La Belle Anglaise escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 19
18. Decisões Conflituosas.




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A marquesa sofreu um aborto espontâneo. A criança que ela esperava, um menino, foi pedida. 

Agora, Katherine estava se recuperando. Ela não tinha forças, e muito menos ânimo, para levantar e cumprir suas obrigações como marquesa e regente. Sendo assim, as obrigações dela passaram para Wilhelm.

Isso... apenas tornava as coisas piores! Por que a marquesa viúva não poderia assumir no lugar de Katherine? Ele ser o marido não significava nada! Wilhelm quase sentia-se sujo só por substituí-la. O poder absolutistas dos Tudor-Habsburg era nauseante, doentio. Ou talvez fosse apenas exagero... muito provavelmente era isso.

Mas não mudava a situação atual. Os Tudor-Habsburg reinavam em Niedersieg como monarcas absolutistas, principalmente depois que Maria Theresa morreu, e se já não bastasse, também "reinavam" Bristol. Claro que nesse último eles apenas exerciam influência sobre as autoridades regionais, mas isso não negava que "a palavra de um Tudor-Habsburg era lei". Essa família tinha muito poder.

Realmenter não era um poder real, nem mesmo o rei tinha, mas os Tudor-Habsburg tinham no parlamento e conselhos locais "homens de confiança", que obedeciam todas as palavras da família. Isso sem contar nas igrejas, escolas, orfanatos, prédios públicos, praças e jardins que eles construíam onde tinham influência.

Era um grande reino escondido em um reino maior e mais poderoso, um que agora era comandado por Wilhelm. Isso era tão... era terrivelmente irônico, chegava a ser maldade. Pelo menos o poder dele não era o mesmo que o de Katherine, mas sim limitado. O que na teoria poderia ser bom.

— Agora que todos estão presentes, podemos iniciar.— Os nobres do conselho assentiram e Wilhelm voltou a sentar. Eles eram o limite dele, tudo deveria ser feito em conjunto com o Conselho de Bristol.— Como os milordes bem sabem, a marquesa não está em condições de usar com bom senso as suas prerrogativas, sendo assim irei, momentaneamente, substituí-la. Peço então que sejam pacientes e ajudem-me, como fizeram com o 3° marquês.

Os doze continuaram encarando o príncipe com séria indiferença.

Wilhelm quase grunhiu incomodado. Esses homens o consideravam apenas um estrangeiro dinamarquês, esquecendo que ele era um príncipe, um Oldenburg, primo, sobrinho, neto e bisneto de...

— Somos muito privilegiados pela sua liderança, Sua Alteza.— O barão York, que era o mais velho, iniciou.— Certamente a marquesa agradecerá.

— Sua ajuda é um refrigério ao sofrimento dela.— Esboçando algum sorriso, Lord Ormond acrescentou.

— E para nós, um alívio.— Alívio? Wilhelm encarou curioso o jovem conde de Shaftesbury.— Afinal, o príncipe é razoável e sábio, com certeza tomará as melhores decisões. Temos de concordar que a marquesa, como toda mulher, pode ser muito volúvel e frágil.

Volúvel e frágil!? Era quase cômico Shaftesbury falar isso, mas não surpreendente, jovens como ele gostavam de agradar. Katherine poderia sim ser volúvel, mas frágil? Isso não.

— De fato, milorde, mas ela claramente sempre toma as decisões da melhor forma possível. Como foi treinada.— Shaftesbury corou envergonhado e calou-se.— Lord Cambridge, inicie.

O visconde assentiu e, pegando uma folha com os tópicos da reunião, levantou-se. Graças ao Cristo, não parecia muito.

— Como é costumeiro, iniciaremos com Niedersieg. Em seu último relatório o barão von Frieden...

Suspirando cansado, Wilhelm distraidamente escutava Lord Cambridge, ou melhor, quase escutava. Todos, mas principalmente Katherine, deixaram muito bem claro que a função dele era apenas ler, assentir, dar uma opinião e assinar, era isso e sem acréscimo algum. Nada de criar, ordenar ou aconselhar. Essa foi até que uma jogada esperta da marquesa. Ele não iria aceitar muito facilmente tomar ações absolutistas, a não ser que fosse obrigado.

Entretanto, porém, nada foi dito sobre se recusar a assentir e assinar. Um pequeno sorriso satisfeito surgiu nos lábios do príncipe. Ele não iria nem consentir, e muito menos assinar, algo que fosse contra sua consciência. Wilhelm se recusava.

— Há algo de engraçado nas enchentes do Inn, meu príncipe?— A reunião! Por um momento Wilhelm esqueceu, mas com o duro olhar de Lord York, logo lembrou.— O que aconteceu foi sério...

— De fato foi, por isso... o chanceler do tesouro deve enviar imediatamente ajuda a Königsstadt.— Foi essa cidade? A julgar pela falta de reação, sim.— Com certeza a população ficará muito agradecida e feliz pela ajuda.

Alguns dos cavalheiros tiveram ao menos a cortesia de sorrir e assentir, enquanto outros não fizeram nada, e York revirou os olhos. Ele não estava muito velho para isso? Mas Wilhelm não pôde pensar muito, Lord Cambridge voltou a falar:

— Escreveremos depois uma carta exigindo essa ajuda— A julgar pelo tom de Cambridge, Niedersieg não uma grande preocupação.— Vamos continuar... Von Frieden encheu o relatório.

Então era uma sorte que apenas Lord Cambridge fosse ler, mas um azar que os outros teriam que ouvir tudo... mas novamente, Wilhelm não ouviu com atenção, ele receberia uma cópia depois de qualquer forma.

Depois de alguns minutos, o visconde finalmente acabou de ler o relatório e passou a palavra ao conde de Berland, que começou a ler um novo relatório, agora feito por ele mesmo, sobre a situação diplomática e política continental. Wilhelm suspirou entediado, nem mesmo da Dinamarca eles falavam, a política era tão... entediante.

—... Na Áustria o imperador continua a estender mais liberdade aos servos, em detrimento da influência do clero e nobreza.— Era uma pena que Joseph II fosse um monarca do absolutismo esclarecido, ele daria um ótimo iluminista.— Creio que o "camponês libertador" esteja sendo um tanto quanto radical...

— Existe algum problema neles darem mais liberdades aos servos na Áustria?— Todos, principalmente Berland, encararam assombrados o príncipe. Mas Wilhelm não calou-se:— Não era para os milordes serem whigs, os defensores da democracia e do liberalismo?

— Nós somos nobres, meu príncipe. Membros da hereditária Câmara dos Lords.— O barão Hartford chamou a atenção do príncipe.— Defendemos os nossos interesses e o do povo.

Quanto ênfase Hartford colocou em "nossos". Wilhelm negou com a cabeça e riu irônico, isso era tão...

— Suas palavras são contraditórias, milorde.— O barão abriu a boca ofendido.— Eu imaginava que...

— Não vamos entrar nessas discussões tolas, por Deus.— Agora foi Wilhelm que ficou ofendido. Ormond o chamou de tolo!?— O imperador está sendo radical, esse é o problema. Continue, Berland.

Apesar de sua irritação, o príncipe fitou o conde e assentiu, que ele continuasse sua leitura. Wilhelm não iria discutir, principalmente por não apoiar ações radicais, nem mesmo pela democracia.

— Isso é tudo. O continente nunca esteve tão "calmo" quanto agora.— O conde fechou sua pasta e sentou novamente.— A palavra volta ao príncipe.

— Só posso perguntar se há algo a mais para discutirmos?— Os nobres se entreolharam, mas nada responderam. Wilhelm iria então considerar que não havia.— Pois bem, creio que podemos concluir...

— Ainda temos um assunto a resolver, meu príncipe.— Que maldito era esse Lord Kent! A contragosto o príncipe novamente sentou.— Temos problemas em Bristol, distúrbios.

Distúrbios em Bristol... Wilhelm ouviu com séria atenção e chegou a uma simples conclusão: ele não poderia se importar menos.

— As autoridades do condado certamente têm capacidade para resolver esse problema.— Fingindo bom humor, Wilhelm respondeu, mas os lords continuaram estoicos.— Acho que a responsabilidade de cuidar desse tipo de situação pertence ao... como é o nome mesmo?

— Lord Tenente.— Destoando levemente dos outros, o barão Barnander respondeu satisfeito.

— Exatamente, muito obrigado.— O barão assentiu sorrindo, mas logo parou quando recebeu de Lord Kent um olhar duro.— Tenho certeza que o Lord Tenente de Bristol resolverá esses distúrbios.

Afinal, eram problemas da cidade e não dele. As autoridades locais que deveriam cuidar de reprimir distúrbios, e mesmo que elas fossem incompetentes, Wilhelm não poderia fazer nada. Pelo menos era isso que o príncipe pensava, pois a julgar pela forma como olhavam para ele, os lords discordavam.

— Meu príncipe não deve ter entendido, mas o problema é em Bristol, não Bristol.— O que? O conde de Rochford estava apenas deixando Wilhelm mais confuso.— São ataques, melhor dizendo, protestos contra a marquesa, por causa da atual situação na guerra.

Katherine!? O que ela tinha haver com isso!? Se fosse para culpar alguém que fosse os generais e comandantes britânicos.

— Rochford está tentando dizer que certos desocupados estão ameaçando e apedrejando Bristol House e o guarnição da Guarda Germânica que protege a residência.— O conde de Kent voltou a falar, por um momento Wilhelm ficou perplexo.— Sir Eliot Palmer relatou que a situação está insustentável, as boêmias não estão sendo o suficiente.

Palmer? Esse nome não era estranho ao príncipe, mas não referindo-se ao novo capitão da Guarda Germânica... Talvez Lord Cottington, ou então Lady Cottington... Mas o problema...

— E o que eu poderia fazer? Entregar baionetas e mandar atirar em todas as direções?— Não houve uma resposta imediata, até que, para o horror do príncipe, Kent assentiu.— Não pode ser!

— A Guarda Germânica tem suas próprias baionetas, assim como permissão para usá-las, quando necessário.— E agora era necessário? Wilhelm duvidava muito. E mostrou isso negando.— Sei que meu príncipe acha que estamos sendo precipitados e agindo errada...

— Ah, o milorde sabe?— O tom irônico dele irritou Kent, que calou-se irritado.— Pois muito bem, suas palavras estão certas.

E mais que certas, foi um tiro certeiro. Felizmente o conde de Kent não disse mais nada, na verdade, nenhum lord disse coisa alguma. Mas alguém tinha que continuar, e o escolhido foi Ormond:

— Sabemos das suas inclinações iluministas, meu príncipe. Assim como sabemos que não é aconselhável pegar armas contra civis.— Wilhelm é um iluminista e nunca se deve pegar armas contra civis.— Mas quando a situação torna-se extrema, ações extremas devem ser tomadas. Sir Eliot tenta espantá-los a dias, mas sem sucesso, devemos então pegar as baionetas. Tudo para protegermos a marquesa.

Dessa vez foi Wilhelm que calou-se. Eles não iriam desistir dessa infâmia e... Merda! Merda! Merda! Conseguiram amedrontá-lo

— Tá! Façam como quiserem!— Ouvindo suas próprias palavras, o príncipe escondeu seu rosto com as mãos.— Eu sou uma vergonha.

Um fraco e inútil! Por que ele não poderia ser simplesmente o "plantador da semente"!? Mas diferentemente de Wilhelm, os lords estavam quase exultantes.

— Um bom líder sabe reconhecer quando é necessário ter firmeza, meu príncipe.— Wilhelm encarou irritado Lord York. Isso não era firmeza, era... genocídio!— No futuro...

— Cale a sua boca, York!... Enviem para Sir Eliot uma permissão para que, se necessário e apenas necessário, as baionetas sejam pegas e usadas.— Indo da raiva a fria calma em segundos, Wilhelm selou sua palavra.— Mas exijo que antes de qualquer ação uma solução pacífica seja procurada.

Todos os lords assentiram, a reunião acabou e eles foram embora, deixando para trás um pensativo Wilhelm. Quando Katherine descobrisse ele estaria morto. E quando desse errado, porque não poderia dar certo, ele seria estripado.

*****

Uma semana havia passado, e Katherine continuava em seus aposentos, sem qualquer ânimo para voltar a suas funções. Tudo estava tão calmo.

— Teremos novamente uma reunião, e novamente serão aqueles mesmos assuntos.— Logo em seguida Wilhelm gemeu frustrado, fazendo um sorrisinho surgir nos lábios de Katherine.— Não sei quem odeio mais: Kent ou York?

— Os dois são igualmente horríveis.— Se bem que Kent parecia mais... a marquesa sentiu o marido apertar sua cintura.— Agora você sabe o que tenho de suportar toda semana. Está sorrindo?

— Sempre... principalmente quando chega o final.— Claro, Katherine riu imaginando. Wilhelm novamente gemeu frustrado, e o que ele falou em seguida foi... curioso:— É horrível e ainda tem o problema com Sir Eliot.

— Problema com Sir Eliot? Ele precisa de algo?— Não falaram nada para ela e o príncipe não responder apenas deixava a situação mais estranha.— Responda-me, Wilhelm.

Ainda não foi o suficiente e deixando as coisas ainda mais estranhas, ele virou a cara.

— Não é nada importante, meu amor.— Meu amor? Sem alemão? Katherine negou com a cabeça.— Acredite. Eu não esconderia nada de você.

Era bom que fosse assim mesmo. O sorriso de Wilhelm conseguiu convencê-la. Mas era bom que tudo estivesse do mesmo jeito que ela deixou.

— Eu vou acreditar em você, meine Liebe.— Os dois se encararam e assentiram. Mas rapidamente essa seriedade transformou-se em desejo, que acabou em um beijo. Até que as mãos dele tocaram os seios dela.— Wilhelm! Nossos filhos e minhas damas estão aqui.

Parando de beijá-la, o príncipe encarou Richard e Anne divertindo as damas, um ato que foi seguido por Katherine, mas rapidamente ele voltou a beijá-la, agora no pescoço.

— Então mande todos saírem.— Katherine riu, por diversão ou sentindo cócegas da língua do marido. Wilhelm estava impossível hoje.— Não tenho vergonha alguma.

Tentador... muito tentador. Mas antes que qualquer decisão fosse tomada, Lady Cottington entrou no quarto da marquesa junto do marquês de Nondell. A marquesa e o príncipe rapidamente se separaram, Wilhelm até mesmo levantou da cama.

— Meu príncipe, Lord Nondell veio avisar que o conselho lhe espera na sala dourada.— Sempre com sua expressão plácida, Lady Cottington avisou.

— Pois bem, já estou indo para a tortura.— Sentando na cama, o príncipe tentou voltar a seriedade. Essas tentativas eram tão vãs, Katherine balançou a cabeça.— Mas essas crianças também devem ir.

Inicialmente Richard recusou-se a pegar na mão de Grace e sair, muito diferente de Anne, se bem que era um bebê, não havia muito que reclamar. Essa recusa do pequeno herdeiro causou algumas risadas, até que finalmente ele aceitou e pegou a mão de Lady Pembroke.

— Traga-os novamente mais tarde, Grace.— Antes que a baronesa pudesse sair, Katherine pediu.

— Sem falta, Katherine.— Lord Nondell abriu a porta para ela, que agradeceu e saiu com as crianças.— Vamos ler uma história no berçário? Que tal A Bela e a Fera?

Os risos das crianças foram a última coisa escutada. Bem, a marquesa voltou-se ao marido, estava de hora dele ir.

— Boa reunião, Wilhelm. E não deixe-os mandar em você.

— Ninguém manda em mim.— Ele falando assim parecia até cômico. Mas era verdade, Katherine constatou com irritação.— Ah, antes que eu me esqueça. A milady conhece algum Palmer, Lady Cottington? Que não seja Sir Eliot.

Palmer? Desde quando Wilhelm importava-se com a nobreza britânica? Katherine estava curiosa, e não apenas ela.

— Os baronetes Palmer de Whitchurch.— Mas esses não eram...— Minha irmã mais velha, Martha, é viúva de Sir George Palmer, o 2° baronete. Sir Eliot era tio dele.

— Sua irmã... muito curioso.— Katherine concordava com Wilhelm, curioso.

— Por que tanta curiosidade com os Palmer, Wilhelm?— Negando com a cabeça, o príncipe sorriu, deu os ombros e saiu do quarto. Era odiável quando ele dava uma de misterioso.— E como está Lady Palmer?

— Sim, Rose, diga como Martha está. A tempos não ouvimos nada sobre ela.— Um pouco mais animada que a marquesa, Lady Monmouth perguntou.— Gosto daquela galesa.

E Monmouth não ficava no País de Gales? Relevando isso, Katherine voltou-se para a baronesa Cottington, que não esboçou reação alguma com a pergunta. Parecia até que ela e a irmã não... eram próximas.

— Como não iria gostar?— Cortando Lady Cottington, Josephine riu ironicamente da cunhada.— São a mesma coisa.

— O que você quer dizer com "a mesma coisa"!?— A baronesa Monmouth não gostou do tom usado.— Eu exijo...

— Miladys, não vamos discutir tolamente. Todas somos iguais a Lady Palmer: ricas, bem educadas e mulheres.— Tentando manter o bom humor, Maria buscou uma remediação.— Mas como vai sua irmã, Rose?

Era impressionante como Lady Courteney conseguia manter a paz com suas palavras e bom também, Katherine não gostava de separar brigas, ela nunca fazia isso.
— Vai muito bem, obrigada.— Só isso? Lady Cottington parecia... desconfortável.— Martha está morando conosco em Cottington House.

Lady Palmer estava morando com os Cottington? Na mesma casa? Interessante, curioso até... ela não havia herdado toda a fortuna dos Cunliffe?

— Isso é apropriado, milady? A casa de um casal é só do casal.— Bess comentou, completamente certa.— Pelo menos William e eu odiamos quando mamãe está conosco.

Talvez odiar fosse uma palavra muito forte, mas Katherine também nunca morou sozinha com Wilhelm, afinal, poderia ser perigoso, mas um casal precisava de privacidade.

— James insistiu para que ela morasse conosco.— Isso não tornava a situação normal.— Sarah gosta muito da tia.

Nenhuma das outras damas teve coragem para falar algo contra, nem mesmo a tola Lady Torrington. Esse assunto realmente deixava Lady Cottington muito desconfortável, muito mesmo. Com um suspiro, Katherine finalizou essa conversa:

— Se a querida Sarah gosta de Lady Palmer e Lord Cottington permitiu, quem somos nós para ir contra, não é mesmo?— Os problemas dessa família pertenciam aos Carlton, Katherine não gostava de se envolver nos problemas dos outros.— Acho que vou dormir, estou com sono.

O assunto anterior rapidamente caiu do esquecimento e depois Katherine conseguiu dormir. Enquanto isso as damas faziam qualquer outra coisa.

Foi um rápido cochilo, mas o suficiente para dar a princesa algum descanso, mesmo que ela não estivesse cansada... foi revigorante. Mas como tudo que é bom dura pouco, essa paz também acabou. A marquesa viúva foi visitar a filha, como sempre fazia.

— Dormindo, Katherine!? Mas o dia está tão belo!— Com uma animação e alegria quase incomum, a marquesa sentou-se ao lado da filha na cama.— Que tal darmos um passeio nos jardins? Sair dessa cama será maravilhoso.

Sair? Katherine não sabia mas nem o que era sair. O máximo que ela via do lado de fora era pela janela.

— Eu irei, mamãe,— Katherine sorriu feliz, mas logo em seguida a princesa fechou os olhos e virou o rosto.— quando me sentir melhor.

Não era isso que a viúva esperava. Katherine sorriu divertida ao ouvir a mãe bufar.

— Vou aceitar isso, apesar de tudo.— Era muita consideração.— Nunca sofri um aborto, mas imagino como dói.

Disso Katherine não queria falar, ela não gostava de falar. Automaticamente as mãos dela apertaram sua barriga. Mas graças ao Criador a marquesa viúva entendia e não tentou estender o assunto.

— Obrigada, mamãe?

— Por que me agradecer?— Por muitas coisas. Houve um momentâneo de silêncio entre as duas. Katherine não via, mas sua mãe percebeu os diários do marquês na mesa de cabeceira.— Você está lendo os diários do seu pai? Espero que não haja nada comprometedor sobre mim.

— Por que haveria?— Apesar da risada da princesa, a viúva ficou em um sério silêncio.— Estou lendo sim, gostei muito do primeiro que papai deu.

— Você leu todo?— Essas perguntas eram... curiosas? Ela assentiu a mãe. Novamente a marquesa viúva fez uma pausa.— Havia algo de... interessante?

Havia muita experiência, conselhos sábios e situações boas e ruins, nada mais que isso. Ah, tinha também... Frederik Adolf veio a lembrança da princesa.

— Uma folha solta... eu a guardei.— Bem fundo em uma gaveta. Mas o mesmo não poderia ser feito com Frederik Adolf.— Havia algo de importante nela?

Curiosamente, ou talvez não, a marquesa viúva voltou a calar-se, agora um pouco mais tensa. Quase que Katherine sentia vontade de ler...

Percebendo os pensamentos da filha, Elizabeth levantou da cama e deu as costas para a filha, não tinha como encará-la.

— Wilhelm veio aqui?

— Sim. Agora ele está em reunião com meu conselho.— Com resposta de Katherine, a viúva olhou para a filha sem entender, até que lembrou.

— O Conselho de Bristol... recordo-me agora.— Logo em seguida a marquesa viúva tremeu.— Aqueles homens são terríveis, Katherine, eram antes e nunca deixarão de ser. Acredita que eles coagiram Wilhelm a concordar em pegar armas contra Bristol?

Foi como se o tempo tivesse parado nesse momento. Pegar armas contra... Bristol... Como ele ousava esconder isso!? Katherine encarou com raiva suas damas, pedindo explicações, mas elas estavam mais perplexas ainda.

A voz da marquesa havia morrido. Ela queria gritar, e gritar muito, mas não conseguia. Era o cúmulo! Wilhelm não poderia fazer isso, e muito menos aqueles homens! Até que Katherine encontrou palavras:

— Maria! Prepare um vestido para mim. Imediatamente!— Com uma rapidez impressionante, Katherine levantou-se da cama e foi para a penteadeira.— Arrumem meu cabelo. Ele não me falou nada, mamãe! Nada! Aquele... aquele dinamarquês!

Lady Courteney correu para o armário da marquesa, enquanto as outras damas foram ajudar com o cabelo.

— Talvez ele...

— Não importa!— A grito estridente dela calou a mãe.— Ele escondeu de mim... Quero o azul, Maria!

— Segundo Lord Barnander, os bristolians estão atacando a Guarda Germânica e fazendo protesto em frente a Bristol House. Até ameaçam invadir ...— Katherine encarou a mãe duramente.— a casa.

— Eu já disse que não importa, mamãe!

Isso serviu para calar a marquesa viúva, que ficou apenas observando a filha.

Num tempo recorde, as damas de companhia vestiram a marquesa, arrumaram seu cabelo e colocaram alguma joia nela. Assim que ficou pronta, Katherine saiu para a sala dourada. O que foi uma surpresa tanto para os criados, quanto para Lord Nondell e Lord Cottington, que vigiavam a porta.

— Minha marquesa!— Lord Nondell fez uma rápida mesura, junto do barão.— Mas a senhora...

— O príncipe está em...

— Saiam agora da minha frente.— A voz dela nunca foi tão ameaçadora aos dois cavalheiros.

Nondell e Cottington saíram da frente e Katherine entrou na sala, fazendo o esforço de bater as portas no processo. Todos os homens olharam para a marquesa, perplexos e assustados.

— Minha marquesa já está de pé?— Levantando-se, Kent foi o primeiro a falar.— Se tivéssemos...

— Cavalheiros, peço que saíam daqui.— Foi o suficiente para deixar os lords ainda mais confusos, ofendido até. Mas nada de sair.— Eu mandei saírem!

Agora eles saíram, muito rapidamente, deixando para trás uma Katherine irritada e o Wilhelm confuso.

— O... que foi isso, Katherine? E por que você não avisou que...— Aproximando-se do marido, Katherine deixou-se levar pelo momento e deu uma bofetada em Wilhelm, que naturalmente ficou furioso.— Por que disso!? Está louca!? 

— Você nunca, e eu disse nunca, deve armar minha guarda e esconder isso! Entendeu!?


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Notas finais do capítulo

° Eu devo dizer uma coisa... até agora eu não escrevi protagonistas que deram e levaram tantos tapas quanto Katherine e Wilhelm.
° La Belle Anglaise no Pinterest: https://pin.it/3ACvNoP



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