Nuvens cinzentas; monocromático tumulto

As sombras da luz solar

O crepúsculo está mudando de cor

Eu olhava pela janela da sala de aula enquanto o professor explicava a matéria. Estava trovejando, certamente iria chover. Talvez devesse tentar dividir o guarda-chuva com ele dessa vez. Ele sempre esquecia.

— Miku! — a voz do professor despertou-me do devaneio — Está prestando atenção?

— Hein? Sim, é claro! — menti.

— Então responda à pergunta: Diga três células que fazem parte do sistema imunológico.

— Hã… neutrófilo, macrófago e basófilo.

— Muito bem — ele não parecia feliz por eu ter acertado. Mas também, eu não aprendi aquilo na aula e sim lendo um mangá. Felizmente, antes que fizesse mais perguntas, o sinal tocou — Turma dispensada.

Recolhi meus pertences e, pouco antes de deixar o prédio da escola, minhas suspeitas se confirmaram: Estava chovendo.

Alguns alunos tinham levado guarda-chuva, outros corriam pelo pátio protegendo suas cabeças com as mochilas, mas nenhum sinal dele. Será que já tinha ido embora?

Como se respondesse à minha pergunta, ele parou ao meu lado sem que eu notasse.

— Droga… eu devia ter escutado a previsão do tempo — Kaito lamentou.

— Não trouxe guarda-chuva? — adivinhei, tentando manter a voz neutra.

— Achei que não precisaria — respondeu — Sabe como algumas pessoas acham que não precisam de nada, não é?

— Principalmente as daqui. Só porque são ricas, acham que não precisam se esforçar para nada — deixei escapar.

Aquele era um colégio de elite. Apenas filhos de famílias ricas e influentes eram aceitos e quase sempre não se davam ao trabalho de estudar de verdade. Nenhum professor teria coragem de reprovar o filho de um político, por exemplo. Porém, um bolsista era aceito uma vez por ano e eu consegui me matricular. Por isso os professores eram tão exigentes comigo.

Começava a me perguntar se foi realmente algo bom eu ter vindo para cá.

— Desculpe — murmurei — Não quis ofender, eu só…

— Você está certa — Kaito interrompeu-me — Muita gente aqui sequer se dá ao trabalho de estudar. Aliás, foi incrível como você acertou aquela pergunta, era bem difícil - — ele sorriu.

— Obrigada — senti o rosto esquentar — Escute… se quiser podemos dividir o guarda-chuva — o ergui timidamente. Era um clichê, eu sei, mas precisava fazer alguma coisa.

— Não precisa. Meu motorista deve chegar logo, não quero te incomodar.

— Não é incômodo…

— Kaito! — uma voz chamou e eu me virei a tempo de ver a garota que corria na direção dele pouco antes de segurar sua mão — Por que não me esperou? Eu disse que só ia resolver um assunto com minhas amigas!

— Estou esperando faz tempo — ele respondeu — O que as meninas conversam tanto no banheiro afinal?

— Coisa de garotas! — Luka respondeu. Olhou para o lado e só estão notou minha presença — O que estava fazendo aqui sozinho com a bolsista, Kaito?

— Eu tenho nome. É Miku — falei no lugar dele.

— Ah, certo. O que estava fazendo com meu namorado?

— Estávamos conversando — Kaito respondeu — Ela me ofereceu o guarda-chuva emprestado.

— Para que? Você tem motorista… aliás, não é ele? — Luka apontou para um carro parado em frente ao portão da escola e Kaito acenou com a cabeça. Luka voltou-se para mim — Miku, certo? Você disse que emprestava o guarda-chuva, né? Obrigada, você é um doce!

Quando me dei conta, Luka já tinha arrancado o guarda-chuva da minha mão e arrastava Kaito com a outra em direção ao carro.

O que eu sentia era errado, eu sabia disso. Não deveria cobiçar o namorado de outra pessoa. Mas Luka nunca foi flor que se cheire. Tratava mal as pessoas humildes, era mesquinha e convencida. Não fazia bem para Kaito ficar perto de uma pessoa como ela. Ou talvez fosse só o meu ciúme falando mais alto.

Céus, com tantos garotos solteiros nessa cidade por que fui me apaixonar justo por um que já tem namorada?

Ah, o mundo está desfocado

Mesmo assim, ainda te amo

Eu sei disso, mas o que devo fazer?

O que eu posso… como eu posso…

Que idiota… eu sou