Stella escrita por Vic


Capítulo 33
Hannah


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Sim... sei que demorei a postar, mas é porque tive um grande bloqueio criativo e para piorar ainda teve obra na minha casa. Primeiramente queria falar sobre algumas pessoinhas estarem pulando capítulos (todo capítulo é importante para a construção da história, de forma que poderão ser citados futuramente) e também queria agradecer pela paciência de esperar o meu cérebro funcionar akakak.
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



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Stella nunca acreditou que pudesse ter sido feita para ser feliz, e como uma boa grega, era dada a tragédia. Ela não gostava de ser vista como uma vítima e nem flertava com o drama, mas acreditava fielmente em um antigo provérbio grego que dizia que “a melhor de todas as coisas é não nascer”. Durante muitos anos, acreditou que não havia nenhum propósito em sua existência, e que ela só poderia dispor de um mau demônio. Agora, olhando para a filha e para o marido que nunca imaginou que teria, começou finalmente a acreditar que talvez dispusesse de um bom demônio.

— Stella... – O homem a censurou pela quarta ou quinta vez. Sempre soube que ela era uma mulher muito geniosa e que quase nunca aceitava um não como resposta, mas não imaginava que fosse tanto. – Eu também não queria passar o dia aqui, mas...

— Ah... – O ruído que escapou dos seus lábios era quase mudo. – Mas a Lily e eu iremos passar o dia no parque. – Os dois pararam na frente da sala dele, que abriu a maleta e começou a procurar a chave. – É a nossa próxima parada. – Abriu um sorrisinho vitorioso enquanto se agachava para brincar com a filha, que também abriu um sorriso. – Só viemos deixar o papai no trabalho, não foi, meu amorzinho?

— Ótimo. – Um sorriso também enfeitou o rosto dele, quando os seus dedos encostaram na chave, que se encontrava mesmo no fundo da maleta. – Mas eu acho que consigo me encontrar com vocês depois do meu expediente.

A mulher não estava nem um pouco disposta a entregar os pontos, e definitivamente não aceitaria um não como resposta, então simplesmente respirou fundo e levantou para encarar o marido.

— Então por que você não encontra outra pessoa para fazer o seu trabalho? – A pergunta veio acompanhada por um tom levemente sedutor enquanto ela segurava a gravata dele entre o dedo médio e o indicador, e ele engolia em seco. – Eu queria que o meu maridinho não fosse um estraga prazeres. – Colocou uma falsa expressão de tristeza no rosto. – Vamos! Por favor!

— Não. – Murmurou. – Eu não posso... – Negou com a cabeça, mas estava se esforçando muito para resistir. – E você sabe que eu adoraria passar o dia com vocês... mas estou realmente muito ocupado aqui... devo muitas respostas ao povo de Nova York.

— Ah! – Largou a gravata dele. – Isso está mesmo acabando com você, não é?

— É... mas o pior é que o tempo está passando... – Engoliu em seco, aproveitando para afrouxar um pouco mais a gravata. – Você quer entrar? – Abriu espaço para que ela conseguisse passar com o carrinho. – Está muito mais quente aqui dentro.

Ela simplesmente negou com a cabeça e continuou parada no mesmo lugar.

— Não, muito obrigada. – Sorriu. – Eu quero pegar um lugar bom no gramado. – Explicou, despedindo-se dele com um singelo beijo nos lábios. – Então acho melhor irmos logo.

O homem levou um susto tão grande quando o seu celular tocou, que quase saiu correndo da sala. As cobranças para cima dele eram tantas que a cada ligação era um susto diferente, vivia sempre com o coração na mão.

— Taylor. – O sobrenome saiu com uma pitada de insegurança, ele não conhecia aquele número e aquilo com toda a certeza não era um bom sinal.

— Sim, eu sei. – A outra voz respondeu com um sussurro ofegante. – Eu sou Olívia Tognoni... – Foi o que a moça conseguiu dizer entre um suspiro e outro. – Eu sei que você provavelmente não se lembra de mim, mas eu preciso muito da sua ajuda... por favor? Ficarei te devendo uma, se vier me encontrar...

Ele não gostou nem um pouquinho da sensação de caminhar por aquele corredor assustadoramente estreito. Aquele lugar era horripilantemente quieto, e um mau pressentimento ajudava a causar uma onda de arrepios na sua pele. Mesmo que não soubesse exatamente o que tinha acontecido, sabia que provavelmente tinha alguma morte no meio. A mulher veio correndo até ele quando o viu no fim do corredor. A primeira vista parecia estar muito calma, mas algo em seu semblante entregava que ela carregava um fardo pesado demais sobre os seus ombros.

— O que aconteceu? E por que você demorou tanto?

— Eu sinto muito... – Murmurou, colocando as mãos nos bolsos. – Mas tivemos que deixar a Lily na creche.

— Tivemos? – Aumentou o tom de voz, deixando uma careta surgir no seu rosto. – O que quer dizer com isso?

Ele ainda chegou a abrir a boca para responder, mas a sua mulher surgiu pelas suas costas, como se estivesse apenas esperando a hora certa para entrar em cena. O choque no rosto da outra mulher não passou despercebido, mas não tinham mais como voltar atrás.

— Era tanto mistério ao telefone que decidi vir junto. – Explicou enquanto ficava ao lado do marido e cruzava os braços. – Eu adoro mistérios.

Olívia respirou fundo e usou os dedões para massagear as pálpebras.

— Nossa... eu acho que não dá mesmo para ter um segredo nessa cidade. – Abriu um sorriso envergonhado para eles, que retribuíram da mesma forma. – Mas eu já vou logo avisando para esperarem o pior, eu ainda não entrei lá... mas vindo do meu chefe... eu espero qualquer coisa... ah! E quanto menos gente souber disso melhor, entendido?

Stella assentiu e deu de ombros, não estava nem um pouco interessada em ficar por dentro dos detalhes sórdidos. Só o que queria naquele momento era sair para aproveitar o dia com a sua pequena no parque.

— Entendido, mas vamos logo com isso. – Olhou para o marido com o canto do olho e ambos abriram um sorrisinho. – Eu ainda tenho que levar a minha filha ao parque.

A mulher virou as costas para eles.

— Ok. – Murmurou para si mesma. – Mas lembrem-se do que eu disse. – Segurou a maçaneta com tanta força que os nós dos seus dedos ficaram brancos. – Sejam discretos, por favor. – A mulher contou até três mentalmente e girou a maçaneta, escancarando a porta.

O chefe dela largou o telefone imediatamente e correu na direção deles, não houve nem tempo para alguma reação de nenhum dos lados.

— Eu quero saber por que você demorou tanto?!

Olívia não teve nem presença de espírito para responder àquela pergunta. Ninguém teve. Os olhos dos três continuaram grudados na mulher desacordada sobre a cama, ainda não sabiam se ela estava morta, mas só poderia estar... a sua pele estava tão pálida, e a sua cabeça pendia para fora da cama num ângulo muito estranho. Will foi o primeiro a calçar as luvas e ir ao encontro da vítima.

— Liga para o meu médico legista. – Entregou o celular nas mãos de Olívia. – Como ela se chama?

— Eu não sei... – Apertou o telefone contra o ouvido, olhando atentamente para o celular. – Hannah... eu acho.

— É Hannah mesmo. – O homem confirmou com um ar de desinteresse enquanto evitava olhar para a mulher que jazia sobre a cama.

Stella levou só alguns segundos para processar tudo que estava acontecendo e partir para a ação ao lado do marido. O choque de ver aquela cena realmente havia quase a paralisado, mas ela era uma detetive experiente, e tinha visto coisas muito piores que aquilo. Então calçou as suas luvas, caminhou com passos firmes ao encontro da vítima e começou a fazer o seu trabalho.

— Mas o que houve? – Encarou o homem com uma expressão muito séria, notando que o corpo da mulher estava mesmo frio ao segurar os seus braços. – Ela está muito fria. – Checou o outro pulso. – E não tem pulso.

O homem ignorou a pergunta e fechou a cara ao notar que a sua secretária estava mesmo ao telefone.

— Mas o que você pensa que está fazendo?!

— Ligando para o médico legista.

— Eu disse que se isso saísse daqui, as consequências seriam gravíssimas!

A detetive deixou uma risadinha escapar.

— E como vai a sua esposa, senhor prefeito?

Os olhos do detetive se arregalaram e ele olhou para o homem como se ele fosse um fantasma. A sua impressão de que conhecia aquele homem estava mesmo certa e isso explicava muita coisa, inclusive todo aquele nervosismo da parte dele.

— AJ?! – Franziu a testa. – Eu acho que deve estar muito melhor do que essa pobre coitada aqui.

— Alô. – Olívia disse num tom exasperado quando Chad atendeu. – Aqui é Olívia Tognoni. Estou no Hotel Even e preciso que venha até o quarto 104. – A mulher quase não respirava entre uma frase e outra. – Temos uma mulher... — Tirou o telefone do ouvido e olhou para os detetives. – O que eu digo?

— Temos uma mulher de aproximadamente trinta anos, ainda não sabemos a causa da morte... – O detetive disse o mais alto possível para que ele ouvisse do outro lado da linha. – Mas suspeitamos que possa ter sido por alguma lesão na cabeça.

— Será que você pode falar mais baixo?!

— Ouviu isso? – Olívia tapou o ouvido com o dedo na intenção de amenizar o barulho, para que assim pudesse ouvir e ser ouvida com o máximo de clareza. – Sim, vão te deixar subir direto, é só apresentar as suas credenciais na recepção. Rápido! Por favor!

O prefeito ainda estava com a cara fechada enquanto resmungava consigo mesmo e olhava da sua secretária para os detetives.

— Eu acho que vocês não sabem o significado da palavra discrição.

— E nem você. – Stella retrucou sem nem pensar duas vezes. – Eu acho que se soubesse não teria trazido a sua amante para um dos hotéis mais famosos da cidade. – Cuspiu a frase usando um tom ainda mais ácido e começou a examinar as pupilas da vítima. – Que estranho.

— O quê? – Olívia também se curvou para olhar mais de perto.

Stella apontou a luz direto para as pupilas da mulher, notando que não houve nenhuma mudança.

— As pupilas dela estão levemente dilatadas.

O seu marido também tinha as suas próprias dúvidas e precisaria da ajuda do prefeito para conseguir enxergar as coisas com mais clareza.

— Ela desmaiou quando?

AJ cobriu a boca com a mão e franziu as sobrancelhas numa expressão de angústia. Escolhendo ignorar a pergunta dele e indo ao encontro da sua secretária, segurando-a pelo braço direito.

— Escuta. – Olhou direto nos olhos dela. – Ninguém mais pode ficar sabendo disso.

Stella levantou e refez a pergunta do marido.

— Prefeito Hubbard. – Chamou a atenção dele para si. – Ela desmaiou quando?

O prefeito virou para ela de uma vez e respondeu pausadamente:

— Eu não sei.

Olívia tocou o ombro dele.

— Senhor prefeito. – Umedeceu os lábios e colocou as mãos na cintura, assumindo uma postura confiante. – Eu não queria fazer isso, mas se o senhor não cooperar, irei ligar para a sua esposa. A escolha é toda sua.

O homem assentiu e virou para olhar para a outra mulher.

— Eu acho que foi há 1h... mas escuta... eu não tenho...

O detetive entrou na conversa:

— E ela andou bebendo?

— Bebemos só uma garrafa de vinho.

Stella assentiu e perguntou:

— E nenhuma droga?

— Não! – Colocou as mãos na cabeça. – É claro que não! – Respondeu com muita indignação. – Eu acho que você sabe que eu sou um defensor ferrenho da lei e da ordem... – Stella fechou os olhos e respirou fundo, odiava aquele tipo de discurso político e odiava ainda mais vindo de um cara que tinha a amante morta em cima de uma cama de hotel. – Eu sou o responsável por algumas das leis antidrogas desse estado.

Will segurou a cabeça da mulher delicadamente.

— Eu encontrei um galo atrás da cabeça dela, sabe me dizer como foi que isso aconteceu? – O homem virou na sua direção, mas continuou de boca fechada. – Eu realmente preciso de uma resposta. – A detetive foi até ele e o ajudou a colocar a cabeça da mulher na mesma posição em que estava. – Como foi que isso aconteceu?

— E que diferença isso faz? – Retrucou. – Ela está morta, não tem mais nada que possa ser feito.

— Eu tenho certeza que a imprensa vai adorar saber que você estava dentro de um quarto de hotel com uma mulher que não é a sua esposa. – Stella adotou um tom suave, mas ameaçador. – E vão adorar ainda mais quando contarmos que ela está morta.

Olívia o encarou.

— E então a sua discrição... – Usou os dedos para fazer as aspas. – Vai por água abaixo.

— Ela escorregou no chuveiro.

A mulher o encarou com muita desconfiança.

— Então deve ter sido uma queda muito feia...

— E ela estava sozinha? – Will perguntou.

— Mas que diferença isso faz?!

Stella respirou fundo e perguntou outra vez:

— Onde você estava quando ela estava no chuveiro?

AJ usou as mãos para cobrir o rosto.

— Tudo bem... – Murmurou. – Estávamos fazendo sexo no chuveiro quando ela bateu a cabeça...

O outro homem se levantou, saindo de perto da esposa e da vítima e entrando no banheiro.

— Onde ela bateu a cabeça? – A sua voz ecoou de dentro do banheiro. – Na lateral da banheira? No chão? Onde?

— No... no... no chão. – Os seus lábios começaram a ficar mais secos. – Eu pensei que não tinha sido nada de mais... e até rimos disso depois. – Apontou para a mulher na cama e virou as costas. – Ela... ela... ela nem desmaiou... então terminamos... o banho, e viemos para cá para relaxar um pouco.

A detetive semicerrou os olhos.

— Mas ela bebeu vinho ou alguma outra bebida alcoólica depois disso?

— Não. – Ele abafou sua voz usando as mãos. – Ela me disse que a cabeça dela estava começando a doer, então eu saí para procurar uma daquelas lojinhas e comprar um paracetamol para ela.

O detetive retornou da sua inspeção no banheiro e ficou de pé ao lado da cama.

— Mas ela é alérgica?

— Eu não faço a menor ideia.

— Mas quantos comprimidos ela tomou? – Stella olhou para o corpo.

— Escu... – O prefeito ficou ainda mais indignado. – Ela não tomou nem um! Você não está me ouvindo?! Eu fui até a loja para comprar um remédio para ela, mas quando voltei... a Hannah estava desmaiada. – Explicou detalhadamente, usando um tom mais calmo. – Eu tentei reanimar, mas não consegui... – Olhou para a secretária. – Então eu te liguei.

— Mas você não me disse que tinha uma mulher morta no seu quarto! – Olívia apontou para a mulher. – Só me disse que tinha se metido numa situação muito delicada e que precisava de um detetive que pudesse ser discreto.

O homem não tinha mais nenhuma resposta para isso, então tratou logo de mudar de assunto.

— Olha... eu dediquei toda a minha vida ao serviço público, e trouxe uma série de coisas maravilhosas para essa cidade. – Os outros pararam o que estavam fazendo para prestar atenção nele. – E não quero que uma indiscriçãozinha... – O telefone tocou, interrompendo o seu discurso. – Não atenda.

Olívia fechou a cara e foi atender o telefone.

— Olívia Tognoni. – Esperou a pessoa do outro lado da linha falar. – Sim, muito obrigada.

— É o médico legista. – Anunciou, vendo o rosto do seu chefe empalidecer. – E ele está subindo.

O prefeito foi até a poltrona e pegou o sobretudo.

— Eu não posso ficar aqui.

O casal de detetives o encarou com um ponto de interrogação em seus rostos.

— Mas você ainda tem que responder mais algumas perguntas. – O homem tentou o persuadir.

— Eu sei que vocês conseguirão dar algum jeito.

Stella estava ainda mais incrédula com aquela situação.

— Mas nós nem sabemos o nome completo dela.

— Hannah. Hannah Knox. – Olhou para Olívia. – Onde ficam as escadas?

— Elas ficam do lado direito da porta, mas eu acho que você conseguiria descobrir isso...

O homem havia saído pela porta antes mesmo que ela terminasse aquela frase, fazendo a detetive revirar os olhos e o xingar em grego.

— Filho da puta, acertei?

A mulher sorriu para o marido.

— Como é que você sabia?

— Eu não sabia... só estava pensando exatamente a mesma coisa. – Os dois riram. – Essa história dele não bate...

Ela encolheu os ombros e umedeceu os lábios.

— Então... – Murmurou. – Vamos levá-la ao laboratório e ver o que descobrimos.


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Notas finais do capítulo

Vixe, era melhor ter ido passear no parque mesmo...
Até o próximo!



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