Spanish Guitar | Songfic escrita por Andréia Santos


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Antes de iniciar a leitura, é importante avisar que o casal nesta songfic é formado por uma mulher mais velha e um rapaz mais novo, ambos maiores de 18 anos, mas eu não abordarei nenhum tipo de relacionamento abusivo (pode ficar tranquil@). No mais, desejo uma boa leitura!

Se ainda assim diferença grande de idade num relacionamento sejam uma questão para você, recomendo que você não continue a leitura para evitar sentimentos ruins.



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Eu sempre me senti livre quando eu viajava, pois experimentar por alguns dias a cultura de um lugar novo com pessoas completamente desconhecidas me era fascinante. Nas minhas escolhas de destino, estavam óbvios lugares turísticos com opções de aluguel por temporada e muitas atividades urbanas para se fazer – amo a natureza, mas acampar não é para mim e tive o desprazer de descobrir na prática. Em contrapartida, no resto do ano, eu vivia escondida no meu trabalho e mal saia de casa quando chegava o fim de semana.

Numa viagem que fiz há uns anos, contudo, optei por uma experiência um pouco diferente do que estava acostumada. Rolando o feed do Instagram vi que um músico que eu já seguia há um tempo iria se apresentar com numa semana temática de música latina. Procurei rapidamente no mapa do meu celular o endereço e fiquei animada ao saber que a cidade onde ele morava ficava há trinta minutos da capital de um dos poucos estados que eu ainda não havia visitado. Foi uma decisão ligeiramente impulsiva ir para lá? Admito que sim, pois quem dominou minha razão dali até o momento em que eu comprei as passagens de avião e reservei o apartamento que seria minha casa pelos próximos dias foi um pequeno crush que eu tinha nesse rapaz. 

Embora com essa última declaração pareça que eu sou um tipo de fã maluca, eu não me iludi achando que viveria um tórrido romance com o jovem violonista influencer Gabriel (ênfase no jovem, já que ele tinha recém-completado 22 anos). Eu realmente queria ir naquele lugar pela música e pelo turismo. Se, numa hipótese maluca, acontecesse de eu falar com ele após o show, eu apenas diria o quanto eu admirava o trabalho dele e quem sabe tirar uma foto.

Cheguei no aeroporto da capital cedo e fui direto de carro para a cidade do show para me instalar logo pela manhã. Não foi um voo cansativo, mas eu gostava de passar as primeiras horas do dia 1 da viagem descobrindo onde ficava cada coisa do espaço e realmente vê-lo como um lar. Felizmente, da janela do meu apartamento, vi que do outro lado da rua tinha uma loja de conveniência 24h e eu pude comprar alguma comida rápida; o que me deu mais tempo de calmaria antes de sair à noite. Confesso que, depois que a ficha caiu, eu comecei a me sentir nervosa como uma adolescente: eu estava ali principalmente para ver aquele cara e ele podia ser um belo de um babaca, afinal além de ser homem, era muito novo.

Depois de algumas horas de paranoia infundada (ou nem tanto), eu me arrumei e busquei mais uma vez no mapa o local onde deveria ir. O bar chamava-se Gate, tinha uma vibe bem indie e não ficava muito longe, mas não dava para ir a pé sem conhecer bem a cidade. Chamei, então, um carro uns quinze minutos antes de o concerto começar e dei sorte de que não era um lugar que tinha fila para entrar – coisa que só passou por minha cabeça depois. O ambiente era bem bonito, decorado com guitarras, discos de vinil e fotos em preto e branco de artistas famosos. Ainda tocava uma música ambiente quando escolhi uma das poucas mesas perto do palco e logo um garçom me apresentou um cardápio no qual eu escolhi o primeiro drink que li na lista para não perder tempo.

Quando minha bebida chegou, uma voz no alto falante anunciou a entrada da banda principal da noite e, sob uma ensurdecedora onda de gritos e aplausos, os músicos foram entrando e se posicionando. Eu acompanhei aquela ovação com um pouco menos de entusiasmo, mas quando meus olhos pararam no violonista eu senti que meu coração começou a bater mais rápido. Ele estava vestido como sempre o via nos vídeos – camiseta com temática geek, casaco de couro, calça jeans e all stars preto – e seu cabelo na altura dos ombros balançava com uma leveza invejável. Quando ele sorriu ao ter seu nome pronunciado, senti uma vibe meio "timidez e sagacidade", o que me fez suspirar involuntariamente.

Se me perguntassem naquele momento que músicas foram tocadas no show, eu responderia com um estúpido “quem?” enquanto babava na performance daquele rapaz. Seus dedos ágeis, dedilhando com maestria o violão, me fizeram devanear com muito mais do que simplesmente um “oi” depois do show. Eu queria ser aquele violão nos braços dele, sentindo aquele toque por meu corpo sem pudor algum. Dei graças a Deus que ninguém prestava atenção em mim, pois eu tenho certeza que estava estampado em minha cara meus pensamentos libidinosos.

No final da apresentação, fiz um story sobre o concerto, mas não tive paciência de esperar para cumprimentar a banda e fui até o bar para pedir uma bebida direto no balcão antes de ir embora com minhas fantasias. Fiquei de lá observando o pequeno tumulto ao redor do palco que mal me deixava enxergar meu músico preferido, olhando rosto por rosto em busca de uma possível namorada dele ou algo do gênero e notando com certo alívio que todas as meninas que se aproximavam de Gabriel eram tratadas com a mesma cortesia que qualquer outra pessoa. 

— Só era o que faltava, vigiar o cara! – ralhei comigo mesma e tomei o que restava da minha caipirinha num só gole, pronta para pagar a conta.

— Oi Gabriel! Grande show! Uma cerveja? – o barman disse olhando por cima do meu ombro e eu quase infartei quando vi que o violonista estava bem atrás de mim.

— Uma bem gelada. – ele confirmou e sentou-se no banco ao meu lado, colocando o seu violão apoiado no balcão – Oi, gostou do show? – me perguntou educadamente.

— Ah sim. – respondi quando consegui recuperar o fôlego – Vocês são incríveis.

— Obrigado. – ele disse e voltou-se para sua bebida.

Senti que o assunto morreria ali e nunca mais teria outra chance se não falasse algo. Pensei em uma lista de assuntos para puxar, um mais aleatório do que o outro que só ia fazer me passar de maluca.

— Eu já te conhecia, quer dizer, te acompanhava. – disse por fim, girando levemente no banco para ficar de frente para ele.

— Sério?! Onde? Tik Tok? – ele perguntou animado.

— Ah não. – eu respondi com uma risada sem graça – Instagram. Eu não tenho mais idade para Tik Tok.

— Não tem essa de ter idade. – ele disse numa tentativa de ser gentil, mas eu acredito que eu tenha feito alguma careta que o fez se explicar no mesmo minuto – Quer dizer, você não parece ser tão velha quanto está tentando me dizer!

— Minha idade não é uma questão pra mim, pode ficar tranquilo. – eu me adiantei, tocando-lhe a mão num impulso que logo tratei de conter recolhendo-a.

— Espera aí. – ele disse com uma expressão enigmática no rosto e mexeu no celular rapidamente – É você aqui? Arabella?

Olhei na tela do celular dele e lá estava o story que eu tinha acabado de fazer repostado no perfil dele, com um gif de coraçãozinho no canto. Eu fiquei morrendo de vergonha e desejei que a terra se abrisse sob meus pés naquele momento, mas ele apenas sorriu diante de minha incapacidade de articular qualquer frase e guardou o celular no bolso do casaco.

— Eu vejo que você comenta sempre meus posts. – ele disse de forma gentil – Legal que veio hoje.

— É que eu gosto muito do seu conteúdo. – respondi ainda sem graça – Contudo ver você me mostrando algo meu foi de uma agonia sem tamanho.

— Poxa, desculpa. – ele disse ainda rindo.

— Vejo como está arrependido. – respondi ironicamente e pedi mais uma caipirinha para o barman.

— Como prova, pode deixar que essa eu pago. – ele disse com um sorriso no rosto que quase me desmontou – O que foi? Te ofendi?

— Não. – respondi após um longo suspiro e tirei uns segundos para reorganizar meus pensamentos – É que eu não esperava que alguém fosse me pagar alguma coisa hoje.

— Duvido. – ele disse de supetão. Aquilo não só surpreendeu a mim, mas a ele mesmo que ficou visivelmente desconcertado, virando-se levemente para a outra direção e bebendo um generoso gole de sua cerveja de modo a tentar disfarçar.

Finalmente eu senti que estava num terreno que eu conhecia bem. Eu nunca fui tímida, mas estava sendo cautelosa ao extremo com esse rapaz e negando cada sinal que eu interpretava como permissão de avançar um pouco mais. Contudo, com aquela última palavra, não tinha como perder a oportunidade:

— Me acha atraente assim? – perguntei e ele corou quase instantaneamente – Pode falar com sinceridade. Não tenho medo de a resposta ser negativa.

— Não é negativa. – ele disse sem olhar para mim.

— Você também é atraente. – disse e ele enfim me encarou, a confusão estampada em seu rosto – Não acredita?

— Ah, sei lá. – ele respondeu sem graça – Você está falando isso só para ser educada.

— Se fosse apenas questão de educação, só teria agradecido sua observação a respeito de mim.

Houve uns minutos de silêncio em que Gabriel me olhava com uma expressão de quem tentava ler nas entrelinhas e não conseguia. Nisso, minha bebida chegou e eu desviei o olhar, dando para ele a deixa de ele perguntar:

— Isso é um flerte?

— Gostaria que fosse? – rebati dando um sorrisinho enquanto mordia a ponta do canudo.

— Não me acha muito novo? – ele perguntou me olhando nos olhos.

— Eu acho sua idade perfeita. – respondi e acenei para o barman para que ele trouxesse mais uma cerveja – Não sou muito fã do sabor da cerveja, mas já que você gosta… essa é por minha conta.

— Isso significa que eu não posso te beijar? – ele perguntou dando novamente aquele sorriso meio tímido, meio sagaz.

— Eu não sou fã do sabor da cerveja na minha boca. Já na dos outros... – respondi e colei meus lábios nos dele tão rápido que ele não reagiu a tempo – Foi um prazer te conhecer, Gabriel. – disse e pedi a minha conta.

— Mas… como assim?! Você já vai?! – ele perguntou ainda tentando entender o que aconteceu.

— Quer vir comigo?

Ele não pensou duas vezes: levantou-se recolhendo seu violão e bateu nos bolsos para encontrar sua carteira e sair de lá o mais rápido possível. Caminhamos juntos conversando em direção a uma praça no outro quarteirão onde havia algumas barracas de comidas variadas. Para minha surpresa, ele era um rapaz bem interessante e a gente tinha até alguns gostos em comum, mas eu sentia que a questão da diferença de idade era um peso porque ele sempre dava um jeito de me lembrar da dele:

— 30. – falei de repente no meio de uma frase aleatória – essa é minha idade.

— Pensei que era menos. – ele comentou pensativo – Eu fiz aniversário semana passada.

— Eu sei. – respondi sorrindo simpaticamente – Instagram, lembra?

— Ah, verdade. – ele tentou rir, mas estava nervoso demais para disfarçar – O seu aniversário é quando?

— Já passou. Completei 30 em maio.

Um silêncio desconfortável tomou conta do ambiente e isso me deixou apreensiva. Queria segurá-lo pelos ombros, dizer que “idade é só um número”, mas sempre achei essa frase muito coisa de predador sexual e fiquei com ela só em minha cabeça. Não queria forçar a barra e estragar aquele momento que, embora não estivesse bem como imaginei, estava caminhando para uma amizade legal.

— Você mora perto daqui? – perguntei já desistindo daquela noite.

— Mais ou menos. E você, tá ficando onde? – ele perguntou olhando as horas no celular.

— Num apartamento há umas ruas daqui. Acho então que já posso pedir o carro…

— Eu posso te acompanhar. Não gaste com isso.

Não discuti a ideia, queria estar com ele por mais tempo e o fato de ele conhecer bem o trajeto foi até bom para eu aprendê-lo. Contudo, diferente do outro passeio, esse foi mais silencioso e triste. Estava tão arrependida de ter revelado os 8 anos que havia entre nós que pensei em dizer que foi uma brincadeira, mas uma mentira não iria melhorar a minha situação.

— Bem, foi legal conhecer você. – ele disse ao me deixar na porta.

— Digo o mesmo. – respondi meio sem graça e o abracei com força – Boa noite. – disse olhando nos olhos dele, sem soltá-lo completamente.

“Que se foda!”, pensei e o beijei não como a primeira vez, mas um beijo mais intenso que me tirou o fôlego quando senti que fui correspondida. Ficamos ali por uns bons minutos, nossos corpos colados e lábios unidos quase o tempo todo. Eu sentia um calor dentro de mim crescendo a cada carinho e quase desfaleci nos braços dele quando ele colocou uma de suas mãos em meus cabelos, segurando com firmeza.

— Você quer subir? – perguntei ofegante e ele fez “sim” com a cabeça.

Subimos a escada do prédio depressa, alguns degraus de dois em dois, e entramos no meu apartamento apenas tendo cuidado ao colocar o violão num lugar onde ele ficasse seguro antes de tirar os casacos e jogá-los de qualquer jeito em cima da mesinha de centro.

É estranho descrever – depois que o tesão passou – como tudo aconteceu, mas quando eu paro para lembrar do toque dele em meu corpo, como ele descia os lábios pelo meu pescoço e demorava-se em meus seios, fazendo movimentos circulares com a língua nos meus mamilos intumescidos para só depois sugá-los…  como ele me dedilhava me arrancando gemidos roucos de prazer… eu fico completamente perdida nas lembranças, quase como se sentisse o sabor do meu gozo nos dedos dele de novo enquanto ele me penetrava de forma cadenciada… moderato… stringendo… meno mosso… più mosso

Ainda deitados na cama com o lençol enrolado nos nossos pés, virei-me para Gabriel e dei um beijo em seu rosto. Havia um resquício de barba que me espetou, mas isso não me incomodava, ainda mais quando vi que a resposta que tive desse meu gesto de carinho foi bem positiva.

— Quanto tempo você vai ficar na cidade? – ele perguntou me puxando para ficar com a cabeça apoiada em seu braço.

— Essa semana, a outra e mais dois dias.

— Amanhã vamos tocar novamente, mas em outro bar. Se não tiver planos, você pode ir como minha convidada.

— Mesmo? Que privilégios eu teria? – perguntei de forma divertida.

— Você tem prioridade para tirar foto com o violonista depois da apresentação. – ele respondeu e caiu na risada depois – É, talvez não seja tão bom assim… bem, já está bem tarde e eu tenho que ir pra casa.

Levantei-me da cama e, enquanto eu vestia uma roupa qualquer do meu armário, Gabriel recolheu suas coisas e se vestiu depressa. Queria muito pedir que ele passasse a noite, mas não sabia como isso poderia ser interpretado, então só o deixei ir me despedindo dele com um beijo e assistindo ele sumir na curva da escadaria.

Depois daquele “segundo encontro” no bar, onde nós estávamos abertamente juntos, Gabriel e eu continuamos saindo. Foram desde passeios turísticos pela capital até jantares mais intimistas em restaurantes discretos na cidade onde eu estava hospedada, tudo isso num clima especialmente romântico. Conheci alguns dos amigos dele em uma dessas andanças e, apesar de eles maliciosamente jogarem indiretas sobre eu ser mais velha – o que parecia não chatear Gabriel –, eu me diverti bastante vendo a empolgação quase infantil com a qual eles falavam sobre as coisas mais aleatórias. Tudo entre nós ia muito bem e intenso, mas a hora de voltar para minha realidade me assombrava e eu precisava me preparar para dar adeus.

Foi uma despedida triste, porém sem lágrimas. Gabriel me acompanhou até o aeroporto e vez ou outra pensava em voz alta como ele poderia arrumar um jeito de ir até onde eu morava. Eu apenas sorria conformada, dizendo que era melhor a gente ficar apenas com as boas lembranças e seguir a vida…

… e seguimos.

Faz cinco anos desde essa viagem e, embora houvesse certa insistência em manter a proximidade, havia mais que a distância entre nós para impedir que nosso relacionamento evoluísse. Hoje eu ainda acompanho o trabalho de Gabriel pela internet, agora com quase a mesma idade que eu tinha quando o conheci. Ele conseguiu muitas coisas legais para sua vida profissional e às vezes eu penso em ir a um show dele novamente, agora como uma amiga, e mostrar que todo carinho ainda habita em meu coração.


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Notas finais do capítulo

Olá! que bom ver que veio aqui! Primeiro quero agradecer pela sua leitura e espero seu feedback. Talvez o final não fosse o que você esperava, mas é um final otimista (por incrível que pareça). Caso haja uma quantidade considerável de comentários positivos sobre o casal, posso - quem sabe - escrever um spin-off depois sobre como foram os bons momentos deles.

Beijos e até uma próxima!



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