Manjiro se amaldiçoou mentalmente quando viu que havia esquecido o guarda-chuva. Ele literalmente esvaziou toda a mochila no banco do corredor, tendo a certeza que tinha colocado o objeto ali dentro antes de sair de casa.

Como ele foi esquecer?

Já estava chovendo quando saiu de casa e sua mãe acabou lhe dando uma carona até o colégio. Mesmo assim, o loiro tinha certeza que, antes de sair, colocou o guarda-chuva rosa na mochila.

— Sou muito idiota.

Não tinha como ir para casa daquele jeito. 

Ele tinha arriscado sair para o corredor de fora e já sentia o vento incrivelmente gelado batendo em sua pele pálida e os respingos da chuva. Seu casaco tinha capuz, mas estava chovendo tanto que o Sano duvidava que aquele pedaço de pano seria o suficiente para lhe proteger. Sua casa ficava quase vinte minutos dali. Chegaria lá, no mínimo, com uma hipotermia e ainda teria um resfriado. 

Sua imunidade era péssima. Outro motivo para não se atrever a andar na chuva e esperar dentro da escola até o tempo se acalmar. Sua mãe só chegaria do trabalho às oito da noite e ainda eram quatro horas da tarde...

É, ele estava ferrado.

O loiro suspirou alto. Ele tinha três trabalhos para fazer e se tivesse que esperar sua mãe chegar...

— O que está fazendo parado aí, Sano?

Manjiro se assustou com a voz repentina no local. Virando o corpo rapidamente, deu de cara com Ryuguji Ken, um "colega" de sala, encostado na porta principal com os olhos cerrados devido a ventania.

Manjiro sentiu sua pele ficar arrepiada e ele tinha certeza que não era pelo frio.

Ele nunca conversou com o Ryuguji. Na verdade, tinha um certo "receio" de chegar perto do outro loiro, — e não era apenas pela diferença de altura gritante entre os dois garotos — uma vez que existiam boatos ruins rondando Ken. Além dele deixar claro que odiava estudar, alguns alunos diziam que ele era frio demais para se importar com algo ou com alguém.

Manjiro não concordava sobre alunos serem enxeridos além da conta e saírem espalhando coisas que nem sabiam se era verdade. Era mais pela aparência extremamente rude e dura de Ken que causava isso. Ele parecia um delinquente.

Mas talvez fosse só o jeito dele.

O Sano não seguia a onda dos outros, nunca se intrometeu, e ficava irritado quando ouvia os alunos falando sobre o loiro mais alto. Mas, o próprio Ryuguji parecia não ligar para o que os outros achavam dele.

— Eu estou apreciando a chuva. — respondeu, estupidamente.

— Apreciando a chuva?! — Ken ergueu uma das sobrancelhas e soltou uma fraca risadinha. — É praticamente uma tempestade, só falta aparecer um furacão e você me diz que está apreciando? Sabia que uma árvore caiu na minha rua e quebrou o carro da minha vizinha?

Manjiro franziu levemente o cenho, achando bizarro o meio de contar um acidente com divertimento. Ou talvez ele estivesse debochando de sua resposta anterior.

— Hã... não?! Pra falar a verdade, eu sou um idiota e esqueci meu guarda-chuva em casa, só isso.

— Só isso?

— É, só isso. Sou burro demais. Saí de casa e nem percebi, agora terei que ficar na escola até minha mãe chegar do trabalho para vir me buscar porque não tem condições de ir andando.

— Hm... — Ken soltou uma das alças de sua mochila, não demorando muito para puxar um guarda-chuva preto. Ajeitou a bolsa novamente em suas costas e abriu o chapéu — que era, visivelmente, grande e servia perfeitamente para ele —, e caminhou, devagar, até a figura pequena de Manjiro. — Eu te levo.

— Como? — o menor estacou no lugar. Nem sabia se tinha escutado direito.

— Eu disse que te levo, Manjiro.

— Não precisa, eu posso esperar minha mãe chegar...

— Avá, sua cara de desgosto diz que esperar aqui é a última coisa que você quer fazer.

— É verdade, mas...

— Você é mesmo teimoso, ein. — o garoto alto passou, rapidamente, um dos braços pelo ombro de Sano, forçando os passos para que o baixinho lhe seguisse sem reclamações.

Ainda estava chocado com a atitude do rapaz, mas, resolveu se calar e sentiu-se, até mesmo, confortável e quentinho no abraço do outro.

Naquele dia chuvoso, Manjiro conheceu um Ryuguji Ken muito diferente do que os alunos comentavam pelos corredores da escola de Shibuya.