Tempus Fugit escrita por tempusfugit


Capítulo 2
Capitolo Primo


Notas iniciais do capítulo

Antes de me chamar de analfabeta, saiba que o título do primeiro capítulo está escrito em italiano



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Tempus Fugit

 

“Sed fugit interea fugit irreparabile tempus”

(Publius Vergilius Maro)

 

 

5年前 

(5 years ago)

 

Tokyo Metropolitan Matsuzawa Hospital


 

            Recostou a coluna no encosto do assento desconfortável, esticando as pernas e tentando relaxar um pouco. Sentia os músculos de suas coxas tencionarem-se por conta do nervosismo crescente que tomava conta de cada uma de suas células.

                Estava perdida.

                Passou apressadamente os indicadores logo abaixo dos olhos azuis para secar as últimas lágrimas que ponderavam em manchar as maçãs de seu rosto pálido, onde o blush claro tentava disfarçar a falta de cor. Estava cansada, porém tentar dormir estava fora de cogitação, seria uma vã tentativa. Não conseguiria dormir tão cedo, não naquele dia e nem naquele lugar.

                Suspirou, sentindo o peito apertar ainda mais junto com a sensação de que havia algo emaranhado em sua garganta, implorando para ir para fora. Queria gritar, mas seu feitio não lhe permitiu tal fraqueza. Por fim apoiou um dos braços sobre o braço da cadeira e com o mesmo apoiou a cabeça para ficar observando as pessoas transitarem aleatoriamente pelos corredores claros.

                - Yay, agora levante as mãos! – Tornou a sentar-se com o tronco ereto em um movimento súbito devido ao susto que levara. Estivera tão concentrada que não passou por sua cabeça que alguém falaria tão alto no meio de um hospital. Respirou fundo tentando controlar o coração que batia em disparada e correu os olhos pelo local, à procura da origem daquela voz animada.

                Não muito longe um jovem vestido com um pijama azul claro e pantufas, andava bastante rápido pela extensão do corredor largo guiando uma cadeira de rodas. A menina, que julgou não ter mais de oito anos, mantinha os braços para o alto e um sorriso divertido que deixava à mostra a falta de dois dentes de leite.

               - Mais rápido, mais rápido! – Pedia em meio a uma risada, inclinando a cabeça para trás para ver o moço que continuava a guiando, também sorrindo e parecendo se divertir.

                Quando estavam próximos do local onde estava, uma enfermeira postou-se no meio do caminho da cadeira de rodas com os braços cruzados e o cenho franzido. Ao ver a mulher que olhava com reprovação para a cena, o jovem parou instantaneamente, ainda sorrindo.

                - Gomen, gomen ~ - A voz do outro saiu melodiosa e risonha, como a de uma criança que sabe que fez arte, e mesmo assim não sente um pingo de arrependimento. – Ela estava triste, só queria animá-la – Explicou, levando a mão à cabeça e bagunçando de leve os cabelos, que tinham um tom loiro acobreado.

                - Yare, yare... – A enfermeira suspirou, já se colocando atrás da cadeira da menina para levá-la, provavelmente, para seu quarto. – Você tem que se cuidar, Kouyou-san, sabe que não pode sair correndo por aí. Até mais! – Abriu um sorriso curto, encaminhando-se para a direita do corredor.

A menina sentada segurou firme nos braços da cadeira de rodas para conseguir virar parcialmente o tronco e sorrir para o outro, que acenou dando-lhe tchau. Assim que a pequena sumiu de seu campo de visão, ele virou-se e caminhou para o local onde permanecia sentada a jovem loira que observara toda a cena com um pouco de desinteresse.

- Yay, depois de uma caminhada rápida, é difícil respirar – Comentou, sentando-se na cadeira ao lado da que a outra estava. Olhou com atenção para o rosto da loira, dando-se conta de que se tratava de uma ocidental. – Oh, anata wa nihonjin ja arimasen. Nihongo ga wakarimasu ka?¹

- Sim, entendo. – Respondeu arqueando uma sobrancelha e estranhando a falta de timidez do japonês. Em geral o povo daquele país costumava a ser mais contido e menos sorridente.

- Ah, que legal! – Expressou sua notável surpresa por uma estrangeira conhecer seu idioma de origem. Apesar de estar em um hospital bastante movimentado, eram raras as vezes que conseguia distinguir alguém que visivelmente não era dali. – Me chamo Takashima Kouyou, prazer!

- Gabbiatti Stella. – Inclinou levemente a cabeça para frente, em um típico cumprimento japonês. Sabendo que lá era costume falar primeiro o nome da família, fez o mesmo.

Analisou-o rapidamente, com os olhos atentos. Kouyou não aparentava ser muito mais velho que ela e sua aparência bem cuidada fazia com que parecesse que estava naquele local apenas por conta de uma dor de barriga, ou coisa do tipo.

- Shisu...Shist... – Piscou rapidamente os olhos graúdos, saindo do leve momento em que ficara perdida imaginando coisas à respeito do jovem que permanecia ao seu lado tentando pronunciar seu nome.

- Stella. – Repetiu fazendo pausas silábicas. Sempre que viajava ao Japão tinha problemas com aquilo, já que eles não conseguiam pronunciar de forma correta e acabava saindo coisas bizarras como “Shisutera”, “Shistera” e até “Susutera”. E isso a irritava profundamente.

- Anou... Gomen ne~ - Riu envergonhado da própria incapacidade para falar uma nome tão difícil. Sorriu novamente, mostrando os dentes branquinhos, que para ela lembrava a arcada dentária de uma criança. – De onde você é? – Perguntou curioso.

- Itá—

- Uruha! – Ambos olharam para frente, vendo outro jovem chegando perto deles. Kouyou levantou-se e cumprimentou animadamente o loiro, que tinha os fios espetados com muito gel e laquê. – Quantas vezes eu já falei para você NÃO sair do quarto? – Cortou com a voz grave, fazendo o mais alto parar de saltitar. – E se sair é para trazer o balão de oxigênio, seu imbecil!

- Creeeedo, Reita! – Stella viu um bico manhoso formar-se nos lábios de Kouyou e perguntou-se, afinal, quantos anos aquela criatura tinha. Porque de “adulto” só possuía a altura. – Hoje eu estou bem, ta?

- Não quero saber, idiota. – Bufou o que, aparentemente, se chamava Reita.

- Não seja mal educado em frente às damas~ - Repreendeu, apontando para Stella que observava tudo com uma expressão confusa na face. – Olha Reita, essa é a... a... Shisu... Shis...

- Stella. – Repetiu.

- Hai, isso aí! – Sorriu, olhando de um para outro. – Yay.. tem que ter algo do que eu possa te chamar... – Levou uma mão ao queixo, coçando-o de leve e passeando os olhos pelo local, procurando algo que lhe desse uma idéia. – Anou, você gosta de café? – Perguntou encarando uma máquina de expresso mais ao canto e no final do corredor.

- Sim – E já imaginou que coisa boa não sairia daquela cabecinha que, mesmo não conhecendo, tinha certeza de que era oca.

- Então vou te chamar de Coffee-chan! – Falou animado. – Ah, Coffee-chan, esse é o Akira, meu melhor amigo! Você pode chamá-lo de Reita, se quiser!

- Uruha, você está assustando a moça. – Akira revirou os olhos, dando um leve tapa na cabeça de Kouyou, que colocou as duas mãos sobre o cabelo resmungando algo que a loira entendeu ter sido “itai”. – Agora vamos logo, antes que você comece a passar mal. – Falou já puxando o mais alto pela manga do pijama.

- Hey, pára Reita! – Tentou, em vão, resistir. Ao ver-se arrastado para o caminho de seu quarto, virou a cabeça para olhar Stella, que mantinha as sobrancelhas arqueadas, e falou alto:

- Até mais, Coffee-chan!! – E sumiu, como a menina da cadeira de rodas, virando à direita no final do corredor.

Stella recostou-se na cadeira e cruzou os braços, inclinando a cabeça para trás até senti-la tocar a parede gelada. Deu um suspiro longo e, olhando para uma manchinha que havia no teto, perguntou-se:

- Isso é um hospital ou um hospício?

 

 

 

 

¹- Oh, você não é japonesa. Entende japonês?

 


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Notas finais do capítulo

É, começou.
Não faço idéia de quantos capítulos a fic terá, a única coisa que sei é que cenas importantes já estão em minha cabeça.
Agradeço aos que leram e deixaram reviews, obrigada, de verdade.
Até o próximo!