Um Reino de Monstros Vol. 4 escrita por Caliel Alves


Capítulo 22
Capítulo 4: A proporção de um milagre - Parte 6




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Zarastu estava com as pernas imobilizadas. Saragat mantinha-se com os joelhos flexionados, com o corpo rígido. Os braços estendidos, as mãos forçando, segurando o ar. Era tanta força usada que os músculos dos braços do conjurador tremiam.

O rei dos monstros inclinou a cabeça e encarou com seus olhos opacos ocultos pelo capuz em direção ao inimigo.

Uma conjuração de contenção, hã? Usa sua própria sombra a distância. Quando ela entra em contato com a do alvo, o conjurador de Nalab pode prendê-lo ou provocar danos mortais. Mas ele sabe que é impossível me matar com essa conjuração? Deve ter um prazo mínimo de uso. Está só ganhando tempo, arf...

— Achou mesmo que me capturou com essa magia divina?

O monarca cerrou os punhos e começou a concentrar sua energia mágica. Era tanta energia reunida, que um pequeno vendaval se formou ao seu redor. Por mais força que Saragat fizesse, o poder do oponente era maior. Chegou um momento que a contenção foi insustentável e Zarastu pôde mover as pernas. Explodindo sua energia mágica em volta de si, Thunz! O poderoso mago fez com que o servo de Nalab fosse mandado a distância.

O encapuzado ficou ao chão. O corpo doía. O ar entrava provocando dores aos pulmões. Tentou realizar uma Cura Divina, mas o medo não permitiu. Embora os conjuradores realizem magias através de sua fé, o medo, a dor e a apostasia os tornava fracos. Esses fatores impediam a conexão com os seus deuses.

Se por um lado não podem usar sua própria energia mágica, também podem usar a energia divina do seu deus patrono ilimitadamente, bastando para isso invocá-los. Por mais que invocasse Nalab, ela não respondia ao chamado. Era como se Saragat estivesse abandonado a própria sorte. O mascarado tentou erguer-se, mas não conseguiu.

Nalab, porque me abandonas aqui?

O rei de amarelo caminhou em sua direção, pisando a areia do deserto com altivez.

— Parece que a sua deusa o abandonou, não é mesmo? Não se preocupe, prometo que serei rápido... Só não posso garantir que será indolor.

Com as mãos, formou uma estrela de sete pontas. A arma de magia emanava uma luz de amarelo mortiço, fazia um zunido tétrico com seu giro alucinado.

O debilitado guerreiro esbugalhou os olhos. Tentou mover a perna, mas parecia uma tonelada mais pesada do que de costume. Ergueu o cajado, invocou o nome da deusa das sombras, mas ela não intercedeu. A relíquia caiu no chão. Saragat deixou-se cair na areia escaldante do deserto. Pegou um punhado de areia e a lançou ao vento.

— MORRA!

A Estrela Setêmplice foi lançada, Zinnnnnsh. A arma mágica foi em direção ao moribundo. De modo resignado, o alvo fechou os olhos e esperou a morte. Quando o a estrela chegou bem perto dele, Tlanz, um som de clangor de espada ecoou.

— Flux Lux.

Saragat nem pôde imaginar, Tell o defendera daquele ataque mortal. A estrela dividiu-se ao meio com o ataque do jovem, indo cada parte explodir a longa distância ao acertar as dunas. O conjurador respirou aliviado.

Depois, em um único salto, agarrou o pescoço do mago-espadachim. O rapaz tentava se desvencilhar de suas mãos, mas o mesmo continuava a espremer o seu pescoço, até que o garoto botou a língua para fora, o rosto estava todo roxo. Quando ficou satisfeito, deixou que o flandino escorregasse pelas suas mãos.

— Porque fez isso comigo, Saragat?

— Seu idiota estúpido! Porque não chegou mais cedo? Eu achei que ia morrer?

— Porque não usou suas conjurações?

— Porque o medo impede o fluxo de energia divina!

Os dois interlocutores gritavam um para o outro. Uma gota de suor escorreu pelo capuz de Zarastu.

Como eles conseguem ser tão ridículos?

— Para de gritar, oh capa-preta!

— Vocês fazem uma cacofonia deveras, meus caros companheiros.

— Guardem energia para combater o rei Zarastu.

Rosicler, Rachid e Letícia encurralaram o soberano entre os monstros. O encapuzado de amarelo analisou seus inimigos.

Cinco guerreiros a minha volta. Tenho que tomar cuidado com a ladra, ela provavelmente vai tentar tomar o Colar de Enug. O lanceiro vai dar um golpe direto, é o mais previsível de todos. A alquimista vai tomar certa distância e dar cobertura a Tell. Me preocuparia mais com Saragat, ele parece ter recobrado a conexão divina...

— Venham! Não tenho o dia todo.

Como uma vertigem, Sirius apareceu na frente do rei. O general atroz estendeu as garras em direção a Tell, enquanto a outra parecia proteger o monarca.

— O que está fazendo, general Sirius?

— Protegendo Meu Rei e Senhor.

— Tolice, não preciso da sua proteção.

— Perdoe minha ousadia, mas Vossa Majestade não precisa sujar suas mãos com crianças. Deixe-me cuidar disso...

— Está me chamando de incapaz? Saía da minha frente, seu cão infeliz, ou o mandarei pelos ares.

— Se Vossa Majestade ao menos se ferir em batalha, causará instabilidade nas tropas da Horda e eu...

Foi rápido como um relâmpago. Ziummmm! Explodindo sua energia mágica em volta do corpo, ele lançou o lobisomem a mais de duzentos metros de distância. O licantropo embolou por mais alguns metros e se chocou com uma rocha. Ela se partiu em pedaços.

Ele atacou o próprio aliado!

Tell não pôde acreditar. Zarastu não era apenas poderoso, mas cruel. O jovem deu um passo atrás, mas foi barrado pelo companheiro.

— Não é hora de retroceder, é tempo de avançar.

O rapaz concordou com a cabeça e muniu-se da Justiceira. Zarastu abriu os braços em forma de cruz, com suas garras abertas. Um vento quente começou a modelar as dunas. Era tanta pressão atmosférica, que as nuvens começaram a se juntar, se tornarem nubladas. Raios riscavam os céus.

A cena se desenrolou como o rei dos monstros havia pensado. Tudo pareceu devagar, como se o tempo deles estivesse ocorrendo em outra dimensão. Era uma percepção tão aguçada que dava para ver os grânulos de areia esvoaçando.

Primeiro, Letícia lançou-se para trás, fazendo mira com a pistola. Rachid avançou com uma estocada no peito de Zarastu. Rosicler lançou uma porção Jitter às costas dele. Tell apoiou um joelho no chão e empreendeu um corte transversal visando as pernas do adversário. Saragat mantinha-se atrás do mago-espadachim, recitando uma litania.

O rei dos monstros inclinou o corpo para o lado, e desviou da lança do alfaraz. Erguendo os pés enquanto girava o corpo em pleno ar, se desviava da espadada do neto de Taala. A porção Jitter arremessada pela gatuna, passou por debaixo do monarca, indo na direção de Saragat. As balas disparadas pela alquimista passavam por cima dele.

O corpo de Zarastu estava numa horizontal. Com a mão, ele lançou o oasiano em direção a Tell, ambos se chocaram com violência. Quando pousou no chão, o senhor da Horda parecia satisfeito com o cenário.

— Peguei!

Rosicler tinha o Colar de Enug seguro em suas mãos.

Maldita ladra! Calculei mal, você veio por última, não tem problema.

E desaparecendo, o rei fez com que Rosicler segurasse o vento. Ressurgindo alguns passos à frente, ele agarrou o seu antebraço com força.

— Não, eu te peguei...

Girando, arremessou a ladina em direção a alfonsina. Ambas caíram no solo.

O conquistador saltou para trás. Suas vestes tremulavam. Enquanto os seus inimigos se levantavam, ele concentrava energia mágica entre as mãos.

Um quinteto diverso, mas com habilidades equilibradas. Seu trabalho de equipe é mediano. Ainda não sabem o potencial do príncipe oasiano, ele fica deslocado nos ataques em grupo e passa a fazer parte da dupla de assalto com Tell.

O quinteto de libertadores se reuniu, e alinhados, apontaram suas armas para o adversário em comum. Letícia olhou para Saragat e disse:

— Temos que coordenar os nossos ataques.

— Concordo com minha raivosa donzela.

— Rachid, se concentra! Tudo bem. Nosso mago-espadachim e o galante alfaraz aqui vão dar o combate a curta distância. Deem canseira nele, rapazes! Tirem o fôlego dele. Rosicler, você ainda tem porções aí?

— Pode crer, mano!

— Ótimo, operação bombardeio. Você e nossa alquimista aqui vão atacá-lo sem cessar. Ele não pode dar conta de todos.

Todos deram um forte grito em apoio a iniciativa:

— SIM!

Zarastu lançou mão de uma terrível e gutural gargalhada. Durante a Segunda Grande Guerra ele havia enfrentado diversos guerreiros poderosos, mas ninguém tão audacioso como aquele grupo.

Dos cinco, os únicos que usam algum tipo de arte mágica é Saragat, Tell e Letícia Dumont. Desses três, o mais perigoso continua sendo o conjurador.

Ele formou uma esfera de energia mágica, e a segurou na palma da mão, onde a esfera amarelecida passou a brilhar.

— Contemplem a sua derrota: Feitiço do Atador.

Tell tem uma energia mágica poderosa e combina bem a esgrima flandina com magia arcana, porém, tem um controle de energia instável. Essa interferência é por causa de alguma transmitância mágica do Monstronomicom ou foi por causa de algum acúmulo acidental de energia da Pedra Filosofal?

Com força, lançou a esfera na direção do quinteto. Saragat tomou a frente do grupo. E formou o Escudo Nébula, na tentativa de barrar a magia. Mas a esfera atravessou o escudo de vórtice de sombras e acertou o conjurador em cheio.

Nada aconteceu, e todos acharam isso estranho. Depois uma corrente elétrica arroxeada saiu do peito do mascarado albino e se dispersou até atingir os seus companheiros. Por um instante, um estranho fenômeno os deixou impressionados: sentiam o mesmo odor, sabor, tato, viam e ouviam o que Saragat capitava com os seus sentidos.

Depois do lapso, eles voltaram ao normal. Mas a estranha sensação os impactou.

— Saragat, eu senti o fedor do seu suor. E você tem cecê!

— Rosicler, depois que tudo isso acabar...


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