Lost: O candidato escrita por Marlon C Souza


Capítulo 34
Capítulo 34 - O culpado da culpa




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Era 1966, em Newport Beach, EUA. Juan Smith, um garoto de apenas 4 anos, filho de marinheiro, observava do lado de fora o agitado cenário do parto de sua mãe. Aterrorizado, ele chorava enquanto seu pai, vestido com uniforme militar, observava a esposa dar à luz. Ao notar o choro do filho do lado de fora, ele saiu do quarto, abraçou Juan e tentou acalmá-lo.

— Juan, acalme-se, está tudo bem — disse seu pai, segurando o menino nos braços.

Enquanto isso, dentro do quarto, o choro de uma criança recém-nascida rompeu o ar tenso seguido do silêncio da mulher que o deu à luz. A parteira segurava o bebê, anunciando com pesar: — Parabéns, papai, é um menino.

Animado, o homem adentrou o quarto, mas ao notar o olhar triste da parteira, logo percebeu a gravidade da situação. — Por que ela está calada? — ele perguntou, referindo-se a sua esposa, temendo a resposta.

— Eu sinto muito, mas ela não resistiu — disse a parteira, deixando o homem devastado.

— Não, por favor, não — ele murmurou, se aproximando do corpo de sua esposa, removendo seu chapéu de marinheiro e chorando amargamente. Juan, do lado de fora, observava a cena sem compreender completamente o que estava acontecendo.

— Senhor... — chamou a parteira, tentando trazer um pouco de normalidade àquele momento sombrio.

— Diga — respondeu o homem entre soluços.

— O senhor precisa dar um nome para a criança — explicou ela, segurando o bebê nos braços.

— David. Esse é o nome que ela queria — disse o homem, com tristeza evidente. Juan se aproximou do corpo da sua mãe e viu seu pai aos prantos. Ao perceber que seu filho se aproximava, o homem o abraçou rapidamente.

— Vai ficar tudo bem — disse seu pai, tentando confortar Juan, seu filho primogênito. O menino olhou para a parteira, que embalava o bebê em seus braços. David agora seria seu irmão, e seu pai, viúvo, teria que cuidar dos dois sozinho. Mas Juan sentia que aquela responsabilidade também seria sua, apesar de ter apenas quatro anos de idade.

No presente, em 2034, Juan olhava para todos ao seu redor, visivelmente perturbado. Embora fosse apenas um simples ritual, algo em seu íntimo dizia que não deveria participar.

— Desculpe, Aaron, mas não posso aceitar — declarou ele, atirando o copo ao chão com firmeza.

A decisão de Juan deixou todos os presentes chocados, sem entender o motivo de sua recusa.

— O que está acontecendo? — indagou Yan, impaciente com a situação.

— Simplesmente não posso aceitar ser guardião de nada. Na primeira oportunidade que tive, me uni a Wilbert, lembram? Só não posso aceitar e acabou — explicou Juan, antes de se retirar apressadamente.

Os outros ficaram olhando em silêncio enquanto ele saía, sem saber o que dizer. Aaron ficou pensativo por um momento, então virou-se para voltar ao seu aposento, despertando a curiosidade de Yan.

— Não vai atrás dele? — perguntou Yan, franzindo a testa.

— Não preciso — respondeu Aaron, deixando Yan ainda mais intrigado.

Juan caminhou por entre os arbustos e arvores até chegar num local onde estaria sozinho e longe de todos. Deitou-se ao relento após a discussão com Aaron sobre o ritual. Os outros membros do grupo jaziam distantes dele após o ocorrido, talvez para evitar mais problemas. Completamente cabisbaixo, Juan refletia sobre suas últimas ações e o quanto não merecia receber qualquer coisa, até que ouviu sussurros, o que o assustou.

— Quem está aí? — ele indagou, sentando-se e procurando por alguém. Os sussurros pareciam ecoar em sua mente, já que não podia ver ninguém. De repente, sentiu um toque em seu ombro.

Rapidamente, Juan olhou para trás e lá estava a alma de Elizabeth Smith, a Libby, sua cunhada.

— Olá, Juan — disse ela.

— Libby?! — ele indagou, com os olhos arregalados.

Era 1989, David voltava para casa animado com um ramo de flores em mãos. Seu irmão Juan, já com seus 27 anos já era marinheiro formado, seguindo o legado de seu também falecido pai que falecera no ano anterior. Seu irmão caçula, David, passou a ser de sua responsabilidade, pelo menos, na cabeça de Juan.

O mais velho colocava suas roupas de marinheiro, afinal, iria a uma missão oficial, enquanto seu irmão caçula iria apreciar a noite com a sua mais nova amada. Apesar de também saber conduzir a um barco, devido a influência de seu pai, David preferia ter seus pés em terra firme, diferente de seu irmão.

— Ah, essas flores são para mim? — Indagou Juan, rindo irônico, enquanto se aprontava no espelho.

— Eu conheci uma garota. — Disse David, com um sorriso estampado no rosto.

— É mesmo? — Ironizou Juan. — E qual o nome dela?

— Elizabeth.

— Ow, espera. Elizabeth que mora na rua acima? — Indagou Juan.

— Sim.

— Desculpa irmão, mas aquela mulher não me parece a mulher certa para você. Além dela ser mais velha que você, já foi casada duas vezes. E ela abandonou a faculdade por ter arrumado um problema gigantesco para a instituição ao se envolver com o diretor. Ouvi dizer que ela se acha a “psicóloga”. Mas nunca ajudou ninguém. Ouvi relatos também que ela não é muito sã da cabeça.

— Você ouviu relatos? — Indagou David, rindo. — Irmão, o passado dela não importa. Já estamos nos conhecendo há algum tempo e eu pretendo me casar com ela.

— Se casar? Está ficando maluco? Você acabou de a conhecer.

— E daí? Ela é a mulher dos meus sonhos. — Dizia David, sorrindo livremente.

— Já estou vendo que terei que te salvar de mais uma enrascada em breve.

— Não conto com isso. — Disse David, saindo.

Algumas horas depois, David jazia no restaurante esperando por Elizabeth. Ele estava animado para aquele encontro. Então ela finalmente chegou. Deslumbrante o que o fez arregalar os olhos de alegria. Ela se aproximou.

— Sente-se. Elizabeth. — Disse ele, com um sorriso no rosto.

— Ah, é claro. — Disse ela. — Pode me chamar de Libby.

— É um prazer finalmente poder conversar com você sem o stress do dia a dia, Libby.

— Sim, é verdade. — Disse ele, olhando fixamente para ela. Ela sem graça, olhou para as flores e indagou:

— E essas flores?

— Ah é verdade. São para você.

Juan observava do lado de fora do restaurante, vestido com suas roupas militares, o olhar carregado de preocupação. Ele viu David e Libby se aproximando, trocando sorrisos e gestos de carinho. Uma sensação de desconforto crescia dentro dele, pois Libby sempre parecera um pouco instável emocionalmente. No fundo, Juan não estava convencido de que ela era a pessoa certa para seu irmão. Desde a morte de sua mãe, Juan se via responsável por David, o que de certa forma, fazia ele se sentir pressionado a intervir na vida dele.

Quando David entregou as flores a Libby, Juan viu nos olhos dela um brilho que o incomodava, como se houvesse algo obscuro por trás daquela aparente felicidade. Ele sabia que precisava intervir, mas não sabia como. Então, Juan seguiu seu caminho, rumando a missão que lhe aguardava no batalhão.

Passaram-se alguns meses e, apesar das dúvidas de Juan, David e Libby se casaram. Juan decidiu não comparecer ao casamento, pois não queria ser parte de algo que ele acreditava ser um erro. Ele preferiu manter distância, observando de longe a relação dos dois se desenrolar.

Não demorou muito para que os problemas começassem a surgir no casamento de David e Libby. Juan continuava observando, vendo as discussões e desentendimentos se tornarem cada vez mais frequentes. Ele via a infelicidade estampada no rosto de David e sabia que precisava intervir, mesmo que fosse tarde demais. David àquela altura, já era um alcoólatra.

Um dia, Juan decidiu confrontar Libby, encontrando-a sozinha em um parque.

— O que você quer? — Indagou Libby, inquieta.

— Eu quero que você se divorcie do meu irmão. Você não o merece.

— Você não tem autoridade para decidir as coisas pelo seu irmão.

— Você não entende. Ele precisa de mim. Ele sempre precisou. Você se acha a psicóloga, mas está mais para uma louca que só destrói a vida dos outros, como fez com seus ex-maridos.

— Não te dei autoridade para falar assim da minha vida. — Disse Libby, completamente aborrecida com Juan. — A decisão é dele. Ele quer estar comigo, independentemente de como o casamento está indo. Se é só isso, pode ir, não tenho mais nada a falar com você.

— Estou avisando.

— Ou então o que? — Indagou Libby. — Se continuar me ameaçando, vou chamar a polícia.

Frustrado, Juan percebeu que não poderia mudar a situação e decidiu se afastar de vez, deixando David para lidar com seus próprios problemas.

Enquanto isso, no presente, em 2034, em Alexandria, na estação a Linha, Desmond esperava sentado em uma cadeira na grande sala de reuniões da Dharma, que havia sido totalmente reformada. Ainda estava pensativo sobre a fala de Rodolf. Uma mulher aproximou-se dele, oferecendo-lhe um café. Havia bastantes pessoas já trabalhando ali, afinal, a Dharma já estava a todo vapor.

— Aceita? — perguntou ela.

— Não, obrigado — respondeu ele, impaciente, olhando para o relógio a todo momento. Finalmente, Alvar chegou, com um sorriso sínico no rosto.

— Desmond, é um prazer revê-lo — cumprimentou Alvar.

— Você sabe muito bem mentir.

— O importante é que você veio.

— Você ficou cinco anos me cozinhando sem me dizer o que queria de mim, e hoje pede para eu comparecer aqui desse jeito? Eu não estaria aqui se você não me dissesse que era urgente — respondeu Desmond, visivelmente abalado.

— E é urgente, acredite. Vamos, temos muito o que conversar — disse Alvar, acompanhando Desmond pelos corredores da estação.

Era Janeiro de 2001 e David estava sendo sepultado, pois havia morrido na noite anterior. Sua vida com Libby tinha sido mais tumultuada nos últimos anos. Ele comprou um barco e o nomeou com o nome de Elizabeth, em homenagem a sua esposa, planejando velejar juntos pelo Mediterrâneo como um gesto de reconciliação. No entanto, Libby discordou da ideia, o que resultou em uma acalorada discussão, levando David a sair para beber, mas, naquela altura, David já estava em suas últimas, pois se continuasse, a cirrose o mataria, e assim, foi seu devaneio. Naquela mesma noite, David foi encontrado morto.

Toda a família Smith estava presente no enterro. Libby se aproximou de Juan e disse:

— Eu sinto muito mesmo

— Sente muito? Sente muito pelo que você mesmo causou? É um pedido de desculpas?

— Juan, eu...

— Não diga mais nada. Saia de perto de mim. Você é louca. Tornou a vida do meu irmão um inferno — respondeu Juan, amargurado e com os olhos marejados.

— Eu não o matei — defendeu-se Libby.

— Ele praticamente se suicidou na bebida porque brigou contigo na noite passada, não é? Você o atormentou por todos esses anos.

— Não, eu não fiz isso. Pare de me culpar. — Dizia Libby, aos prantos.

— Não se aproxime mais da minha família, está ouvindo? E tire esse sobrenome que não te pertence — disse Juan, afastando-se de Libby. Toda família Smith a olhava com olhares inquisidores. Ela começou a chorar amargamente, sentindo-se culpada pela morte de David. Enquanto isso, Eloise Hawking, que também estava presente no enterro, aproximou-se de Libby e disse:

— A culpa não é sua, minha querida.

— E se ele estiver certo? — questionou Libby.

— Acredite nas minhas palavras. Brevemente você entenderá tudo isso. Existe um propósito maior em toda essa confusão.

— Mas eu não entendo, o que a senhora quer dizer? Aliás, de onde conhecia meu marido?

— Não vim aqui por ele. Vim por você. Existem mistérios neste mundo que nós humanos não conseguimos explicar. Você encontrará um homem, daqui algum tempo, que precisará de algo seu. Dê a ele, pois ele vai precisar — disse Eloise, saindo.

— Espere, de quem está falando? — indagou Libby, mas Eloise apenas continuou seu percurso para fora do cemitério, sem dizer mais nada. Libby voltou a se lamentar, pois, apesar do peso das palavras de Eloise, nada fazia sentido naquele momento, mas a dor da perda de seu amado era real.

Um mês se passou desde o ocorrido. Libby estava em uma cafeteria e lá estava também Desmond. Os dois tiveram a oportunidade de se conhecer e se sentaram juntos, conversando sobre a corrida de barcos que Desmond planejava fazer para impressionar seu sogro. Desmond estava recém-chegado aos Estados Unidos após uma conversa com Roger no Reino Unido.

Uma luz se acendeu na mente de Libby ao ouvir sobre a corrida, lembrando-se da conversa que teve com aquela misteriosa mulher no enterro de seu marido.

— Eu tenho um barco. Era do meu marido, mas ele faleceu há cerca de um mês. Ele queria navegar pelo Mediterrâneo — disse Libby.

— Sinto muito — disse Desmond, olhando para ela.

— Eu quero que você fique com ele — disse ela, aparentemente confiando nas palavras de Eloise.

— Não posso pegar seu barco, senhorita.

— Mas você precisa. Ele iria querer que você fizesse isso.

— Qual era o nome do seu marido?

— David.

— E como ele nomeou seu barco?

— Elizabeth. Ele deu o meu nome.

— Então eu lhe agradeço, Elizabeth. E vencerei esta corrida pelo amor.

Dali, eles se despediram até o dia em que se encontrariam para ela entregar o barco a Desmond.

Voltando ao presente, em 2034, Juan ficou chocado ao ver Libby ali. Ele sabia que ela havia morrido no acidente do voo Oceanic 815, pelo menos era o que ele imaginava.

— Não posso dizer que é um prazer te rever, Juan — disse Libby. — Mas também não é um desprazer.

— Você está realmente aqui ou é fruto da minha cabeça? — indagou ele à ela.

— E isso importa? Você sabe por que estou aqui e agora?

— Já me convenci de que essa não é realmente uma ilha comum, mas eu senti algo estranho e me recusei a beber daquela água que Aaron me ofereceu. Que bobagem, era apenas uma água comum — comentou Juan, rindo de si mesmo.

— Se era apenas uma água comum, por que então não a bebeu?

— Porque eu senti que não era o certo. Como posso ser guardião desse lugar se nem do meu próprio irmão eu consegui cuidar? Eu o abandonei. Joguei toda culpa em você.

Libby o olhou de cima em baixo. — Juan, nenhum de nós dois somos culpados pela morte do David. Apenas aconteceu. Quando eu vim parar nessa ilha eu fui curada da culpa. Eu ouvia sua voz, Juan, na minha cabeça, me culpando, todos os dias, como um mártir. Doeu muito, mas fui curada.

— Eu sinto muito, Libby. Eu estava magoado demais aquele dia. Sei que não foi culpa sua — disse Juan, completamente abatido.

— Não precisa se desculpar, eu entendo que você se sentia como o protetor do seu irmão, por isso estamos aqui. Mas você precisa completar o ritual. A ilha precisa de você.

— Não, eu... Não tenho capacidade de proteger ninguém, Libby. Quando me vi sem saída, eu me juntei ao inimigo.

Libby sentou-se ao lado de Juan, olhando-o fixamente, e disse: — Eu não estou aqui de verdade, Juan. Mas apareci para você com um único propósito.

— O que? Como assim?

— Quero dizer, estar, até estou, mas não meu corpo físico. Eu morri, mas não no acidente, como já deve imaginar. Morri aqui nessa ilha. Na verdade, fui assassinada, longa história.

Juan olhava chocado para Libby, tentando entender o que realmente estava acontecendo ali.

Voltando à 2001, após os eventos trágicos, a saúde mental de Libby começou a se deteriorar rapidamente. Ela se sentia completamente abandonada pela família Smith e até mesmo por sua própria família, que não conseguia lidar com sua crescente instabilidade emocional. Libby buscou ajuda psicológica, mas a culpa pela morte de seu marido a consumia de tal forma que começou a agir de maneira irracional, ouvindo vozes que a acusavam, ecoando como a voz de Juan em sua mente.

— Chega — dizia ela, encolhida em um canto escuro de seu quarto, tentando afastar as vozes que a atormentavam.

A situação se agravou e Libby acabou sendo internada no Hospital Santa Rosa, o mesmo onde Hugo estava internado e onde Walt viria a ser internado mais tarde em 2008. As palavras de Juan haviam destruído completamente a vida de Libby, deixando-a à mercê de seus próprios demônios internos.

Libby passou três longos anos no Hospital Santa Rosa, lutando contra seus pensamentos obscuros. Depois de tanto tempo, ela conversou com sua psicóloga, explicando-a o que sentia de forma mais profunda e com uma pretensão em mente.

— Libby, entendo que você está passando por um momento extremamente difícil. É importante que você se permita sentir essas emoções, mas também é crucial que você busque maneiras saudáveis de lidar com elas.

— Eu sei, mas é tão difícil... Sinto como se eu fosse a culpada pela morte do David. Eu não deveria ter brigado com ele naquela noite. E isso tudo levou ele a se matar. Mas tivemos tantas outras brigas, a culpa foi minha. Juan estava certo.

— Libby, você não é culpada pela morte de David. O que aconteceu foi uma tragédia, mas você não pode se responsabilizar por algo que estava além do seu controle.

— Eu sei, mas as vozes... Elas não me deixam em paz. É como se fossem a própria voz do Juan, me acusando o tempo todo. Fora isso, me recordo, de uma senhora, no enterro de David me previu algo que de fato aconteceu. Nunca mais a vi.

— Libby, por favor.

— Não, realmente aconteceu. Eu entreguei o barco de David àquele homem desconhecido, exatamente como a senhora tinha previsto.

— Então tá, vamos imaginar no seu jeito, ok. Eu quero te dar alta, mas você precisa se livrar desses pensamentos intrusivos.

— Não são pensamentos intrusivos, são vozes reais. Eu as escuto.

— É compreensível que você se sinta assim, mas é importante lembrar que essas vozes não são reais. Elas são produto da sua mente tentando processar a dor e a culpa que você está sentindo.

— Doutora, eu quero alta. Tenho uma viagem importante para fazer. Vai espairecer minha mente e serei curada da culpa. Pelo menos, foi o que me disseram. — Disse Libby, sorrindo.

— Quem te disse isso?

— Um homem, ele não me disse seu nome, mas ele parecia como um anjo. — Dizia ela, sorrindo para o nada. Referia-se a Jacob.

— Libby, seu quadro clínico não está parecendo melhorar para que eu permita essa viagem.

— Doutora, por favor. — Disse Libby, quase implorando. A doutora se compadeceu de seu clamor, levantou-se deixando-a para trás.

Libby ainda lutava contra seus demônios internos, mas estava determinada a seguir em frente. Até que, em uma reviravolta do destino, e com a permissão médica, Libby recebeu alta do hospital e, pouco tempo depois, encontrou-se no voo Oceanic 815, que acabou caindo na ilha.

Na ilha, Libby conheceu um grupo de sobreviventes e encontrou conforto em sua nova família, composta pelos viajantes da calda do avião. Ela tentou abandonar seu passado e começar uma nova vida ali naquela ilha, mas o destino tinha outros planos para ela. Eventualmente, ela conheceu os demais sobreviventes do voo 815 e passou a conviver com eles também, principalmente com Hugo, onde desenvolveu uma paixão improvável. Mas, por infelicidade do destino, um trágico incidente, deu fim a sua história.

Libby decidiu ir até a estação cisne para pegar uns cobertores para um “pick-nick” que faria com Hugo na praia. Lá dentro, ela testemunhava Michael assassinando Ana-Lucia e, ao ver Michael, se assustou e gritou seu nome. Michael, surpreso, atirou duas vezes em direção a Libby, acertando-a no abdômen através dos cobertores. Com uma expressão de horror, Libby caiu no chão, ferida. Tudo fazia parte de um plano para ajudar Ben a fugir, pois, na ocasião ele estava preso na estação cisne pelos sobreviventes do voo. Em troca, Michael teria seu retorno em terra firme junto com seu filho que havia sido sequestrado pelos chamados “os outros”, ou também, “os hostis”. Após o ocorrido, Michael atirou em seu braço para parecer que foi Ben que havia os feitos e fugido. Infelizmente, Libby, veio a óbito, mesmo após ser socorrida por Jack.

Voltando ao presente, em 2034, Libby permanecia ao lado de Juan, que já estava convencido o suficiente de que realmente Libby estava ali, mas não viva, uma espécie de alma penada.

— Então agora você irá me perseguir por causa da culpa? — Indagou ele, consciente de que Libby realmente já havia morrido.

— Não. Pelo contrário. Vim te dizer que a ilha... Taweret, escolheu você e não foi por acaso. Na verdade, nenhum de vocês. — Disse ela.

— Como pode saber disso?

— Eu só sei. Passei a acreditar que pessoas podiam prever o futuro quando tive um experiencia com isso. Me chamaram de louca. Você me chamou de louca. Mas eu não era louca. As vozes na minha cabeça eram como sussurros que, eu não assimilava muito bem, mas era quase que me chamando para essa ilha.

— Mas para que? Para ser assassinada?

— Não, Juan. Para esse momento. Tirar do seu coração toda mágoa para que você possa se tornar um guardião com os demais. — Disse ela, sorrindo.

Juan sorriu. — Engraçado. Quando eu tinha apenas quatro anos de idade eu senti que meu irmão deveria ser protegido a todo custo...

Libby o interrompeu — Exato. Você tem o dom desde pequeno de querer proteger a todo custo tudo aquilo que você pode proteger com suas mãos. Taweret não erra quando escolhe. Ela escolhe e capacita seus escolhidos. Todos vocês, são, desde quando nasceram, já designados para essa missão. Foram capacitados durante a vida para esse momento. Todos possuem dons únicos que fazem vocês os mais preparados para vencer essa batalha.

— Libby, eu...

— Juan. Meu tempo está acabado. Não podemos ficar muito tempo nos comunicando com os vivos. Só siga meu conselho, beba da água e você se tornará o guardião, e não porque bebeu, mas porque acredita nisso. — Disse ela.

Juan sorriu sincero. Sentiu-se livre da culpa e uma lágrima silenciosa escorreu percorreu seu rosto.

— Obrigado. — Disse ele. Libby sorria constantemente, e em meio aos sussurros, seu espírito desaparecia.

Juan olhou para cima, maravilhado com o que ocorrera naquele instante. Sem perceber que Aaron jazia atrás dele com um copo em mãos, contento a água do riacho do coração da ilha. Até que Aaron pisou em uma folha seca e despertou a curiosidade de Juan.

— Isso é obra sua, não é? — Indagou Juan, sem nem mesmo olhar para Aaron.

— Desculpa. Óbvio demais? — Indagou Aaron, sorrindo. Juan virou-se para ele e disse:

— Eu ainda não compreendo como essa ilha funciona. Mas eu sinto que devo protegê-la a todo custo. Como essa compreensão pode ser tão evidente agora?

Aaron pegou o copo e jogou fora. — O ritual é apenas simbólico, Juan. Você passa a ser guardião no momento que entende que tem que proteger a ilha com a sua vida. Mas é preciso se livrar do sentimento de culpa. Acredite, o mesmo processo aconteceu com Roger e os demais que tinham esse sentimento dentro de si.

— Então, não preciso beber da água igual aos outros?

— Digamos que seu feito seja inédito. Nunca ninguém tinha sido tornado guardião sem beber da água primeiro, nem mesmo eu. Então, seja quem for Libby, ela realmente foi uma ótima psicóloga. — Disse Aaron, sorrindo.

Juan levantou-se e caminhou até ele. — Vamos voltar então para o acampamento.

— Sim, vamos. Temos muito o que conversar e nos preparar.

— Concordo.

Enquanto isso ocorria na ilha, nos corredores da estação a Linha, em Alexandria, Alvar caminhava com seus seguranças e com Desmond ao seu lado tentando entender o que ele tanto queria com ele. Mas o silêncio deixou Alvar um tanto quanto curioso.

— Por que ainda não me perguntou o que estamos fazendo aqui? — Indagou Alvar.

— Eu deveria?

— Eu disse que você seria útil na hora certa e digamos que essa hora se aproxima. — Disse Alvar, chegando assim próximo a encosta.

— O que exatamente você pretende comigo, Alvar?

— Você vai matar saudades da ilha. Vou te mandar lá pela terceira vez.

Desmond riu irônico. — Você só pode estar de brincadeira.

— Eu disse algo engraçado? Falei que você herdou os poderes de Titis, portanto, preciso que me faça um favorzinho, em troca, mantenho seus amiguinhos e parentes vivos. O que acha? É um trato de um deus para um homem.

— Ou você poderia me matar e forçar a fazer sua vontade.

— Como já expliquei a Bem e a seu sogro, nem sempre funciona. Estou perdendo o controle de Walt, eu sinto isso. E já perdi Richard também. Por isso, tem pessoas que prefiro apenas manipular.

— Você é sujo.

— Não, Desmond. Pare de se enganar. Esse mundo já estava destruído antes de eu me erguer. Eu só quero deixar tudo de acordo. Para isso, preciso que Hanbal e seus guardiões sejam exterminados.

— Já sabemos que nenhum de vocês pode matá-los. Então isso é impossível, Alvar. Você nunca conseguirá o que quer.

— E é aí que você entra. Ao menos que alguém desative, pelo menos por um instante, os poderes da ilha.

Ao ouvir isso, Desmond entendeu os planos de Alvar.

— Entendi. Você quer que eu desative novamente os poderes da ilha? — Desmond riu, mas de nervoso.

— Exatamente. Como você já fez uma vez e permitiu que Jack matasse Minuts no corpo de John Locke. Quando você fizer isso, todos perderão seus poderes e consequentemente a proteção de Taweret. Wilbert pode finalmente matá-los.

Desmond se viu sem saída. Aquela proposta era terrível.

— Não imagino como eu chegaria na fonte. Aaron provavelmente está protegendo a área.

— Aaron confia em você. Diga a ele que veio como amigo e ele deixará você permanecer com eles.

— E se ele não deixar?

— Desmond, você não entendeu ainda o por quê eu não o matei? O poder de Taweret está em você. Se eu te matar, isso se perderá. Aaron vai confiar em você. E, lembre-se, você não tem escolha, ou faça o que pedi ou pessoas irão sofrer por sua causa. — Disse Alvar, sorrindo maldosamente.

Desmond estava pressionado. Estava com medo e ao mesmo tempo confuso sobre o que deveria fazer. Mas o fato era, que a escolha que ele fizesse poderia ser fatal de qualquer forma.

Saindo os dois da estação, Desmond se deparou com um barco muito parecido com o barco que usou para chegar à ilha, o barco que Libby havia lhe dado. O Elizabeth. Ele riu.

— Só pode estar de brincadeira. — Disse Desmond, rindo.

— É uma réplica do Elizabeth. Você chegando de barco será menos suspeito que ir em um dos navios da Dharma. Boa viagem, Desmond. — Disse Alvar, se virando para sair. — Você só precisa seguir as coordenadas que estão dentro do barco. Você não tem muito tempo pois o portal para a ilha se abrirá em 1h.

Desmond olhou para o barco enquanto Alvar partia. Sua vontade era fugir dali e tentar salvar sua vida e de sua família de outro jeito, mas realmente, ele estava sem saída.


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