La Belle Anglaise escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 33
32. Marcha Sobre Versailles.




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Agosto|1789 Palácio de Hampton Court, Londres

A revolução na França não acabou com a Queda da Bastille e muito menos com a visita do rei a Paris três dias depois, na verdade ela continuou e, talvez, Wilhelm realmente tenha se enganado em relação a coragem do povo francês.

— Tivemos que fugir. Foi covardia de nossa parte, eu sei, mas eles começaram a atacar nossas propriedades! E eu pensando que no interior estaríamos seguros.— O duque de Pessac aprendeu a língua inglesa bem rápido, bastou fugir da França por causa da revolução. Mas, ataques a pessoas e propriedades... isso Wilhelm já achava um exagero.– Paris também está um caos, o ministro das finanças e seu filho foram linchados por uma multidão raivosa. A senhora não tem ideia do que passamos, minha marquesa.

Sentada junto com suas damas, Katherine assentiu com uma expressão penosa. O duque de Pessac não era o primeiro aristocrata francês a estar nessa sala falando todas as barbaridades que viu, havia se tornado até comum. Por conta do caos revolucionário, muitos nobres deixaram a França, buscando abrigo em outros lugares.

— Isso é terrível, monseigneur! Muito terrível!— Suspirando cansada, a marquesa fitou o marido fixamente. Wilhelm não sentia algo bom desse olhar.— Graças a Deus estamos todos seguros aqui.

— Pelo menos até os ideais revolucionários aprenderem a nadar pelas água do Canal.— Fingindo uma certa preocupação, o príncipe respondeu levantando do sofá e afastando-se.

— Foi très difficile deixar notre maison, mas quando o comte d'Artois e outros membros da corte deixram a França, vimos que il était temps de faire la même chose.— Não foi apenas o duque que aprendeu, mas a duquesa começou a falar inglês, embora muito mal.

O pequeno grupo ficou em silêncio, não pelas palavras da duquesa, mas sim meditando no que Wilhelm disse. Uma hora ou outra a Revolução Francesa iria afetar as monarquias envolta.

— Será que o rei ou, pelo menos, Marie Antoinette também estão pensando em fugir.— Quebrando o silêncio, Katherine perguntou.

— Por que ela deveria? Por que eles deveriam?— Rindo zombador, Wilhelm perguntou.— O povo francês não desejar fazer mal algum aos seus soberanos, Katherine.

— Mas não deixa de ser uma questão de segurança, Marie Antoinette é terrivelmente impopular na França.— O príncipe virou o rosto, para isso ele não tinha resposta.— A rainha está particularmente preocupada com a família real francesa, ela até mesmo mandou preparar quartos para eles em St. James.

— Acho muito difícil esses quartos chegarem a ser usados.— Por que exatamente? Todos encararam inquisitivamente o duque.— A rainha não deixará o rei, o rei não deixará a França e os Filhos da França nunca deixarão os pais.

— Então que Deus proteja o a família real francesa dos... dos próprios franceses.

Isso era... o cúmulo! Wilhelm não iria falar nada, iria cair em ouvidos surdos mesmo. Katherine parecia não entender que existia um vínculo quase divino de respeito e amor do povo pela família real, em todas as monarquias da Europa era assim, foi até mesmo, em parte, esse vínculo que salvou a Dinamarca das mãos de Struensee. Mas ela era uma inglesa, o príncipe teria que lembrar, a muito tempo os ingleses deixaram de acreditar que o povo era infinitamente leal a monarquia.

Todas as vezes que esse assunto era tocado, Katherine simplesmente dizia que o povo também amava Charles I, mas ainda assim ele foi decapitado. A vontade de Wilhelm era responder que a Guerra Civil não foi uma revolução.

— Eu gostaria muito de saber o que acontece na França, com as minhas propriedades.— Deprimido ao pensar em sua fortuna, o duque comentou.— A Assembleia Nacional acabou de abolir todos os direitos da nobreza, meus direitos como senhor daquela terra!

Monseigneur de Pessac estava completamente arrasado com a ideia de pegar imposto, de ser exatamente igual a qualquer um, até para cargos públicos e oficiais. Ver um homem chorando não era nada bonito, principalmente por um... motivo desses, mas pelo menos a revolução já estava alcançando alguns de seus objetivos.

— É o que chamam de igualdade, não?— Pessac riu em escárnio ao ouvir o príncipe. Wilhelm não se importava, esse homenzinho era insignificante.— Certamente fará bem a França, faria em qualquer lugar, na verdade. O que você acha, Katherine?

— Todos devem ter direito a alguma liberdade e igualdade.— Algumas? Ele negou irônico frente ao orgulho dela.— Apesar não concordo em conceder cargos públicos e poder político a qualquer um.

— Louis XIV estaria profondément decepcionado par tout isso.

E como estaria, o sistema político criado por ele estava ruindo. Segurando uma risada, Wilhelm deu as costas para o grupo e sorriu satisfeito. Talvez logo a Dinamarca seguiria o exemplo da França, mas com menos derramamento de sangue e longe de ser a mesma coisa da Regra de Struensee.

Não demorando muito os Pessac foram embora. Muito bem, o príncipe voltou-se a Katherine e suas damas, agora ele poderia continuar a não fazer nada.

— Que coisa horrível está acontecendo na França Katherine!— Bess, assim como todas as outras, tinha os mesmos pensamentos que Katherine.— Que belo momento para Josephine e Rose terem filhos.

— Creio que o maior desastre no momento é ter que abrigar todos esses franceses em casa.— Escondendo o rosto com a mão, Lady Courteney comentou cansada.— A irmã de John é quase tão ruim quanto o marido dela.

— Mas, Lady Courteney, o que aconteceu com o "devemos abrir nossas portas para os exilados"!?— Rindo de Maria, Lady Monmouth perguntou irônica e recebeu um olhar feio.

— Morreu junto com o absolutismo.

A baronesa riu, mesmo não sendo a mulher mais simpática aos franceses. Entretanto o silêncio logo tomou conta da sala, ou melhor, a tensão tomou conta. Katherine encarava pensativamente o príncipe, como se estivesse tentando decifrar algum enigma, embora fosse Wilhelm que realmente estivesse tentando decifrar um enigma. O que ela tanto pensava?

— Quando você disse que a igualdade faria bem a todos... você estava falando de mim, Wilhelm?— Pausadamente, Katherine perguntou.— Ou melhor, de Niedersieg?

— Claramente.— Wilhelm não iria mentir. Era proibido expressar a opinião própria? Katherine sussurrou um "ah" impassível. — Foi a falta de liberdade que causou a revolução, afinal de contas.

 

— Suas acusações me ofendem, sabia? Meu povo não tem do que reclamar.— Não? Wilhelm riu irônico e deu as costas para Katherine, que revirou os olhos.— Ou você acha que vou deixar pessoas pobres, sem educação e classe governarem Niedersieg? Isso não acontece no mundo real, Wilhelm!

— Seria pedir muito, com certeza.— Suspirando, ele aceitou isso, mas não completamente. Wilhelm fitou a desconfiada Katherine.— Mas e a censura? A tortura? A educação paga e feudalismo? Isso não limita a liberdade?

Antes a marquesa estava plácida e calma, mas ao ouvir isso ela levantou-se ofendida e apontou furiosa para ele.

— Não havíamos acordado que esse assunto nunca seria discutido, Wilhelm!?— Nunca era uma palavra muito forte. O príncipe riu e negou, fazendo a raiva da marquesa transformar-se rapidamente em melancólia.— Suas acusações me cansam tanto! A vida não é, e nunca será, como seus pensadores iluministas escreveram, Wilhelm!

Dando mais um agudo grito, Katherine deu as costas e saiu da sala. Ficando para trás, Wilhelm piscou em confusão, o que havia sido isso? Uma briga dificilmente foi, geralmente elas eram cheias de paixão e... intransigência, mas... Katherine estava bem? Encarando as damas da marquesa, o príncipe procurou uma resposta, mas Lady Baster apenas sinalizou para ele ir atrás dela.

Nem mesmo hesitando, Wilhelm deixou a sala de visitas e foi procurar pela esposa, ele também tinha de cumprir o acordo, afinal de contas. A marquesa estava no corredor, olhando os jardins de Hampton Court pela janela.

— Qual o meu maior defeito, Katherine? Eu acho que é falar muito.— Aproximando-se da esposa, ele tentou sorrir conciliador. Ela permaneceu séria.— Agora diga-me você.

— Você sempre fala o que pensa, esse é o seu problema.— Katherine nem mesmo olhou para Wilhelm, precisou ele pegar o rosto dela e virá-lo em sua direção.— Não estou nada feliz com essa revolução, Wilhelm, mas sim muito preocupada. Preocupada com a França, com Niedersieg... comigo mesma. Sabe o que é isso?

— Eu também estou preocupado, tudo que digo é pensando no bem, o seu bem.— Katherine tentou desviar o olhar, mas Wilhelm a trouxe de volta e aproximou-se mais dela.— Não fico feliz com todo aquele caos na França, mas sim com as conquistas do povo.

Os dois permaneceram encarando um ao outro por um tempo, até que Katherine, envolvendo seus braços envolta do pescoço dele, apoiou sua cabeça do ombro do marido. Wilhelm fechou os olhos e acariciou o macio cabelo dela.

— Infelizmente o mesmo não pode ser dito de Niedersieg, não por falta de vontade, mas sim pela necessidade.— Ouvindo-a, Wilhelm abraçou a cintura de Katherine, apenas para em seguida ela leva uma mão dele ao ventre.— Meus niedersiegers não devem ficar assustados, ou revoltados, com a Revolução Francesa, nós não podemos ficar assustados.

Uma mão no ventre... afastando a cabeça dela, Wilhelm encarou Katherine fixamente. Ela... estava tentando dizer o que ele estava pensando? A marquesa sorriu e assentiu. O príncipe riu emocionado, mas simplesmente abraçou fortemente a esposa, que retribuiu da mesma forma.

— Richard, Anne, Robert, Mary e mais um, seremos a família mais feliz, Katherine.— Wilhelm fechou os olhos ao sentir o abraço dela apertando.— E nem mesmo essa revolução vai mudar.

Wilhelm e Katherine permaneceram abraçados por um longo momento, e embora ambos tivessem pensamentos diferentes, eram ao mesmo tempo muito complementares.

*****

05 de outubro de 1789, Paris

O ardor revolucionário espalhou-se em Paris como uma praga, em menos de três meses a cidade havia entrado em um caos que não era visto desde os Valois. Paris era o personagem principal da revolução e isso dificilmente poderia ser negado. Entretanto, nem a Queda da Bastille, e muito menos a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, foram o suficiente para trazer algum alívio aos pobres do Terceiro Estado, muito pelo contrário, apenas acendeu o pavio de uma bomba.

No início da manhã as mulheres de Paris iniciaram nos mercados um furioso motim contra o alto preço do pão e trigo e, buscando serem realmente ouvidas, foram ao Hôtel de Ville. Saqueando e destruindo todas as padarias e lojas pelo caminho, mais de sete, talvez dez, mil mulheres e, em minoria, homens estavam protestando em frente a prefeitura.

Obtenez Lafayette! Nous voulons voir Lafayette! Et Bailly aussi!— Dentro do prédio, os membros da Comuna de Paris ouviam os apelos com horror. O general La Fayette e o prefeito Bailly não estavam na prefeitura, como atender a multidão?

Nous partirons d'ici avec seulement du pain, des armes, Bailly et Lafayette!

Liberté, égalité, fraternité et pain!

Faites venir Bailly et La Fayette ! Posez le pain!

Os gritos da multidão apenas ficavam maiores, a raiva tornava-se mais colérica. As mulheres da multidão tinham consigo facas, machados e qualquer tipo de coisa que pudesse ser usado como arma, esse povo queria pão e o teria a qualquer custo. Esse fato apenas assutava ainda mais os membros da Comuna, sem o prefeito ou La Fayette eles não poderiam fazer nada, assim iriam acabar entrando na prefeitura e...

Entre a multidão, um homem vulgar agarrou o tambor militar de uma mulher e começou a tocá-lo, chamando a atenção para si.

À Versailles! À Versailles!— Os gritos do homem calaram a multidão por um momento, como se estivessem assutados.— À Versailles! Allons chercher le pain à Versailles!

À Versailles!— Mesmo não sendo imediato, o vainqueur recebeu gritos de apoio das mulheres, que avançaram furiosamente em direção ao Hôtel de Ville.— À Versailles! Allons chercher le pain de Versailles!

Os guardas da Guarda Nacional que estavam protegendo o Hôtel de Ville, poderiam fazer força, apontar suas armas a multidão e defender com paixão a Comuna de Paris, mas quem estava vindo era justamente o povo, então eles simplesmente abriram as portas. As mulheres entraram praticamente correndo na prefeitura, pegando todas as armas e mantimentos que conseguiam.

O Hôtel de Ville por pouco não foi incendiado e a Comuna de Paris linchada pelos revolucionários, que, já tendo suas armas, começaram a marchar para fora da cidade, rumo a Versailles, em direção ao rei.

Comment cela, la Garde nationale a laissé la foule piller l'hôtel de ville!? C'est inacceptable!— Assim que chegou na prefeitura, o marquês de La Fayette foi notificado exatamente do que aconteceu durante a ausência dele.— Qu'ont emporté ces femmes, à part du pain et des armes?

Nous ne savons pas exactement, général.— Ouvindo essa informação, La Fayette esmurrou a mesa entre ele e os horrorizados representantes, que hesitaram um momento, mas continuaram:— Le fait est qu'ils se dirigent vers Versailles et que leurs gardes sont prêts à les accompagner.

Os olhos do general arregalaram ao saber de Versailles e arregalaram mais ainda com a notícia dessas ameaças de deserção.

À Versailles!?— Os representantes assentiram. Uma multidão furiosa e armada indo em direção a odiada corte de Versailles... era a receita do desastre.— Que voulaient ces femmes à Versailles?

Os representantes nem precisaram responder, imediatamente La Fayette correu para fora da sala, ele tentaria ao máximo conter a Guarda Nacional, pelo menos até Bailly chegar e a Comuna de Paris decidir algo, caso isso não acontecesse... Melhor nem mesmo pensar!

Ruidosamente a multidão, predominantemente de mulheres, marchava na chuva em direção a corte de Versailles. Com seus canhões, roubados do Hôtel de Ville, e armas, embora algumas improvisadas, pareciam até mesmo um pequeno exército indo tomar alguma fortaleza, o tecnicamente era verdade.

Amenez le roi à Paris! Nous prendrons le pain, le vin et le roi!— Exultantes com sua vitórias, as mulheres praticamente cantavam.— Et la reine?

Mort à l'Autrichien! Mort à l'Autrichien!

A multidão clamava pela presença do rei em Paris, enquanto da rainha... simplesmente pediam seu fim... em poucas horas a multidão chegou a Versailles e invadiu a Assembleia Nacional...

*****

Apesar de estar grávida mais ou menos a três meses, Katherine já poderia afirmar que essa era sua gravidez mais estranha, pelo menos a que tinha a evolução mais "diferente". Ela não sabia bem o porquê, nem mesmo os médicos, mas para todos os efeitos isso era o resultado do estresse e ansiedade causados pela revolução, que não dava sinal de fim. Era verdade que desde o final de setembro as coisas pareciam ter acalmado na França, a Declaração dos Direitos foi o último "grande acontecimento", mas a sensação de perigo apenas aumentava.

No momento havia paz e calma, mas a França estava mudando e Katherine tinha muito medo da Europa mudar junto, e não da melhor maneira possível.

Entretanto a França não era a única preocupação de Katherine, também havia James, no caso a irmã dele. Lady Christine, que desde a morte do sogro ano passado havia se tornado a baronesa Eugenie, voltou a fazer visitas quase diárias a marquesa, mas agora com um objetivo diferente: ela queria saber notícias do irmão. A quase dois meses Bravandale havia deixado de escrever para casa e, mesmo com Katherine afirmando que o duque tinha obrigações como vice-governador, a baronesa queria respostas.

Durante semanas a marquesa não conseguiu dar as respostas que ela queria, porém a situação parecia ter mudado... e muito drasticamente para ser mais preciso. A nova Lady Eugenie havia chegado com uma notícia... surpreendente?

— Acho que escutei errado, milady. Poderia falar novamente?— As mãos de Katherine tremiam, ela mal conseguia segurar a xícara de chá com o susto.— Eu... diga que escutei errado.

— Seria maravilhoso se tivéssemos escutado errado, mas não foi, minha marquesa. James... morreu.— Lady Christine segurou-se para não chorar, escondendo o rosto com um lenço. James morreu... Katherine estava sem palavras.— Descobri hoje mesmo, a notícia chegou junto da correspondência comum! Já faz dois meses!

Isso explicava muita coisa. O açúcar e as frutas, sem contar nas cartas, tinham parado de chegar a marquesa nesse mesmo período. Em silêncio, a princesa bebeu um gole do seu chá e encarou Christine, que esperava impacientemente por uma resposta.

— Como ele morreu?— Diminuindo voz e parecendo chorosa, a marquesa perguntou.

— Febre amarela.— Oh, meu Deus! Katherine quase derrubou a xícara, mas Christine estava muita ocupada em sua própria dor para perceber.— Pelo menos ele sofreu pouco, na carta dizia. É tão difícil de acreditar, meu irmão, tão forte e bonito, sucumbiu para uma febre!

— A febre amarela não é uma "simples febre", milady.— Séria, como quase todas as outras, Maria repreendeu a jovem baronesa. Lady Christine não deu atenção, preferindo esconder o rosto com o lenço.— A febre é agonizante, os músculos doem tanto que você para de senti-los, sem contar nos delírios e...

Levantando sua mão a marquesa sinalizou para Lady Courteney parar, quem pecou foi James, não Lady Eugenie. As mulheres na sala ficaram em silêncio, apenas ouvindo os gemidos dolorosos da baronesa, Christine sofria. Katherine não negaria, havia uma parte dela a chamando de assassina, não grande o suficiente para fazê-la acreditar, mas o suficiente para causar algum remorso. Tudo isso estava acontecendo porquê Katherine havia mandado James a Antígua, sem ao menos deixá-lo se despedir decentemente da família.

Agora Bravandale estava morto, indiretamente por causa dela. Suspirando tristemente, a princesa encarou Lady Eugenie, era de sentir pena.

— O que farei agora!? Sem pai, sem mãe e sem irmão, estou sozinha no mundo!— Não aguentando, ela começou a chorar baixo. Katherine afastou-se levemente de Christine, não havina pena o suficiente para fazê-la chorar pela morte de um violentador.— Agora minha família é só John e Amelius!

Lady Eugenie não estava sozinha de verdade, mas... ainda haveria muita solidão. Com pena da baronesa, Katherine fitou suas damas e sinalizou para elas falarem alguma coisa, porque ela mesma não faria isso, não havia nela tanta hipocrisia assim, mas todas as damas negaram...

— Pelo menos o duque não sofre mais.— Ou melhor, quase todas negaram. Lady Monmouth foi a única dissimulada o suficiente para "consolar" Lady Christine.— Veja por esse lado, talvez sua tristeza diminua, mesmo que pouco.

— Eu tento pensar assim, Lady Monmouth, tento realmente, mas... James era um homem tão bom, tratava a todos muito bem. Ele tinha alguns defeitos, como a falta de paciência, mas...— Christine realmente iria falar apenas isso? Bebendo novamente seu chá, Katherine negou, aproveitando que ela não via.— Não posso aceitar isso! James não merecia isso!

— Os bons sofrem e morrem, enquanto os maus parecem estar sempre felizes. Deus sabe o que está fazendo, milady.— Essa última frase, Louisa falou tão ironicamente que impressionava.

Lady Christine voltou a chorar, enquanto todas as outras damas a encaravam ou não davam atenção alguma. Chega um ponto em que até mesmo a pena acaba, principalmente quando o motivo da pena... era Bravandale. Isso continuou por um bom tempo, até que a baronesa enfim parou... Logo Katherine arrependeu-se disso.

— Junto da carta enviada pelo governador Nugent, também havia uma carta escrita por James durante a doença, uma carta para você.— As mãos de Katherine voltaram a tremer. Uma carta? Fitando a marquesa, Lady Christine continuou:— Ele suplicava o seu perdão, escreveu coisas sem sentido algum e... disse que você é a única culpada pelos infortúnios dele.

Ele disse? Em silêncio, Katherine encarou fixamente a baronesa, pensando no que responder. A vontade dela era falar como Bravandale era um monstro violentador, mas a marquesa tinha respeito pelos mortos, mesmo desejando muito jogar o corpo de James no meio do Atlântico, para os tubarões.

— Deve ter sido o efeito da febre, delírios com certeza.— O olhar desconfiado de Christine não mudou em nada com a resposta da marquesa.— A milady lembra... da manga?

— O comentário da duquesa de Devonshire no Garden Party desse ano em Hampton Court?— Infelizmente, Katherine assentiu a Christine.— Ela disse que o seu cabelo tem a mesma cor de uma manga.

— Eu acabei reclamando disso com James e não escrevi mais para ele. Talvez tenha sido isso.— Mesmo assentindo, Lady Eugenie ainda não parecia muito certa.— James estava delirando, Christine, não devemos dar muita credibilidade a essa carta.

Lady Eugenie ainda não parecia convencida, ela simplesmente suspirou e continuou a encarar desconfiadamente a marquesa. Katherine tinha sua consciência limpa, por isso não estava nada preocupada.

— As coisas dele devem chegar hoje ou amanhã, acho que um diário vem junto.— Diário? Bebendo novamente do chá, a princesa disfarçou seus olhos arregalados. As damas de companhia se entreolharam preocupadas.— Tenho que ir agora, o novo duque ainda não sabe que é duque. O primo George morrerá de alegria, espero que não literalmente.

Permanecendo sentada, Katherine apenas sentiu Lady Eugenie beijando sua mão, depois a marquesa ficou presa em seus próprios pensamentos. Agora ela tinha um problema... mesmo morto James causava problemas... talvez... Pensando em algo, a princesa levantou determinada do sofá.

— Maria, preciso que você roube o diário de Bravandale.

— Roubar!? Você ficou louca, Katherine!?— Talvez. A princesa assentiu, mas a condessa negou veemente.— Não! Talvez se você pedir a Louisa...

— Não sou uma ladra de mortos, Lady Courteney.— Ofendida, Lady Monmouth respondeu.

— Sir George Bush, seu irmão, é um oficial da Marinha Real, Maria, use isso a seu favor.— Novamente Maria negou. O que mais Katherine teria de fazer?— Por favor, esse diário poderá nos destruir.

No final, Lady Courteney fez assim como pedido. Ela saiu e voltou quando já estava próximo das cinco da tarde.

— Agradeça, Katherine.— Tirando o pequeno diário do bolso, Maria entregou a Katherine.— Não foi nada fácil, George me encheu de perguntas.

Mas o 2° baronete Cavenbush fez assim como pedido, isso que importava. Katherine analisou melhor o diário e viu as iniciais J.B na capa... James Berkeley... Apertando com força o caderno, a princesa caminhou lentamente em direção a lareira. Estava na hora de apagar da História o grande e forte 3° duque de Bravandale...

— Katherine, Berland veio lhe trazer uma notícia, não sei o que é mais parece ruim.— Antes que a princesa pudesse faze mais qualquer coisa, Wilhelm entrou na sala de visitas com o conde de Berland. Que desgraça!— O que você está fazendo?

— Nada! Eh... esquentando o bebê.— Virando-se na direção deles, ela guardou o diário no bolso. O príncipe franziu o cenho, mas não pode fazer mais perguntas.— Imagino que o milorde tenha notícias da França, não?

Assentindo lentamente, o conde confirmou. E pela expressão dele já era possível supor que não era algo bom. Qual a nova desgraça que havia atingido a França? Suspirando cansada, Katherine sinalizou para Berland sentar, mas ele permaneceu em pé.

— Minha marquesa, no dia 5, uma multidão de mulheres pedindo pão saqueou as armas do Hôtel de Ville e depois marchou a Versailles.— Oh Deus! Katherine fitou horrorizada Wilhelm.— Sitiaram o palácio e quase mataram a rainha. Agora o rei e a família real estão em Paris, praticamente presos nas Tuileries. Definitivamente, o Louis XVI perdeu todo o poder real que detinha.

Eles foram levados a Paris... o rei perdeu seu poder... Versailles foi deixado para trás... Eles estavam perdidos! Katherine apenas não caiu para trás porque Wilhelm a segurou, os dois se entreolharam... por que ele também estava assustado?


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Notas finais do capítulo

* La Belle Anglaise no Pinterest: https://pin.it/7fI5Y9E



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