O ataque violento de Storabimon trouxe temor aos domadores. Renamon sofreu dores como nunca antes sentiu em seu físico, mesmo depois de tudo que passaram nos eventos de cinco anos atrás. O sentimento era mais opressor.

Não satisfeito, ele ainda executou um violento chute contra a raposa, a jogando contra vários caixotes ao fundo. Sem pensar duas vezes, Ruki correu até onde ela havia caído, mas sendo impedida por Storabimon que, a fitando, voltou a provoca-la:

— Não a ajude... Ou concorda que ela é fraca?

— SAIA DA FRENTE, DESGRAÇADO!

— Humanos sabem ser baixos com linguagens como essa... E o pior: são hipócritas.

Por sorte Terriermon não perdeu tempo:

— PEQUENO TORNADO!

O forte tufão empurrou o lupino para longe de Ruki e, mesmo que o ataque não tivesse lhe causado danos, foi o suficiente para abrir caminho para a domadora, que correu as pressas para acudir sua amiga.

Enquanto isso, Lee tomou as rédeas da situação:

— Agora é com a gente, Terriermon!

— VAMOS NESSA, LEE!

Storabimon, irritado, não iria deixar isso barato:

— Ataques sorrateiros... Digno de fraudes como vocês! Mas não irei pegar leve! GARRA LEVIATÃ!

O movimento destruidor do digimon já teve seu poder mostrado e Lee não deixaria de fazer algo a respeito: ele pegou uma de suas cartas e, como de praxe, improvisou um kati de Kung Fu com suas mãos segurando o digivice. O característico passar de carta ao dispositivo ocorreu.

— DIGI-MUDANÇA! ACESSÓRIO: ESCUDO DO WARGREYMON!

Antes que Terriermon fosse atingido, logo apareceu a sua frente um grande escudo, impenetrável, mas de difícil transporte. Ao menos evitou totalmente o golpe. Mas Storabimon insistiu:

— GARRA LEVIATÃ! AHHH!

Ele não mediu esforços. Suas garras não só arranharam como penetraram da couraça até então intransponível do escudo de Wargreymon invocado por Lee para Terriermon, que recebeu o golpe em cheio. Com a força do golpe, o digimon foi jogado para contra uma parede, caindo desacordado. O desespero de Lee foi sufocante.

— TERRIERMON?! Não... Não pode ser... NÃO PODE SER! NÃO PODE! TERRIERMOOON!

A corrida do jovem até onde seu amigo estava caído quase foi interrompida por Storabimon. O lobo não estava ali só por causa dos digimons, que fique claro. O alvo também eram os humanos. Mas dessa vez restou a Guilmon intervir: enquanto o lupino investia em direção a Lee, o digimon réptil o atacou com tudo, usando de sua força avassaladora e o levando para longe. E Takato tomou a palavra:

— VOCÊ NÃO SABE O QUE ESTÁ FAZENDOOO!

— Humano idiota... como seu parceiro digimon também! – Disse Storabimon, irritado.

Guilmon o mordia no braço, evitando que se afastasse. Mas isso poderia ser um problema.

— Large meu braço, miserável!

— Guilmon não vai deixar você machucar meus amigos!

— Grr... VOCÊ NÃO TEM NOÇÃO DO PESO DESSA PALAVRA! – Ele então levantou sua outra mão, mostrando as garras afiadas e as apontando contra a cabeça de Guilmon – MORRA!

Takato entendeu o movimento mortal que ele iria executar, não demorando a pensar rápido e retirar uma carta. Colocando tanto o card quanto seu digivice acima da cabeça, passou-a ao leitor com convicção:

— DIGI-MUDANÇA! ACESSÓRIO: TRANSLUCIDEZ DE BAKEMON!

Guilmon escapou de ter o crânio penetrado pelas garras de Storabimon no último segundo, o que também livrou o lupino das presas do réptil. O que foi uma manobra evasiva de Takato também foi um imenso subterfúgio para Storabimon, já que Guilmon encontrava-se intangível.

— Essa tentativas de evitarem o destino só me irritam... Se eu não posso atingir esse digimon idiota, então você... – Disse, apontando para Takato – ... sentirá primeiro minhas garras rasgarem seu corpo por completo!

E assim o fez:

— GARRA LEVIATÃ!

O movimento mortífero foi em direção a Takato, que se assustou. O terror de ser retalhado por completo lhe deixou imóvel e paralisado. Mas as coisas pioraram: como única alternativa de salvar seu amigo, Guilmon desfez o poder herdado das cartas e se colocou tangível novamente, mas o preço foi alto... pois o digimon recebeu o ataque direto, o ferindo e o jogando para longe. Guilmon chegou a gritar de dor, causando nervosismo em Takato.

O jovem correu, tropeçando nos próprios pés em seguida, mas se reequilibrando e seguindo até onde seu amigo caiu.

— GUILMOOON!

— Ah... Takato...

— Guilmon, você está ferido! – O jovem até mesmo tirou seu blusão, tentando ajudar.

— Eu... Eu estou bem, Takato... – Ele se levantava com dificuldades.

— Guilmon... Você não está bem!

— Eu preciso lutar... mas... Ele é forte, Takato...

No outro lado, onde estavam Lee e Terriermon, o diálogo entre os dois não era muito diferente. Lee o tinha nos braços, dizendo:

— Isso tudo só pode ser um pesadelo...

— Lee... Já lutamos contra inimigos assim e vencemos... Momantai...

— Chega disso! Terriermon, me diga... Esse digimon é diferente dos outros, não é?

— Lee...

— Me diz!

E no extremo sul, lá estavam Ruki e Renamon. E o papo por lá era ainda mais caótico. A raposa tentava se recompor, já que os danos foram grandes.

— Grr... Esse miserável...

— Renamon, não se mexa tanto...

— Ruki, quero que vá embora daqui e leve todos com você!

— O que?! Você está louca? Eu nunca deixaria você para trás!

— Mas... Isso é preciso! Storabimon... ou seja, o Retalhador, é um digimon poderoso! Essa luta... Essa será uma luta de aniquilação... – Ela segurou nos ombros da jovem, de forma gentil.

— EU NÃO VOU TE ABANDONAR! – Ruki a abraçou com força, chorando.

— Ruki...

— NÃO IMPORTA SE ELE É PODEROSO! EU SEI QUE VOCÊ É TÃO FORTE QUANTO ELE, MAS SOMOS UMA EQUIPE!

— Equipe...

— Você está tentando lutar sozinha... Você não está só!

— Será que não entende? Isso não tem a ver em eu lutar sozinha ou sermos uma equipe... Ele está aqui pra matar vocês! Temos que proteger nossos domadores...

Lee ouviu a conversa e, olhando para Terriermon, disse:

— Então é isso... É isso mesmo que ela disse, Terriermon?

— Lee... Tem coisas que só digimons podem fazer...

— VOCÊS DEVEM ESTAR LOUCOS! É ÓBVIO E EVIDENTE QUE NUNCA IRÍAMOS FUGIR!

E Takato... talvez o mais emotivo no momento, já que seu amigo digimon estava de pé para lutar:

— De maneira nenhuma iremos deixá-los aqui...

— Takato...

— NÓS SOMOS AMIGOS! TODOS NÓS! TEMOS UM ELO COM VOCÊS... LEMBRAM? LUTAMOS JUNTOS COMO UM SÓ CONTRA O MATADOR!

— Desde que Guilmon voltou pra cá, sentiu algo diferente...

— O que?! Do que está falando?

— Não é como antes... porque...

E quem respondeu por isso foi Terriermon, completando:

— Estamos fracos, Lee... É isso que ele queria dizer.

— O que?! Fracos? Mas como? Vocês venceram Bulkmon com facilidade!

— Na verdade usamos o nosso poder máximo para lutar... e agora... agora...

Renamon tomou a última palavra:

— ... não temos nosso poder máximo.

— O que?! Mas...

— Por isso que vocês deveriam fugir... e eu vou lutar contra ele com tudo que ainda me sobra.

Storabimon ouvia aquela conversa, mas não tardou em indagar:

— Esse é o resultado por seu existir. A fraqueza não é uma condição humilhante. Na verdade o fraco alimenta o forte, fazendo disso sua centelha fazer parte do ciclo do digimundo. Mas sua baixeza, a de vocês, todos vocês, se faz patética no momento que ousaram desafiar as leis do digimundo! Após esse ato herege tudo mudou... e vocês tiraram de mim o que eu tinha de mais valioso!

O lupino voltou a mostrar sua garras, sabendo de que sua vitória era iminente. Mas enquanto caminhava para próximo de onde estavam, Takato, enxugando as lágrimas que escorriam por seu rosto, serrou seu punho. O apontando para Storabimon, disse:

— Eu sei o que é perder algo valioso... e eu também sei o que é lutar pela própria vida!

— Acho que terei mesmo que calar sua boca, humano...

— Então tente! – Disse, ficando em base de luta – EU ESTOU CANSADO DE OUVIR ESSE SEU PAPO DE PERDEDOR!

— O que disse?

— Você busca vingança... Só isso já é uma coisa ruim, muito ruim... Você quer que a gente tenha empatia por você, mas... MAS VOCÊ QUER TIRAR O QUE PRECIOSO DE TODOS NÓS! Desde que você apareceu aqui veio com esse papo que aconteceu no digimundo... NÓS PODEMOS AJUDAR SE VOCÊ PEDIR! Mas você não quer isso... Você quer lutar, então... LUTE CONTRA MIM, DESGRAÇADO!

— Um humano desafiando um digimon para lutar? – Disse, surpreso – Hm... Isso que você está fazendo...

— Já zombaram da gente no passado... Os Deva fizeram isso, mas mostramos que éramos mais fortes... Vendo você rir me traz essa lembrança.

— Qual seria?

— Os Deva eram descrentes da gente... E derrotamos a todos. Então você aqui, fazendo isso... NÓS VAMOS LUTAR ATÉ O FIM PARA PROTEGER NOSSOS AMIGOS!

As palavras de Takato encheram de energia o impero de Lee e Ruki, que se levantaram e fizeram companhia a Takato.

— Eu sou uma domadora... e amiga da Renamon.

— E eu sou Lee... domador e eterno amigo de Terriermon.

— Nós duas passamos por muitas coisas juntas...

— E eu e meu amigo digimon também...

— Seja lá o que aconteceu com você no digimundo...

— ... sentimos muito. Mas...

— ... NÃO VAMOS DESISTIR! NUNCA!

Storabimon se surpreendeu novamente, dado o detalhe de que os humanos que o estavam desafiando dessa vez. Com Renamon, Terriermon e Guilmon feridos, a coragem e determinação dos três domadores contagiou até mesmo o digimon lobo.

Ele então passou a observa-los de uma outra forma.

— *O olhar de todos eles... Onde eu já vi esse olhar? Ah... Será que... Ranamon... Dinohumon... Stingmon... *

Entretanto, Storabimon, tomado pelo ódio e alimentado por uma busca incessante por justiça, dentro do que ele acredita, ignorou seus pensamentos e, enfim, se armou.

— GRR... HEREGES! Vocês só facilitam o que eu devo fazer! Sentirão minhas garras!

Sem pensar em mais nada, o lobo concentrou ainda mais seus poderes, a fim de aniquilar aos três:

— GARRA LEVIATÃ!

Com muito ódio, ele cortou o ar, onde a rajada percorreu até Takato, Ruki e Lee a velocidade do sol. Eles nunca teriam percepção suficiente para se esquivarem e tampouco poderes para tentar bloquear. Era só uma questão de segundos até que encontrassem alí o seu fim.

Mas, onde a surpresa tomou aos três, o golpe é bloqueado. Seus olhares surpresos se somaram aos de Storabimon, pois Guilmon, Terriermon e Renamon, juntos, impediram que seus amigos fossem feridos.

— Guilmon luta por Takato, porque Takato lutou por Guilmon...

— Eu não posso deixar meu amigo lutar sozinho. Momantai!

— Você disse uma vez que eu não estava sozinha, Ruki... E eu não me esqueci disso, esteja certa...

Muito feridos, eles estavam de pé, encarando o lobo das garras poderosas.

Não era um trio.

Era um sexteto.

E Storabimon se irritou ainda mais com essa atitude.

— Vocês se recusam a aceitar o inevitável... Porque? É o destino que me fez vir até aqui porque vocês são hereges!

Não era o que Takato concordava:

— E você não entende, não é? VAMOS LUTAR ATÉ O FIM! VAI GUILMON!

Lee:

— TERRIERMON, VAMOS COM TUDO!

E Ruki:

— VAMOS TIRAR A FORÇA DE ONDE NÃO HÁ MAIS! VAMOS LÁ, RENAMON!

E nos pensamentos da raposa:

— *Essa união... será o suficiente?"

[WMP▶️2.B.D.Music.Ever! – BAMBALAM125]

| Facing a Powerful Enemy |

| They chose to fight with everything they had |

| Digimons and Tamers...|

| United more than ever |

Era isso: a junção de poderes se fez naquele instante. Debilitados e feridos, os digimons estavam dispostos a lutar. Não só eles, seus domadores também!

Storabimon partiu para o ataque, correndo em direção aos três. Começou então a desferir seu farto repertório de chutes contra Renamon, que tentava se esquivar e se defender. Pressionada, também buscou o embate, mas sem sucesso.

O lupino, feroz e bastante forte, até mesmo iria lhe aplicar um golpe fatal, mas foi impedido por Guilmon, que mordeu seu braço com toda a força que tinha e o prendeu. Aproveitando a oportunidade, Terriermon usou o Pequeno Tornado e pela primeira vez conseguiu o ferir em seu rosto: um pequeno arranhão, somente isso.

Guilmon não o soltou, deixando sua defesa aberta para Renamon atacar. Combinando socos e chutes, atingiu ao dorso de Storabimon, que demonstrou ter sentido dores. Mas não se enganem: não era por causa disso que parecia que estava com problemas. Pelo contrário: mesmo com um dos braços presos, ele conseguiu segurar o punho de Renamon com uma de suas mãos, dizendo:

— VOCÊS ACHAM MESMO QUE PODEM ME VENCER? ISSO É ALGUMA PIADA?

Mas Takato não iria ficar calado após essa provocação.

— Piada?! VOCÊ VAI VER O QUE É PIADA!

Ele empunhou seu digivice junto a uma de suas cartas, a introduzindo ao dispositivo:

— DIGI-MUDANÇA! FORÇA EXTREMA!

O corpo de Guilmon tomou uma coloração mais avermelhada, lhe trazendo mais força. Isso foi trazido pela forma como digimons no digimundo treinavam sua força e fortalecendo seus corações. Como antes, foi a primeira vez que Storabimon se surpreendeu ao ser puxado com extrema força pelo digimon réptil e, livrando Renamon, tornou a girá-lo como um tufão, com ele dizendo:

— REDEMOINHO GUILMON!

O lobo foi arremessado com bastante potência por parte de Guilmon, o jogando para o teto. Como era uma construção metalizada, era de aço, para suportar as trepidações ocasionadas pelo maquinário e, como esperado, as manifestações naturais do Japão (como terremotos). Storabimon se chocou contra o teto, que lhe tirou um pouco de ar.

Como sabiam que deveriam lutar com tudo, Lee também não ficou parado:

— DIGI-MUDANÇA! VENTOS DE JETSILPHYMON!

Terriermon recebeu a sua frente um enorme catavento, já entendendo o que deveria fazer. Ele, já a postos, começou a girar, gritando:

— PEQUENO TORNADO! AHHH!

O tornado do canino já eram fortes o suficiente, mas ao usar do catavento, seu poder aumentou em dez vezes. Somente com a herança do digimon especialista em ventos poderia trazer essa vantagem a Terriermon. Com isso, Storabimon foi brutalidade golpeado contra o teto, recebendo os danos totais. Ao receber o fortíssimo tornado formado, ele, ao cair, dizia:

— Seus... desgraçados...

Mas os ataques não podiam cessar, como Ruki sabia. Antes que o lupino das garras mortais pudesse cair, lá já estava Renamon, de braços abertos. E sua domadora também fez parte desse comportamento:

— DIGI-MUDANÇA! FÚRIA DOS CAVALEIROS REAIS!

Renamon já tinha a força necessária para derrotar qualquer digimon, inclusive de níveis acima do seu. Mas Storabimon era parelho com suas capacidades. Então Ruki a fortificou com o espírito dos cavaleiros reais, onde sua fúria triplica a vontade de vencer e aumenta em dobro sua força. E usando dessa fúria, não se conteve em gritar:

— MORTE GÉLIDA! AHHH!

Todas as farpas de gelo que saíram de seu movimento atingiram Storabimon em cheio, causando danos maiores. O ataque conjunto de todos, digimons e domadores, infligiram ao lobo dores tanto físicos quanto ao seu ego. A força foi tanta que seu corpo chegou a quicar antes de se chocar contra os maquinários do local de manutenção de trens.

Um silêncio ocorreu, só quebrado pela respiração profunda de Guilmon, Terriermon e Renamon. Takato, Lee e Ruki também faziam o mesmo, dado o apelo dramático ao combate que travaram...

Ou travam ainda?

Isso porque, lentamente, Storabimon, milagrosamente, se levantou... sem muitos danos físicos aparentes. E ele não parecia nada contente. O fato de estar de pé e demonstrando força, trouxe temor aos domadores:

— Não é possível... – Dizia Takato – Como poder estar de pé depois de tudo isso?!

— Ele... Ele definitivamente... – Desta vez era Lee – ... não é normal...

— Mas porque? Porque? – Ruki estava incrédula – Nós usamos tudo que podíamos contra ele...

Caminhando com toda sua imponência, Storabimon disse:

— Hereges... Então era mesmo verdade... Digimons que lutam com humanos, sendo ajudados a ficarem mais fortes... O senhor Zhuqiaomon estava mesmo com a razão. Devo até mesmo lhe pedir perdão por duvidar de seus ensinamentos pelo menos por alguns segundos... TODOS VOCÊS DEVEM MORRER! Não só por terem tirado o que era valioso para mim... MAS POR SUA EXISTÊNCIA TER TRAZIDO A TORMENTA AO DIGIMUNDO!

Ele fechou seus punhos a frente, começando a concentrar sua força. Logo ela se expandiu, tomando todo seu corpo. Isso não era bom sinal:

— Ruki... Takato... Lee... – Disse Renamon, bastante cansada e ferida – O poder dele...

— Hã?! O que foi, Renamon? – Perguntou Ruki.

— Está crescendo... – Terriermon estava com as orelhas suspensas até – ... e é terrível!

— Não pode ser... Ele está ferido mas mesmo assim está mais forte?! – Lee jogou a real.

— Takato... Isso não é nada bom... Guilmon está preocupado...

— Essa não... O que ele vai fazer?!

Não era preciso muito esforço para saber das intenções de Storabimon. Uma imensa bola de energia surgiu a frente de seus punhos naquele instante. O poder era tanto que até mesmo uma ventania ocorreu envolta de seu corpo. Olhando para o sexteto, dizia:

— Meu senhor Zhuqiaomon honrou-me com treinamentos para enfim ter força POR MIM MESMO para derrotar todos vocês! Eu jurei lealdade a suas palavras e a seus ensinamentos... Meus amigos estão comigo agora... E IREMOS FAZER JUSTIÇA!

Não havia volta. Ele bradou tão alto que até isso influenciou em seu poder:

— RECEBAM... EXECUÇÃO DA LUZ*! AHHH!

*(光の処刑- Hikarinoshokei)

Foi praticamente instantâneo: o clarão repentino explodiu em milionésimos de centésimos de segundos. E isso causou resultados drásticos.

Guilmon estava desacordado, junto a Takato...

Terriermon, assim como Lee, estavam desmaiados ao fundo do salão...

... e Ruki era a única acordada, de joelhos e bastante ferida. Até mesmo uma ferida estava aberta em seu braço, onde um sangramento ocorria. Com uma das mãos sobre sua barriga, sentindo dores, ela via Renamon caída a sua frente...

... derrotada.

Todos foram derrotados, ademais.

Ruki olhou para os lados, percebendo que seus amigos estavam todos ao chão. Tomada pelo sentimento de incredulidade, a jovem tentava raciocinar o que de fato estava acontecendo.

— Esse é mesmo o nosso fim? Isso... Isso nunca nos ocorreu desde... Desde...

Em sua mente vieram as lembranças ruins, de quando lutaram contra Belzebumon. Aquelas coisas ruins, sentimentos negativos e sensação de incapacidade de fazer algo, retornaram. Só que dessa vez tudo era mais definido que antes.

Storabimon caminhou até Renanon e, a olhando, disse:

— O peso da justiça é o que estava destinado a todos vocês. Sua queda é uma reparação ao que suas ações causaram ao digimundo...

Suas garras foram mostradas, onde estendeu seu braço para enfim dar o golpe final:

— MORRA, RAPOSA!

— NÃOOO! – Ruki se desesperou.

O fim era certo. Não havia o que Ruki pudesse fazer para evitar o pior.

Todavia, podem dizer o que for, mas parecia que aquela noite turbulenta estava longe de acabar.

Inesperadamente, o portal sanfonado do galpão se abriu, o que chamou a atenção de Storabimon, que recuou em seu golpe. Tomado pela curiosidade, tratou de se levantar e virar de frente em direção ao tal portão. De lá, podia-se ouvir passos firmes, determinados a seguir em frente.

E eis que Storabimon percebeu que era um:

— ... humano?!

E era de fato.

Trajando um terno e usando óculos escuros, era alguém que Ruki reconheceu:

— O que?! Senhor Yamaki?!

— Ruki Makino... A senhorita está bem?

— O que... O que você está...

Aquilo sim foi uma surpresa, até mesmo para Storabimon.

— Humano, quem é você?

— Geralmente se diz o próprio nome antes de perguntar a quem chegou... Mas você é um digimon, então...

— Grr... Está me provocando?

— Entenda como quiser, selvagem! Eu só estou preocupado com o os jovens. Pelo visto cheguei na hora...

— Essa luta não é sua! Só tenho interesse em acertar contas contra eles!

— Eu terei então que me intrometer nos seus assuntos, miserável...

— O que?! Humano... Grr... SAIA JÁ DAQUI ANTES QUE EU ACABE COM VOCÊ TAMBÉM!

— Não... Você não vai...

— O que? Como ousa?

— Se você tivesse mesmo interesse em acabar comigo, já teria feito. Ou estou errado?

— Posso fazer que esteja errado, se quiser... – Disse, mostrando suas garras.

— Na verdade eu quero saber porque tudo isso. Já estávamos te rastreando pela rede fazem algumas horas... e finalmente conseguimos.

— Não lhe devo satisfações! Vá embora!

— Deve sim, invasor. Porque fez isso a eles?

Ruki até tentou dialogar:

— Sr Yamaki...

— Ruki, veja como estão os outros. Deixe que a HYPNOS tome as rédeas da situação. Vá, apresse-se!

Mesmo com dificuldades, ela o obedeceu, indo até os outros. Mas Storabimon não gostou nada disso:

— QUEM É VOCÊ PARA OUSAR ME DESAFIAR ASSIM?

— Sou Mitsuo Yamaki. Cabeça da HYPNOS e excelente pai e marido. E sim, o estou desafiando porque eu sou a autoridade aqui.

— Isso só pode ser uma piada... SAIA DAQUI ANTES QUE...

— Antes que você me mate? Ok... Novamente você perdeu uma oportunidade de me matar... e nada fez. Por isso insisto nessa conversa.

— Do que está falando?

— Conseguimos ouvir a conversa de vocês... Aliás, o que você dizia ao grupo de jovens... e aos seus parceiros digimons que salvaram nosso mundo.

Isso irritou ainda mais a Storabimon. E ele, demonstrando essa raiva, Indagou:

— Eles trouxeram a tormenta ao digimundo!

— Eu conheço a história deles melhor que você. Eles estiveram no digimundo, recobraram o controle de lá para os digimons, lutaram contra um deus e acabaram com a ameaça que tanto nosso mundo quanto o seu tínhamos em comum!

— HEREGES! Você não entende... e nunca irá entender...

— Você segue uma palavra. Seu deus é Zhuqiaomon... Como eu ouvi, está plenamente de acordo com seus ensinamentos. Eu não irei julga-lo por isso, até porque aqui no nosso mundo temos várias religiosidades. Porém eu não poderei permitir que prossiga com essa sua “justiça”.

— Grr... Então busca guerrear, humano? Quer salva-los...

— Sim... Mas essa guerra não se vence usando garras.

— Como assim?

— O que houve no digimundo? Porque esse ódio por eles? Responda!

— EU NÃO LHE DEVO EXPLICAÇÕES! Basta minhas convicções... e nada mais!

— Minha convicção é respeitar o que você acredita, mas te mostrar a hipocrisia por detrás de suas ideias.

— O que?!

— Quer mata-los porque algo aconteceu a você no digimundo. Você teve perdas...

— SIM! ISSO JÁ É O SUFICIENTE! As leis do digimundo são dogmáticas!

— Ah são? Então me diga: sob as leis do digimundo, quantos dos digimons que você deve ter derrotado deixaram entes queridos?

Storabimon ficou sem respostas, causado pelo seu raciocínio a pergunta. Mas Yamaki não parou:

— Quantos estão até hoje buscando por você lá? Se você está aqui, então não é possível que nunca tenha pensado nisso...

— SÃO CONTEXTOS DIFERENTES! Digimons sabem desde que nascem que devem lutar por suas vidas. O forte se alimenta do fraco...

— Como em nosso mundo... Os animais são assim... Só que digimons são seres inteligentes. Vocês tem sentimentos como nós, humanos. Não importa se vocês sejam bom ou maus, o fato é que todos tem algo a que lutar, por quem lutar e porque lutar. Se vocês tem muito a perder, é óbvio e evidente que todos os processos de sensações vocês também tem!

— Do que está falando? Diga, humano detestável!

— Eu tenho uma família para cuidar, tenho amigos, familiares... até mesmo colegas e pessoas que eu nem conheço. Do grau mais alto ao mais baixo, eu tenho responsabilidades. Trabalho para proteger essa cidade dia e noite, então eu entendo que se você veio até aqui para “fazer justiça” é porque quer proteger algo. Não é por sua perda, eu acredito.

— Porque acha isso?

— Uma justificativa de vingança, ainda mais tendo senso de justiça? Essa dicotomia não existe. Ou você é mal ou você é bom. Qualquer pessoa inteligente iria perceber isso... O fato é que você veio até aqui no mundo real pra um objetivo: matar a esses jovens e aos digimons porque eles foram os responsáveis pela sua perda. Como você pode afirmar que eles foram os responsáveis diretos?

— O senhor Zhuqiaomon disse-nos que “qualquer um que passe por nossas leis” são pecadores. Hereges devem ser aniquilados e os dados ceifados para todo o sempre. Não há digitamas no mundo real... Então esse é o destino. Eles trouxeram a Tormenta e regressaram ao digimundo. Um campeão foi convocado para aniquila-los. Não é coincidência... e sim o destino.

— Destino? Haha... – Sr Yamaki começou a rir – Hahahaha!

— Porque está rindo?

— Então quer dizer que, independentemente de você estar aqui ou não, Matsuda, Lee e Makino seriam destruídos? Ou seja, não há controle sobre essa “força que rege a história”?

— Exatamente! Não importa o tempo, o destino deles já está traçado. Sob os ensinamentos do senhor Zhuqiaomon, suas leituras astrais são inflexíveis e totais!

Embora a conversa estivesse ocorrendo, Storabimon só se irritava a cada olhar para Yamaki. E ele não se segurou:

— Eu sequer deveria lhe dar a palavra, humano. Você não tem poder sobre mim e a que eu acredito! Posso simplesmente te matar... e fazer o mesmo a todos esses hereges!

— Você não vai me matar... Eu sei que não.

— Porque tem essa certeza?

— Pelo o que você acredita. Eu não estou destinado a morrer por sua causa. Ou irá negar isso?

— Grr...

— Vê? Está preso sobre sua palavra. Se você crê no que segue, eu não sairei morto daqui. Entretanto... isso não se estende a esses meninos.

— Exatamente... Então agora acredita no que eu tenho como objetivo!

— Para eu acreditar no que você acredita, terei de ver com meus próprios olhos.

— O que?

— Eu sou cético. Se eles estão condenados ao destino, como você acredita, então mantenha-os vivos.

— O QUE?!

— Exatamente.

— Humano, o que está dizendo...

— Isso mesmo. Você não vai fazer nada. O destino está traçado, dentro do que você acredita.

Não entendam mal: Storabimon não era um idiota a ponto de não entender o que estava acontecendo. Pelo contrário. Só que Yamaki jogou-o contra a parede, usando de sua própria crença para levantar sua tese.

— Eu irei proteger esses meninos, esteja certo. Acho que seu destino seria me matar... ou estou errado?

— Não desejo tirar vidas inocentes... Mesmo você sendo arrogante e um incômodo, sua pessoa não carrega consigo culpa.

— Então se insistir em machuca-los, eu terei de intervir. E acredite: tenho meios pra isso e será bem dolorido...

Como dito acima, Storabimon não era burro.

— Está me dizendo que devo unicamente deixar que vivam? Muito bem... Eu não desejo te matar, até porque isso vai contra o que tenho como justiça, mas...

— O que quer dizer?

— Irei observar cada passo de todos vocês. Olhar por onde andam e o que fazem... Tudo isso faz parte do destino. Eu entendi o que você quer fazer: me mostrar que estou errado e que minha fé é falsa. O senhor Zhuqiaomon com certeza o aniquilaria por essa afronta, mas ele não está aqui. E sob sua palavra, eu não posso trair o que acredito. Vidas inocentes são mais importantes que ceifar a vida de hereges como eles. Mas pode ter certeza de que irei intervir para proteger os inocentes desses hereges!

Storabimon deu as costas a Yamaki, mas o agente do governo ficou com dúvidas do que tinha acabado de ouvir.

— O que você quer dizer em “proteger os inocentes”?

— Enquanto eles viverem, coisas ruins irão acontecer.

— Como pode estar tão certo disso?

E ele, quase saindo do galpão, disse:

— Eu perdi amigos por causa dos hereges. O mesmo irá ocorrer aqui no mundo dos humanos. É o destino... e ele já foi traçado. Eu estarei vagando por aí, humano... e verei com meus próprios olhos também. Ou seja, haverá perdas em breve e eu protegei a você deles...

Enfim, o lupino voltou a caminhar para fora do galpão, mas não sem antes olhar para Renamon e dizer:

— Hereges como vocês carregam as trevas. Eu carrego comigo a luz... e os derrotei. Vocês não foram salvos por esse humano. Só estão vivos ainda pelo destino escrito agora...

Ao dizer isso, ele sumiu as sombras, deixando ali aos domadores e digimons derrotados. E enquanto Ruki amparava sua amiga, Renamon começou a chorar. Ela, ainda tentando aceitar o fato, olhou para Takato e Guilmon, e logo em seguida para Lee e Terriermon. E então, caindo em desespero...

... a raposa gritou de dor.

A dor da derrota total.

つづく