Episódio filler escrita por Nat King


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Aff, não tem o nome da Aya nos personagens disponibilizados pelo Nyah >:(

uEPAA!! Olha só quem resolveu trazer algo pra esse fandom??

Bem, não dá pra dizer que eu "voltei" a escrever qualquer coisa, porque de 2021 pra cá, vish, foi só ladeira abaixo. Mas enquanto fazia uma limpa nos arquivos perdidos, achei essa oneshot que, PASME!!, data de 2018!! Não lembrava de ter concluído, minha memória mais fresca dessa história foi literalmente de eu ter dito a uma amiga (oi, Arisu!!) que tinha travado na história.

Vai saber. São os mistérios da vida.

Infelizmente esse não é o anúncio de um retorno, foi somente para postar um textinho parado de um crackship (será que é tão crack assim?) que eu ainda gosto muito.

Espero que gostem! ♥



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Sakamichi adorava Love Hime e isso não era mistério para ninguém. Até porque, ele não deixava que ninguém duvidasse daquele seu apreço pela doce e romântica Kotori-chan, usando toda oportunidade possível para falar sobre sua evolução ao longo do anime e todas as roupinhas mágicas que fariam Sakura Kinomoto sentir inveja. Isso sem falar do tema de abertura, trilha sonora que assombrava todo o time de ciclismo do Sohoku e os adversários que, em toda sua normalidade de adolescentes ciclistas, tiveram o azar de enfrentar Onoda em um ataque otaku de inspiração.

Em um breve resumo, Onoda Sakamichi era exatamente aquilo: o maior otaku esportista que o mundo estudantil já tivera notícia. Esse título parecia bem mais impressionante que a realidade, claramente zombaria, que enchia o ingênuo campeão do Inter High de orgulho.

Enchia Aya de confusão, também.

Onoda não sabia dizer o que exatamente existia de fascinante em Tachibana Aya, amiga de Kanzaki, a gerente do grupo de ciclismo a quem ele devia todos os agradecimentos possíveis. Enquanto Miki era gentil e animada como Kotori-chan, Aya intimidava só de olhar, mesmo quando não queria. Além da primeira impressão não ter sido das melhores para nenhum dos dois, a tenista tinha a mesma feição séria vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana!! — essas eram palavras de Sugimoto, nas quais Onoda confiava sem questionar, afinal de contas, ele era muito experiente. Por alguma razão, toda essa experiência não sabia orientá-lo quanto ao que fazia seu coraçãozinho otaku palpitar.

Infelizmente, seus colegas e amigos do clube de ciclismo não ajudavam muito em suas opiniões. Teshima usava palavras difíceis e fazia muitas metáforas sobre chá e sobre um casal ser como um time de uma pessoa só, coisa que Aoyagi concordava sem pronunciar uma só palavra. Não ajudava muito.

Imaizumi tinha como único amor sua bicicleta e, tirando a boa fisionomia e condição financeira, era tão imaturo naquele campo sentimental quanto Onoda. Mais parecidos do que o “elite” queria admitir, a primeira criatura feminina a despertar em si algo parecido com o que sentia por ciclismo, era uma garota mágica 2D de cabelo roxo, cujo mascote era uma ovelha-mordomo. Aquilo também não ajudava muito.

Combinando no cabelo vermelho, Kaburagi e Naruko eram entusiastas de uma forma nada animadora. Enquanto o veterano só sabia gritar para Sakamichi ir com tudo — seja lá o que o “tudo” deveria significar —, seu kouhai deu uma risada entusiasmada e o chamou de lady killer. Quando se lembrou de pesquisar o que aquilo deveria significar, Onoda afundou o rosto corado no travesseiro e gritou de vergonha. O que a Kotori-chan faria em seu lugar?!

Tachibana não era a meiga Pancake Girl protagonista dos saltos multicoloridos das açucaradas temporadas de Love Hime, mas continuava o fazendo parar qualquer coisa que estivesse ocupado para assisti-la, como um imperdível e inédito episódio semanal, com a diferença que aquele programa real não permitia reprises, o obrigando a não perder nenhum detalhe. Foi desse modo que Onoda passou a chegar mais cedo para passar próximo à quadra de tênis em seu caminho ao clube de ciclismo, com o coraçãozinho cheio de esperança em vê-la treinar mais uma passada, mais um arremesso; ele chegou até mesmo a perder cinco minutos do anime por atrasar propositalmente o retorno para casa em uma quinta-feira pré-amistoso intercolegial de tênis. Sua mãe chegou a pensar que ele estava doente.

Aquele sentimento diferente passou a mudar a forma como Sakamichi via o mundo, via ela. Com o passar dos dias, saber das escolas adversárias já não era mais aterrorizante, as aulas de matemática não eram tão chatas — já que ele não as ouvia mais — e a seriedade de Tachibana ganhava suavidades que Onoda não tinha reparado antes. Eles tinham até mesmo coisas em comum, como marcas bronzeadas pela exposição solar em roupas esportivas!! Sakamichi adorou aquela coincidência e escreveu sobre isso para Makishima, Manami e Midousuji. Da Inglaterra nada veio, de Manami ele recebeu um pedido de desculpas por Miyahara, aparentemente conhecida dele, explicando que o garoto havia perdido o telefone, mas que ela passaria o recado, e de Midousuji um “kimoi!” horrorizado, seguido de um “como conseguiu meu número, zaku?!”. Tudo isso pelas lentes rosadas de Onoda, foi visto com animação. Se ele não estava enganado, Kotori-chan passou por algo parecido quando enfrentou uma criatura chamada de O Cupido, em um episódio onde o vilão deixou meio elenco apaixonado e a pista eram os olhos cor-de-rosa que as vítimas possuíam. Aquele episódio tinha sido o melhor da temporada, porque Kotori quase beijou--

Apavorado com o caminho perigoso que seus pensamentos estavam levando, Onoda se auto-censurou, sentindo o rosto pegar fogo pelo que ele pensava ser pensamentos inadequados. E, naquela proibição de si mesmo por devaneios envolvendo seu coração apaixonado e anime, Onoda foi levado por outros caminhos mentais que começaram a desanimar. Pensar demais tinha aquele efeito nele.

Tachibana Aya era a protagonista do próprio anime de esporte e, em enredos como aquele, não existia espaço para romance com um personagem secundário pertencente a um núcleo distante — Onoda sabia disso, ele era especialista em animes. E ele era secundário. Sempre foi assim. E tudo só piorava porque Sakamichi não sabia como vencer aquelas barreiras na qual era expert, aplicadas no 3D. Ugh, ele sempre soube que 2D era melhor do que 3D.

Rápido, Kotori-chan! Entregue logo esse cartão! — suplicou o mordomo ovelha em seu disfarce de chaveiro de pelúcia. — Você já enfrentou monstros, já salvou o mundo três vezes, já enfrentou sua mãe enfezada na semana passada! O que mais precisa enfrentar para criar coragem?!

Sakamichi revirou os olhos para seu celular, levemente incomodado com o sermão que parecia caber-lhe como uma luva. Tudo parecia fácil para aquela ovelha mágica safada.

Aaaaaah Mago!! Não fale assim! Não é a mesma situação! Não é! — Muito rubra e muito envergonhada, Kotori se agarrou à carta, movendo-se de um lado para o outro, naquele estilo animado cheio de exageros e poucos quadros por segundos que a deixava enorme no canto da tela, apenas evidenciando seu desespero.

— Ela é apenas uma estudante!! — Onoda gritou em defesa aos sentimentos juvenis da protagonista. Usando fones de ouvido, ele parecia ter se esquecido de que as outras pessoas podiam ouvi-lo.

Shhh! — Parecia ter também esquecido estar em uma biblioteca. — Você, garoto, para fora.

— O quê?!

Nenhuma situação será como a outra, Kotori! — Esbravejou Mago, naquele jeito meio irritado, meio conselheiro de dizer as coisas. — É por isso que você sai mais forte de cada batalha, é por isso que sai mais sábia de cada experiência!

— Garoto, isso aqui é uma biblioteca! — Muito mais irritada que Mago, e bem menos acolhedora que ele, a bibliotecária franziu as sobrancelhas e começou a erguer-se de seu lugar ao balcão. Essa não; Onoda perderia o episódio!

Mago, você não entende nada, mesmo! — chorou Kotori, e enquanto Onoda assistia a mulher vindo em sua direção, ele podia jurar que a personagem estava com os olhos verdes cheios de lágrimas. — Essa não é uma batalha! Não é como lutar contra o mal, porque não há nada de ruim aqui, eu apenas… apenas…

E enquanto Kotori gaguejava seus sentimentos em conflito, o mesmo fazia Sakamichi com suas palavras de desculpas que rolavam pela sua língua presa, sem serem realmente ditas. Ele levaria uma bronca daquelas, sua mãe o puniria pelo resto do mês e ele nem queria começar a pensar no grupo de ciclismo.

— Já estamos de saída.

Uma mão pesada, mais pesada do que qualquer ladeira que Onoda já conseguiu subir na vida, afundou em seu ombro, arrancando dele um último grito de susto; como em um clichê de Love Hime, é claro que a pessoa ao seu lado tinha de ser Tachibana Aya.

Porque eu gosto dele, Mago!!

E era tão óbvio, fosse assumir aquilo para Mago, fosse para qualquer um. E naquele momento, Sakamichi se sentiu tão tolo e óbvio quanto Kotori.

— Vem logo… — Aya rangeu os dentes, tentando apaziguar o ataque de nervos de Onoda com um sorriso apertado que mais parecia uma careta. Ela apertou seu ombro mais uma vez e aquele foi o ultimato para que ele saltasse da cadeira tal qual um ponto de exclamação.

— Certo!

— E não grite.

— Certo — ele sussurrou em resposta. O fone já estava abandonado, dependurado em seu antebraço, mas Onoda não havia notado. Mago, a ovelha-chaveiro que também era um conselheiro mágico, continuava a falar.

Esse é mais um motivo para confessar seus sentimentos, Love Hime…

— Obrigado, Tachibana-san — ele se lembrou de acrescentar todo o respeito e distância que podia em palavras. Era assim que devia ser, certo?

— Devia tomar mais cuidado, vai arranjar problema pro seu time, ainda.

Onoda riu baixinho, ajeitando o óculos rente ao rosto. Ao longe, ele podia jurar ouvir o tema de Love Hime tocando doce ao piano, embalando aquele fim de tarde tortuosamente quente. Sakamichi sequer desconfiava que a trilha sonora vinha do fone esquecido.

— Tem razão.

Sem Onoda perceber, Aya lançou-lhe um olhar rápido, sobrancelhas levantadas num olhar de indiferença, quebrado por um momento pelo ruborescer no alto de suas maçãs. Ela mataria qualquer um que tentasse apontar aquele breve deslize.

— Também não precisa fazer essa cara — resmungou. — Não estou brigando com você.

E subitamente, quando ela menos esperava e quando o próprio Onoda não parecia esperar, ele gargalhou, alto e nervoso como era de sua natureza estranha. E Aya não conseguiu deixar de achar aquilo, no mínimo, digno de atenção. Ela jamais diria fofo. Que esquisito.

— Está quente hoje, não é? — Sakamichi sorriu, aquele sorriso amplo e iluminado que ele só conseguia dar quando falava de bicicletas e seus animes estúpidos. Coincidentemente, ele não falava sobre nenhuma das duas coisas naquele momento. — Tachibana-san, posso te pagar um sorvete? Como agradecimento?

Aquele dinheiro estava reservado para um gacha novo, mas ele sempre poderia oferecer sua melhor cara de cão sem dono a Imaizumi e ganhar logo três de uma vez em sua próxima visita à Akihabara, se fosse esperto.

Tachibana olhou para o lado de fora, olhos perdidos no pátio do clube de tênis. Sakamichi percebeu as bochechas coradas e imaginou por quanto tempo embaixo do sol ela teria treinado naquele dia.

— Tá, tá, pode ser. Mas você vai pagar mesmo, né?

— Claro! — Orgulhoso, Onoda ergueu o porta-moedas temático da última coleção de Himeno Kotori, edição de colecionador com apenas 200 peças originais à venda, da qual ele conseguiu dois. Aquele dia foi louco. — Pode escolher o que quiser!

Finalmente rendida para a felicidade fácil do otakinho, Aya exasperou um sorriso, pigarreando logo depois. O que era aquela coisa que os cobria como um véu multicolorido e excessivamente piegas com seu pôr do sol e flores de cerejeira?! Nem era época de florada!

Você sabe, Kotori-chan? É nesse seu sentimento onde mora sua maior força.

O tema acústico de Love Hime continuou a tocar, acompanhando os dois estudantes além dos muros da escola até a confeitaria mais próxima, onde Onoda deixou de escolher por cereja, apenas para combinar seu cone de choco-banana com Aya.

Deixe-o brilhar, Kotori.

Mesmo sem ouvir as sábias palavras de Mago, Sakamichi sentiu em seu coração aquela faísca iluminar qualquer que fosse o bagunçado sentimento perdido ali dentro entre bicicletas e pôsteres imaginários de anime. A faísca em Tachibana Aya até foi tentada disfarçar, mas o pequeno brilho cintilou no topo do sorvete, como uma gota cristalizada, engolida sem caminho de volta; agora, ela tinha aquele sentimento dentro dela, também.

Prometo que será mágico.

Love Hime continuou tocando, vindo de uma televisão sintonizada logo ali. Sem precisar conversar, nenhum deles percebeu qualquer coisa além daquela suspeita faísca que aparentemente, apenas os dois puderam ver.

— Você também viu isso?! — Ele parecia mais animado do que deveria com uma esquisitice dessas. — Magia! — sussurrou, depois de conter os lábios com ambas as mãos.

Ela revirou os olhos antes de sorrir zombeteira. Tachibana tinha de esperar isso; só podia ser coisa de anime.

— Kira, kira-rin~

Rindo de si mesmo, Onoda terminou seu sorvete, decidido a pedir outro. Aquele episódio filler da vida real não poderia acabar em menos de 20 minutos de episódio; ele tinha uma tarde inteira agora que havia sido brevemente recolocado na figura de personagem revelante que conversa com a protagonista — e parece que eles nem precisavam conversar muito para que essa improvisada cena de episódio de praia (sem um praia) funcionasse perfeitamente.

E em sua opinião, aquilo estava sendo mágico.


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Notas finais do capítulo

Taí! :D Não acho que comédia e romance sejam lá meu forte, mas gostei de como essa história ficou. ♥ Espero que tenham gostado, também!

Até (quem sabe?) uma próxima! ♥



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