Love is War escrita por teffy-chan


Capítulo 4
Capítulo 4 – Não tenho escolha




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Combata isto, atire direto no coração

Não tenho escolha

Mostrarei minha saia vibrando ao vento

Eu farei você olhar para mim

 

 

 

Eu não queria ir para a escola no dia seguinte. Fingi estar doente, mas mergulhar o termômetro no chá para forjar uma febre não foi boa ideia. Ninguém fica com febre de 50 °C.

Tirar o cheiro de lixo não foi fácil, mas consegui depois de quatro banhos. Entretanto continuava com um corte feio no braço.

Os alunos me encaravam no corredor e cochichavam entre si. Ótimo, a notícia tinha se espalhado. Logo as piadinhas começariam. Estava prestes a entrar na sala quando eles se calaram de repente. Olhei para trás e vi Luka aproximando-se.

— Querem dar licença? Preciso ter uma conversa com nossa colega bolsista — embora parecesse um pedido era claramente uma ordem. Em poucos segundos os vários estudantes no corredor desapareceram.

— Não sei por que eles te obedecem tão cegamente — comentei.

— Sou descendente de uma família de Condes, você sabe. Ninguém iria querer me desafiar — Luka cruzou os braços — Deveria fazer o mesmo.

— E como descendente de Condes, deveria demonstrar mais respeito para com as pessoas, Vossa Graça — falei o título com deboche.

— Ora, então ao menos conhece títulos de nobreza — Luka disse, levemente impressionada — Pena que não tem educação suficiente para saber que não se deve dar em cima do namorado dos outros — descruzou os braços e colocou as mãos na cintura — Aliás, o que foi aquilo? Uma serenata? Que coisa brega! E usando um megafone quebrado ainda por cima — ela riu.

— Ele não estava quebrado. Eu conferi antes de sair do clube de música.

— Assim como encontrou o endereço do Kaito nos registros de lá?

— Como sabe…? Espera… — comecei a ligar os pontos — Você quebrou meu megafone!

— Achou mesmo que te deixaria fazer uma serenata para o meu namorado? — Luka ergueu uma sobrancelha — Te avisei que transformaria sua vida em um inferno se insistisse nisso, lembra?

— Acha que pode me torturar espalhando uns boatos por aí? Vai precisar de muito mais do que isso.

— Ah, eu só estou começando — Luka avançou um passo — Vai mesmo insistir em roubar o Kaito de mim, não é? Você é mesmo um lixo de pessoa… tentando separar um casal. Nem se compara ao lixo que joguei em você.

— Ninguém escolhe por quem se apaixona.

— Finalmente admitiu! — Luka deu risada — Olhe, eu até entendo que uma garota como você queira ficar com algum rapaz de boa família, eu não te culpo. E convenhamos, estar nesse colégio é uma oportunidade única. Mas existem muitos garotos solteiros e ricos por aqui, sabe? Então por que não procura outro alvo e deixa o Kaito em paz?

— Acha que quero dar o golpe do baú nele? — exclamei ofendida.

— O que mais poderia ser?

— Amor — falei o óbvio.

— Pior para você — Luka fingiu lamentar — Se fosse um simples golpe do baú eu até consideraria te ajudar, o Kaito tem muitos amigos solteiros, sabe? Mas eu já disse que preciso ficar com o Kaito, então não se aproxime mais dele. Ou da próxima vez não será apenas lixo que vou jogar em você — ela passou direto por mim, entrando na sala de aula.

Também adentrei a sala alguns segundos depois. Luka estava sentada em seu lugar, conversando com uma amiga como se nada tivesse acontecido. Os alunos ainda me encaravam, mas ignorei seus olhares. No momento só conseguia pensar na última coisa que ela havia dito.

“Preciso ficar com o Kaito”.

Por que ela sempre dizia que “precisava” ficar com ele? Que não “podia” perdê-lo? Era como se fosse uma obrigação namorá-lo. Quero dizer, quem está apaixonado costuma dizer que “quer” ficar com a pessoa que ama, certo? Talvez fosse apenas o jeito dela falar. Talvez fosse apenas minha imaginação fértil.

Ou talvez tivesse algo errado naquele namoro.

 

 

 

~~~~~X~~~~~X~~~~~

 

 

 

A aula se arrastou dolorosamente. Eu podia sentir os olhares dos alunos sobre mim, julgando-me pelos sentimentos que nutria por Kaito, mas não me importava tanto com isso. Minha maior preocupação era o que Kaito pensava sobre mim. Será que me odiava? Será que tinha rido de mim por tentar fazer uma serenata para um garoto comprometido? Pensando agora, foi uma ideia bem estúpida cantar usando um megafone… que ainda por cima estava quebrado. Isso fez minha voz parecer terrível.

Esqueci de como era ruim comer sozinha na hora do almoço. Fiz as refeições sozinha nos primeiros dias nessa escola porque ninguém queria ser amigo de uma bolsista. Agora que lembrava daquela época, Kaito foi a primeira pessoa a falar comigo. Ele me apresentou aos amigos do clube de música do qual fazia parte na época, mas acabou saindo pouco depois de começar a namorar com Luka.

Por que aquela garota o influenciava tanto afinal?

— Oi — uma voz despertou-me de meus pensamentos. Ergui a cabeça e vi Kaito me encarando — Esse lugar está vago?

— Ninguém quer ficar perto de mim — respondi simplesmente enquanto ele se sentava de frente para mim.

— Imagino que seja por causa dos boatos. As pessoas acreditam em qualquer coisa — ele comentou enquanto comia.

— Então você ouviu? — perguntei, baixando a cabeça.

— A escola inteira ouviu.

Claro que tinha ouvido, que pergunta idiota. Boatos assim se espalham como uma epidemia. Céus, ele devia me odiar agora.

Espera… então por que ele estava aqui?

— Então por que não está almoçando com a Luka e sim comigo? — perguntei — Apesar de tudo que andam dizendo.

— Os boatos são bem variados, sabia? — Kaito comentou — Alguns dizem que estou envolvido em um triângulo amoroso. Outros que você quer dar o golpe do baú. Porém o boato mais forte é que você deu o golpe da barriga — ele deu risada ao mesmo tempo em que corei furiosamente — Isso é impossível.

— Realmente — concordei. Nunca tinha namorado antes, que dirá dormir com alguém — Mas isso não responde minha pergunta.

— Luka  eu brigamos — Kaito contou, encarando a própria comida — Nós não andávamos muito bem há algum tempo. Ela agia de forma arrogante não apenas com alunos de outras turmas, mas também com meus amigos sem motivo algum… parecia estar fazendo isso só para me irritar. Mas ontem foi a gota d água — ele voltou a me encarar — O que ela fez com você foi horrível. Lamento que tenha passado por aquilo.

— Ela tinha seus motivos, eu acho — precisei admitir, jogando uma mecha de cabelo para trás — O que eu fiz… também não estava certo.

— Que corte é esse no seu braço? Ele estava bem ontem — ele segurou minha mão e a puxou para ver melhor — Eu tinha quebrado um copo ontem… céus, você se cortou com os cacos de vidro, não foi? Não acredito que ela te machucou…

— Não foi nada de mais — puxei a mão de volta, levemente corada.

— Claro que foi, você se cortou por causa dela! — Kaito exclamou — Céus, a Luka passou completamente dos limites — passou a mão pelos cabelos, frustrado.

— Não está zangado comigo? — acabei soltando a pergunta sem querer.

— O que? — ele me encarou confuso — Por que?

— Pelo que eu fiz ontem, é claro.

— Ah… aquilo foi uma serenata, não é? — dessa vez foi ele quem desviou os olhos — O que aconteceu? Pelo que me lembro você canta bem melhor — ele parecia querer desviar o assunto.

— Alguém quebrou meu megafone — sorri sem jeito.

— Isso explica muita coisa — falou sério, mas era óbvio que estava desconcertado — Miku… isso é complicado. Digo, é muita coragem sua se declarar daquele jeito para um cara que já tem namorada, mas…

  — “Mas” — interrompi — É claro, eu não tinha chance desde o começo.

— É difícil dar o fora em alguém.

— Não se preocupe, eu entendo. Já fico feliz por você não me odiar — respondi, lutando para conter as lágrimas — Bem se me dá licença…

— Não foi isso que eu quis dizer — Kaito falou antes que eu me levantasse — Eu te contei que a Luka e eu brigamos, lembra?

— Sim, mas o que tem isso? Logo ela deve pedir desculpas e tudo voltará ao normal.

— Luka é orgulhosa, não é do tipo que pede desculpas — Kaito contou — E, ainda que peça, tenho certeza de que logo fará outra bobagem para me irritar. Mas ela é descendente de uma família de Condes, então seria bom se eu ficasse com ela.

— Então você só está com ela pelo título? — arregalei os olhos, surpresa — Não sabia que se importava com essas coisas.

— Não me importo. Se ligasse para isso não teria ido falar com você no começo do ano letivo — ele recordou — Não me importo se a pessoa é descendente de nobres ou se vem de uma família humilde, o que importa é o caráter da pessoa. Mas meus pais adoraram a ideia de ter um título de nobreza na família.

— Então foram seus pais que te obrigaram a namorar a Luka?

— Eles não disseram com essas palavras, mas… basicamente sim — Kaito admitiu — Eu não estava apaixonado por ninguém e não tinha nada contra ela no começo. Era uma garota divertida, esperta e bonita então achei que passaria a gostar dela com o tempo. Mas ela começou a mudar nos últimos meses. Tornou-se arrogante, me convenceu a sair do clube de música…  até disse para eu parar de tomar sorvete!

 — O que? Mas você adora sorvete! — exclamei.

— Pois é! Mas ela ficou enchendo a minha paciência, dizendo que sorvete engorda, mesmo eu indo à academia todos os dias — revirou os olhos — Está cada vez mais insuportável ficar ao lado dela. Por isso disse que é difícil dar um fora em alguém.

Arregalei os olhos novamente enquanto as peças se encaixavam na minha cabeça. Ele não ia dar um fora em mim, e sim em Luka. Eu sabia que Luka era arrogante com os outros alunos, mas não fazia ideia de que isso afetava tanto a relação dela com Kaito. E se ele não estava apaixonado por Luka… talvez isso facilitasse as coisas.

— Então você…

— Não crie expectativas — Kaito interrompeu-me — Não posso simplesmente terminar com uma garota e começar a namorar outra no dia seguinte. E não estou dizendo que gosto de você desse jeito — ele desviou o olhar ao perceber que a frase poderia ter sido mal-interpretada — Mas… acho que sinto mais afeto por você do que por ela — sorriu sem jeito.

O sinal tocou anunciando o fim do intervalo antes que eu pudesse responder. Kaito pegou seus pertences e retornou para a sala enquanto eu ainda tentava entender se havia alguma mensagem subliminar na frase ou se estava apenas me iludindo novamente.


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Notas finais do capítulo

Para quem não conhece Vocaloid e não pegou a referência, cada Vocaloid possui um item que o representa, geralmente sua comida favorita. O item do Kaito é sorvete.



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