Os Anéis do Dragão escrita por Adélison Silva, Guiler


Capítulo 1
Capítulo 1




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“Há muito tempo existia um reino chamado Xandria, governado pelo rei Áquines, um rei cruel e impiedoso que, após a morte de sua esposa, a rainha Vitória, teve como único objetivo encontrar e capturar a jovem Helena, uma plebeia com quem teve um relacionamento forçado no passado. Helena, por sua vez, era amada por Ulisses, um homem bom que a sequestrou para mantê-la a salvo das mãos do rei. Juntos, Ulisses e Helena tiveram cinco filhos e esconderam-se em uma aldeia em meio à floresta.”

 

 

CENA 01/ INT/ ALDEIA/ CABANA DOS ROCHEDOS/ DIA

Ulisses (35) caminhava nervosamente pela pequena cabana que ele e sua amada Helena haviam construído na aldeia dos Rochedos. Ele sabia que o cruel rei Áquines estava atrás dele, e a cada passo, ele sentia a tensão aumentar.

 

 

ULISSES

Tudo anda muito quieto.

 

 

Helena (32) estava sentada em uma cadeira de madeira, costurando com habilidade uma camisa para o filho mais velho.

 

 

HELENA

Porque está tão preocupado? Está achando que o rei Áquines está armando alguma coisa?

ULISSES

Entenda uma coisa meu amor, o Áquines sempre está armando alguma coisa. Ele nunca se conformou por ter perdido você para mim.

HELENA

Mas ele terá que se conformar, eu sou sua. E também tem anos que estamos escondidos aqui nessa aldeia, o Áquines nunca nos encontrou. Parece que finalmente achamos um lugar onde poderemos viver tranquilo, longe das ameaças daquele atroz.

ULISSES

(preocupado) Eu não tenho tanta certeza disso.

HELENA

Vai querer mudar de novo? Pra onde nós vamos agora meu amor?

ULISSES

Não. Desta vez vamos ficar por aqui. Mas temos que ficar atentos a qualquer sinal do rei Áquines. Não podemos baixar a guarda, ele é muito astuto e pode nos encontrar a qualquer momento.

 

 

Ulisses pegou Helena pela a mão fazendo-a levantar.

 

 

ULISSES

— Mas eu prometo proteger você e nossa família, custe o que custar.

 

 

Os dois se beijaram e abraçaram com força, procurando um pouco de conforto um no outro. Mas logo foram interrompidos pelo choro insistente de seu filho caçula, Pétros, que precisava ser amamentado.

 

 

HELENA

(rindo) Acho que o Pétros acordou. Deixa-me ir lá dá de mamar para o nosso filho.

 

 

Helena se afastou de Ulisses e foi até o cesto onde o bebê dormia, pegando-o no colo e acalmando-o com um sorriso. Ulisses se juntou a ela, e juntos eles cuidaram de Pétros, encontrando consolo na simplicidade do momento presente. A cabana era simples, mas era o lar deles e o lugar onde eles se sentiam mais seguros. E, por enquanto, era o lugar onde eles poderiam ficar juntos e longe das garras de Áquines.

 

 

CENA 02/ CASTELO/ SALA DO TRONO/ DIA

Bóris (38) Comandante do exército de Xandria, braço direito de Áquines, escoltou Cassandra até a sala do trono. A bruxa era conhecida por sua habilidade em prever o futuro e preparar feitiços poderosos. O rei estava determinado a usar seus poderes para encontrar Ulisses e Helena.

 

 

BÓRIS

(chegando com Cassandra) Majestade, eis aqui a bruxa que me ordenou que capturasse.

 

 

Áquines (42) estava sentado em seu trono de cobre, com uma expressão sombria no rosto. Ele olhou para Cassandra com desprezo, mas sabia que precisava dela.

 

 

ÁQUINES

(se aproximando) Ora, ora! Então tu eis uma bruxa?

 

 

Cassandra (60) olhou para Áquines com um olhar calculista. Ela sabia que o rei não era de confiança, mas também sabia que sua vida estava em jogo.

 

 

CASSANDRA

— O que a vossa majestade irá fazer? Queimar-me na fogueira?

ÁQUINES

— Pode ser que sim, pode ser que não. Vamos manter aqui uma troca de favores. Eu preciso dos seus poderes para encontrar um homem. Você me ajuda e eu te mantenho viva.

 CASSANDRA

(como se lesse a mente de Áquines) A vossa majestade vive atormentado por um amor não correspondido. Está querendo que eu encontre o amante da sua amada? Um amor forçado pode não lhe fazer bem.

ÁQUINES

(irritado) Não me lembro de ter lhe pedido algum conselho. Eu não quero nenhum julgamento, apenas os seus poderes para encontrar esse homem.

CASSANDRA

— Então, eu o ajudarei. Mas lembre-se, as consequências de seus atos são de sua responsabilidade.

 ÁQUINES

— Não preciso de lembretes. (pausa) Agora, mostre-me o caminho para encontrar esse homem.

CASSANDRA

(curvando-se) Será uma honra servi-lo, oh majestade! Mas as coisas não funcionam tão simples assim. Primeiro precisamos preparar o ritual. É necessário um laboratório, os meus livros de feitiço, o meu caldeirão e os ingredientes necessários para obter a resposta do que busca.

 

 

Áquines olhou Cassandra de cima abaixo.

 

 

ÁQUINES

Muito bem! Bóris a leva até os seus aposentos, lhe prepara um laboratório e providencie tudo aquilo que ela precisa. Mas certifique-se antes de deixá-la bem acorrentada.

BÓRIS

(sem entender) Aposentos, senhor?

ÁQUINES

Sim. (com voz firme) O calabouço. Lá que é o lugar de prisioneiros.

BÓRIS

(retirando-se com Cassandra) Com sua licença meu senhor.

 

 

Bóris escoltou Cassandra para fora da sala, deixando Áquines sozinho em seu trono. O rei sabia que estava brincando com fogo, mas não tinha escolha. Precisava encontrar sua amada. O destino de Ulisses e Helena estavam nas mãos da bruxa e do cruel rei Áquines.

 

 

CENA 03/ ALDEIA/ TARDE

Melenal (45) estava treinando uma pequena equipe de jovens para possíveis futuras lutas. Demétrio (8) estava lutando para acertar uma flecha no alvo, mas parecia não ter muita sorte.

 

 

MELENAL

(falando para Demétrio) Demétrio, concentre-se! Mantenha a mão firme e respire fundo antes de atirar.

DEMÉTRIO

(tentando acertar o alvo) Estou tentando, Melenal! Eu não vou conseguir.

MELENAL

— Consegue. Você é, ou não é um guerreiro?

 

 

Demétrio soltou, mas a flecha não passou nem perto do saco.

 

 

MELENAL

— Calma, é assim mesmo. Você ainda é uma criança, aos poucos você vai se aperfeiçoando.

 

 

Nicolas (12), sem paciência, se aproximou e tomou o arco das mãos de Demétrio, acertando o alvo com facilidade.

 

 

NICOLAS

— Me dê isso aqui. (atirando) É assim que se faz.

MELENAL

— Não é assim que ensina Nicolas, tem que ter mais paciência com o seu irmão.

NICOLAS

— Se ele ficar nessa moleza não irá aprender nunca.

MELENAL

(com firmeza) A paciência é a chave para o aprendizado.

DEMETRIO

Dê-me de novo. Quero tentar mais uma vez. Posso?

 

NICOLAS

(instruindo) Claro Demétrio! Tente acertar no meio do saco dessa vez.

 

DEMETRIO

— Mas é o que eu estou fazendo.

 

 

Demétrio atirou, mas errou mais uma vez. Melenal agora apenas observava Nicolas ajudando Demétrio.

 

 

NICOLAS

(sussurrando) Respire fundo, mantenha a mão firme e alinhe o alvo no seu olho antes de atirar.

 

 

Démetrio fazia de acordo com o que o seu irmão ensinava. Ao lado, Ayla (10) e Luna (4) também estavam treinando juntamente com os irmãos.

 

 

MELENAL

(se aproximando das meninas) Vamos ver o seu progresso, meninas.

 

 

Melenal percebeu que Ayla estava mais habilidosa do que Demétrio.

 

 

MELENAL

(orgulhoso) Ayla, você está melhorando a cada dia. Continue assim.

AYLA

(sorrindo) Obrigada, Melenal! Estou me esforçando bastante.

LUNA

(puxando a manga de Melenal) Eu também quero ser boa como Ayla, Melenal!

MELENAL

(acariciando a cabeça de Luna) Claro, Luna! Com um pouco de prática, você vai chegar lá também.

 

 

Era um grupo de jovens corajosos, prontos para enfrentar qualquer desafio. Mas, mesmo com a presença de Melenal, um guerreiro experiente, a tensão era palpável no ar. Todos estavam cientes da ameaça constante do rei Áquines e da necessidade de se manterem preparados para qualquer eventualidade.

 

 

CENA 04/ INT/ ALDEIA/ CABANA DOS ROCHEDOS/ TARDE

Ulisses estava parado diante da janela, observando seus filhos treinando juntos. Seus olhos estavam fixos na cena, preocupado com o que poderia acontecer no futuro. Ele se voltou para Helena que estava sentada em uma cadeira de balanço, amamentando seu filho Pétros. Ela parecia calma, mas Ulisses sabia que ela também estava preocupada.

 

 

ULISSES

Eu me sinto impotente vendo eles assim, treinando como se fossem para uma guerra.

 

HELENA

Eles são fortes, vão ficar bem.

 

ULISSES

Mas e se o rei Áquines atacar? Eles são apenas crianças.

 

HELENA

Eu prefiro acreditar que aquele maldito nunca mais irá nos encontrar. Todos esses anos que moramos aqui na aldeia, vivemos apreensivos. Sempre com medo de o rei aparecer a qualquer momento. Eu só queria poder criar os meus filhos em paz.

ULISSES

— Eu sei meu amor. Por isso que me preocupo tanto, eu não quero que os meus filhos sofram.

HELENA

Eu também não quero, mas não podemos viver com medo. Temos de lutar pelo que é certo. Os meninos não serão fortes porque querem, serão fortes porque precisam.

 

Ulisses se aproximou de Helena por trás e apoiou as mãos em seu ombro, sentindo a força de sua esposa. Pétros dormia tranquilamente nos braços de sua mãe, inocente diante de tudo aquilo que estava acontecendo.

 

 

CENA 05/ INT/ CASTELO/ CALABOUÇO/ TARDE

O calabouço escuro estava iluminado apenas por velas que tremulavam nas paredes de pedra. Uma mesa foi colocada no centro da sala, e Cassandra estava presa a ela com correntes nos pés. Bóris foi chegando, com uma tocha acessa em uma das mãos enquanto na outra trazia uma capanga de couro contendo os ingredientes que Cassandra havia pedido.

 

BÓRIS 

(entregando a capanga) Está aqui tudo o que me pediu. (ordenando) Agora adianta, faça logo esse feitiço.

CASSANDRA 

(apontando para as correntes) Tenho que ficar com isso mesmo em meus pés?

BÓRIS

— São ordens do rei Áquines. Digamos que ele não confia muito em você.

CASSANDRA

— Assim fica difícil para eu trabalhar.

BÓRIS

— Cumpra com a ordem que foi lhe dada, bruxa nojenta. Sem resmungar.

CASSANDRA

— Grosso!

 

 

Bóris estava de pé ao lado de Cassandra, vigiando cada movimento que ela fazia. Ela então pegou a tocha e acendeu uma pequena fogueira que havia feito. Colocou o caldeirão sobre as chamas e começou a misturar ingredientes dentro dele, murmurando palavras em uma língua desconhecida enquanto olhava para o seu livro de feitiço. De repente, ela para e olha para Bóris com irritação.

 

 

CASSANDRA

— Ainda não tenho tudo o que preciso. Você esqueceu-se de trazer os olhos de coruja!

BÓRIS

— Isso é mesmo necessário?

CASSANDRA

— Tudo o que estava na lista que te passei é necessário. Sem os olhos de coruja, o feitiço não funcionará.

 

 

Bóris se contorceu claramente desconfortável.

 

 

BÓRIS

(apreensivo) É que eu tenho um pouco de receio com esse negócio de coruja.

CASSANDRA

(rindo) Não tem vergonha, um homem desse tamanho com medo de um animal tão pequeno?

BÓRIS

— Minha avó dizia que quando uma coruja surge é porque alguém próximo irá morrer.

CASSANDRA

— Nesse caso se a coruja não aparecer é que alguém vai morrer. No caso, você. Acredito que vossa majestade não irá gostar de saber que o feitiço não foi realizado por causa de um borra calça que tem medinho de coruja.

 

 

Bóris hesitou, mas finalmente concordou. Ele saiu do calabouço, deixando Cassandra sozinha com o seu caldeirão. Ela continuava mexendo o conteúdo, sabendo que o feitiço não seria completado sem os olhos de coruja. Mas mesmo assim, ela continuava seu trabalho, murmurando baixinho enquanto esperava o retorno de Bóris.

 

CENA 06/ INT/ CASTELO/ QUARTO DA ALÍCIA/ TARDE

Alícia (14) estava sentada em frente ao espelho, passando o pente suavemente através dos seus longos cabelos preto. Seus olhos estavam distantes, como se estivesse perdida em pensamentos. De repente, ela parou de pentear e se concentrou em sua reflexão.

 

 

[FLASHBACK ON]

 

CENA 07/ INT/ CASTELO/ QUARTO DA ALÍCIA/ NOITE

Vitória (28) estava sentada atrás da filha Alícia (5), ainda criança e começou a pentear seus longos cabelos pretos. Ela cantava uma melodia suave enquanto penteava, sua voz melodiosa enchia o quarto.

 

VITÓRIA

(admirando a filha no espelho) Ah, minha linda princesa, como você é bela! Seu cabelo é tão negro quanto a noite e tão macio quanto a seda.

 

 

Alícia olhava para o espelho, admirando sua aparência. Ela sorria com a atenção que sua mãe estava lhe dando.

 

 

VITÓRIA

Eu sou uma mãe muito sortuda de ter você.

ALÍCIA

— Obrigada, mamãe!

 

 

Vitória finalizou o penteado, olhando para Alícia com um sorriso no rosto. As duas se olhavam no espelho, compartilhando um momento de felicidade juntas.

 

 

VITÓRIA

Agora você está pronta para se tornar a rainha mais bela de todas.

ALÍCIA

— Mas a senhora é que é a rainha, eu sou a princesa.

VITÓRIA

— Mas você vai crescer e vai se tornar rainha. A mais bela bondosa e mais justa rainha que Xandria já teve.   

 

 

Alícia sorria, agradecida por ter sua mãe ao seu lado. Enquanto olhavam-se no espelho, o amor materno de Vitória por sua filha era evidente.

[FLASHBACK OFF]

 

 

Continuação da CENA 06/ INT/ CASTELO/ QUARTO DA ALÍCIA/ TARDE

As lágrimas começavam a escorrer pela face de Alícia, mas ela rapidamente as enxugou com as costas da mão. Ela sorriu ao lembrar-se de momentos felizes com sua mãe, mas logo voltou a ficar triste ao se dá conta de que ela não estava mais ali. Alícia se recompôs e finalizou o penteado.

 

 

CENA 08/ EXT/ FLORESTA/ NOITE

Bóris caminhava pelo mato, seguindo a luz da lua para encontrar a coruja. De repente, ele ouviu um som estranho e olhou para a frente. Avistou um par de olhos brilhantes no escuro.

 

BÓRIS

(falando sozinho) Oh, não! É ela, só pode ser ela.

 

 

Ele começou a tremer, mas continuou a se aproximar. Quando chegou perto o suficiente, viu que de fato era a coruja. Bóris respirou fundo e tentou pegar a coruja. Mas ela voou para longe.

 

 

BÓRIS

Vamos lá, não é tão difícil assim. Vem cá bicho zoiudo, me ajuda!

 

 

Ele começou a seguir a coruja, mas ela voou para fora do seu alcance. Bóris ficou frustrado e começou a pensar em como capturá-la. Depois de algum tempo, ele encontrou a coruja pousada em uma árvore. Com muito cuidado, ele se aproximou e conseguiu capturá-la.

 

BÓRIS

Finalmente! Eu consegui! Vamos voltar para o castelo e terminar o feitiço.

 

 

Ele guardou a coruja em sua capanga, montou em seu cavalo e começou a seguir o caminho de volta para o castelo.

 

CENA 09/ INT/ CASTELO/ CALABOUÇO/ NOITE

O calabouço estava iluminado por tochas acesas, dando uma atmosfera sombria ao local. Áquines, com uma expressão de impaciência, falava com Cassandra, que estava em frente ao seu caldeirão com ingredientes e ervas espalhados em volta.

 

 

ÁQUINES

Cassandra, porque está demorando tanto para preparar o feitiço?

CASSANDRA

Vossa Alteza, já está quase tudo pronto. Só faltou os olhos de coruja que Bóris foi buscar.

ÁQUINES

(irritado) Bóris! Essa ameba inútil, sempre atrasando tudo!

 

 

Nesse momento, Bóris retornou trazendo consigo a capanga de couro onde continha a coruja dentro.

 

 

ÁQUINES

(gritando) Bóris! Onde esteve? Por que demorou tanto?

 

BÓRIS

Eu estava buscando a coruja, Vossa Alteza.

 

ÁQUINES
(zangado) Não me venha com desculpas, quero resultados agora!

CASSANDRA

(pedindo) Onde estão os olhos da coruja?

 

 

Bóris entregou a capanga para Cassandra. Ao abrir a capanga Cassandra se assustou por notar que a coruja estava viva. Por pouco a coruja não fugia. Cassandra se irritou.

 

 

CASSANDRA

Mas essa coruja está viva! Eu pedi olhos de coruja, e não o animal inteiro.

ÁQUINES

(ordenando com raiva) Leve de volta essa coruja e mate-a, trague apenas os olhos como a bruxa pediu.

 

BÓRIS
(assustado) Matar? Mas ela fica me olhando com esses olhinhos arregalados...

 

ÁQUINES

Mate a coruja, ou eu mato você! E rápido, pois eu tenho pressa.

 

 

Bóris mesmo contra a vontade, abraçou a capanga onde continha a coruja e saiu do calabouço para cumprir a ordem dada pelo o rei.

 

 

CENA 10/ EXT/ CASTELO/ ENTRADA DO CALABOUÇO/ NOITE

Fora do calabouço, Bóris saiu carregando a coruja, ele a apoiou em uma pedra e pegou sua espada. Ele levantou a espada para matá-la. Feioso, um monstro corcunda, com os dentes para fora e unhas grandes, era atrapalhado e bisbilhoteiro. Ao longe apenas assistia ao evento. O ar era tenso e silencioso. Enquanto Bóris cometia a atividade difícil de matar a coruja, o olhar de Feioso era de curiosidade e atenção, como se estivesse tentando compreender a situação. Embora estivesse perto, Feioso não se aproximou de Bóris, apenas o observou. Quando Bóris terminou, Feioso correu atrás dele sorrateiramente, Feioso se aproximou silenciosamente da entrada do calabouço, observando a porta se fechando atrás de Bóris. Ele estava atento e curioso, querendo descobrir o que estava acontecendo ali.

 

 

CENA 11/ INT/ CASTELO/ CALABOUÇO/ NOITE

Bóris entrou no calabouço com os olhos marejados. Ele caminhava lentamente até Cassandra e estendeu a sua mão, revelando os olhos de coruja dentro da capanga de couro. Ele olhou para Cassandra com uma expressão de tristeza e sofrimento.

 

BÓRIS

(abalado) Eis aqui, os olhos da coruja.

 

 

Cassandra pegou os olhos e os inspecionou rapidamente, conferindo se estavam de acordo com o que precisava. Satisfeita, ela se virou para Bóris e perguntou ironicamente:

 

CASSANDRA

— Foi difícil?

BÓRIS

(abalado) Foi a missão mais difícil que já tive que cumprir. Eu não queria ter que matar a coruja, mas tive que fazê-lo.

 

 

Ele parecia abalado pela situação e teve dificuldade em esconder suas emoções. Áquines, impaciente, interrompeu.

 

 

ÁQUINES

— Deixe de sentimentalismos, Bóris. O que importa é o resultado. Finalize logo isso!

 

 

Cassandra pegou os olhos da coruja e adicionou ao seu caldeirão. Áquines olhava com expectativa enquanto Cassandra começou a murmurar as palavras do feitiço. O ar ao redor começou a ficar tenso e a luz da sala ficou mais fraca. A atmosfera era carregada de magia e mistério. Cassandra concluiu o feitiço e o caldeirão começou a ferver e a emitir uma luz intensa. Áquines esperava ansioso pelo resultado. Enquanto isso, Feioso entrava sorrateiramente no calabouço, escondido nas sombras, e assustado ficou observando todos de longe.

 

CASSANDRA

Cabeça de serpente, olhos de coruja, pelo o poder a mim confiado revele-me onde está aquele que deve ser encontrado.

 

 

Cassandra deu uma risada sinistra deixando Bóris e Áquines arrepiados. Os dois se abraçaram assustados depois se afastaram quando se deram conta.

 

 

BÓRIS

Vai de retro coisa ruim!

 

CASSANDRA

(olhando o caldeirão) Eu estou vendo!

 

BÓRIS

O que você está vendo?

 

CASSANDRA

Eu vejo uma aldeia...

 

ÁQUINES

Aldeia? Onde fica essa aldeia? Eu preciso de detalhes.

 

CASSANDRA

Já está tudo bem claro aqui diante de mim. Ulisses, a sua esposa Helena e os cinco filhos estão vivendo em uma aldeia.

 

ÁQUINES

(se decepcionando) Filhos...? Ela teve cinco filhos com ele? (se irritando) Anda velha, desembucha! Onde fica essa aldeia que eles estão?

CASSANDRA

Não é tão difícil de encontrar, fica depois das montanhas.

 

ÁQUINES

Você ouviu, não é Bóris? Prepara o meu exército, nós vamos atrás de Helena e do maldito que a roubou de mim.

 

 

Bóris concordou saiu rapidamente do calabouço, prestes a cumprir a missão que lhe foi ordenada. Áquines saiu logo atrás deixando apenas Cassandra no calabouço. Feioso, que estava escondido atrás de uma pilastra, saiu correndo sorrateiramente, sem ser notado por ninguém.

 

CENA 12/ INT/ ALDEIA/ NOITE

Nicolas estava concentrado em seu treinamento, aperfeiçoando suas habilidades com a besta. O ar era fresco e a lua brilhava no céu noturno. O rapaz concentrado mirava um alvo imaginário, suando, ofegante. Ulisses caminhava pelo terreno escuro até chegar onde Nicolas estava treinando com sua besta, se aproximou dele e colocou a mão no ombro do filho.

 

 

ULISSES

Nicolas, já está tarde. Você precisa descansar um pouco.

 

NICOLAS

Eu não vou descansar, pai. Até que eu sinta que estou preparado para defender a nossa família contra o astuto rei Áquines.

ULISSES

Eu entendo que você quer estar pronto, mas você precisa descansar tanto sua mente quanto seu corpo. Não há como defender nossos entes queridos se você estiver cansado ou desatento.

 

 

Nícolas o olhou por alguns momentos e finalmente assentiu, baixando a besta.

 

 

NICOLAS

Acho que o senhor está certo, amanhã eu treino mais.

 

 

Ulisses colocou a mão no ombro de Nicolas e juntos os dois retornaram para a cabana. A noite escura e silenciosa só era interrompida pelo canto dos animais noturnos da floresta.

 

 

CENA 13/ INT/ CASTELO/ QUARTO DA ALÍCIA/ NOITE

Alícia se levantou do seu leito e caminhou até a janela. Ela olhou para fora e vê uma grande tropa de cavaleiros e guerreiros saindo do castelo. Ela franziu a testa, tentando entender o que estava acontecendo.

 

 

ALÍCIA

(falando sozinha) Mas para onde todos estão indos essa hora? Será que aconteceu alguma coisa?

 

 

Com a curiosidade aflorada, Alícia desceu correndo as escadas para tentar descobrir o que estava acontecendo. Ela passou pelos corredores vazios, os sons dos cascos dos cavalos ecoava em seus ouvidos. Quando ela chegou à porta principal do castelo, ela viu Bóris liderando a tropa. Ela se escondeu atrás de uma coluna e ficou olhando para a praça, tentando ouvir alguma conversa ou informação. Mas as vozes eram baixas e confusas, e Alícia não conseguia entender nada. Ela decidiu então procurar o seu pai.

 

CENA 14/ INT/ CASTELO/ SALA DO TRONO/ NOITE

Alícia entrou na sala do trono, nervosa, e se aproximou de seu pai.

 

 

ALÍCIA

Papai, o que está acontecendo? Por que há tantos homens armados se reunindo na praça?

 

ÁQUINES

Alícia, volte para o seu quarto e durma. Não se preocupe com isso.

 

ALÍCIA

Como não posso me preocupar, se o senhor está comandando uma grande força militar? O que está acontecendo papai, o que pretende fazer?

 

ÁQUINES

(rude) Alícia, não se meta em assuntos que não lhe dizem respeito. Volte para o seu quarto e vá descansar!

 

 

 

Naquele momento Bóris foi entrando na sala do trono e se aproximando de Áquines.

 

 

BÓRIS

Está tudo pronto, majestade. O exército está reunido e aguarda vossas ordens.

ÁQUINES

Ótimo Bóris. Vamos partir. (virando-se para Alícia) Não se preocupe minha filha. Logo eu volto. Vá descansar.

 

 

Alícia ficou preocupada e confusa, mas não conseguiu obter mais informações de seu pai. Quando ele saiu da sala, ela perguntou para Bá, a criada que estava em pé ao lado do trono juntamente com Feioso.

 

 

ALÍCIA

— Bá, você sabe alguma coisa sobre isso? Por que papai está comandando uma grande força militar?

Eu não sei de nada minha princesa.

 

FEIOSO

Eu sei, eu sei!

 

Feioso, fique quieto!

 

ALÍCIA

Feioso, me conte. O que você sabe?

 

FEIOSO

O rei consultou uma bruxa para encontrar a Helena. A bruxa está lá no calabouço. Eu vi!

 

 

 

Alícia ficou chocada. Ela se lembrou do sofrimento que sua mãe passou por causa de uma mulher chamada Helena.

 

 

 

ALÍCIA

— Eu me lembro de minha mãe sofrendo por causa dessa Helena. O que ela tem a ver com isso tudo?

Eu não sei, minha princesa. É melhor perguntarmos ao rei quando ele voltar. Sabe bem como o vosso pai fica furioso quando se mete nos assuntos dele.

 

FEIOSO

Eu posso dizer mais, eu posso!

 

Feioso, chega!

 

 

 

Alícia olhou para os dois, sabendo que precisava descobrir mais sobre o assunto.

 

 

CENA 15/ EXT/ FLORESTA/ NOITE

Áquines e sua tropa avançavam com rapidez pela floresta, com suas espadas desembainhadas prontas para o combate. Bóris liderava o grupo, seguindo com determinação em direção à aldeia. O som de passos pesados e armaduras rangentes ecoavam pela floresta, enquanto a tropa passava por árvores altas e arbustos espessos. O luar pouco ilumina o caminho, mas Bóris não hesitava em continuar. Finalmente, ele deu ordem para o grupo parar quando avistou a aldeia à distância. Áquines se aproximou, sua fúria era visível em seu rosto, estava pronto para dar início à batalha.


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