La Belle Anglaise escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 30
29. Francas Conversas.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808522/chapter/30

05|01|1785 Bordeaux, Reino da França 

As coisas haviam tomado um rumo que dificilmente Wilhelm esperava que fossem tomar. Desde aquele dia, certas coisas acabaram mudando, enquanto outras não. O príncipe ser feito duque de Kendal, conde de Holderness, e barão Ruthin, sendo uma das situações que mudaram.

— Para a França, o rei disse. Bordeaux irá nos receber muito bem, ele prometeu. Estava errado? Não particularmente.— E havia isso: uma viagem para a França. As reclamações de Katherine mostravam bem o que ambos pensavam dessa viagem.— Aquelas pessoas no porto pareciam até nunca terem visto "gente importante".

— Muito provavelmente nunca viram antes e nunca verão novamente, pelo menos não membros da realeza.— Fechando a cortina da berlinda, Wilhelm finalmente fitou a esposa. Katherine bufou.

— Bordeaux, na Aquitânia, podem dizer qualquer coisa, mas aqui é a Aquitânia... o que passava na cabeça do rei quando ele decidiu nos enviar para esse lugar?— E ela ainda perguntava? Rindo irônico, o príncipe revirou os olhos, o que a irritou:— Pergunto-me mais ainda o que tinha na cabeça do rei quando ele decidiu fazer de você duque?

Qualquer coisa poderia! Desviando seu olhar, o príncipe abriu novamente a cortina. Desde o exílio forçado de Bravandale as coisas estavam assim, um terrível caos. O dumm conseguiu tirar a paz deles até mesmo estando no fim do mundo! E essa coisa de ducado não ajudou em nada, apenas ofendeu Katherine, a marquesa... Claro que... Wilhelm sabia que tinha uma certa culpa nesse mal-estar, mas... mordendo os lábios, ele voltou-se novamente a esposa:

— O rei deixou muito bem claro o motivo da nossa visita a França. Viemos celebrar a nova paz entre os dois reinos.— Três, caso a Irlanda fosse considerada. O olhar da marquesa ainda estava irritado.— Sabe que não estou mais feliz que você! Se pelo menos estivéssemos em Paris ou Versailles...

— Com certeza em Paris ou Versailles estaríamos muito melhor que em Bordeaux.— Apesar da irritação na voz, Katherine parecia muito certa de suas próprias palavras. Ele sorriu irônico.— Você dúvida? Saiba que estamos aqui simplesmente porquê a Aquitânia era uma das posses inglesas na França da Idade Média. Sendo assim, mas nessa lógica melhor estaríamos na Normandia.

— Você reclama de barriga cheia, Katherine. Poderíamos estar em um lugar muito pior.— Mesmo que, novamente, ele também não estivesse satisfeito. Imediatamente a princesa fechou a cara.— E se tivéssemos sido enviados para os EUA? Ou pior ainda, a Prússia!?

A irritação de Katherine rapidamente tornou-se uma expressão enojada. Não conseguindo, nem querendo, evitar, Wilhelm riu zombador dela, a Prússia era sem sombra de dúvidas o inferno de todos os Habsburg, era tão maravilhoso, divino até. Novamente a irritação voltou a marquesa, apenas para logo depois tornou-se um sorrisinho cínico, o príncipe deixou de rir.

Nada de bom poderia sair dessa boca quando ela sorria assim. Mas ele não era medroso. O príncipe fitou a esposa com um calmo sorriso.

— Amo seus sorrisos, Wilhelm, da mesma forma como amo seus comentários desnecessários e secos.— Oh, então ela também sabia ser irônica? Ambos se encaravam fortemente.— Tanto faz Prússia ou França, ambas são inimigas históricas da Áustria, sem contar que a segunda odeia a Grã-Bretanha.

— Na primeira vez que um marquês de Bristol, ou marquesa no caso, deixa a Inglaterra, o destino é justamente um inimigo centenário.— Com uma falsa pena, Wilhelm suspirou.— Tão trágico, não?

Ela não respondeu de imediato, apenas direcionou um olhar presunçoso a ele.

— Pensando bem, Bordeaux é melhor que as vielas sujas da medieval Copenhagen.— Como? Dessa vez realmente foi ofensivo. Mas Wilhelm não poderia ser ofensivo... mas a berlinda parou.— A satisfação de vencer é maravilhoso.

Não era preciso nem olhar pela janela, eles haviam chegado no Hôtel de l' Archevêché, logo a porta seria aberta. O sorriso de Katherine era terrivelmente presunçoso, tanto que irritava o príncipe. Mas ele também não deixava pontas soltas.

— E as vielas sujas da medieval Copenhagen mais limpas que o fétido Tâmisa.— Logo após Wilhelm acabar, um lacaio abriu a porta. Ambos colocaram no rosto brilhante sorriso.— Vamos, mon amour?

Esse termo irritou Katherine, não era possível ver essa irritação com os olhos, mas facilmente Wilhelm conseguia sentir. De qualquer forma, ela permaneceu sorrindo e, depois do príncipe descer da carruagem, aceitou a mão dele com graça e gratidão. O duque de Kendal e a marquesa de Bristol eram um casal cheio de amor, beleza e juventude... ou pelo menos, era essa a imagem que eles deveriam irradiar na França.

Uma multidão considerável havia se formado ao redor do Hôtel de l' Archevêché, eram pessoas saudando o casal, comemorando a paz e alguns até mesmo gritando ofensas aos ingleses. Entretanto, nenhuma atenção considerável foi dada às multidões, apenas pequenas acenos com a cabeça, o foco não era o povo, mas sim os aristocratas, nobres, magistrados, juízes e ricos que esperavam por eles debaixo de um grande docel em frente ao palácio episcopal.

Son Altesse Sérénissime, la Princesse Katherine de Niedersieg, le Marquis de Bristol!— Primeiro em francês, um arauto apresentou a realeza estrangeira.— Son Altesse, le Prince Wilhelm de Danemark, le Duc de Kendal!

Com isso, Wilhelm e Katherine foram em direção ao pequeno grupo de líderes de Bordeaux, enquanto...

— Sua Alteza Sereníssima, a princesa Katherine de Niedersieg, a marquesa de Bristol!— Um arauto britânico, infelizmente Lord Pembroke não pôde vir, os anunciou em inglês.— Sua Alteza, o príncipe Wilhelm da Dinamarca, o duque de Kendal!

Não demorando muito, o duque e a marquesa finalmente chegaram ao grupo abaixo do docel, todos que então fizeram uma longa e respeitosa mesura a realeza estrangeira, que foi retribuída com um simples aceno de cabeça. Logo depois, um cavalheiro, que talvez achasse que ainda estava na corte de Versailles, aproximou-se para cumprimentá-los.

Son Altesse Sérénissime, sou o duc de Pessac, le roi me enviou para recebê-los.— O duque de Pessac, fez novamente uma mesura, embora olhasse encantado para a marquesa. Esse era o líder então.— Bienvenue à Bordeaux!

Votre belle ville m'enchante déjà, monseigneur.— Mas que bela mentira essa! Quase dava a Wilhelm o desejo de revirar os olhos, mas ele simplesmente sorriu para a multidão.— Nos royaumes devraient célébrer la paix récente.

Et Bordeaux s'apprête déjà à célébrer cette paix.— Voltando-se ao duque francês, o príncipe comentou com um sorriso.

Absolument, absolument. Vamos continuar?— Como ele quisesse... o duque apontou então para uma jovem mulher, que aproximou-se fazendo uma mesura.— Madame, monseigneur, essa é ma femme, Hortense Haut, la duchesse de Pessac

Enchanté, Vos Altesses.— Aparentemente, apenas o duque de Pessac sabia falar inglês nesse lugar, e nem direito era.— Eugène...

A madame de Pessac ainda iria dizer algo, mas o duque chamou a atenção dos visitantes e isso caiu no esquecimento. Wilhelm e Katherine foram apresentados aos outros membros importantes da comitiva, menos o duque de Richelieu e o visconde de Noé, o prefeito da cidade que estava exilado na Inglaterra.

*****

As apresentações não demoraram muito e logo o duque e a marquesa foram levados para dentro do Hôtel de l' Archevêché, um grande e moderno palácio episcopal recém-construído. O duque de Pessac comentou que era o lugar perfeito para eles, mas Wilhelm se perguntava francamente porquê desse pensamento.

Em todo caso, eles foram apresentados aos aposentos onde ficariam e deixados sozinhos em seguida.

Katherine estava na frente de uma grande janela, tentando observar a cidade que o jardim tentava esconder. Enquanto Wilhelm, analisando com muito cuidado o quarto da esposa, ainda tentava acreditar que realmente estava no continente, novamente ele estava no continente. A França de forma alguma era a Dinamarca, ambos os reinos eram muito diferentes, mas... tanto havia mudado, mas permanecido igual...

— Depois de quase sete anos vivendo em uma ilha, estar no continente é tão... estranho.— Embora esse quarto fosse muito mais sóbrio que ele imaginou. Wilhelm encarou curiosamente a esposa.— Imagino que para você deve ser ainda mais estranho, eu cresci no continente, enquanto você...

— Eu nasci e me tornei mulher com o medo dos franceses invadirem minha casa.— Cortando ele, Katherine respondeu... dura? O príncipe franziu a testa confuso.— Com certeza temos sentimentos diferentes em estar no continente, na França.

— Deve ser o mesmo sentimento que eu senti ao chegar na Inglaterra, a terra da mulher que quase destruiu a Dinamarca.— O objetivo de Wilhelm não era retribuir, mas acabou sendo. Mas pelo menos ela ficou em silêncio, talvez tivesse acabado.— Apenas... não vamos brigar, Katherine. As pessoinhas daqui são agradáveis, não?

Novamente, ela não respondeu. O príncipe inicialmente estranhou, o silêncio de Katherine nunca representava algo bom, pelo menos não nessa situação. Wilhelm aproximou-se da esposa, pronto para perguntar novamente, mas ela finalmente falou:

— Como assim brigar, Wilhelm? Ninguém aqui está brigando!— Levantando levemente a voz, Katherine afirmou irritada. Oh Deus, isso era inacreditável! O príncipe riu negando com ironia.— Você é muito irritante, Wilhelm! Você e sua ironia. Se nós brigarmos, não venha colocar em mim a culpa.

Essa voz doce e desentendida... não ajudou em nada para amenizar o que ela disse. O sorriso de Wilhelm foi substituído por ressentimento.

— O que você quer dizer com isso, Katherine? Que sou o culpado pelas nossas discussões!?— Foi uma ofensa! Uma terrível ofensa! E ela nem mesmo respondia, ficava presa no próprio silêncio. Wilhelm riu irônico.— Por que você não olha para mim!? Qual o seu medo, Katherine? Você sabe que aprecio a sinceridade mais que tudo na vida.

— Então por que você não casa com ela, ou melhor ainda, adota como uma filha!?— Nem uma resposta isso era direito! Negando, agora foi o príncipe que deu as costas, mas rapidamente desistiu ao ouvir ela suspirar.— Por que as coisas sempre ficam assim quando estamos mal, Wilhelm? Você não cansa dessas discussões tolas e desnecessárias?

Impressionante, muitas coisas para ser mais exato. Era impressionante como a conversa deles não tinha rumo, como ela não queria tocar naquele assunto... como Katherine poderia ser... falsa! Tudo isso irritava tanto a Wilhelm, ele tinha sentimentos também, iguais frustações!

— Não existe uma pessoa mais cansada que eu, Katherine. E estou sendo muito sincero com você. A questão é que, como sempre, temos um problema.— Novamente sendo uma pessoa, um homem... sem rir, sorrir e olhar ironicamente, o príncipe apenas encarou por trás a esposa, que olhava para ele pelo reflexo da janela.— E francamente, eu não posso viver em paz com esse problema, Katherine. Bravandale...

— EU NÃO QUERO OUVIR ESSE NOME, WILHELM! CALE A SUA BOCA!— Enfim virando-se em direção a ele, Katherine gritou com raiva. Assustando, o príncipe, que deu alguns passos para trás, fazendo ela dar novamente as costas.— Meu sofrimento é impossível de descrever, Wilhelm, mas... eu suspei! Então supere também! Por que isso lhe incomoda tanto?

Nenhuma, absolutamente nenhuma das palavras de Katherine pareciam verdadeiras, ela não parecia ter superado! E... como ela ousava perguntar, sendo que já sabia da resposta? Talvez fosse fingimento. De qualquer forma, ele não era obrigado a nada.

— Estou voltando para o meu quarto agora.— Mesmo não olhando para ele, Katherine assentiu. Wilhelm deveria sair, mas... mordendo os lábios, o príncipe hesitou um momento.— Talvez seja melhor conversamos num outro momento, quando estivermos mais calmos.

— Nunca estarei calma quando o assunto for esse.— Nem sempre a palavra nunca era algo definitivo. Suspirando, o príncipe andou para a saída, mas antes...— Poderia passar aqui antes de irmos ao Grand-Théâtre? Irão comentar caso não saíamos juntos.

Que assim fosse então. Sem ao menos assentir ou falar alguma coisa, Wilhelm saiu do quarto e foi para o seu próprio. Eles dois pareciam nunca ter paz! Mesmo no quinto dos infernos Bravandale conseguia destruir a calma que havia entre Wilhelm e Katherine! Era instigante, horrível!... As vezes... Wilhelm só queria desistir.

*****

Do ponto de vista diplomático, a peça da noite anterior no Grand-Théâtre foi um grande sucesso. Não houve uma gafe seque durante todo o espetáculo, mas o mesmo dificilmente poderia ser dito sobre os franceses, que passaram a noite toda comentando sobre eles.

"Parecem um casal tão feliz e apaixonado."

A vida pessoal de pessoas importantes sempre era algo que gerava muito interesse, isso independente de nacionalidade ou classe social, mas todos aqueles comentários, que não eram nada discretos, irritavam particularmente Katherine. Eles eram felizes, não tinha como negar!

"Você acha? Mas eles nem mesmo estão trocando olhares."

Haviam comentários que chegavam a ser risíveis com tamanha tolice. Não havia lugar para romance quando o foco era manter a frágil paz entre reinos que eram inimigos centenários. Negando com a cabeça, Katherine caminhou lentamente para a frente da janela, nesse momento toda a cidade deveria estar na Catedral de Saint-André de Bordeaux

"Considero a marquesa e o duque pessoas divinas, apesar dela olhar orgulhosamente para todos nós."

E também deveriam estar comentando a mesma coisa pela recusa deles em estar na missa... Suspirando, a marquesa deu os ombros, foi o próprio arcebispo de Bordeaux que impediu que eles, uma anglicana e um luterano, participassem da "sagrada liturgia católico-romana".

"Eu escutei de uma criada, que escutou da camareira, que eles estavam tendo uma terrível briga mais cedo."

E qual o motivo da briga? Ela riu irônica pensando na resposta. Eles eram dois tolos horríveis. Com certeza o orgulho era a principal característica de ambos. Os franceses poderiam ter sido mais discretos em suas fofocas, mas que nobres francês era discreto?

"Veja, veja! O príncipe tocou no braço dela!... Ah, ele está apenas chamando ela para o camarote."

Uma noite ruim, seguida por um dia terrível. Mas havia como ser diferente? Dificilmente. Pelo menos Katherine não tinha mais pesadelos com James, a muito eles haviam parado de acontecer, para falar a verdade, nem mais pensar naquela ocasião ela fazia com frequência, era uma triste lembrança. Katherine sentia apenas uma coisa: remorso, talvez um pouco de culpa.

Aquela situação poderia ter sido evitada? Talvez, ninguém poderia saber. Mas Katherine as vezes ficava pensando se o mesmo teria acontecido caso ela tivesse conversado com James sobre a "paixão" dele. Eram possibilidades. E havia também Wilhelm, que ocupava grande parte desses pensamentos. A raiva que ele mostrou naquele dia foi terrível, brutal ao ponto de assustar. E falar que não era a primeira vez apenas piorou as coisas.

Abraçando o próprio corpo, Katherine suspirou cansada. Por que essas coisas tinham de ocorrer com ela!? Quando tudo estava bem sempre acontecia um desastre desses na vida! Por que eles não poderiam ser como os pais dela? Katherine tinha tanta inveja deles. Alfred e Elizabeth sempre mostravam amor, compreensão e nunca brigavam, eram o casal perfeito... dificilmente Katherine e Wilhelm seriam um "casal perfeito".

Um melancólico sorriso surgiu nos lábios da princesa, um casal perfeito, parecia até uma grande...

— Temos que conversar, Katherine.— Interrompendo os pensamentos da marquesa, Wilhelm entrou abruptamente no quarto.

Como esperado ele veio. Entretanto, para a surpresa dela, ao voltar-se na direção de Wilhelm, Katherine percebeu que o marido não tinha um olhar irritado no rosto, mas sim ansioso. De qualquer forma...

— Um cavalheiro não deve entrar dessa maneira no quarto de uma dama, mesmo que ambos sejam marido e esposa.— Ele permaneceu imóvel com as palavras dela, apenas a observando com os olhos.— Onde ficou sua educação, Wilhelm? Em algum lago dinamarquês?

Por algum motivo, essas últimas palavras atingiram o príncipe, por um momento a raiva realmente tomou ele.

— Não volte a falar essas palavras, Katherine! Elas perturbam a minha consciência!— Não chegou a ser um grito, mas era visível o desconforto do príncipe. Isso... deixou Katherine ainda mais confusa, principalmente quando ele tentou disfarçar.— Onde estão seus "cães de guarda"? Aqueles que você chama de damas de companhia?

— Dificilmente você está aqui para falarmos sobre minhas damas, o seu assunto é outro.— Em todo caso, Katherine não iria perguntar sobre os desprazeres dele. Ela deu novamente as costas ao marido.— Diga logo o motivo de você estar aqui, Wilhelm.

— Farei isso, não duvide.— Negando, ela riu irônica.— Mas antes você poderia olhar para mim? Para os meus olhos?

Por quê? Apenas para deixar essa conversa ainda mais dolorosa e difícil? As vezes os olhos de Wilhelm pareciam duas balanças da justiça, só que muito mais julgadoras. Mas que assim fosse então. Suspirando fortemente, Katherine encarou fixamente os olhos do marido.

— Diga logo.

— Mas eu já não fiz isso? Quero conversar seriamente com você.— Arqueando uma sobrancelha, a princesa negou. Ele não havia dito seriamente antes.— Quero falar sobre nós e nossos sentimentos.

— Caso você tenha esquecido, já falamos muitas vezes sobre nossos sentimentos e pensamentos.— Principalmente quando eles discutiam e falavam palavras impensadas.— Ou você deseja falar sobre outra coisa? Talvez me torturar com lembranças ruins. Caso seja isso, dispenso a conversa.

A ofensa tomou conta dos olhos de Wilhelm e ele aproximou-se rapidamente dela.

— Nunca foi o meu objetivo... não importa, você não dará ouvidos mesmo.— Quem disse? Ela também aproximou-se ofendida dele, mas...— Eu quero apenas a sua paz, Katherine, a nossa paz! Que você supere o que aconteceu!

— Superar? Não existe uma forma de superar aquilo, Wilhelm! Não foi um ato consumado, é verdade, mais ainda doeu muito!— Não pensar, não ter pesadelos, era muito diferente de superar. Tentando evitar derramar alguma lágrima, Katherine afastou-se do marido.— Eu nunca vou superar, Wilhelm.

Certas marcas eram impossíveis de apagar da vida. Agora ambos estavam um de costas para o outro, em um terrível silêncio, como se houvesse muito para dizer, mas dificilmente eles sabiam como, o que de fato era... um silêncio terrível, mas que não durou muito. Wilhelm pegou o ombro da esposa.

— Se não é possível superar, vamos então buscar a paz.— Ao acabar, o príncipe foi para a frente da marquesa, voltando a fazer contato visual.— Isso eu sei que podemos conseguir. Basta você dizer como.

Isso envolvia muitas coisas. Katherine tentou cortar o contato visual, mas Wilhelm segurou levou a mão bochecha dela trazendo-a de volta.

— Existem três passos para termos novamente paz, e todos envolvem eu e você.— Ele assentiu com desespero, pronto para qualquer coisa. Sorrindo, Katherine sorriu com pena e agarrou a mão dele.— Wilhelm, diga-me por que você ficou tão irritado com essa situação.

— Eu... não... eu...— Negando e rindo desesperadamente, Wilhelm soltou ela e deu alguns passos para trás.— Sou seu marido, Katherine! Sou ser um humano! Como eu não poderia ficar irritado com um crime desses!?

— Sei disso, Wilhelm, mas não é disso que estou falando. Não quero saber dos seus sentimentos como um ser humano... com coração!— Parecia até mesmo confuso, ele mesmo negou. Katherine deu alguns passos para perto dele.— Quero saber o porquê de todo aquele ódio. Wilhelm, você estava prestes a matar ele.

Novamente uma negação, o príncipe parecia até mesmo negar falar o que realmente sentia. Isso angustiava Katherine de várias formas, mas ele acabou falando:

— Porque eu fiquei decepcionado, Katherine!

— Decepcionado!?— Com quem exatamente!? Ela!? Wilhelm assentiu novamente.

— Fiquei decepcionado, muito decepcionado. Mas não se engane, fiquei decepcionado comigo e com você.— Isso... já era esperado. Novamente Katherine chegou mais perto de Wilhelm.— Você não me disse nada, escondeu o que aconteceu. Mas... logo isso torna-se o de menos, porque eu vi os sinais, os hematomas e a tristeza, mas eu não disse nada, ou melhor, não fui firme o suficiente.

— Oh Wilhelm!— Levando sua mão a bochecha dele, Katherine acariciou o marido.— Você...

— Fiquei decepcionado com você por ter escondido, mas fiquei mais ainda por eu não ter feito nada.

Havia tanta tristeza e pesar nos olhos de Wilhelm, tanto que... fechando os olhos, Katherine abraçou fortemente o marido, que prontamente retribuiu, talvez... essa era a primeira vez que eles se abraçavam nesse ano.

— O que aconteceu dificilmente poderia ser evitado, Wilhelm, embora minha cabeça diga o contrário, eu sei que não poderia.— Ao afastar-se do abraço, Katherine finalmente disse.— A obsessão dele estava acima de tudo. Mas... eu não disse nada por medo, olhe o que aconteceu, você disse coisas terríveis, poderia até morrer!

— E esse é outro ponto que me irrita. Você não teve justiça, Katherine!— Novamente isso... Wilhelm parecia querer mais que ela.— Estou falando sério. Aquele monstro deveria morrer pelo que tentou fazer!

— O que nos leva ao segundo ponto: Wilhelm, aceite que ele está tendo o que merece. A vida nas colônias caribenhas, mesmo para um vice-governador, não é fácil. Longe da sociedade civilizada e envolto por revoltas escravas, doenças e sujeira, ele foi praticamente condenado a morte.— Bravandale iria definhar até a morte.— Aceite isso. Se você buscasse algo pior, talvez eu quem perderia, eu perderia você.

Isso... era de coração, palavras ditas com a maior sinceridade. Deixando isso mais claro ainda, Katherine agarrou o pescoço de Wilhelm e aproximou a cabeça dele mais ainda da dela, quase num beijo. Mesmo assim, perdido nos olhos da esposa, o príncipe ainda tentou negar.

— E quanto a você? O que realmente importa são seus sentimentos, Katherine.

— Eu nunca vou superar, disso tenho total certeza.— A princesa aproximou mais ainda os lábios deles, olhando atentamente nos olhos do marido.— Mas eu posso ganhar voltar a ter paz. Vamos a terceira coisa? Eu preciso do seu amor, Wilhelm. Me ame, dê a mim o amor que nem Fredrik Adolf e muito menos o monstro souberam me dar.

Segurando amorosamente a cabeça de Katherine com as duas mãos, Wilhelm assentiu e beijou levemente os lábios da princesa. Os dois se encararam um momento, e logo reiniciaram o beijo novamente.

Essa era uma promessa, um pacto, Katherine e Wilhelm sempre estariam juntos, nunca mais deixariam alguém intervir dessa maneira no relacionamento deles...

"Na madrugada de sexta-feira, 14 de outubro de 1785, por volta das 04:10, nasceu em Kensington uma nova princesa para Bristol... seu nome é Elizabeth Mary Louise Catherine."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

* Editando esse capítulo eu percebi uma curiosidade interessante, que, francamente, eu nunca tinha dado atenção. Wilhelm, James e Fredrik Adolf têm uma coisa incomum, tirando Katherine é fato, os três são duques... sinceramente, eu nunca tinha percebido isso. Seria o destino?... Se eu acreditasse nisso talvez...

* Aqui foi um dos primeiros capítulos em que eu tentei mudar realmente de ambiente, para a França. Originalmente eu faria isso novamente apenas no próximo romance, mas eu decidi adiantar, apenas para deixar as coisas ainda emocionantes... mas não se preocupem, o próximo romance ainda é o que terá mais "primeiros".

* La Belle Anglaise no Pinterest: https://pin.it/3DxvFzp



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "La Belle Anglaise" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.