A vida é feita de escolhas.

E Draco Malfoy escolheu errado.

Scorpius, aos 11 anos, talvez tenha escolhido certo.

A vida é feita de escolhas.

E Harry Potter escolheu certo.

Albus, aos 11 anos, talvez tenha escolhido certo.

A vida é feita de escolhas.

E Draco Malfoy e Harry Potter, talvez tenham escolhido errado.

Sentados na calçada da rua que dava entrada à cidadezinha rural menos movimentada da Inglaterra, Scorpius e Albus tentavam acalmar seus corações acelerados. Fugir talvez tenha sido a escolha mais difícil que tiveram que fazer em 17 anos de vida terrena.

Scorpius, movimentado por pensamentos intrusos, pensava na Física Quântica e na ideia de que talvez outro universo tenha se criado ao não escolherem ficar. Se perguntava se aquele seu outro eu, estava triste, preso num quarto grande, sem vida e com fantasmas do passado falando em seu ouvido.

—-Eles vão ficar bem...--Albus coloca o braço por cima de seu ombro, percebendo o desconforto visível na expressão de Malfoy.--Você sabe disso. Eles não vão nos encontrar aqui, não deixamos rastros.

Esse era o problema... Talvez Scorpius quisesse ter deixado rastros.

—-O que a gente faz agora?--A pergunta rasga sua garganta.--Vamos viver aonde? Não trouxermos nada além das roupas do corpo.

Albus suspira uma, talvez duas vezes.

—-Não pense que eu dei a ideia antes de organizar tudo.--Ele esfrega a testa, ainda suada. Talvez pudessem ter ido mais devagar.-- Comprei uma casa, trouxe roupas o suficiente para sobreviver... Vou trabalhar na padaria local. Já vim aqui muitas vezes antes de hoje... Tudo para que tivéssemos a chance de sermos felizes, Scorp.

Scorpius demora um pouco para acreditar, aturdido.

—-Por que não me contou?

—-Eu não queria arriscar, mas sabia que você aceitaria.--Albus respira fundo, havia lágrimas em seus olhos, prontinhas para deslizarem por sua face.--Talvez um dia possamos rever nossos pais, meus irmãos, meus tios... Primos. Talvez um dia eles nos aceitem pelo o que nós somos, talvez um dia meu pai aceite o fato de eu ter escolhido me apaixonar por um Malfoy.

Scorpius solta um soluço. Ele amava Albus Potter com todo o seu ser, e sabia que aquela dor em seu coração se devia ao fato de ele estar perdido. Ambos estavam, não?

—-Albie... Eu te amo.

Aquele sorriso... O sorriso de quem faria tudo de novo. Albus tinha esse sorriso desde o dia em que se conhecerem, na cabine número 16 do Expresso de Hogwarts, a caminho de uma vida difícil, mas também calorosa.

—-Também te amo, Scorp.

Quem dera o problema fosse ser apenas gay... Mas, na verdade, o problema era ser um Malfoy.

Talvez não fossem ter mais do que um ao outro e amigos da vizinhança nos próximos anos, mas um dia Albus poderia voltar e rever a família. Sabia que seu pai não passaria tantos anos o odiando, e sua mãe o abraçaria independente do tempo com o mesmo amor de outrora. Seus tios talvez demorassem para aceitá-lo novamente, e sua vó não estaria mais viva, tal o seu avô. Seus primos o abraçariam, mas não na mesma forma que na adolescência. Mas não importava, importava? Scorpius estava ao seu lado, sendo seu ponto de encontro. O amor que sentiam um pelo outro era mais forte do que o tempo, e Albus estaria bem enquanto o tivesse.

Como adolescentes rebeldes, fugiram durante a noite, escondidos sob uma capa amaldiçoada pelo tempo. E como adultos rebeldes, voltariam daqui a alguns anos, dessa vez sem capa.