabelo, que escorria molhado pelas costas, perdendo-se na água da banheira ainda quente. - E se seus soldados descobrissem que vem escolhendo não poupá-los, há anos, por mero orgulho? 

— Você não é misericordioso, Sauron. 

Declarou duramente, mais para lembrar a si mesma do que para atacá-lo de fato, abrindo os olhos para enxergar o breve divertimento que perpassou nos olhos dele, sombreados mais em cinza do que azul pela falta de luz de sua cabana. 

Ele se aproximou o suficiente para fazê-la ofegar, como um igual dela seria capaz de fazer, o nariz encontrando o seu de forma tão leve que fez seus lábios formigarem em falsa expectativa, até que fechou os olhos e a sensação de ser engolida pela própria mente cresceu em torno de si mesma. 

Ao abri-los novamente, esperando vê-lo, não havia mais água quente, banheira ou cabana silenciosa. O vento frio balançava seus cabelos e arrepiava seus poros, de maneira quase fantasmagórica. Adentrava o grande salão de pedra negra por uma abertura na parede ao norte, logo atrás do grande trono de aparência pesada que se levantava de maneira imponente, metros acima de onde estavam, em um assento espaçoso e um espaldar repleto de lanças pontiagudas de todos os tamanhos, certamente projetado para chamar a atenção e proclamar respeito até de quem estivesse mais longe. 

A pedra negra do chão e das paredes, a forma arredondada daquele ambiente e o modo como o céu se estendia escuro e sem vida do lado de fora, fizeram com que imediatamente soubesse onde se encontrava, sem que tivesse realmente saído do lugar. Deu a volta em si mesma, notando como suas roupas sempre claras contrastavam com a aparência obscura e opressora dali, o vestido esvoaçante gritando que não pertencia àquele lugar. 

O silêncio era perturbador e nem mesmo os passos do Senhor daquele espaço ecoaram quando a rodeou, as mãos juntas às costas, os olhos azuis e ludibriantes sem deixá-la por um momento, como que contemplando-a em seu território, abaixo de seu Trono, até estacar às suas costas e alcançar seus cabelos claros, sem permissão ou cerimônia para deixar seu pescoço livre.

— Fique ao meu lado… Galadriel. - Ele sussurrou em seu ouvido, as mãos se apossando de seus ombros com calma deliberada, o hálito quente a inundando de sensações tanto quanto os dedos viajando por seus braços, se aproveitando das aberturas no tecido delicado para encontrar sua pele em uma familiaridade que apenas seu marido tivera. - Seja a misericórdia para o meu reino. É mais do que jamais alcançará, se esta guerra se estender por mais tempo. 

Novamente, gostaria de poder estar apta a lutar contra ele, mas Sauron era tão poderoso que conseguia sentir a magia escura quase que esmagando-a e às suas convicções. Ele seria capaz de acabar com ela sem muito esforço, ainda que as chances tivessem escorrido entre eles ao longo dos anos sem que ele demonstrasse tal vontade. 

Engoliu em seco e, em seus olhos, teve a exata imagem de como se parecia ao lado dele. Como que num espelho, conseguia enxergá-lo atrás de si, indistintamente contrastante, mesmo que a tocasse com aparente familiaridade, vestido em negro, como que uma externação da alma tão escura quanto que o habitava. Centímetros mais alto, olhando-a de volta no reflexo de sua mente, de maneira firme, parecia imponente, como sempre imaginara o mal relacionado à ele. Junto dela, de pele mais clara, cabelos quase brancos e vestes tão delicadas quanto as feições enganadoras que a pertenciam, soava ainda mais dissonante.

Contudo, de certa forma e relutantemente, ainda se formava uma imagem poderosa. Ao menos em sua mente, ligeiramente controlada por Sauron, eles pareciam se encaixar um no outro, mesmo que em propósitos e crenças muito díspares. Ele abaixou os olhos para o espaço livre em seu pescoço, quase que distraído por ela, e Galadriel piscou, abaixando a visão lacrimosa enquanto os próprios dedos se moviam uns contra os dedos em uma ansiedade e nervosismo que apenas ele era capaz de causar, o efeito de sua presença mais perturbador e questionador do que jamais admitiria. 

— Se… Eu fizesse tal escolha, perderia todo o propósito que o leva a me querer ao seu lado. Eu enxergaria apenas você. Pois é isso o que faz com seus súditos, seu exército e seus aliados, que ouvem, veem e vivem apenas você. - Galadriel tremeu ante a fraqueza que a verdade daquelas palavras denotavam, pois conhecia a si mesma. Se se deixasse cair naquele precipício, seria de forma tão completa e sem retorno que a assustava.  - Você os cega para todo o resto. 

Ele sentiu e apreciou o efeito, os dedos espalhados no espaço nu e particular demais entre seu ombro e o pescoço. Podia vê-lo se concentrar naquele ponto de seu corpo, os olhos baixos, como se desejasse se infiltrar ali - ou, talvez, nela inteira. Invés disso, o viu apenas levar a boca à sua orelha pontuda novamente. 

— É o seu destino tocar a escuridão, Galadriel. 

Ele murmurou de maneira firme, fazendo-a tremer novamente. Por um momento, não soube se estava ali, naquele salão espaçoso e ecoante da Torre Negra de Mordor, ou se estava na banheira de água quente em sua cabana. 

— Você não quer, apenas, que eu toque a escuridão. - Disse de volta, novamente sentindo os dedos dele se enredando em seu peito e, por fim, seguindo para seu pescoço, concentrando-se, ao mesmo tempo, no toque surpreendentemente calmo e na estratégia do movimento. - Quer que eu me inunde nela. E, por fim, em você. 

— Eu estou bem aqui, comandante. - Ele continuou, sem se importar com sua constatação, porque era a maior verdade sobre ele. A boca, finalmente, alcançou seu ouvido enquanto a seduzia. O toque era superficial, mas tão presente, que foi como se algo dentro dela, estrondosamente, se quebrasse ante o contato com o proibido. - Nós podemos ser diferentes… Juntos, podemos ser maiores e mais poderosos do que qualquer um que esta Terra já viu. Basta que você queira, como vejo que quer. 

Ainda se recordava da inevitável negação que, por um segundo, a tomara e a fizera até conceder a ele uma mínima chance de dar uma explicação a toda aquela trama que se desenrolava perante ambos. O destino, que antes exaltara sem que ele, na forma de Halbrand, pudesse dizer qualquer palavra sobre, explodira em sua face, como um balão repleto de água, ao ver a postura e os olhos dele ganharem um brilho mais imponente e antigo. 

Naquele momento, ele já era tão especialista nela que não demorou a enxergar como desejava que aquilo não fosse verdade e era exatamente o resquício de tal desejo que, sempre, levantava contra ela, mesmo depois de anos - pois sabia, ainda que com o passar do tempo, como aquela decepção - com ele e com ela - habitava fundo em seu ser, sem que pudesse lutar contra. 

Galadriel prendeu a respiração, vagamente se lembrando de outra ocasião, quando ele a ludibriou após lutarem lado a lado. Por muito tempo, se perguntou se o sentimento expressado por ele, naquele instante, era real, se no mínimo estava contaminado pela adrenalina pós-batalha. No que dissesse respeito à Sauron, jamais poderia ter certeza, assim como não poderia deixar que ele desse voz às suas vontades - mesmo as mais dúbias. 

Se afastando de maneira abrupta do corpo dele na Torre Negra, viu-se novamente na banheira de ferro em sua cabana e, embora atordoada, ainda na água, se voltou rapidamente à criatura com aparência de homem que, já às suas costas, sussurrava mentiras tempestuosas demais para seu coração. 

— Eu nunca… Nunca… - Sussurrou entre dentes, sem se importar com a proximidade de seus rostos ou em como ele sequer parecia surpreso pelo movimento brusco, apenas acompanhando cada traço de seu rosto feroz sob o olhar azulado, mantendo as mãos na borda da banheira, ao passo que ela se colocara fora de alcance. - Vou me deixar ser perdida por suas palavras novamente. Você traz apenas maldição consigo e eu nunca vou perder minhas convicções por você, ainda que tente me cegar como a todos ao seu redor. Eu odeio você e odeio sua natureza escura. 

E odiava ainda mais que, em certo momento, tivesse se enganado por ele. Odiava também a si mesma por saber, lá no fundo, que houvera uma chance, ainda que mínima, de que pudesse ter sido diferente - se ele não a tivesse determinado como uma peça de interesse em seu jogo. E apenas a consciência disso a colocava em perpétuo estado de culpa. 

O sorriso se Halbrand se esticou ao descer os olhos para os seus e, depois, para sua boca, os cabelos lisos e castanhos escorrendo sobre as orelhas o conferindo um ar mais relaxado do que aquela que a criatura realmente possuía como Lorde Sombrio, uma aura quase leve, que não estava nem no brilho de seus olhos falsamente repletos de sentimentos e malignos em sua essência. 

— É por isso que a respeito, dentre tantos tolos ao seu redor. 

Ele murmurou sem se abalar e tentou levar os dedos aos fios molhados de sua franja loira e comprida, para livrar seu rosto. Porém, Galadriel alcançou seu pulso e o segurou, impedindo que a tocasse em provocação novamente. 

— Eu não preciso do seu respeito ou de qualquer outra coisa vinda de você. 

Então, ele simplesmente inclinou o rosto, apenas a mirando em seriedade, o silêncio os percorrendo nos segundos em que ele escolheu não dizer nada mantendo apenas suas respirações juntas. Imaginou se ele estava meramente contemplando ou tentando encontrar outro caminho para enganá-la, tremendo por isso. 

Se Sauron decidisse usar a força ou a arte de sua magia contra ela, não seria capaz de combatê-lo de igual para igual e ele sabia disso. Imaginava porquê nunca tentara subjugá-la daquela forma, mas era tão… Impossível desvendá-lo, que apenas as possibilidades sobre isso faziam crescer a ansiedade latente. 

Então, sem pressa, ele desvencilhou o pulso do aperto firme dos dedos dela e se colocou de pé, quase alto demais para o espaço da cabana. Novamente a olhava de cima, novamente mantinha aquela postura complacente, como se não soubesse o que fazer com uma criatura inferior, novamente alcançava seu queixo, o suspiro como uma extensão do toque, quase mais quente do que a água da banheira ao redor. 

— Você merece mais, Galadriel. Um dia, será capaz de enxergar. 

Os dedos dele seguiram para seus lábios, contornando-os com lentidão deliberada e, antes que pudesse se afastar ou, simplesmente, tremer pelo contato inesperado, o momento deixou de se prolongar e ele se foi, da mesma forma que chegou, não deixando qualquer indício de que estivera tão à vontade em território inimigo. 

Galadriel, por sua vez, apenas soltou a respiração e deixou cair os ombros, encostando a testa contra a borda da banheira, enquanto tentava processar o que acabara de acontecer. Todos os dias, desejava que fosse o último. 

FIM


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Notas finais do capítulo

[Respostando]

Olá!

Quem me acompanha sabe que, às vezes, a criatividade vem assim, do nada, e eu tenho que escrever.
A ideia para essa história me veio no logo nos primeiros eps de Anéis do Poder, quando Halbrand ainda era apenas Halbrand. É claro, nessa época, toda a cena teria um outro contexto, mas, com o episódio final, ele teve que ser mudado e ficou com base no diálogo que ocorre na mente da Galadriel.

A fic tem como base unicamente a série da Amazon, não os livros e nem os filmes. Ou seja, é a Galadriel da série e como eu encaro a forma como ela foi colocada em descrédito consigo mesma após ter sido ludibriada.

O nome da história é inspirado no música do Leonard Cohen na versão de Katey Sagal, caso queira procurar.

É a primeira vez que escrevo sobre o universo de Senhor dos Anéis e tenho que dizer que amei a experiência. Comentários são importantes para o autor sempre querer voltar para compartilhar esses surtos de criatividade, então me deixe saber sua opinião!

Até breve!



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