Um Reino de Monstros Vol. 4 escrita por Caliel Alves


Capítulo 17
Capítulo 4: A proporção de um milagre - Parte 1




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O sol inclinava os seus raios para as ruas de Oásis. O Sultanato acordou em contemplação naquele dia. Do castelo, ao invés da marcha de um exército de alfarazes, apenas um quinteto de personagens se deslocava.

Todo o povo fez um extenso corredor das portas da sede do governo ao portal central. Os oasianos aplaudiam-nos. A Companhia de Libertadores lutaria sozinha por um dia e uma noite contra o próprio rei dos monstros lá fora. Isso era uma demonstração de coragem nunca antes vista.

E por aonde passavam, as pessoas retiravam as suas túnicas e casacas e as lançavam ao chão, como se fosse em honra a reis conquistadores. As mulheres jogavam flores e perfumes.

Letícia percebeu que Rachid, embora fosse um alfaraz, estava a pé assim como eles:

— Onde está o seu cavalo, ginete?

— Se os meus amigos lutam a pé, seria inconveniente estar a cavalo.

Rosicler deu uma daquelas risadas de tom agudo. Saragat perguntou o porquê do sorrio numa circunstância daquelas.

— Pensa bem, mascarado: um cavaleiro sem armadura, um cavalariço sem corcel, um conjurador hermafrodita, um militar sem farda e uma ladra lutando contra a Horda. Isso não é engraçado?

Todos sorriram. Era tanto cinismo que até mesmo o servo de Nalab se pôs a sorrir.

A situação estava desfavorável em todos os sentidos. Lá fora, a Horda continha milhares de monstros poderosos. Dentre eles, as salamandras, as horríveis elementais do fogo. Batalhar contra elas no deserto escaldante não seria fácil.

Zarastu optou por avançar pela manhã, queria evitar lutar a noite. Seria um perigo combater um conjurador das sombras a noite! Essa era a primeira desvantagem para Oásis.

Quando os portões finalmente se abriram, os desafiantes surgiram. Na linha do horizonte, era possível vislumbrar tantos monstros que chegava a tremer os ossos.

Sua marcha provocava um som estridente no deserto, que fazia silenciar o vento.

— Quantos são, Rachid? 100 mil? 500 mil? 1 milhão?

— Não sei ao certo, cara Letícia, mas eles vão precisar de muito mais para nos derrotar.

A alquimista não era favorável aquele otimismo presunçoso. Eles nem sequer teriam o direito de recuar. Do muro, centenas de arqueiros oasianos os observavam. Não receberiam nenhum tipo de ajuda de Oásis.

Era um modo cruel de se fazer as coisas, mas lá estavam eles, como testas de ferro.

***

Do lado da Horda, Zarastu revistava as tropas montado em Íons. Ele vestia a capa amarelo-ouro. O colar vermelho brilhava no pescoço.

Por debaixo do capuz, dois olhos bestiais penetravam na carne dos seres. Eles o temiam, mais temor que respeito. O único que não parecia temê-lo era Sirius. O lobisomem mantinha uma relação quase protocolar com o seu rei.

Devido aos seus instintos monstruosos, não podia atentar contra a vida de seu rei. Era como uma abelha operária em volta de sua rainha.

Sirius foi o primeiro a ver o que se observava em Oásis e comunicar ao rei Zarastu. O velho mago desceu de sua montaria e ficou jubiloso. Aquela era a chance que ele havia pedido.

— Vossa Majestade, observe que a linha de defensores oasianos se resume a um quinteto de crianças. Dizem que aquele alfaraz no front é o príncipe Rachid al Názir. Essa é uma boa oportunidade para capturar o Monstronomicom e destruí-lo. Pode ser uma armadilha. Deixe que nossa tropa de centauros inicie o ataque.

— Oásis nos humilha enviando reles crianças imaturas para guerrear contra nós. Eu os humilharei dez vezes mais.

— Meu Rei, não percebe a oportunidade que temos em mãos?

Zarastu virou-se para Sirius. E lançou sobre ele um olhar tão sombrio que o licantropo teve que recuar.

Íons sentiu, nem era a energia divina de Enug, era a própria energia mágica de Zarastu que se adensava e expandia por todo o deserto em volta.

Como um humano pode ser tão poderoso? Monstros não tem energia mágica, seria ele ainda humano?

— General Sirius... há muito venho aguentando sua insubordinação. Suas indagações vazias e seus desafios ilógicos contra a minha autoridade. Posso desintegrá-lo com um estalar de dedos. Eu tenho a joia de Enug, eu sou o seu conjurador mor. Você só utiliza o poder dele por intermédio de mim. Todos vocês só realizam a magia divina graças a mim, o portador do Colar de Enug. Agora me obedeça ou farei jus ao meu título de rei.

Maldito, um dia eu vou arrumar uma forma de acabar com você!

— Perdoe-me, Meu Rei e Senhor, que Vosso Reinado seja grande e teu governo próspero.

Sirius se ajoelhou no chão, o que foi seguido por todos os demais. O rei virou-se agitando a sua capa amarela. Suas mãos sobressaíram das mangas da túnica e com as suas mãos deformadas, deu uma ordem.

— Convoco a estar na linha de frente o general atroz Sirius, comandante-geral da Horda e comandante da Guarda Real. O capitão Íons, vice-comandante e general do regimento de Cavalaria da Horda. O capitão Angá, general dos capelobos, o capitão Vulcanitro, general da tropa das salamandras. Vocês me acompanharão nesse duelo, pois é isso o que ele é. Os demais, aguardem as minhas ordens. Caso Oásis envie mais guerreiros a linha de batalha, vocês têm ordens para agir.

O general atroz do Batalhão Furioso não se continha de raiva. Ele considerava aquilo um erro que podia custar a vida de todos os seus monstros. Mas ele nada podia fazer a não ser obedecer às ordens.

— Avancem, será uma luta de cinco contra cinco. Assim Oásis não poderá dizer que nos utilizamos do número de nossos guerreiros para massacrar esses vermes. Se bem que só eu seria necessário para derrotá-los.

Os dois grupos antagônicos começaram a se aproximar. Zarastu liderava os monstros, Rachid liderava o grupo de desafiantes. Ambos chegaram no limite do campo de batalha.

O vento ergueu uma cortina de areia e depois cessou. Era como se tudo tivesse parado para assistir àquela batalha. A tensão chegava a ser excruciante. Sirius encarou Tell. Ambos tinham um antigo assunto a tratar. O garoto sacou a espada e lançou o olhar mais feroz que pôde.

O capelobo lançou a sua língua serpenteante no ar e farejou o cheiro de Letícia. E lançando um estranho sorriso com seu focinho de tamanduá, ganhou a antipatia dela.

Íons portava uma lança. E vendo o alfaraz, girou sua arma e apontou-a na direção do coração do oasiano, o convocando a um duelo de lanças. O que ele entendeu e atendeu com um aceno de cabeça.

Vulcanitro riu-se de quando a sua oponente deu um passo à frente. Iria lutar com a famosa Rosicler. Uma simples ladra, para ele. Ela não titubeou e puxou o seu punhal da cinta.

Zarastu e Saragat se encararam. A energia divina já emanava de ambos. Pedras e grãos de areia compacto ascendiam ao céu.

— Nunca imaginei que Oásis fosse uma nação tão medrosa.

— Não é que Oásis seja medrosa, se os alfarazes partissem de dentro do portão principal, esmagaríamos a Horda rápido demais.

— Muita presunção de sua parte, príncipe do deserto. Como o seu pai está de saúde? Ele não sentirá remorso quando você morrer em minhas mãos?

— Não terá tempo para isso, pois estaremos comemorando a sua morte!

— Seu deus é tão prepotente que colocou você como rei dos monstros, Zarastu. Você não tem vergonha de combater ao lado daqueles que lhe tiraram tudo?

— Os monstros não tiraram nada, os homens é que tiraram tudo de mim.

— Então vou tirar-lhe ainda mais!


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