Baji sabia algumas coisas a respeito de Mikey, mas, quando lhe perguntavam algo desse tipo, sua mente, imediatamente, travava e ele não sabia exatamente o que responder para um simples curioso que nem mesmo fazia parte da gangue ou do grupo de amigos. 

Como neste exato momento. 

Só que muito pior.

— Você conhece o Sano há anos, não é? Que tipo de relação ele e o Ryuguji tem? 

Keisuke piscou, tentando processar o que acabara de escutar. Ele escutou certo, não é? 

Em outras vezes, ele recebia esses questionamentos de garotas. Todas queriam algo ou com Mikey ou com Draken, ou com os dois também – trisal, por quê não?

Mas um garoto? Essa era nova. 

— Como assim "que tipo de relação"? O que você quer dizer com isso? Até onde eu sei, eles são melhores amigos. 

— Hm... é que não me parece ser só isso. 

— E o que exatamente isso parece? 

— Eles parecem ter algo. 

— Me explique melhor. — Baji franziu o cenho. — Você gosta de algum deles? Sem julgamentos, não tenho preconceito. 

— Fala sério! — o garoto de cabelo azul riu. Ele era um ano mais novo que Baji e mesmo assim estavam na mesma sala, culpa de Keisuke por ter repetido um ano. — Qualquer um no mundo tem uma queda pelo Sano e o Ryuguji. Eles são loiros, tem cabelo longo, abdômen sarado e são quentes. Eles chamam mais atenção do que todos os outros que andam nesse grupo esquisito de vocês. 

— Porra... isso doeu, eu também sou quente. Meu cabelo vale milhões e é mais hidratado que o deles dois. 

— Pode até ser. 

— Pode não, são fatos!

— O que eu quis dizer é que Sano e Ryuguji não parecem ser apenas melhores amigos ou o tipo que agem como irmãos, eu não sei como ou em que mundo você vive para não perceber que eles tem algo. Eles devem ser algo. 

— Eu realmente não te entendo. 

— Porque tu é burro, Baji. — o garoto suspirou. — Veja bem, eles estão juntos durante vinte e quatro horas por dia. O Ryuguji vive carregando o Sano nas costas como um bebê e até leva bandeirinhas infantis só pra ele, eu o vi comprando na lojinha da esquina e, uma vez, eu perguntei ao Draken se ele estaria nas aulas de reforço de matemática, mas ele me disse que não teria tempo pois tinha compromisso com o Mikey e ele respondeu de uma forma tão natural. Por isso, comecei a perguntar para as meninas do meu clube e metade delas disseram que tentaram flertar com eles, mas os dois deram um fora nelas e mencionaram o nome um do outro durante a conversa. Isso não é estranho? Que tipo de desculpa é essa? Não posso namorar você e nem sair com você pois tenho compromisso com meu bro, fala sério, né!

— Na minha humilde opinião, eles são apenas melhores amigos que amam passar o tempo juntos e colocam a amizade acima de namoros. Tecnicamente, eles não estão errados. 

— Baji, não é possível. Eu sei que você tira notas ruins no colégio, mas você não deve ser tão burro a ponto de não perceber que seus amigos próximos tem algo. Será que vocês não escutam o que os outros comentam? E a questão não é sobre colocar amizade em primeiro lugar. Até Emma, a caçula dos Sano, que é afim do Draken, reclamou disso e quem me contou foi a Hina, a namorada do Takemichi, sabe. 

— Pelo amor de deus, você é muito fofoqueiro e surtado. — Baji gargalhou e apertou um dos ombros do garoto. — Escuta com atenção, eu conheço o Mikey antes do Draken. Mesmo assim, atualmente, nós dois não somos tão amigos dessa forma. Eu conheci o Kazutora e colei nele, enquanto isso o Mikey estava conhecendo o Draken e colando nele também. Minha relação com o Kazutora é a mesma que a do Mikey com o Draken. 

— Nem aqui nem na China! Eu conheço melhores amigos e vocês dois não são parecidos nem com o Sano nem com Ryuguji. A relação deles é completamente diferente de tudo que já vi e não é só uma opinião minha, eu só tive coragem para te perguntar porque muitas meninas comentaram sobre isso e foi uma quantidade absurda, é muito suspeito. 

— Vocês não precisam virar um Sherlock Holmes da vida, acho que é só uma paranoia de vocês. Se Mikey e Draken tivessem algo ou fossem algo, como você tanto insiste em dizer, eles certamente compartilhariam isso com o grupo, pelo menos os amigos mais próximos como eu, Tora, Takashi e Pah-chin. 

— Ah, claro. Caras amam contar para outros caras que estão afim de um cara, né. — ironizou. 

— Tá insinuando que eles tem medo de contar e por isso deixaram em segredo? 

— É só uma hipótese, tá bom? Pode ser medo de rejeição, uma vez que ambos são líderes da maior gangue de Tokyo e dois delinquentes que conseguem deixar a professora de inglês com medo até de falar o nome deles. Particularmente, não acho que seja isso, eles dois são os mais fortes então se tirassem sarro da cara deles, eles não teriam piedade. Na verdade, acho que ninguém ousaria em falar algo na cara deles, só por fora e longe de fofoca. 

— Eu penso o mesmo. Por exemplo, o amigo de Mitsuya se assumiu gay no mês passado, Draken comentou que ele teve muita coragem e até mesmo o Pah-chin gostou, logo ele que tem uma cara ferrada de homofóbico e machista. 

— É aquele ditado, nunca julgue um livro pela capa. Serve pro Ryuguji e o Sano também. — o menino acenou com a cabeça. — Principalmente o Ryuguji... 

— Cara, sério, larga disso. Não faz nem três dias que ouvi Draken dizendo que marcou um encontro com a doida da Emma. 

— Uhum... olha lá. — apontou para algo atrás de Baji. 

Keisuke se virou, encontrando a figura de Mikey e Draken saindo pelo portão da escola. O mais baixo parecia estar bem empolgado com alguma coisa pois não parava de balançar os braços e dar soquinhos no ombro do maior. 

— Isso prova o que exatamente?

— Nada, era só pra te deixar encucado mesmo, já que você diz que conhece tão bem seu amigo de infância... — o garoto mais novo riu, fazendo Keisuke ficar irritado.

Tecnicamente, o menino estava tirando uma com sua cara pra deixá-lo nervoso a respeito disso. Baji não sabia como esse mundo estava repleto de fofoqueiros. Já era suficiente ver Chifuyu quase caindo da janela de seu quarto só para conseguir escutar a briga dos vizinhos evangélicos na semana passada. Baji conseguiu arragar seu tornozelo antes que ele fosse pro chão, mas o que o assustou mesmo era que Chifuyu não parecia ter medo de quase ter caído, o filho da mãe ainda queria saber o que os vizinhos estavam falando mesmo quando Baji gritava para ele sair dali e parar de tomar conta da vida alheia.

— Até o Peke J foi pro muro espiar, eu também tenho esse direito! — fora o que o mais novo dissera naquele dia após a bronca de Baji. 

Agora, ele tinha até medo de estarem fofocando sobre a vida dele também. Ele não era tão famoso nos bairros como Mikey e Draken, até mesmo Kazutora, mas, certamente, chamava alguma atenção. 

Contudo, Baji não conseguia tirar as palavras de seu kōhai da cabeça. O líder e o vice-líder?! 

Não é como se Keisuke não quisesse aceitar ou que tivesse algum tipo de preconceito. O que estava, definitivamente, o chateando era que se Mikey e Draken tinham outro tipo de relacionamento além da amizade, por quê diabos ele, logo ele, capitão da primeira divisão; um dos fundadores da gangue e amigo de infância de Mikey, não saberia disso?! O que ele teria feito de ruim para amigos tão próximos como eles não contarem algo desse nível? 

Naquele momento, Baji só poderia contar com duas pessoas. Os dois reis da fofoca entre a Toman: Chifuyu e Takemichi.