O acordo Dramione escrita por Aline Lupin


Capítulo 24
Capítulo 24




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O almoço com Harry fora algo inusitado para Hermione. Ele quase não tinha tempo para isso, mas lá estava ele, fazendo companhia a ela e Malfoy. Havia se sentado ao seu lado, o que obrigou a Malfoy sentar-se de frente para eles. O rapaz parecia mal-humorado e Hermione pensou se pelo fato de que ele não gostava de Harry, apenas o aturava. Já escutou Malfoy chama-lo de testa rachada durante duas semanas, com raiva indisfarçável. Isso a fazia rir, mesmo que estivesse falando mal de Harry. Depois, é claro, ela lhe dava uma boa bronca, porque, afinal, Harry era seu melhor amigo. Contudo, Malfoy conseguiu fazê-la rir das suas piadas acidas, mesmo não desejando isso.

 

A comida demorou para chegar, o que obrigada Hermione preencher as lacunas e hiatos que se formavam, pelo fato de que Malfoy fazia questão de permanecer calado e taciturno, bebericando um refrigerante. Ele parecia gostar muito da bebida gasosa. Confessou que nunca havia tomado algo tão maravilhoso e sempre dizia a ela, quando saiam para almoçar juntos, o quanto a ideia era brilhante. Isso a enxia de orgulho, por ser nascida trouxa. Mas, naquela tarde, ele estava quieto e não procurava seu olhar. Harry, no entanto, falava, mas não se esforçava para conversar com Malfoy. Ele se virava para Hermione, como se excluísse o loiro da conversa. O que a deixou muito irritada.

 

Depois que o almoço acabou, para o alivio de Hermione, ela correu para o Ministério, alegando muito trabalho a fazer. O que era mentira. Não havia nada para ser feito. Já havia organizado seus documentos e a única coisa que poderia fazer era participar das aulas de duelo com os novatos. Bom, ela era ainda uma novata, mas para o professor, ela já estava apta a ficar sem as aulas. Na verdade, ele evitava que ela voltasse para as aulas por causa do incidente com ela e Ian. Ela o deixou inconsciente por algumas horas, por estupora-lo com tanta força. E claro, conseguiu uma advertência por isso. Na terceira vez que fizesse isso, estaria fora do esquadrão, sendo remanejada. Claro, que teve apoio do grupo, dizendo que fora um acidente. Por isso, não foi mandada embora.

 

Malfoy não a acompanhou até o esquadrão, alegando ter algumas coisas para fazer antes, no seu intervalo. Harry também disse o mesmo, o que Hermione achou estranho. Os dois deviam estar aprontando alguma coisa. Quando chegou ao Ministério, sentou em sua mesa para cochilar. Não havia ninguém na sala cheia de mesas. Todos estavam no almoço ou em missões. E ela iria dormir. Não aguentava mais de sono. Apoiou o braço dobrado sobre o tampo da mesa e sua cabeça por cima. Então, fechou os olhos, relaxando. Não demorou muito para começar a cochilar. Foi quando ouviu algo estourando. Caiu da cadeira, no processo.

 

A risada que ecoou era bem conhecida. Ela o mataria, agora que não havia ninguém.

 

— Malfoy! – ela gritou, tentando se colocar de pé. Mas, não estava conseguindo – Me ajuda aqui, sua peste.

 

Ele se esquivou da mesa dela.

 

— Não mesmo. Eu sei que você vai tentar me azarar agora – ele disse.

 

— Eu não consigo...- ela se sentia uma tartaruga com o casco virado.

 

Ele riu ainda mais, mas se aproximou dela, para coloca-la de pé. Então, ela aproveitou sua distração para dar um tapa forte em seu braço.

 

— Ai, Granger – ele disse, apertando o braço, com uma careta de dor no rosto – Precisava bater tão forte?

 

— Nem comecei. Vou te dar tapas em parcelas – ela prometeu.

 

Isso o fez rir. Ele parecia se divertir a azucrinando. Ela se afastou para colocar sua cadeira no lugar. Estavam sozinhos na sala, o que era bom. Se alguém a visse fazendo isso, teria mais uma advertência. Se bem que Malfoy também teria uma. Seria bem feito, na verdade.

 

— O que você fez, para me acordar desse jeito? – Ela perguntou, sentando-se na cadeira de volta, enquanto ele se recostava na mesa dela, como se realmente pudesse fazer isso.

 

— Um saco de plástico vazio. Estava comendo batatas chips – ele respondeu, mostrando a embalagem – Desculpa, não resisti – ele riu de novo – Não fica brava. Era só para você dar uma risada.

 

— Quantos anos você tem mesmo? Dez anos?

 

Ele fez uma careta e abriu um sorriso ainda maior.

 

— Talvez eu tenha dez anos, quando quero fazer isso com você. É divertido vê-la perder a calma.

 

Ela revirou os olhos, passando as mãos pelo rosto cansado.

 

— Você vai me pagar por isso, Malfoy. Não tenha dúvida. Vou pensar em algo pior do que as vomitilhas dessa vez.

 

Ele empalideceu, de repente. Foi a vez de ela rir.

 

— Diz uma coisa – ela mudou de assunto, cruzando as mãos para apoiar o queixo – Por que você estava tão de mal humor hoje?

 

— Ué, só você pode ficar de mau humor agora? – ele retrucou, um pouco ácido.

 

— Levando em conta que sou sua carona para quase tudo que você precisa, sim – ela retrucou, em tom jocoso – Agora me diz o que foi aquilo no restaurante. Você e Harry. Nem me contaram o que estão aprontando, também.

 

Ele lhe deu um sorriso malicioso.

 

— Talvez, eu a deixe curiosa, Granger. Você não merece saber tudo – ele brincou, mas ela o fitou com um ar carrancudo – Tá, tá bom. Seu amigo acha que estou usando você. Por isso estava de mal humor.

 

— E não está? – Ela perguntou, de forma inocente.

 

Era a vez dele de se zangar.

 

— Você ainda pensa o pior de mim? Depois de tudo que contei sobre minha vida? – Ele não havia contado tudo. Ela apenas presenciou momentos de fraqueza dele. Inclusive, quando o resgatou das mãos de comensais da morte.

 

— Ah, Malfoy. Conta outra. Achei que você queria minha ajuda para recuperar sua reputação.

 

Ele a fitou magoado.

 

— Não é isso então? Você não disse: não somos amigos e blá, blá, blá?

 

— Eu disse isso antes. Não confiava em você. Mas, estou pensando em reconsiderar nossa amizade – Ele cruzou os braços sobre o peito, com um ar azedo.

 

— Ah, não faz isso não, Draquinho – ela provocou.

 

— Não me chama disso, Hermionizinha.

 

Eles teriam continuado, se não fosse por alguns colegas entrarem na sala. Malfoy, que parecia se sentir desconfortável por demonstrar intimidade com Hermione, se afastou da mesa e ficou em uma posição ereta, como se tentasse esconder o que havia acontecido. Mas, era impossível. Todos no esquadrão compreendiam o que havia entre os dois. E apenas por isso, eles respeitavam Malfoy, por ter conquistado a atenção da heroína de guerra.

 

Contudo, entre eles estava Rony, que fulminou Malfoy com um olhar mortal. Ele passou saiu da sala, pisando duro. Hermione suspirou, cansada. Ainda teria que conversar com o ruivo. Mas, não naquele momento. Sua relação com Malfoy era estranha. E nem ela sabia explicar o que era. Cada vez que passava tempo com ele, mais se apegava ao rapaz. E começava a ter medo disso. Um dia, ele voltaria a sua vida antiga e seus caminhos nunca mais se cruzariam. E isso a deixou com um gosto acre na boca. Não sabia se conseguiria lidar com isso.

 

 

 

**

 

 

 

Olhar ao redor da biblioteca subterrânea era se perder em um mar de estantes, repleta de livros, do chão ao teto, que parecia medir mais de três metros. O teto abobadado dava a impressão que havia um céu noturno, coberto de estrelas. As estantes eram da cor mogno e somente era possível alcançar seus livros com o apoio de uma escada removível, de madeira. O chão era quadriculado, no tom preto e branco, dando uma sensação de vertigem a quem olhasse para ele por muito tempo. Hermione suspirou aliviada, passando a mão na testa suarenta. Olhou para Malfoy, que tinha o joelho ferido, mas com uma expressão feroz. É claro que estava. A biblioteca se estendia a infinito. E ele não fazia ideia de qual livro deveria levar.

 

Tudo começou naquela sexta-feira, no dia 08 de dezembro. Hermione estava se preparando mentalmente para sua missão em Newcastle. Malfoy já havia lhe explicado tudo que poderia sobre a biblioteca subterrânea. Ela mesmo procurou livros em bibliotecas bruxas, até mesmo a do Ministério, mas nenhum dos livros lhe dava uma ideia de como ela era por dentro e o que poderia chegar a enfrentar dentro dela. Ou como fariam para localiza-la. Malfoy, claro, era o único que sabia onde estava escondida, afinal, seu pai já tinha o levado lá algumas vezes. E eles teriam de ir de carro, com uma escolta de aurores, para auxilia-los. Entrando na biblioteca, deveria retirar o livro que continha a informação de como executar um vampiro. Era o mais importante no momento para eles e Malfoy jurava que havia encontrado um livro daquele tipo dentro da biblioteca. Seu pai sempre falava sobre ele e sobre os antigos caçadores bruxos que eram pagos para matar feras. Inclusive, vampiros. O livro até mesmo ensinava palavras mágicas para prender um vampiro em um círculo energético, para ele não se mover. E para que precisavam disso? Bom, nem todos os vampiros estavam do lado do Ministério e Kingsley não queria se arriscar a ser pego de surpresa por eles. Ele já considerava que estavam em guerra contra quem quer que estivessem comandando os comensais da morte de Voldemort.

 

— Diga-me de novo – Hermione pediu.

 

Malfoy passou a mão pelos cabelos claros, irritado. Pegou sua xícara, tomando um gole de café generoso. Estavam naquela biblioteca há tempo demais e ele mostrava sinais de fatiga e irritabilidade. Mas, Hermione não notava isso. Estava roendo as unhas, em estado de tensão.

 

— Vamos entrar por um bueiro, com uma inscrição em latim: “evellere”.

 

— Puxe para cima. Entendi – ela traduziu.

 

Ele revirou os olhos, passando a mão pelo maxilar.

 

— Depois – ele continuou – Vamos descer uma escada estreita de pedras e passar por um corredor de pedras sem iluminação. Vamos percorrer alguns metros, talvez. Não me recordo.

 

— Isso é uma pena.

 

Ele a fitou com raiva.

 

— Vai me deixar continuar.

 

— Claro, vá em frente.

 

Malfoy bufou, mas continuou.

 

— Então, passando por esse corredor, precisamos passar por uma parede de pedras. A princípio, parece que o beco é sem saída, mas não para nós, que temos magia. É só tocar a varinha quatro vezes e esperar a porta se abrir. Assim que for feito isso, é necessário responder a um enigma. Não sei qual eles vão escolher no dia. Mas, alguns são fáceis, outros são difíceis.

 

— E quem vai pedir o enigma mesmo? – Ela anotava todas as informações com sua pena, em seu caderno, como se isso a fizesse se lembrar de tudo.

 

— Um fantasma degolado. Parece ser do período medieval, pelas roupas – ele respondeu – E se respondermos errado, não entramos. Precisamos esperar pelo menos uma hora, para tentar de novo.

 

— Entendi – ela murmurou, com os olhos sobre a folha do caderno – E depois?

 

— Depois que passarmos pelo fantasma, seguimos adiante no corredor escuro e vamos encontrar uma espécie de rio – ele franziu o cenho – Ele fede a enxofre. Não podemos entrar, pois está cheio de inferis. A única maneira de conseguir é usando a magia para conjurar um barco. Mesmo assim, o barco pode dissolver na água, então precisamos ser rápidos. Após atravessar com o barco, estaremos do outro lado da margem, onde encontraremos a biblioteca.

 

— É só isso então? – Ela perguntou.

 

— Só isso – ele disse, coçando os olhos – Agora, podemos ir embora? Minhas costas estão me matando.

 

Hermione assentiu, fechando o caderno e informando para Malfoy ir na frente, enquanto ela guardava os livros da biblioteca do Ministério. Contudo, ele a ajudou a guarda-los, sem reclamar. Era algo novo de ver Malfoy ser útil e ela não estava acostumada com isso.

 

— Então, preparada para amanhã? – Malfoy perguntou, enquanto deixavam os livros no lugar, com o uso da varinha.

 

— Não sei – ela respondeu, sincera – Estou com um frio na barriga. Toda vez que saímos em uma missão, tudo dá errado.

 

Malfoy riu.

 

— Eu sei que parece que dá errado, mas são somente imprevistos. Vai dar tudo certo. Eu já entrei naquele lugar com meu pai, sozinho. Nada pode dar errado.

 

— E se tiver alguém lá? E se os aurores não forem suficientes, para combatê-los? E se cairmos no rio de enxofre, ou se um inferi virar o barco...

 

Malfoy a segurou pelos ombros, fitando-a com intensidade. Seus olhos cinzentos eram como nebulosas.

 

— Hermione para – ele a interrompeu, com seriedade – Você pensa demais. Antecipa o desastre, mas isso vai deixa-la maluca. Temos um plano, as vezes vai sair do controle. Por isso, temos que ter um plano B.

 

— O plano B seria...?

 

Ele fez uma careta.

 

— Tentar não morrer, está bom assim? – Ela riu, mas fungou também – Viu, vai ficar tudo bem, sabe-tudo – ela revirou os olhos – Quem tem mais cérebro aqui é você, senhorita. É um elogio – Ele tocou a ponta do nariz dela com delicadeza.

 

Então, o silêncio tomou conta do lugar. O ar se tornou pesado. A respiração dela represou na garganta. Os olhos dele se tornaram escuros, como se estivesse vendo alguma coisa maravilhosa. A boca dele se entreabriu, soltando o ar, assim como a dela. Então, seus lábios estavam a milímetros do dela. Ela tinha certeza absoluta que ele a beijaria e não sabia como lidaria com isso. Contudo, um barulho forte interrompeu o que quer que estivesse para acontecer.

 

Por algum motivo, um livro havia caído da prateleira, ao lado deles. Malfoy deu um passo atrás, atordoado. Ela também estava. E não sabia o que dizer. Ele recolheu o livro, colocando-o no lugar.

 

— Vamos, eu vou te levar para casa – ela murmurou.

 

— Não precisa. Acho que vou de metro hoje – ele disse.

 

— Tem certeza? – Ela perguntou, um pouco magoada.

 

Ele a fitou, com um ar indeciso. Soltou o ar. Ele estava tremendo. E logo ela percebeu que também tremia. O que eles tinham, afinal? Algum tipo de doença contagiosa?

 

— Está bem.

 

Ninguém falou nada durante o trajeto. Ele apenas murmurou um tchau rápido, fechando a porta em seu rosto, quando chegaram em frente ao apartamento dele. Ela se sentiu estranha, como se estivesse sendo excluída por ele. Como se aquela porta estivesse os separando. Mas, sempre fora assim. Em todos os dias que o deixou em casa. Apesar disso, aquilo a perturbou.

 

Continua...


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