Stella escrita por Vic


Capítulo 13
Georgie


Notas iniciais do capítulo

Bom diaa! Nesse capítulo as coisas começam a ficar ainda mais complicadas.
Boa leitura!

CAPÍTULO REVISADO



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Os mais velhos costumam dizer que a ignorância é uma dádiva, porque assim não percebemos as aflições e desgraças que nos cercam como abutres em busca de alimento. No momento, a ignorância era mesmo uma dádiva na vida de Will, que ainda não sabia das escolhas da esposa e planejava alegremente a noite que almejava ter ao lado dela.

— Ficou sabendo que as crianças foram encontradas? – Cutucou a amiga com o cotovelo assim que parou ao lado dela. – Acabaram de me avisar.

Lindsay virou para ele com um misto de surpresa e felicidade no rosto.

— Sério? – Voltou sua atenção para o que estava fazendo, pingando uma gota de sangue na extremidade da lâmina. – E como elas estão?

— Meio traumatizadas, mas acho que vão ficar bem. – Abriu um sorriso cheio de alívio, não gostava nem de pensar na ideia de ter que investigar a morte de mais alguma criança. – Os laboratórios da ala norte serão reabertos na semana que vem.

— Fiquei sabendo. – Comentou, sem dar muita atenção ao assunto, estava mais preocupada com o desempenho do trabalho que estava fazendo. – Até que foi rápido.

— Só mais uma coisinha. – Aquela seria uma pergunta para desencargo de sua consciência, não queria atrapalhar caso os dois tivessem planos para a noite. – Tem algum problema o Danny ficar com o meu turno da noite?

Um sorriso maroto começou a surgir no rosto da mulher.

— Algum plano para essa noite? – Estava realmente curiosa para saber. – Alguma coisa envolvendo a Stella?

— Sim, e o melhor é que conseguimos chegar a um acordo sobre como lidar com toda essa situação. – Ela parou tudo que estava fazendo para olhar para ele. – Assumi que estava exagerando e ela assumiu que a maternidade é um pouquinho mais complicada do que ela imaginava. – Explicou com a voz cheia de felicidade. – E também concordamos que ela não está com depressão pós-parto e com a ideia de ela voltar ao trabalho mais cedo.

A mulher ficou muito surpresa com toda aquela evolução em tão pouco tempo, mas ainda achava que aquele não era o momento certo para Stella voltar ao trabalho.

— Uau! – Exclamou. – Essa foi mesmo uma longa conversa.

— Iremos para o que chamamos de o nosso primeiro encontro desde que nos casamos. Uma noite romântica, só eu e ela. – Disse com a voz carregada de orgulho, estava muito ansioso para desfrutar daquela noite.

O casal não teve muita chance de estar junto desde que se casaram e ele não queria que nada estragasse aquela oportunidade, mas para sua infelicidade, sua mulher tinha outros planos.

— Danny, sou eu... – Hesitou, ainda não tinha certeza se devia mesmo estar fazendo aquilo. – Você me faz um favor? Liga para o meu marido e diz que eu estou bem, só preciso de um tempo. – Explicou sem dar maiores detalhes. – Fica tranquilo que eu te explico tudo depois, obrigada.

Stella guardou o celular na bolsa antes de entrar no bar.

— Oi. – A bartender a cumprimentou com um sorriso.

— Oi. – Tentou ser o mais amigável possível, mas sabia que não tinha como seu nervosismo passar despercebido.

— O que você vai querer? – A moça era experiente em seu serviço, conseguia dizer perfeitamente de qual bebida o cliente estava precisando só de olhar para ele, mas aquela mulher era um amontoado de emoções confusas demais para ela.

— Ah... – Tinha esquecido de pensar no que dizer antes de entrar no bar. – Um shot de tequila seria maravilhoso.

— Acho que alguém está com problemas...

— Só quero me esquecer de tudo por uma noite. – Reclamou com um tom melancólico, colocando a bolsa num banco e sentando-se no outro, era um pouco alto, mas dava para aguentar.

— Queria muito poder dizer o mesmo. – As duas riram como se fossem velhas amigas. – É bom sair da rotina de vez em quando.

— Sim, é exatamente isso que estou tentando fazer, sair da rotina. – Murmurou. – Sou representante de vendas. – Mentiu, aproveitando para esticar os braços sobre o balcão. – Vendo produtos farmacêuticos, passei o dia em reunião com os administradores de um hospital.

— Uh! Isso parece ser muito puxado. – Franziu as sobrancelhas ao imaginar como seria estar no lugar dela. – Me chamo Louise, mas todo mundo me chama de Lulu. – Esticou a mão para ela.

— Prazer em conhecê-la, Lulu. – Apertou a mão da jovem e sorriu. – Me chamo Georgina, mas pode me chamar de Georgie.

— É como você me disse alguns meses atrás, Lindsay. – Explicava enquanto se ocupava em orientar alguns subordinados. – Começar uma família é um passo enorme e foi um exagero da minha parte achar que ela tem depressão pós-parto só porque ela está com dificuldades para se adaptar a uma vida nova.

— Mas ela foi ao médico? – Questionou, ainda achava que era cedo demais para descartar a possibilidade de uma depressão pós-parto.

— Não, mas a questão não é essa. – Argumentou. – A questão é a culpa foi minha, fui eu que disse que havia alguma coisa errada com ela. – A mulher assentiu meio a contragosto. – Foi por causa da minha visão de como ela deveria ser com a Lily... e também acho que exagerei um pouco naquela conversa com o Dante... acabei falando demais e ele simplesmente correu até a Stella e disse: Stella, você está com depressão pós-parto. Sei que ele não fez de propósito, mas vê-lo fazendo isso foi como me olhar no espelho, foi nesse momento que percebi o que eu estava fazendo com ela. Me toquei que ficava cercando-a como um abutre em busca de alimento, observando cada movimento dela e fingindo que eu era o pai perfeito... não me admira que ela tenha ficado tão infeliz.

Lindsay colocou a mão no ombro dele.

— Não seja tão duro consigo mesmo. – Pediu. – Ela estava mesmo se comportando de um jeito esquisito.

— Sim, mas acho que toda essa coisa com o trabalho só piorou ainda mais as coisas... quer dizer, eu podia pelo menos ter deixado ela supervisionar algumas atividades. – Passou as mãos no rosto. – Achei que ela precisava descansar um pouco... depois de tudo que aconteceu.

— Olha... talvez ela ainda não estivesse mesmo pronta para voltar...

— Pode até ser... – Comprimiu os lábios numa expressão de tristeza. – Mas você sabe que ela é ótima no que faz e você mesma teria a ajudado se fosse o caso e... isso tudo só aconteceu porque eu não queria que ela voltasse ao trabalho, isso não é justo.

— Considerando tudo que aconteceu nesses últimos dois meses, acho que foi melhor assim...

— Sim... – Suspirou de decepção. – Mas eu podia ter ajudado mais.

— Talvez...

— Vou tentar ser mais presente.

Um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente enquanto eles se encaravam, estavam quase em transe quando o celular dele tocou e os arrancou daquele torpor.

— Sim, é o detetive Taylor. – Confirmou ao atender. – Ok, diga que estarei aí em alguns minutos. – Encerrou a ligação com um longo suspiro, teria que adiar o seu jantar mais uma vez.

— O que foi? – Perguntou ao notar a decepção no rosto do amigo.

— Uma garota com traumatismo craniano na entrada da cidade. Você pode me fazer um favor? – Ela assentiu. – Liga para a Stella e diz que infelizmente fiquei preso no trabalho. – Guardou o celular no bolso e foi em direção à saída. – Ah... – Parou no meio do caminho e virou para ela. – E diga que sinto muito pelo jantar. – Abriu um sorriso cansado como forma de agradecimento. – Obrigado.

A mulher o seguiu com os olhos até o perder de vista no fim do corredor.

— A Grécia é... é um lugar incrível para se viver. – Stella gesticulava enquanto conversava com a sua mais nova amiga. – Mas isso é só se você não for obrigado a ficar viajando a trabalho como eu.

Lulu sorriu.

— E lá é tão bonito quanto nas fotos?

— É muito mais bonito! – Exclamou, adorava aquele país e sentia muita falta de lá, mas estava melhor em Nova York.

O toque do celular deu-lhe um grande susto, ela pegou o aparelho e olhou no visor, constatando que se tratava de um dos números do laboratório, então apenas o colocou de volta no balcão e tentou ignorar.

— Oi, é a Stella. – Era o que sua voz dizia na mensagem da caixa postal. – Deixe uma mensagem e... ligarei de volta.

— Oi, Stella é a Lindsay... – Engoliu em seco. – Espero que escute isso antes de ficar plantada esperando pelo Will. Onde você está? Já chegou ao restaurante?

— Deve ser muito difícil ficar longe da família. – Lulu comentou ao notar que a mulher estava muito quieta desde a ligação não atendida.

— Não... – Engoliu em seco. – Eu não tenho família, meus amigos costumam dizer que sou casada com o trabalho, mas isso não é verdade. – Fez uma pausa para pensar no que dizer. – Eu tenho uma vida... só não tenho um marido ou filhos.

O assunto entre as duas se estendeu durante um bom tempo, quando parecia que o repertório havia acabado, Stella disparou falando sobre ópera.

— Nova York tem uma companhia de ópera fantástica. – Sorriu de animação com o assunto. – Meus amigos e eu temos ingressos para essa temporada. – Estava tão animada com a história que estava contando, que as coisas saíam com muita facilidade de sua boca. – Tem tanta coisa maravilhosa nessa cidade.

— Uau! – Exclamou. – Parece que alguém aqui gosta muito dessa cidade.

— Sim, esse é o lugar perfeito para mim. – A mulher tinha uma expressão de tristeza estampada em seu rosto, como se sentisse falta de alguma coisa. – Até me inscrevi numas aulas de culinária nesta primavera, tudo isso usando produtos locais.

Lulu sorriu.

— Também ouvi falar sobre isso.

— Estou ansiosa para começar a plantas tomates e alface no meu terraço, embora ele seja do tamanho desse bar... – Olhou ao redor. – Mas tem uma vista espetacular...

O choro de um bebê chamou sua atenção, interrompendo seu discurso.

— A chefe está me chamando. – Stella notou um certo brilho nos olhos da outra. – Já volto.

Ela respirou fundo e usou as mãos para tapar os ouvidos, não suportava mais nem ouvir o choro de um bebê. Foi uma enorme surpresa quando a mulher voltou com uma criança nos braços.

— A sua chefe voltou no tempo? – Apontou para a menina nos braços dela.

— Sei que ela não devia estar aqui, mas a minha babá desmarcou em cima da hora e sou uma mãe solteira... – Olhava para a criança com muito orgulho. – Então não tenho muita escolha. – Continuou brincando com a filha, fazendo com que Stella se lembrasse de sua própria filha, queria tanto sentir o mesmo em relação a ela.

Alguns minutos depois ela foi deixar a filha nos fundos do bar outra vez.

— Outra dose?

— Sim, por favor. – Tentou sorrir, mas ainda estava um pouco tensa. – Deve ser muito estressante trazer um bebê para o trabalho.

— E é mesmo... – Concordou enquanto colocava mais uma dose da bebida para ela. – Ela é jovem demais para ficar no bar.

— Sim, eu acho que sim. – As duas riram. – Você não tem nenhum outro lugar para deixá-la?

— Você tem ideia de quanto custa uma creche noturna? – Encarou a outra mulher. – O que eu queria mesmo era poder ficar em casa com ela.

Aquelas palavras a atingiram em cheio, ela tinha o privilégio de poder ficar com a filha todo o tempo que quisesse e mesmo assim preferia estar em qualquer outro lugar.

— Imagino... – Sussurrou, abaixando a cabeça.

— Muitas vezes sinto que estou perdendo o crescimento da minha filha. – Desabafou em um sussurro exausto. – Quando ela está aqui, meu chefe faz questão de ficar me lembrando que estou aqui para cuidar dos clientes, não do meu bebê...

— O mercado de trabalho é uma porcaria...

Lulu colocou a bebida sobre o balcão.

— Quando engravidei, eu tinha um ótimo emprego em uma fábrica onde eu trabalhava desde que saí do colégio... o pai dela nunca quis saber dela. – Comentou, deixando o desgosto transparecer em sua voz. – Sei que devia estar entrando em uma faculdade para tentar conseguir um emprego melhor, mas isso significa ficar mais tempo longe dela. – Suspirou, enquanto a outra mulher bebia um gole da bebida. – Queria pegá-la agora, ir para casa, colocar uma música e me sentar numa cadeira de balanço... só eu e a minha filhinha. – Sorriu ao imaginar o cenário. – Queria ser uma daquelas mães que ficam em casa com as crianças o dia inteiro... elas são tão sortudas.

Stella pigarreou, colocando o copo sobre o balcão.

— Sim, acho que são sim. – Tentou sorrir, mas era quase impossível depois de ouvir um desabafo daquele. – Mesmo que as coisas estejam difíceis agora, tenho certeza de que a sua garotinha sabe o quanto você a ama... – Ela esperava que sua filha também soubesse o quanto ela a amava, mesmo que estivesse distante dela em muitos aspectos.

O choro do bebê ecoou novamente pelo bar e Lulu correu para atender ao chamado.

— Me desculpa, ela estava com fome... – Stella estava de cabeça baixa, procurando alguma coisa dentro da bolsa quando ela retornou. – Espero que não tenha feito você esperar demais.

— Não, imagina... – Tirou da bolsa uma quantia maior do que a necessária para pagar sua conta e entregou nas mãos dela. – Aqui e pode ficar com o troco.

— Obrigada... e me desculpe por ficar falando sobre bebês o tempo inteiro... – Exibiu um sorriso agradecido. – Acho que não é para isso que as pessoas vêm a um bar.

— Admiro muito a forma como você tem lidado com as coisas. – Sorriu com sinceridade enquanto enrolava o cachecol ao redor do pescoço. – Espero que dê tudo certo.

— Acho que só preciso encontrar outro trabalho.

— E você vai conseguir. – Sorriu. – Acho que eu devia mesmo ter entrado aqui esta noite... obrigada por tudo. – Despediu-se com um último sorriso.

— Tchau. – Lulu disse.

— Tchau. – Acenou antes de ir embora.

— Oi, como foi que ela reagiu? – Will perguntou ao se aproximar da amiga.

— Oi, eu estava te esperando. – Lindsay respondeu com um certo receio na voz.

— Ela ficou muito chateada? – Estranhou a expressão no rosto da mulher. – Sei que ela estava muito ansiosa para esse jantar.

— Eu não queria te atrapalhar, sei que estava muito ocupado. – Começou, fazendo a ansiedade do homem aumentar ainda mais. – Nem sei como te dizer isso... a Stella não chegou ao restaurante, também não está em casa e nem atende o celular.

Stella destrancou a porta do quarto onde estava hospedada e respirou fundo, ficou mais do que feliz ao entrar em um ambiente onde não escutou nenhum choro. Lentamente retirou o sobretudo que estava vestindo e passou os dedos entre os cabelos, foi um longo dia. Em seguida retirou seus sapatos e se deitou na cama, era bom desempenhar aquele papel. Era bom ser a Georgie.


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Notas finais do capítulo

Por quanto tempo a Stella será a Georgie??
Até o próximo!



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