O acordo Dramione escrita por Aline Lupin


Capítulo 27
Capítulo 27




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Olhou para a imagem refletida no espelho. Sentia-se muito estranho dentro daquele smoking, gravata borboleta branca e com sapatos sociais. Não que nunca tivesse vestido roupas formais, mas naquele instante, sentia que nem isso fazia o melhor pela sua aparência. Ele não dormira. Mal conseguiu pregar os olhos, pelo nervosismo que sentia. Mas, devia continuar com o plano. E devia estar naquele baile, ou não iria descobrir o que o Ministro desejava que ele descobrisse.

— Você está lindo, meu filho – Narcissa disse atrás dele, com um sorriso orgulhoso, mas seus olhos estavam distantes. Ela não era a mesma. Olhava por cima do ombro a cada instante e seus olhares eram cheios de agonia.

Ele já sabia seu segredo. Apenas a deixaria pensar que não sabia. Não poderia julgá-la por isso, claro que não. Aquela família era realmente dissimulada, pensou. De trapaceiros e mentirosos. Servindo o lado errado de uma guerra, apenas para perder tudo. E até mesmo o respeito da sociedade bruxa. Contudo, ele fingiria que tudo estava bem, como sua mão o ensinou. Dissimularia seus sentimentos, pelo menos naquele momento.

Tia Andrômeda estava no cômodo, deixando que Teddy Lupin engatinhasse pelo chão. Ele parecia descobrir um novo mundo ali. Seus cabelos em tons rosados eram tão peculiares, como um dia foram os cabelos de sua falecida mão, Nymphadora Tonks.

— Está apenas precisando de algo para disfarçar essas olheiras, garoto – Andrômeda disse, em tom rouco. Fumava um cachimbo, perto da sacada. Seus cabelos estavam ainda mais prateados a luz do luar.

— Obrigado tia, mas é isso que me dá meu charme – ele replicou, com um tom zombador, pensando em desfazer a gravata borboleta mais uma vez. Na verdade, ele desejava se esconder em algum lugar remoto e nunca mais sair.

— Tenho certeza que você vai conseguir nos representar hoje, querido –Narcissa disse, em tom orgulhoso de sempre. Ela sempre acreditou nele. Ele apenas nunca acreditou em si mesmo, mas fingia acreditar. Fingia que era o melhor. Melhor que todos. Mas, sentia-se um verdadeiro fracasso. Contudo, ninguém precisava saber das suas fraquezas.

— Com certeza o farei, mãe. Você ficara bem aqui com a tia? – Ele fitou a tia dele com um olhar repreensivo. Ela continuava com aquele vicio que deixava o ar pestilento. Não era errado expor crianças àquela fumaça toxica?

Andrômeda apenas lhe deu um sorriso desdenhoso. Os dois sempre discutiam sobre isso, mas ela sempre conseguia conquista-lo. Ele gostava daquela mulher e ficara mais próximo dela naquele ano.

— Eu vou ficar perfeitamente bem. Sinto falta da minha irmã – Narcissa disse em tom choroso e abraçou Andrômeda, sem se importar com o cachimbo – É bom ter você aqui, querida.

Andrômeda riu. Não de desdém, mas porque ela sempre tinha um bom humor.

— Claro que é. Você tem alguém para levar seu café na cama.

— Eu prefiro sempre o seu chocolate quente, Andrômeda – Narcissa brincou.

Sua mãe parecia muito mais feliz com a presença dela ali. O que deixava Draco de certa forma enciumado. Por que ele não conseguia o mesmo feito? Bom, ele sabia que o melhor não era pensar sobre isso. Era melhor partir de uma vez.

— Eu já vou indo, mãe. Tia, cuide dela e não quero saber de ela fumando cigarros, ok?

As duas deram risadas, como se fossem duas adolescentes. Ele saiu do cômodo revirando os olhos. Quando chegou na saída da casa, um auror designado para leva-lo aquela noite para o baile estava o esperando. Era Mcfield, o mesmo que havia sido petrificado.

— Onde está a senhorita Granger? Pensei que ela viria hoje. O Ministro disse que levaria vocês dois.

— Ela não pode vir. Se esqueceu que uma estante caiu sobre ela? – ele disse em tom irônico, mas ácido.

— Ah, claro.

Mcfield parecia não ter entendido a gravidade da situação. Mas, como poderia entender? Nem ao menos se lembrava o que o petrificou. Talvez, ele tivesse meio cérebro. Draco guardou para si mesmo suas ruminações. Voltava novamente ao seu eu característico. Ranzinza e taciturno.

Quando aparataram em frente a mansão Nott, Draco sentiu o estomago embrulhar e não era pela aparatação. Era pelo medo. Pela angustia que sentia ao ter de enfrentar uma multidão de pessoas. Eram tantos convidados. E já estavam espalhados pelos jardins extensos e floridos. A iluminação com velas que flutuavam no ar, suspensas por magia, deixava tudo muito mais exótico. E mansão georgiana em tom creme se destacava. Alguém estava na sacada naquele momento. Pode ver uma mulher de vestido vermelho, acompanhada de um rapaz de smoking, com cabelo escuros e longos. Ele conhecia aquele rapaz.

— Camus, seu maldito! – xingou baixinho.

— Como disse? – Mcfield perguntou, confuso ao lado dele.

— Nada – Mas, então, pensou em perguntar ao auror sobre a presença de Camus na festa – Ele está a trabalho?

— Não que eu saiba. Apenas alguns aurores foram escalados para isso. Devem já estar vigiando o perímetro – E ao que parecia, o rapaz teve o cuidado de falar em voz baixa. Draco quase não o ouviu.

Potter passou por ele no jardim, fitando-o e acenou com a cabeça. O maldito Weasley também estava lá. Parecia que o clube do Bolinha estava reunido. Revirou os olhos, passando por eles. Subiu as escadarias de mármore de entrada e passou pelo saguão. Foi recebido então por Theodore e Pansy. Theo, é claro, o cumprimentou com certo nervosismo. Pansy, no entanto.

— Querido, você me dá licença um instante? – Ela pediu.

— Claro – ele anuiu com a cabeça.

Foi então que Draco notou. Theo, seu antigo amigo de escola estava receoso com sua presença. O que era uma grande ironia. Antes ele vivia procurando por Draco e pedindo para participar de mais um dia fazendo bullying com os primeiranistas. Ao que parecia, Theo presava pelas aparências, mas fazia diferente pelas costas dos outros. Um hipócrita, claro. Draco riu internamente. Mas, sentiu um gosto amargo em sua boca. Percebeu o quanto esteve sozinho em toda sua vida, apenas colecionado amigos por interesse e não por afeto sincero.

— Pansy, estamos indo para longe da festa – Draco alertou ela, que o empurrava para um dos corredores extensos da mansão.

Ela abriu uma porta dupla com a varinha e empurrou Draco para dentro. Fechou-a, usando um feitiço para que ninguém pudesse escuta-lo ali dentro e trancou a porta.

— Você viu meu pai? – ela perguntou, retorcendo as mãos.

Só naquele momento notou que ela trajava um vestido verde de veludo, com alças finas, deixando seus ombros pequenos e de cor de alabastro a mostra. Os cabelos estavam curtíssimos, na altura do queixo, em um tom preto azulado, destacando seus olhos verdes. Draco percebeu que se fosse dois anos atrás, ele teria arrastado Pansy para um armário escuro e a beijaria, até que ela se entregasse a ele, como sempre fazia. Mas, não dessa vez. Ele não se importava mais. Estava mais preocupado com os olhos dela, que demonstravam seu sofrimento e as luvas longas que cobriam suas mãos e braços. Ela devia continuar a se machucar, como sempre fez, para conter a tensão, o medo e a raiva. De repente, ele sentia pena dela.

— O que te faz pensar que eu o vi? – perguntou, afinal, ele nunca havia contado a ela que tinha se reunido aos comensais da morte.

— Eu sei que houve um chamado, Draco. Não minta para mim. Sei que você era obrigado a responde-lo.

Ele revirou os olhos.

— Eu não o vi. Está satisfeita agora? - Não queria dizer que ele estava unido a Yaxley. Seria uma decepção para ela. Pansy sempre pensou que o pai iria ama-la e melhorar. Ela de fato não gostava dos nascidos trouxas e estava mais preocupada com seu status. Mas, descobrir que o pai era comensal como o de Draco a decepcionou. Ela não queria um pai criminoso. Presava muito pelas aparências e seu pai era a única figura que ela tinha. Alguém que ela realmente o amava.

Ela soltou o ar e sorriu nervosamente.

— Eu sabia que ele não me decepcionaria. Sabia que ele não se uniria a eles – ela sussurrou para si mesma. Depois o fitou atentamente – E você, vai se aliar a Yaxley?

— Como sabe disso? – Draco perguntou surpreso – Ele veio até você, por acaso?

— Não. Mas, ele tentou subornar a família Nott. Contudo, os Nott não querem se meter com isso. Na verdade, politicamente eles são neutros. Afinal, o pai de Theo é embaixador. Ele não pode se envolver com escândalos, nem apoiar nenhum dos lados.

— E qual é o motivo desse baile? A metade dessas pessoas nem é sangue puro – Draco sabia muito bem que não existiam tantas famílias sangue puro no mundo bruxo. A maioria teve seu sangue miscigenado.

— Estamos aqui para confraternizar, Draco. Mas, estamos...- Ela se calou – Revire seus bolsos.

— Revirar meus bolsos? Por que? – perguntou, confuso, mas então, compreendeu o pedido dela – Está achando que estou com um tipo de escuta?

Ela anuiu com a cabeça. Ele o fez, com um ar irritado e até mesmo retirou o paletó preto.

— Está satisfeita? – ele sacudiu o casaco e passou para ela.

Pansy assentiu um sorriso malicioso.

— Você está muito bonito, Draco. Parece que trabalhar tem lhe feito muito bem.

— Isso é um elogio ou um insulto? – ele perguntou, de forma seca pegando o paletó das mãos dela com força. Vestiu-o com irritação indisfarçável.

— Talvez, os dois.  Você nunca disse que iria servir ninguém.

Ele revirou os olhos.

— E você disse que nunca ia se casar com Theo. E agora, quem quebrou suas promessas?

Ela mordiscou os lábios carmim e depois sorriu, de forma dissimulada.

— Há certos sacrifícios a serem feitos.

— Vocês dois são jovens. Mal completaram vinte anos. Você não precisa disso. É herdeira do seu pai.

Pansy suspirou, então, se afastou para sentar em um divã de cor salmão, no meio da sala.

— Não temos escolha, Draco. Meu pai arranjou esse casamento há anos. Não posso romper com isso. Acredite, eu tentei. Disse que o trai com você várias vezes.

Draco engasgou.

— Você disse o que?

Ela gargalhou. Mas, Draco não estava aliviado. Estava com certo receio que Theo tentasse envenena-lo, ou o acertasse com uma maldição, talvez, da morte. Theo adorava Pansy. Sempre gostou dela. E se ao menos sonhasse que Draco se deitou com ela primeiro, era capaz de arrancar suas tripas fora e dar de comer a um testrálio.

— Você sabe que fiz isso, para me livrar disso. Mas, ele disse que eu teria de pagar uma multa por romper o contrato e eu teria problemas com os negócios do meu pai, que já não vão bem – ela respondeu, se deitando no divã em seguida – Minha vida é horrível, Draco. Você poderia ser meu amante, sabe?

Draco revirou os olhos.

— Vamos ao que interessa, Pansy – ele a cortou – Quero saber exatamente o que significa esse baile. E se você sabe alguma coisa sobre o que Yaxley está pretendendo.

— Eu não sei – Pansy respondeu, com o braço sobre o rosto – Ele não disse. Ele queria saber se desejávamos expurgar o mundo dos impuros sangues ruins, mas meu sogro respondeu que não. E pediu apoio do Ministério, para protege-lo. Essa festa na verdade é para mostrar o quanto ele é benevolente com os nascidos trouxas, mestiços e traidores do sangue.

— E você, o que acha de tudo isso? – Draco alfinetou.

— Eu? Não acho nada. Não me importo com ninguém, só comigo e meu pai – ela respondeu, afastando o braço do rosto e lhe dando mais um sorriso carmim – E você mente mal, Draquinho. Eu sei que meu pai não teve qualquer chance.

— O que quer? – Ele perguntou, sentindo uma estranha inquietação. Ela estava escondendo alguma coisa.

— Se eu fosse você, Draco, tomaria cuidado com aqueles que estão próximos. Eles podem te trair a qualquer instante.

Então, ela se levantou do divã com agilidade e liberou a porta com a varinha.

— Pode ir agora fazer o que veio fazer. Mas, não espere encontrar nada aqui. Se eu fosse você, ia para casa.

— Pansy, o que está havendo? – ele perguntou, sentindo uma estranha inquietação e um frio na boca do estomago.

Ela o fitou com pena.

— Yaxley me deu um aviso, para você. Que se ele não pode alcança-lo, vai atingi-lo aonde dói mais, Draco. Por isso, eu o convidei hoje. Você precisa impedi-lo. Precisa salvar meu pai.

Draco estava literalmente pouco se importando com o pai dela. Mas, se aviso fez o efeito esperado. Ele saiu do cômodo, apressado, sem se despedir. Ao inferno com aquela missão. Ele iria embora naquele instante, ver como estava sua mãe, depois Granger, apenas para se certificar que tudo corria bem. E que Yaxley não conseguira machucar nenhuma das duas.

Se perdeu nos corredores extensos, até encontrar o saguão. E o que viu, não era o que esperava. Algumas pessoas desciam da escada de mármore com mascaras cobertas de pluma. Outras não usavam. Ele notou logo que aquela mulher de vestido vermelho, com calda que se arrastava sobre os degraus de forma graciosa usava uma máscara de domino, vermelha, com algumas plumas em tom carmim. Seus lábios estavam no mesmo tom e ela segurava o braço de Camus, com delicadeza. Ela era uma estátua magnifica, pelo tom alabastro da sua pele. Seus cabelos castanhos reluziam e o penteado, um coque elegante e charmoso a deixava ainda mais encantadora.

— Hermione – ele sussurrou seu nome.

Como se eles estivessem conectados, ela o viu. E seu sorriso tirou seu folego. Contudo, ele ficou mais apreensivo com a forma com ela soltou o braço de Camus e desceu as escadas, com um olhar assassino.

Bom, agora ele sabia que ela estava muito bem. Ele só precisava permanecer vivo nos próximos minutos.


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