Stella escrita por Vic


Capítulo 22
Lily


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde! O capítulo de hoje está saindo mais tarde porque não tive tempo para escrever antes (fiquei doente pela 3ª vez no ano) e também porque entrei numa crise existencial e apaguei ele umas 4 vezes... é isso, espero que gostem!
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



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A cidade que nunca dorme parecia estar particularmente mais fria naquele fim de tarde. O inverno ainda não estava nem próximo de chegar, mas ao ouvir aquilo ele sentiu alguma coisa esfriar dentro dele.

— Então está me dizendo que isso não foi um acidente?

Lindsay abaixou a cabeça enquanto pensava numa forma de amenizar o impacto daquela informação.

— Eu acho que isso não foi um acidente qualquer...

Ele virou para o outro homem, a raiva e o desespero borbulhavam no seu interior.

— Ouviu? É exatamente por isso que você tem que me contar a verdade. – Os dois se encararam por alguns segundos. – Será que você ainda não entendeu que ninguém aqui pode mais se dar o luxo de ficar guardando os segredinhos da Stella? – Respirou fundo, fechando o punho e os olhos. – Me conta logo o que foi que ela te disse.

Danny simplesmente coçou a testa.

— Ela não faria nada que colocasse a vida dela em...

— Ninguém aqui sabe mais dizer o que ela é ou não capaz de fazer! Essa é a questão! – As mãos dele tremiam e a sua respiração se encontrava muito irregular. – Eu não quero ser obrigado a ir reconhecer o corpo dela em cima da mesa de um necrotério, você quer?!

— Espera aí. – Ergueu as mãos. – Ela não é a sua vítima.

— Mas elas têm a mesma doença!

— Calma, gente. – Lindsay tentou intervir. – Vamos tentar não entrar em desespero.

— Lindsay. – Ele virou diretamente para ela. – Vocês estão ficando loucos? Minha mulher está lá fora... e ninguém sabe o que deve estar se passando na mente dela agora, e mesmo assim você ainda tem a coragem de me pedir para não entrar em desespero? – Encarou o amigo. – Eu não entendo porque você não quer me ajudar a encontrar a minha mulher.

— Mas eu tenho que conseguir me ligar a ela, porque se eu não conseguir... – Stella colocou as mãos na cabeça e deu um longo suspiro. – Eu tenho que conseguir...

O homem parou de anotar e direcionou toda a sua atenção para ela.

— E se não conseguir?

Ela abaixou a cabeça e continuou em silêncio.

— Eu não quero que a minha filha saiba que eu não quero ser a mãe dela.

— Essa é a segunda vez que você insinua que não quer ser mãe.

Ela franziu as sobrancelhas enquanto começava a esfregar as mãos uma na outra.

— Eu acho que não foi bem isso que eu quis dizer... – Umedeceu os lábios. – Eu só estou tentando dizer... que ainda não estou acostumada com a ideia de fazer terapia. – Desviou o olhar. – Eu sempre quis ser mãe. Eu quero ser mãe.

— Eu acho que só não é como você imaginava que seria. – Completou. – Você está segura aqui, Stella. E é muito importante que seja muito sincera a respeito dos seus sentimentos.

— Eu entendo. – Respirou fundo, aproveitando para tirar alguns fios de cabelo da frente do rosto. – Eu não sou do tipo de gente que acha que terapia resolve tudo.

— E acha que resolve alguma coisa? – Começou a anotar novamente. – Você está doente...

— Eu sei disso, mas o que eu quis dizer foi que conheço muitas mulheres que tiveram problemas no puerpério. Tem a perda de sono, o desequilíbrio hormonal... – Passou as mãos no rosto. – O fato é que sempre fui perfeitamente capaz de resolver os meus problemas sozinha, então sei que também vou conseguir lidar com isso. – Ele a reprovou com um olhar. – No começo, eu queria a adoção... eu queria tanto ter um filho que estava disposta a fazer isso com ou sem um homem na minha vida. – Mordeu levemente o lábio inferior. – E agora o Will é o pai perfeito e eu sou quem está estragando tudo.

— Eu tenho certeza de que ele deve ser um cara legal, mas não tem como ele ser o pai perfeito.

— Eu só estou tentando dizer que... – Respirou fundo. – Isso não era para estar acontecendo, eu tinha tudo planejado.

Ele também respirou fundo ao olhar diretamente para o rosto perturbado da sua mais nova paciente.

— Você fala muito sobre como as coisas deveriam ser, mas até agora não ouvi nada sobre como você está se sentindo.

Ela abaixou a cabeça, entrelaçando os dedos uns nos outros.

— Eu... eu... eu sinto que estou no meu limite. – Confessou, estava cansada de negar o óbvio para si mesma. – É assim que eu me sinto... me sinto irritada e também sinto que sou uma vadia egoísta. – Cobriu o rosto com as mãos. – Eu vivo brigando com o meu marido, não quero comer e estou sempre com raiva. – Fez uma pausa para respirar e organizar seus pensamentos. – E eu sinto muito por isso... – Sua voz tremeu. – Mas quando se trata da Lily, eu não consigo sentir nada... e eu sinto... eu... – Respirou fundo e começou a rir. – Já deve ter percebido que eu não consigo mais nem formar uma frase direito.

— Você está se saindo muito bem. – Abriu um sorriso amigável para ela. – E quanto ao seu marido? Como está o relacionamento de vocês?

— Eu perdi totalmente o interesse em sexo. – Mordiscou o lábio inferior, mesmo forçando a memória, não conseguia se lembrar da última vez. – Me sinto culpada, incompetente e então acabo o culpando por tudo... e então volto a ficar com raiva e volto a me sentir culpada. – Deu um longo suspiro. – Eu estou sempre nesse looping...

— Como assim?

— Eu pesquisei algumas coisas sobre depressão pós-parto e também montei um plano de tratamento que acho que funcionará para mim.

O homem lançou um olhar confuso na sua direção.

— É sério isso?

— Sim. – Sorriu. – Eu quero começar com uma terapia hormonal combinada com uma dieta balanceada. Eu li que uma dieta orgânica ajuda a equilibrar os hormônios... e também estou pensando em me exercitar regularmente.

— Mas se você já tem tudo planejado... – Arrumou a sua postura na cadeira. – Então o que você está fazendo aqui?

— Eu só estou aqui para agradar o meu marido.

— Em todos os meus anos de profissão, nunca tive um paciente que superou alguma coisa por causa de outra pessoa. – Umedeceu os lábios, anotando mais alguma coisa no bloco de notas. – Você tem que fazer isso por você.

— Então quer dizer que está duvidando de mim? – Indagou num tom irônico. – Eu achei que o paciente ainda fosse capaz de saber o que está acontecendo com ele.

— Mas só um de nós nessa sala acha que sabe tudo. – Usou o mesmo tom irônico que ela. – Eu sou o médico e você é a paciente... e estou dizendo que você está doente.

— E eu acho que ainda preciso de uma segunda opinião.

— Então fique à vontade. – Sorriu enquanto indicava a porta com um movimento de cabeça. – Mas eu já ouvi o suficiente para fazer o meu diagnóstico.

— Eu sinceramente acho que tomar um comprimido não vai resolver os meus problemas.

— Eu imaginei que diria isso. – Olhou para ela. – E eu não disse que não aprovo o seu plano de tratamento. É uma ótima ideia pensar em incluir dietas e exercícios, mas os remédios e a terapia também são essenciais no seu tratamento. – Pontuou com muita calma enquanto terminava de prescrever a receita. – É só para garantir que da próxima vez, você escolha virar à esquerda em vez de à direita... – Destacou a folha e estendeu na direção dela, que aceitou com uma certa relutância. – Ou então para que pelo menos pense duas vezes.

— Tudo bem. – Levantou e começou a vestir o sobretudo. – Então nos vemos na semana que vem.

Ele levantou da cadeira.

— Com os sintomas que você tem apresentado, eu acho que é melhor nos vermos todos os dias.

— E precisa de tudo isso mesmo?

— A decisão é sua. – Encarou a mulher. – Você escolhe se vai levar isso a sério ou continuar fazendo exatamente o que está fazendo agora.

— Certo. – Olhou para a receita nas suas mãos. – Então nos vemos amanhã. – Saiu do consultório, dando uma última olhada na receita e a enfiando em algum lugar no fundo da sua bolsa.

Stella não estava com a menor vontade de falar com ninguém, foi por isso que decidiu não atender nenhuma das ligações do marido, explicaria tudo quando chegasse em casa. Optou por fazer uma caminhada no parque para esfriar a cabeça. Quando escureceu, ela voltou para casa e para a sua família. Ela estava quase no limite, mas ficou muito feliz em encontrar o marido colocando a filha deles para dormir, e seu marido também ficou muito feliz em vê-la.

Stella decidiu que ficaria em casa com a filha e tentaria descansar um pouco, mesmo que nenhuma das babás fossem trabalhar naquela manhã. Era o dia do aniversário do seu marido, mas isso não o livrou de pegar um plantão no primeiro horário do dia. Lily estava chorando muito e a sua mãe se desculpava com ela quase o tempo inteiro, mas não conseguia a acalmar. Quando a campainha tocou, ela agradeceu mentalmente e correu para abrir a porta, mas acabou se arrependendo de tê-lo feito.

— Eu vou dar uma olhadinha nela assim que você me disser o que você quer. – Stella afirmou muito despreocupadamente enquanto olhava para o rosto chocado da sogra, que já não aguentava mais ouvir os gritos da neta através da babá eletrônica.

— Eu só vim te convidar para o jantar que vou fazer lá em casa. – Olhou ao redor, notando que a casa estava uma verdadeira bagunça. – Eu só quero que você saiba que pode contar comigo. – O bebê gritou. – Vai ver como ela está. – Insistiu. – Eu não me importo. – Stella nem se mexeu. – Eu achei que você gostaria de ir, por causa do bebê e também por causa do meu filho.

— É mesmo?

— É.

— Eu acho que você sabe que a minha vida não parou só porque eu tive uma filha. – Riu. – E eu acho que você nem teria vindo até aqui se eu não fosse a mulher do seu filho.

— Eu vim porque pensei que você o amasse... mas de qualquer forma, eu quero que saiba que adoraria recebê-las na minha casa. – A menina continuava gritando. – Olha... se você não for pegá-la, então eu vou.

— Eu juro que nunca imaginei que você viria até a minha casa me convidar para um jantar. – Ela disse enquanto vinha empurrando o carrinho da filha com ela dentro, a menina chorava tanto que o seu rosto se encontrava completamente vermelho.

— O que ela está fazendo dentro do carrinho?

— Ela está bem.

— E você não vai pegá-la no colo? – Indagou ao olhar para a neta. – Eu acho que ela quer colo.

— Eu estou bem aqui do lado dela. – Deu de ombros. – E que horas começa?

— Vai começar às 19h, mas você pode chegar antes, se quiser. – Ensaiou um sorriso amigável. – Eu imagino que você queira dormir um pouco mais cedo, o seu sono está desregulado porque você está cuidando de um bebê em tempo integral e o seu corpo está no limite.

— É exatamente assim que eu me sinto. – Começou a passar a mão no peito da filha na tentativa de fazer o seu choro cessar. – Muito obrigada.

Millie conseguiu notar a ironia na voz da nora.

— Eu... não foi isso que eu quis dizer. – Começou a tentar se desculpar. – Você está ótima. Eu só queria dizer que ficaria muito feliz em te receber na minha casa. Você e o bebê.

Stella deu um longo suspiro e olhou para a criança.

— Eu acho que ela vai chorar o tempo todo.

— Eu acho que podemos colocá-la no berço, vamos pensar em alguma coisa. – Tentou encontrar uma alternativa. – Ou você pode ficar com ela no colo, eu te garanto que todo mundo vai adorar ela.

— Eu acho que a Lily não é muito sociável.

— Eu te garanto que se você pegar ela no colo, ela vai parar.

— Ela está ótima exatamente onde está.

— Eu posso pegar?

— Claro. – Saiu do caminho, deixando a mulher passar. – Todo mundo acha que é melhor que eu mesmo.

— Oi. – Sorriu para a neta. – Olha só para você. – O bebê parou de chorar assim que sentiu o calor dos braços da avó. – Oi, meu amor. – A criança estava olhando para o teto. – Oi, Lily. – Imitou o gesto da menina. – O que você está olhando? Estou tão feliz em te ver, sabia? – Usou o indicador para tocar no nariz dela e ela fechou os olhos. – É a vovó, e ela está com muita inveja da mamãe. – Começou a ninar o bebê. – E você quer saber por quê? É porque ela tem uma garotinha e eu sempre quis ter uma garotinha. Eu a levaria para fazer compras, para comer pizza e chocolate. – Começou a acariciar seus curtos fios loiros. – E quer saber de uma coisa? Eu acho que a sua mãe deveria aproveitar para colocar uns lacinhos no seu cabelinho. Você vai ficar tão fofa. – Aproximou mais o rosto do dela. – É melhor ela fazer isso logo, porque eu acho que daqui a pouco você vai começar a ter a sua própria opinião. – Lily bocejou e abriu um sorriso para a avó. – A sua mãe é tão sortuda, ela é tão sortuda. – O bebê dormiu em questão de minutos. – É isso mesmo, coisinha mais linda. – Começou a arrumar a menina no carrinho. – Você está feliz agora, não está? Você só queria conversar um pouquinho, não era? Só um pouquinho de ação. – Terminou de arrumar a neta e então voltou a sua atenção para a nora, que as observava com uma expressão enigmática no rosto. – Eu acho que você só precisa descansar um pouco.

— Mas eu não posso. – Olhou para a filha. – Eu ainda tenho muita coisa para fazer.

— Mas está tudo certo, não está?

— Mas é claro. – Riu. – Tirando o fato de eu estar trancada há dias nessa casa.

— É só uma questão de adaptação.

— Sim. – Concordou. – Mas o fato é que eu tenho mesmo passado muito tempo aqui. Eu acho que vai ser bom passar uma noite fora. – Millie assentiu. – E eu adoraria ir nesse jantar que você vai dar.

— Ótimo. – Sorriu. – Eu... – Passou por ela, indo pegar sua bolsa que estava em cima do sofá. – Eu acho que nunca iremos nos entender mesmo, mas eu quero que você saiba que essa garotinha é a coisinha mais linda desse mundo.

— Muito obrigada. – Sorriu. – Eu sei que não preciso dizer isso, mas você é uma ótima mãe e também tem sido uma ótima avó.

— Obrigada.

— Eu sei... – Millie estava quase saindo, mas deu meia-volta. – Eu sei que essa é uma pergunta muito estranha, mas... – Hesitou por um momento. – Você não se sentiu culpada por não ter passado mais tempo com o seu filho quando ele nasceu?

— E por que você está perguntando isso?

— É só curiosidade. – Desconversou. – Você não se sentiu culpada por não sentir vontade de ficar perto dele?

— Não mais. – Explicou. – A depressão pós-parto é uma doença muito cruel. Mas ainda bem que o meu marido estava sempre por perto, eu sei que não conseguiria cuidar de um bebê sozinha naquelas condições.

— Mas eu consigo.

— Isso é ótimo. – Sorriu para ela. – Tchau, Lily. – Acenou para a nora antes de realmente ir embora. – Até mais tarde, Stella.

O tempo rapidamente virou e o clima ameno da manhã foi substituído pelo vento e a sensação de que muito em breve começaria a chover. Stella esperou Judy chegar e assim que a moça colocou os pés dentro da casa, ela saiu, indo direto para o consultório médico. A segunda sessão correu igual a primeira, o terapeuta fez muitas perguntas que ela não tinha a menor vontade de responder e terminou fazendo questão de recomendar que ela comprasse os remédios prescritos imediatamente. Na tentativa de evitar pensar naquilo, ela decidiu ir ao encontro de uma pessoa que ela sabia que não a julgaria.

— Eu devia ter avisado que vinha, me desculpa.

— Você é sempre muito bem-vinda na minha casa, Stella. – Chad abriu espaço para que ela entrasse. – Como foi o seu segundo dia?

— Eu odiei. – Jogou a bolsa no sofá e se sentou. – Foi horrível ter que falar sobre os meus problemas com um completo estranho.

Ele se sentou ao lado dela.

— O importante é que você deu o primeiro passo.

— Eu sempre me orgulhei tanto de ser inteligente e desenrolada, mas agora parece que tudo que eu sei fazer é discordar dos outros. – Terminou de tirar o sobretudo. – E a cada dia que passa parece que eu me afundo cada vez mais.

— Mas eu acho que é muito bom finalmente estar colocando tudo isso para fora. – Começou a passar a mão nas costas dela.

— Sim, mas o fato é que eu lido com os problemas dos outros todos os dias. – Respirou fundo. – E ano passado consegui lidar muito bem com o fato de ser soropositiva, então por que é que eu não consigo lidar tão bem com o fato de estar com depressão pós-parto? Mas o pior de tudo é que eu não tenho ideia de como isso aconteceu... e eu sou uma detetive, é o meu trabalho descobrir as coisas. – Os dois suspiraram. – Eu sempre fui tão forte.

— Você é forte. – Afirmou. – Só está passando por um momento muito difícil... passar por isso é muito mais complicado do que você imagina.

— Eu sei. – Começou a esfregar as mãos uma na outra. – Mas você conseguiu.

— Sim, consegui. – Assentiu. – Mas com muita ajuda.

— Eu sei que vou precisar de ajuda, mas também pesquisei sobre depressão pós-parto e montei um tratamento com dietas e exercícios. – Olhou para ele. – Eu também tenho que ser proativa, não posso simplesmente ficar esperando as coisas caírem do céu, não é assim que as coisas se resolverão.

— E o que o seu terapeuta achou disso?

— Ele quer que eu comece a tomar os antidepressivos. – Murmurou. – Eu pensei em tudo, sabe? Em dietas, exercícios e todos os outros tipos de tratamentos possíveis, mas mesmo assim ele ainda quer me entupir de remédio.

— Foi exatamente isso que eu pensei... e eu não poderia estar mais errado.

— Mas não quero me entupir de remédios e ter uma vida razoável. Eu queria tentar uma coisa diferente e talvez ter uma chance de melhorar sem precisar tomar nada. – Mordiscou o lábio inferior. – Eu não quero ser obrigada a tomar um comprimido para cuidar da minha própria filha... porque se eu tiver que estar drogada para conseguir fazer isso, então onde está o sentido de ser mãe?

— Você foi sincera comigo, então acho que eu também posso ser sincero com você. – Ela assentiu. – Eu acho que o seu orgulho está te atrapalhando.

— Não...

— Calma...

Ela colocou as mãos na cabeça.

— Mas que tipo de mãe precisa tomar um comprimido para cuidar do próprio filho?

— Eu entendo o que você está sentindo. – Colocou a mão no braço dela. – Você é maníaca por controle e isso também é um problema. – Ela riu. – Eu sei que é muito difícil parar de pensar assim, mas escuta o que eu estou te dizendo... essa é a coisa certa a se fazer. O ego é uma coisa muito perigosa.

— Eu não estou entendendo...

— É por causa dele que você não quer se cuidar.

Ela o encarou por um breve momento.

— Mas que tipo de mãe precisa tomar um comprimido para cuidar do próprio filho?

— Viu? É exatamente disso que eu estou falando, essa é a segunda vez que você diz isso. – Repreendeu a amiga com um tapinha em sua coxa. – Você não deveria estar pensando no seu orgulho. – Ela olhou para ele. – O seu orgulho tem que ficar em segundo plano para que você consiga dar o seu melhor para a sua filha.

— Eu sei que você tem razão. – Levantou. – Eu sei que tenho sido muito egoísta. Eu queria tanto esse bebê, mas agora que a tenho... eu sei que deveria estar valorizando cada segundo, mas não sei como fazer isso. – Começou a andar em círculos pela sala. – E parece que tem uma névoa sobre mim que não me deixa enxergar nada do outro lado. Eu sei que fiz coisas que fazem parecer que eu não amo a minha família, mas eu amo! Eu juro que amo! – Ele também se levantou. – Eu amo tanto que às vezes parece que eu vou explodir... – O choro estava entalado em sua garganta. – Mas eu não consigo... eu não consigo ajudar, quando ela chora e eu a seguro... ela chora mais ainda. Eu fico acordada a noite inteira pensando nisso e pensando em como não estou dando para aquela garotinha tudo o que ela merece... – As lágrimas escorriam por seu rosto, pingando no carpete embaixo de seus pés. – E algum... algum dia ela vai olhar para trás e perceber que tem só um espaço vazio onde a mãe dela deveria estar. – Começou a soluçar quando ele começou a passar a mão em suas costas. – Eu acordo de manhã e ela está chorando, e então começa tudo de novo. – Enxugou o rosto com as costas das mãos. – Eu estou tão cansada.

— É por isso que você precisa de ajuda. – Passou o braço por cima dos seus ombros, a abraçando com uma força considerável. – Entendeu? – Ela assentiu. – Isso não vai te deixar mais fraca e nem vai afetar o seu caráter, isso só vai te ajudar. Eu sei exatamente como é resistir ao tratamento, mas essa foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. – Usou os polegares para limpar algumas das lágrimas que ainda escorriam por seu rosto. – Onde está a sua receita?

— Na minha bolsa.

— Então vá comprar os remédios. – Aconselhou enquanto ainda tentava limpar suas lágrimas. – O tempo é uma coisa tão preciosa e ele passa tão rápido, você vai gostar tanto de ser mãe. – Os dois sorriram. – Eu quero que você viva a sua vida, porque você merece.

O lago estava tão calmo naquele início de noite, que ela se perguntou se conseguiria pegar um pouco de toda aquela calma para si. O escuro estava a assustando, mas aquele papel em suas mãos conseguia a assustar ainda mais, então ela o rasgou em pedacinhos e os jogou no lago. Ela olhou para a superfície dele por alguns segundos e se perguntou se aquela não seria a solução para todos os seus problemas.

— Cuidado. – Uma voz infantil a alertou. – Você está muito perto, e se não tomar cuidado pode acabar caindo. – Stella olhou direto para a escada e avistou uma garotinha que devia ter cerca de dez anos de idade vindo na sua direção. – É muito perigoso.

— Uau! – Ensaiou um sorriso. – Esse é um assunto muito complexo para uma garotinha. Onde aprendeu tanto?

A menina sorriu, chegando mais perto dela.

— O meu pai é detetive.

— Sério? – Fingiu estar impressionada. – Eu também sou detetive.

— E qual é o seu nome?

— Stella. – Esticou a mão. – E o seu?

Ela apertou sua mão.

— Lily.

O sorriso dela se abriu ainda mais.

— Esse também é o nome da minha filhinha.

— E você a ama?

— É claro, com todo o meu coração.

A menina se entristeceu.

— Ela tem muita sorte...

— Oh... – Ergueu o queixo da criança. – Eu tenho certeza que a sua mamãe também te ama muito.

— Eu não tenho uma. – Murmurou, olhando-a com os olhos quase marejados. – A minha mãe não me queria.

Ouvir aquilo foi o mesmo que levar um soco no estômago. O choque em seu rosto deixou claro que ela estava imaginando sua própria filha diante dela dizendo que ela não a amava.


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Notas finais do capítulo

O carrossel nunca para de girar...
Até o próximo!



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