Os Guardiões escrita por Lady Brisa


Capítulo 1
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ☺



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Gaia apertou os olhos para o Planeta Visão à sua frente, analisando cautelosamente as imagens exibidas na superfície cristalina. Sua testa franziu em concentração e curiosidade quando ela teve um vislumbre de um dos criminosos do grupo conhecido como Eco Vilões, o qual parecia estar construindo algo em meio a uma mata fechada.

A construção, aparentemente já em seus estágios finais, consistia num enorme barracão alto e retangular, feito a partir de peças de madeira e grades completamente reforçadas.

   O espírito da terra suspirou, intrigada, mas questionando-se com tristeza qual seria o esquema capcioso da vez. Estava prestes a chamar os protetores para uma investigação, no entanto, a ligeira percepção de um mínimo movimento no canto da tela a deteve.

Ela olhou na respectiva direção, notando como alguma coisa parecia espionar o mesmo que ela, porém o fazia encoberto pelas árvores que rodeavam a construção. Com um meneio da mão direita, a área de exibição do ponto visado aumentou para metade da tela, permitindo à Gaia identificar totalmente a figura oculta.

   E então, ela se deu conta de onde era aquele lugar, bem como de que tinha algo a fazer antes de enviar seus filhos adotivos para lá.

Afinal, o local em si já tinha, por assim dizer, seus próprios protetores, e ela precisava avisá-los de que, dessa vez, mesmo eles precisariam de ajuda.

***

   O espírito da terra logo se viu levitando, rapidamente flutuando com leveza até pousar em meio à densidão verde. E enquanto descia, emitiu um chamado mental, visando atingir quatro figuras em específico, mas das quais apenas duas a atenderam instantaneamente. Gaia desconsiderou a falta de resposta das que haviam ficado em silêncio, pois a verdade era que estava mesmo incerta sobre elas.

—E aí, chefia! Quanto tempo! — Um garotinho de pele escura e uma só perna disse, rindo alegremente e a abraçando quando o espírito mal havia tocado os pés no chão, envolvendo ambos em um redemoinho suave. —Me conta, quais são as novidades? — Ele parou, franzindo o senho. —Chi! Acabei de lembrar que ocê só vem pra cá quando tem algum problema. Anda, me fala. Que que tá acontecendo?

   —Exatamente! — Entre o som fluido e constante de um rio, exclamou uma voz feminina, mas claramente frustrada. —Essa daí, ó, só lembra da gente quando tem algum problema. Se não, de resto, ela só fica lá, sem fazer nada naquela ilha paradisíaca, enquanto os burros de carga, aqui, tem que dar duro para proteger a mata que ela criou!

—É muito bom revê-la também, Iara. — Gaia, sem perder a compostura diante da agressão verbal gratuita, cumprimentou, risonha. Iara, saindo do riacho e assumindo suas pernas humanas, aproximou-se dela e do menino com uma carranca emburrada no rosto.

—Desembucha logo, queridinha. Qual é a encrenca que você —, a sereia enfatizou. —Não consegue resolver, que precisou me acordar do meu soninho da beleza? Exceto se o caso forem essas linhas horríveis de expressão no seu rosto. Me diz, não deve ser fácil ter mais de quatro bilhões de anos, né? — Ela assumiu um ar falsamente compassivo, e Gaia apenas conteve um revirar de olhos.

—Olha, se você quiser, ou melhor, se souber o que me dar em troca —, Iara sorriu. —Eu tenho um creme que é, ó, ma-ra-vi-lho-so pra isso!

   —Ô Iara, pra que tanto ódio gratuito? — O saci se intrometeu. —É só porque, cheia dos poder como é a chefe, ela pode ficar ó, muito mais bonita que ocê, em dois toque? — Ele provocou, rindo, fazendo a sereia estremecer em raiva desesperada.

—É o que? Olha, seu atrevido, que eu te transformo em pedra! Escuta aqui, ninguém é mais bonita que a rainha das águas, ouviu bem!?

   —Vamos, vocês dois! — Gaia achou por bem intervir. —Iara, eu lhe asseguro que minhas intensões nunca foram essas, jamais perderia meu tempo com isso. E Saci, deixe para aprontar das suas depois, por favor.

—Foi mau, chefe. — O saci-pererê baixou a cabeça, um tanto envergonhado.

—Ah, então tá explicado o motivo de todas essas rugas na sua cara! É desleixada, nem deve se cuidar direito. Sem contar que todo aquele ar salgado de lá de onde você vive deve fazer um mal para a pele... Ai, que pecado! Mas anda, diz aí. O que está acontecendo?

   —Achei que nunca ia perguntar! — Veio outra voz, e Gaia virou-se na respectiva direção. Reconhecendo no recém-chegado a figura que viu no Planeta Visão, dirigiu-lhe um pequeno sorriso amigável. Todavia, nem foi preciso que ela respondesse, pois foi ele a tomar a palavra:

—Eu acho que o problema é aquilo ali, ó. — O ser apontou para o enorme barracão logo à frente.

—Ah! Era só isso? — Iara replicou, desdenhosa. —Olha só, fofa. Não se preocupe, que estou com meus dois lindos olhinhos nisso já faz tempo! Aliás... — A sereia se aproximou, sussurrando para o espírito em tom travesso e confidencial. —Eu tô doida pra ele ir no riacho, sabe? Assim, ele não é lá a coisa mais linda do mundo, mas daria uma estátua perfeitamente exótica para a minha coleção. Não acha? Diz que sim, diz que sim! Por favor!

—Na verdade, era justamente sobre isso que eu queria falar com vocês. — Gaia começou, em um tom sério. —Eu imagino que todos aqui já estejam de olho neles, mas eu digo que não devem fazer nada ainda. Gostaria de ver o que eles estão aprontando dessa vez, pois sinto algo diferente. Não sei o que é, e por isso vou mandar gente para cá para investigar.

   —Como é? Você vai mandar vir ainda mais gente para a minha mata? — De trás, bradou uma voz trovejante e furiosa. Todos se viraram, tensos, e a incerteza retornou ao âmago do espírito guardião ao defrontar-se com o monstro verde e de cabelos loiros, que a encarava com cara de nenhum amigo. —Quem você pensa que é? Escute aqui, já estou cansada de você se achar a bambambã só porque é o espírito da terra. E quer saber do que mais? Acho que está na hora de outra assumir o seu trono, querida!

—Faz isso, não, prima! — Saci deu vários passos à frente, colocando-se em defesa de Gaia assim que viu a prima erguer sua varinha mágica e apontá-la em sua direção. —Endoidou, foi?

—Uhuull! Barraco de família, adoro! Ai, pelo menos uma coisa boa que acontece quando essa daí vem pra cá. Licencinha, que vou assistir essa batalha de camarote! — Iara disse, afastando-se com um sorriso aberto e empolgado no rosto, indo sentar-se sobre uma pedra próxima à margem do mesmo rio de onde viera.

—Não se preocupe, Saci. — Gaia suspirou. —Cuca não pode me ferir, pois é apenas meu espectro que está aqui. Meu corpo está muito bem seguro. — Assegurou, convicta, mas o tom risonho de outrora havia dado lugar à irritação.

—Ufa, ainda bem. — O saci deu um suspiro aliviado, recuando alguns passos, mas ainda mantendo um olho treinado e conhecedor na prima, que continuava em posição de batalha.

   —E eu enviarei, sim, gente para cá, inclusive, eles farão boa parte do trabalho de investigar e impedir o que quer que seja que esteja sendo feito. — A mulher espiritual tornou a falar, severa e decidida. —Tudo o que eu peço a vocês é que tomem conta deles, já que eles têm mania de se meterem em problemas. Ou melhor... — Olhou de soslaio para Cuca, de quem a expressão de cólera ainda não havia deixado a face. —Os problemas não costumam largar deles.

—Humpf, grande coisa. — A bruxa folclórica resmungou.

—Cuca, eu realmente espero que você não tente interferir, pois estará apenas facilitando algo que poderá, possivelmente, prejudicá-la muito, também. — Gaia emendou, abrandando o tom da voz.

—Ora essa! — Cuca bateu um pé no chão furiosamente, causando um pequeno estrondo. —Escute aqui, ninguém prejudica a Cuca! Eu sou má, perversa, ruim! Sou eu quem prejudico os outros, aqui. — complementou, parecendo ainda mais irada do que antes.

—Acontece, prima —, Saci interveio, com seu habitual ar de malandro que tinha uma carta na manga. —Que pode ser que essa gente, aí... — Ele apontou para o barracão. —Pode querer ser ainda mais má, perversa e ruim que ocê! Então, se eu fosse ocê, deixava o pessoal que a Gaia vai mandar vir e fazer direitinho o trabalho deles. — Ele disse, risonho, e Gaia só faltou abraçá-lo novamente em agradecimento ao ver Cuca recuar.

—Grrr... — A bruxa começou a andar de um lado para o outro. —Eu não vou tomar conta de ninguém! Eu não ajudo ninguém, eu sou a Cuca! Eu sou...

—Má, perversa, ruim! — Gaia, Iara, Saci e Curupira, que havia permanecido calado enquanto a discussão se desenrolava, sempre de olho no barracão intruso, arremedaram em um uníssono risonho, enquanto a criatura brasileira ia a passos duros em direção à sua caverna. Gaia a observou desaparecer, certa de que Cuca tentaria algo.

Felizmente, no entanto, seus filhos adotivos sabiam se cuidar, eles certamente saberiam como lidar com ela. Ou ao menos era isso que o espírito da terra esperava. Afinal, por mais que Cuca fosse quase cômica e caricata em seu nível de malignidade, por assim dizer, e que alguns dos inimigos dos Protetores conseguissem, mesmo, ser piores do que ela, a guardiã do planeta sabia que a bruxa era alguém que não se devia subestimar.

   —Tá legal. Mas agora, me diz uma coisa. — Iara tornou a se pronunciar. —Assim, por um acaso, tem algum gatinho entre esse pessoal que você vai mandar, hein? — A sereia foi novamente para junto da guardiã da Terra, perguntando com esperança cômica, quase infantil.

—Iara, não. Você está proibida de levar qualquer um deles para o fundo do riacho, ouviu bem? Controle-se! — Gaia repreendeu.

—Ai, que sem graça! Aposto que só está me proibindo porque quer ficar com todos pra você, né?

   —Escuta, será que dá pra vocês deixarem de besteira? Ci tá falando de um assunto sério! — Curupira bradou, enfim cansando-se de todo o lenga-lenga. —Pode deixar, Ci, que seu pessoal vai ter bons olhos neles.

—Muito obrigada, Curupira. — Gaia deu outro suspiro, mas dessa vez de cansaço, permanecer daquela forma e por tanto tempo estava começando a exauri-la.

—Ah, de nada! Alguma das tuas crias tinha que nascer sensata, não? — Ele provocou, rindo.

—Como é? — Saci e Iara revidaram, indignados.

Gaia aproveitou o início de mais aquela discussão para sair dali. Ela não só não ficaria ouvindo mais aquela briga fútil entre eles, como também sentia que realmente precisava ir.

***

   —Francamente, viu! Você passa doze meses juntando fluido e energia vital o suficiente, gerando uma vida com todo o amor e a melhor das intensões, só para eles fazerem isso no final. — Frustrado, o espírito desabafou de si para si, assim que sentiu-se voltar ao corpo.

—Está tudo bem, Gaia? — Ela ouviu a voz apreensiva de Kwame, saindo então de seus devaneios. Levantou-se, ainda meio tonta devido à viagem abrupta, mas encarou seu caçula tranquilizadoramente.

—Estou, sim. Por que não estaria? — Tentou fingir tanta normalidade quanto possível.

—Bem, cheguei aqui há pouco e a encontrei deitada no chão. Você parecia inconsciente, eu pensei que...

—ah,, isso. Não precisa se preocupar, eu estava apenas meditando. — Ela disse, optando por omitir a verdade. Seria apenas por enquanto, ela bem sabia, pois tinha certeza de que os cinco retornariam nem que com a meia verdade descoberta.

—Tem certeza? — Kwame questionou, receoso e desconfiado, e Gaia sorriu diante da perspicácia de seu protetor mais velho.

—Sim. Mas bem, aproveitando que você já está aqui... Para a câmara de cristal, Protetores. Temos uma eco emergência!



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