The girl from LA escrita por Ka Howiks


Capítulo 5
Capítulo 5: Conexões


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos leitores! Aqui vai mais um capítulo cheia de ação e flerte para vocês hehe. Espero que gostem!



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Pov Oliver Queen

— Certo, o prato do dia e uma torta de maçã, certo?- perguntei a um casal de visitantes, que assentiram.- Ok, podem se sentar na mesa seis e daqui alguns minutos terão suas refeições.

 

Ambos saíram sorrindo, de mãos dadas.  Os encarei por um breve momento. A maneira que olhavam um para o outro, como se mais nada no mundo importasse… Me lembrei de Felicity.

 

E do almoço em minha casa.

 

Não era minha intenção encontrá-la chorando no banheiro, havia entrado na casa apenas para pegar algo que John havia pedido, mas no momento em que decidi passar perto daquela porta um soluço me paralisou, e assim que a abri, tive a mais das infelizes sensações.

 

Felicity estava chorando.

 

Ela estava mal.

 

E eu não sabia o que fazer.

 

Seu olhar assustado a fez recuar um pouco. Era óbvio que não queria ter sido encontrada daquela maneira, ninguém quer ser encontrado em um momento tão pessoal.

 

Eu sabia bem.

 

E por conta disso tentava esconder minhas crises de Thea.

 

Segurei suas mãos que estavam frias como gelo, e ao encontrar seu olhar novamente, que refletiam uma dor inimaginável e desespero eu não pensei. 

 

Precisava ajudá-la.

 

E determinado, a levei até meu quarto, onde chorou, e a cada soluço soltado meu coração doía. Eu não sabia o porquê que ela estava chorando, mas seja lá o que fosse estava doendo muito.

 

Ela não merecia aquilo.

 

Gostaria de ter o poder de tirar aquele sentimento dela.

 

Mas tudo o que eu tinha era um ombro amigo.

 

A mantive junto a mim, sem soltá-la, como se eu pudesse protegê-la do que estava a fazendo mal. Ela era uma pessoa tão boa, tão meiga, não merecia aquilo. Mas pelo o que aprendi, pessoas boas tendem a passar por muitas provações.

 

Não parecia justo pra mim.

 

Após alguns minutos ela finalmente pareceu se acalmar, o que me deixou aliviado. Deitou sua cabeça em meu ombro, e ficamos em silêncio. Mas não era um silêncio pesado, incomodado, era apenas… bom.

 

De uma maneira inexplicável.

 

 Ergueu a cabeça, me encarando com os olhos cheios de lágrimas, e aquela fora um dos momentos onde me senti quebrado. As limpei, Felicity merecia as melhores coisas do mundo, e eu não gostava de vê-la triste, simplesmente não combinava.

 

Ela não merecia.

 

Eu queria tanto ajudá-la…

 

A mesma agradeceu, e permanecemos naquela bolha, sentindo o calor um do outro. Seu olhar era fixo ao meu, e a forma que meus braços a contornavam, a deixando junta a mim parecia a mais das maravilhosas sensações. Me perdi em seus olhos azuis por demorados minutos. Memorizando cada detalhe, para que não esquecesse.

 

Eu não iria esquecer.

 

Principalmente, por ultimamente, aquele par de olhos azuis estar me acompanhando mais do que deveria.

 

Seus olhar, a risada, a maneira encantadora que seus lábios se abriam em um sorriso, a deixando maravilhosa… E o carisma, que embora muitas vezes acreditava que a vida não daria certo e que estava destinada ao sofrimento, era uma das coisas que eu mais gostava nela. Eu estava tão perdido que pouco notei que Felicity parecia ter despertado de nosso momento, a sentindo sair em um movimento rápido de nosso abraço. Permaneci sentado, tentando me recuperar.

 

Aquilo não podia acontecer.

 

Principalmente porque ela parecia ligada à outra pessoa.

 

O colar que usava era um lembrete claro disso.

 

Eu poderia ser um amigo, não importava, queria que ela apenas fosse feliz. Mas eu não podia negar, eu sentia alguma coisa, uma coisa que estava começando a se tornar mais forte e difícil de ignorar com o passar dos dias. Notei que Felicity olhava minha estante, e fiquei contente daquilo permanecer animá-la.

  Eu era um bom leitor, desde os clássicos até os mais contemporâneos. Eu não tinha o hábito de ler antes do exército, adquiri apenas quando descobri que isso poderia deixar minha mente ocupada, e quando se está em um campo de batalha, enfrentando a pior de suas versões, silenciar aquela voz sussurrante em nossas mentes é libertador. Comecei com os mais difíceis, e pouco tempo demais havia virado um amante dos livros.

 

Eles me salvaram muitas vezes.

 

Sou grato desde então.

 

Felicity parecia amar livros também, principalmente pelo seu entusiasmo ao encontrar Harry Potter, uma de minhas leituras favoritas. Era interessante notar que eles também estavam em guerra, e como lutar pelo o bem os mantinham firmes, a questão é que na vida real é um pouco mais complicado, algumas vezes lutamos por algo, e somente no final descobrimos se estávamos realmente certos ou não.

 

Aprendi muito isso no exército.

 

Voltando a Felicity, é claro que eu a dei um tempo para se sentir melhor. Em momentos assim, fazer nosso cérebro entender que temos algum tipo de autocontrole é algo que acalma nossas mentes, mesmo que seja mentira.

 

E é mentira

 

Nem tudo está sob nosso controle

 

E nem deveria estar.

 

Não perguntei o quê havia a feito reagir daquele jeito, embora eu suspeitasse que havia sido algo na conversa com Lyla, mas o conteúdo discutido por ambas era um mistério. Claro que eu a daria espaço, não queria forçar as coisas, especialmente depois de nossa conversa tão simbólica na cozinha, onde ela se abriu comigo, por livre e espontânea  vontade.

 

E eu fiz o mesmo.

 

Em nenhum momento me senti desconfortável, ou que estava sendo julgado, me senti...Livre. Alguma coisa mudou naquela noite, a maneira que nossos olhos se uniam, em uma conexão inexplicável…

 

Aquilo me assombrou um pouco

 

Mas ao mesmo tempo me deixou muito feliz

 

Feliz por saber que Felicity confiava em mim para desabafar. Era óbvio que ela guardava mais coisas, um monte delas, cada história parecia a machucar de uma forma, tirando seu brilho e o sorriso maravilhoso, que eu tanto custava para fazer aparecer. Não que ela fosse uma pessoa amarga, longe disso, mas podia notar, em muitos momentos, que seus sorrisos não eram sinceros e que ela não estava bem

 

Queria ajudá-la

 

E aliviar aquele peso que sentia.

 

Talvez o chalé ajudasse um pouco.

 

As obras estavam em dia, e alguns funcionários, a mando de Thea que convenceu a prefeita, estavam ajudando na reforma com um designer que a mesma jurou que Felicity gostaria. Quero ver sua reação.

 

Ela vai ficar tão feliz…

 

Vi uma figura loira trajando um casaquinho branco e um cachecol da mesma cor aparecer. Estava mais frio ao decorrer da semana, e eu tinha quase certeza de que perto das montanhas começava a nevar. Não que isso me agradasse, quanto mais frio, mais meus ferimentos mal cicatrizados doíam.

 

Era uma dor do inferno.

 

A mesma se aproximou, me lançando um sorriso de canto, o qual eu imediatamente retribui.

— Bom dia tenente.- me provocou. Felicity vinha me chamando assim em momentos em que estávamos a sós desde o almoço. Cruzei os braços, e a encarei com as sobrancelhas arqueadas.

— Então é esse apelido que você escolheu?- brinquei ,a vi sorrir mais uma vez.

— Na verdade, vou usar os dois. Ollie com as pessoas, tenente quando você estiver só comigo. Esse eu quero só pra mim.- seus olhos se arregalaram.- Quando eu digo “só pra mim” quero dizer o apelido, não…- comecei a rir. A vi parar no meio da frase e me lançar o olhar mais mortal do mundo.

 

Mas eu simplesmente não conseguia parar.

 

Tentei fingir uma tosse, mas mesmo assim foi em vão. Alguns clientes me lançaram um olhar aborrecido, e por isso, respirei fundo, tentando me controlar.

— Não tem graça, Queen.- seus lábios estavam franzidos, e a ruga entre suas sobrancelhas era bem acentuada.

Queen então é para quando você estiver brava, anotado.- falei com graça. Suas expressões suavizaram um pouco, entrando na brincadeira.- Como você está?

— Tirando a vontade de matar você…- sorri.- Até que bem. O dia está calmo hoje. O Doutor Lance quer que eu vá até a casa da Nicole novamente. Mudamos os medicamentos.

— Por quê?- arrumei minha postura. Felicity suspirou.

— Achamos que a asma dela é um sintoma alérgico.

— Têm ideia do quê?- a vi negar pesadamente.- Vão descobrir.

— Eu espero que logo, alergias podem ser perigosas se não tratarmos.- esfregou o rosto.- Bom, vim pegar o pedido.

— Hoje é você que paga?

— Não, Tommy sentiu que estava me devendo pela história com Helena.- a vi revirar os olhos.- Ela oficialmente me odeia.

— Bem-vinda ao clube. e cá entre nós…- me inclinei sob o balcão.- A cidade toda está nesse grupo.

 

Foi sua vez de rir.

 

Entrei na cozinha, balançando a cabeça divertido. John já estava com o pedido pronto, e me encarou com aqueles malditos olhinhos provocativos, como os de Thea. Todos pareciam me encher quando o assunto era Felicity. Retornei ao ambiente anterior, sem deixar de pegar um pedaço da nossa maravilhosa torta de morango.

— Vai falir desse jeito.

— Ah, só faço isso com mulheres bonitas.- brinquei, a vi semicerrar os olhos.

— Essa cantada funciona sempre? Porque comigo não.

— Deveria ter imaginado, você é exigente.- Sorri.- Vou tentar uma torta de limão na próxima.

— Com essa talvez funcione.

 

Sorrimos ao mesmo tempo por conta de minha provocação. Felicity passou o cartão de Tommy, e antes de ir embora fiz sinal para que se aproximasse.

— Posso ir com você se quiser.- me referi a Nicole.

— Quer ver a senhorita Cooper?- provocou.- Talvez hoje ela consiga.

— Não me lembre disso, por favor.- fiz careta. Essa história era algo que eu não gostaria de ver.- Mas o que acha?

— Não vai te atrapalhar?- perguntou preocupada.- Com o bar e tudo mais. Não quero ser um peso, Oliver.

— Você não é, e nunca será.- a vi sorrir em tom tímido.- Além disso é rápido, e eu não confio naquela área.- suspirei. Poderia ser perigosa, especialmente por ser a porta de entrada para a reserva.

— Perigosa?- perguntou curiosa.- Aquele dia na represa, o tiro…

— Exatamente.- seu rosto empalideceu.- Mas como eu disse, eles não se metem com a gente, e de qualquer forma eu conheço mais o local, vou ser útil.

— Ok, guia, vamos então..- falou animada.

— Tenho que ir à clínica mesmo. Quentin precisa de ajuda.

— E você como sempre se ofereceu.- sorriu.- Sempre ajudando a todos.

— É mais forte que eu.

 

Nossos olhares se encontraram, e aquele brilho estranho se fez presente novamente. Desviei para um canto qualquer, limpando a garganta.

— Vamos de lá então, pode ser?- Felicity assentiu, parecendo também um pouco afetada.

— E Oliver?- me chamou mais uma vez.- A torta de limão pode ser nosso lanchinho?- fez olhos pidões. Balancei a cabeça, segurando um sorriso.

— Talvez.

— Gostei desse talvez.

 

Felicity saiu, virando o rosto brevemente para me ver ao passar pela porta. Continuei a olhar por onde ela havia ido, sentindo de repente uma mão sob meu ombro. Era John, com um maldito sorrisinho.

— Esse olhar…

— John.- o repreendi. Minha ação o fez sorrir mais.

— Está em estado de negação, é aí que tudo começa.- revirei os olhos, entrando para a cozinha.- Não pode mentir para si mesmo.

— Ela é uma amiga.- falei incomodado.

— Claro que precisa ser sua amiga, sem isso relacionamentos são um desastre.

 

O encarei, balançando a cabeça negativamente. John, principalmente na época do exército, sempre tentava bancar o meu casamenteiro, o que era irritante. No lugar de Thea eu o tinha.

— Sargento Diggle. Está de volta ao seu segundo cargo de me encher o saco?- John deu de ombros. Divertido.

— Só estou te dando um toque…- soltou no ar.- Que horas vai pro Lance?

— Depois do almoço. Tem uma mobília desgraçada que ele quer tirar. Sara o convenceu.- suspirei.- E após isso vou com Felicity na fazenda da família Cooper.

— Suponho que vá chegar tarde, então?- seu tom era malicioso.- Só estou perguntando, chefe.

— Está fazendo perguntas demais.- revirei os olhos.- Mas sim. Prometo tentar não demorar. Consegue comandar aqui?

— Com toda certeza. Principalmente com os novos garçons.- cruzou os braços.- Então se quiser dar um passeio em Eureka…

— Eu estou a um passo de mandar você se ferrar.- John riu, e embora eu parecesse bravo não poderia estar mais divertido.

 

O deixei sozinho, indo até a geladeira para verificar os doces. Havia uma torta de limão, por sorte.

 

A loirinha parecia ter sorte.

 

***

 

Estacionei em frente à clínica. Tudo parecia calmo, como de costume. A porta estava aberta, e pela a falta de pessoas acredito que o horário de pico já havia passado. Caminhei a passos largos até a entrada, subindo os pequenos degraus e passando pela varanda. Duas pessoas estavam na sala, onde Felicity estava sentada ao lado no sofá, com uma prancheta, enquanto Tommy examinava o outro. Doutor Lance liberava uma mulher, a qual eu reconheci ser a irmã de Nyssa, Talia, e por suas expressões ela não estava muito bem.

— Beba bastante líquidos, e descanse senhorita Al Ghul.- disse Quentin de forma gentil, dando um tapinha em seu ombro.- O que está sentindo é apenas uma virose.

— Uma virose que não está me deixando beber.- lamentou, acabei soltando um riso baixo.- Oliver!

— Oi Talia.- a abracei rapidamente. Eu e Talia éramos bons amigos, principalmente nas festas, onde ela geralmente me ajudava, sem contar que seu relacionamento por já ter atuado na polícia com o pessoal das fazendas de maconha não era um dos melhores com Slade, assim como o meu.- Como você está?

— Péssima.- riu.- Estou com uma ânsia horrível e um pouco de falta de ar. Mas vou ficar bem.

— Se precisar de algo…

— Sei quem procurar.- sorriu. Seu olhar foi para a sala, onde notei que Felicity nos observava.- Muito obrigada Felicity, você foi um anjo.

— Magina, espero que melhore.- sorriu.

— E Oliver.- se virou para mim.- Assim que eu melhorar…

— Vai ter um dose te esperando.- a fiz rir.- Melhoras, e mande um oi a Nyssa.

— Vou mandar!

 

Talia saiu, dando tchau a Tommy. Quentin já não estava mais ao meu lado, se encontrava com Felicity, e por sua feição estava a deixando impaciente.

— Posso assumir daqui.

— Mas eu não terminei de…

— Senhor Sheldon, aguarde em minha sala.- sorriu Quentin para o paciente. Felicity bufou mas assentiu, cruzando os braços.- Por que não faz outra coisa?

— Como o quê?- perguntou de má vontade.

— Ajudar Oliver a retirar a mobília.- sugeriu.- E por falar nisso, me desculpe, o dia foi corrido hoje.- se levantou do sofá, me dando um abraço rápido.- Como está, Oliver?

— Diria que bem. Muito saudável.

— E as dores na perna? Voltaram?- Felicity, que agora se aproximava de nós, arqueou as sobrancelhas, deixando claro sua pergunta.

— Ainda não, mas pela a quantidade de neve nas montanhas não vão demorar a chegar.- brinquei. Quentin balançou a cabeça negativamente, me repreendendo pela brincadeira.

— Já disse que tem que se cuidar.

— Mas eu não preciso.- suspirei. Aquele era um tópico discutido frequentemente entre nós dois. Quentin cuidava de mim, muito, tanto que pareciamos familia.

— Ele é sempre teimoso?- perguntou Felicity a Lance, que assentiu, com um pequeno sorriso.

— Sempre.- seu olhar nos analisou.- Talvez você mude isso senhorita Smoak.

 

Felicity entreabriu os lábios, surpresa, e eu, completamente envergonhado por sua sugestão nada discreta, não consegui dizer uma palavra. Tommy, um pouco atrás de nós riu, balançando a cabeça.

— Bom, tenho um paciente. Tommy?- o chamou.- Após finalizar leve o senhor Brown até em casa, entendido?- o fez assentir.- E senhorita Smoak…

— Já sei.- fechou a cara.

— São dois móveis. Um lá em cima que é a cama  e o outro é aquela poltrona velha.- apontou para o móvel desbotado no canto da sala.- Obrigado mais uma vez, Oliver.

— Não tem de quê.

 

O doutor se retirou, e Felicity, com o rosto franzido, em puro descontentamento fez um sinal para que eu a seguisse. Claro que sabia aonde era, Quentin por um tempo havia morado aqui, e por conta disso, havia um quarto no segundo andar, e por notar a poeira e desorganização ele não aparecia por aqui havia um bom tempo.  Felicity se posicionou do outro lado do colchão, irritada. Seus lábios estavam arrebitados, e o batom nude que usava os deixava tão delicados…

 

Tão deliciosos…

 

Eu não podia ter esse pensamento.

 

Tentei focar em outra coisa, como anima-lá.

— Nossa.- Felicity ergueu o olhar.

— Nossa o quê?- perguntou.

— Isso aqui.- me aproximei, colocando o dedo indicador entre suas sobrancelhas.- É ódio por estar comigo? Achei que fôssemos amigos doutora Smoak.- suas expressões suavizaram.- Não pode ser tão ruim, pode?

— Depende.- ponderou, seus lábios se entreabriram em um meio sorriso.

— Do quê?- cruzei os braços.

— Se você tiver pegado aquela torta de limão estamos bem.- ri, balançando a cabeça.

— Estou começando a achar que nossa amizade é sustentada por interesses.- brinquei, a vi sorrir mais uma vez.

— Ah, eu estou apenas aproveitando os benefícios. Como as tortas, é claro.- disse divertida.- Não é todo dia que se encontra um cozinheiro tão prendado.

— “Prendado”.- repeti.- De um “satisfatório” para um “prendado”, estamos evoluindo.

— Pegue logo o maldito colchão.

 

Ri baixo, voltando ao meu lugar. Era mais pesado do que eu imaginava, e após tentativas inúteis nos jogamos na cama, exaustos.

— Quem teve a ideia brilhante de construir isso?- perguntou irritada.- É como se tivesse cimento aqui.

— Me pergunto como trouxeram aqui pra cima.- com certeza eram mais de duas pessoas, e essas pessoas, em hipótese alguma envolviam Quentin, pois se o mesmo fizesse isso jamais teria o trazido para cá.- Não podemos desistir.

— Não.- resmungou, cobrindo o rosto com as mãos.- Acha que ele me odeia?- perguntou de repente. Virei o rosto para encará-la, confuso.

— Quem?

— Quentin.- suspirou, me olhou entre seus dedos.- Eu não entendo essa implicância comigo.

— Ele não te odeia.- um sorriso irônico brotou em seus lábios.- Não odeia.

— Então o que é tudo isso?- perguntou.- Ao invés de eu estar cuidando de alguém ele prefere me mandar desmontar móveis? Se um paciente chegar e ele não estiver eu tenho que esperar ele chegar? Que tipo de pessoa faz isso?

— Alguém com medo de ser ajudado.- respondi. Felicity retirou suas mãos do rosto, e me encarou profundamente.- Ele tem medo de mudanças.

— Por quê?

— Porque se aceitar sua ajuda, na cabeça dele, isso vai significar que está ficando velho demais para cuidar de alguém.

— Tommy…

— Tommy foi o primeiro, você a segunda. Acha que ele não está contando? Essa clínica é a vida dele, e se alguém sugerisse que ele fosse afastado por já estar em idade de descanso ele surtaria. A clínica foi a única coisa que manteve Quentin sã quando Dinah faleceu.- seus lábios se entreabriram, o olhar irritado se tornou suave, um misto de pena e…

 

Compaixão talvez?

 

Eu não sabia deduzir. Em momentos assim, quando Felicity se fechava e ficava reflexiva, tudo o que me restavam eram perguntas e mais perguntas.

— Perder a esposa foi algo que o mudou muito.-voltei aquele dia, onde eu e Thea estávamos o ajudando com a papelada dos pacientes e seu telefone tocou.- Ele a amava muito.

— Nunca é fácil perder quem amamos.- seus olhos brilharam nos cantos, indicando lágrimas que queriam cair.- Nunca é. Achamos que não vamos conseguir viver, principalmente quando é a pessoa que você achou que passaria o resto da vida junto.- sua voz era triste, baixa, e o olhar permanecia longe.- É insuportável.

— É sim. Nunca estamos preparados para lidar com a perda.- respirei pesadamente. Os fantasmas do campo de batalha me perseguiam, me assombrando desde que voltei, me punindo.

 

Porque eu merecia ser punido.

 

Principalmente por não ter a salvado, como prometi.

 

Mas eram arrependimentos, quais, infelizmente, eu não podia mudar. Deveria focar no presente, e tentar ser feliz.

 

A vida é curta demais para viver amargurado.

 

A mão de Felicity tocou a minha, me trazendo de volta. Nossos olhares se cruzaram, e permanecemos em silêncio, apenas nos observando. O toque foi breve, mas poderoso o bastante para me fazer sentir melhor. Segurei sua mão e sorri, mais leve.

— Temos que tirar essa bagunça daqui.

— Temos sim.-concordou, se levantando.- E se puxarmos o mesmo lado?

— Pode funcionar.- analisei a cama.- Segura aqui.- indiquei o ponto.- No três vamos com tudo, ok?

— Com tudo?- repetiu. Um tom rosado tomou suas bochechas, e sabe lá o que fosse, ela pareceu muito, muito constrangida.

— Você ainda vai me matar de curiosidade doutora Smoak.- murmurei, a encarando.- É um saco não saber o que você pensa.

— Sou grata por você não ter esse dom.- disse nervosa, focando no colchão.- No três?

— No três.

 

Ajustei minhas mãos. Contamos juntos, e no três, com dificuldade, conseguimos ergue-lo. Corri para o outro lado, para evitar que caisse, e o levamos até a porta, parando na ponta da escada.

— Acho que sei como resolver.- falou, ofegante.- Seja lá quem estiver aí embaixo saía de perto da escada!- gritou.- Bomba descendo.

— Você não…

 

Ela o empurrou com tudo, e com agilidade, o colchão se foi, descendo a escada com violência. A encarei boquiaberto.

— O quê? É mais prático.- deu de ombros.- Ou você queria descer ele?

— Exatamente. Mas confesso que seu jeito foi mais rápido.- A vi sorrir.- Só espero que não tenha matado alguém.

— Se isso acontecer espero que seja Tommy.- brincou.- Ele está me tirando do sério.

— Você é uma graça brava.- a mesma me deu um empurrãozinho, envergonhada.

— Vamos tenente. Você depois daqui ainda têm mais uma missão.

— As suas ordens. 

 

A cama, com os equipamentos certos, fora fácil de desmontar. Descemos diversas vezes, a primeira para levar o colchão ao carro de quentin, que era uma picape marrom de porte grande, e depois, repetidas vezes, as madeiras. Por fim, Felicity me ajudou a carregar a poltrona. Batemos as mãos, para nos livrarmos do pó e nos encostamos no carro, exaustos. Essa pequena mudança havia requerido muita energia.

— Sabe o que é bom agora?- perguntou, encarando a casa.- Um doce.

— Entendi.- ri.- Espera aqui.

 

Fui até meu carro, retirando da embalagem térmica a torta e duas colheres. Felicity se deliciou com o doce, comendo mais da metade.

— Isso é dos deuses.- falou de boca cheia.- Divino!

— Obrigado.- fingi soberba. Felicity riu, balançando a cabeça.- Vamos?

— Com certeza. Deixa eu só pegar as minhas coisas.

 

Felicity entrou, pegando sua bolsa e celular. Quentin não saiu, o que significava que ainda estava com o paciente, e pela demora, deveria ser algo bem detalhado. Decidi não interromper. Seguimos um percurso calmo. O céu começava a ficar cinzento, provavelmente porque daqui algumas horas o pôr do sol começaria. A estrada de mão dupla estava  completamente vazia, tendo como companhia apenas os enormes pinheiros, que nos cobriam de ambos os lados. Felicity olhou para o céu, receosa novamente.

— Não vai chover hoje.- a acalmei.- Está se preparando para chover. Pode ser amanhã, depois…

— Isso não foi animador.- falou com humor. Seus ombros relaxaram, e seu rosto virou em minha direção.- Pronto para enfrentar a senhorita Cooper?

— Você tinha que lembrar.- fiz careta, Felicity soltou um riso baixo.

— Não se preocupe, não vou deixar ela agarrar você. Posso ser brava quando quero.

— Jura? Eu não tinha ideia.- a vi semicerrar os olhos para mim.

— Você é tão…

 

Pisei no freio.

 

Em um baque conseguimos parar, evitando uma batida. Havia um carro na contramão, parado, e o motorista não parecia ligar nenhum pouco. Eu não conseguia vê-lo, apenas sua silhueta pelo o vidro, mas no momento em que se levantou minha espinha gelou.

 

Não podia ser.

 

Não hoje.

 

Não com Felicity.

 

Abri o porta-luvas com brusquidão, e me xinguei. Era claro que minha arma não estava aí. John havia a tirado quando o carro fora pro conceito, e eu, como um completo estúpido não a coloquei de volta.

— O que foi?- a voz suave de Felicity me lembrou que eu não estava sozinho, o que era muito pior.- Quem é ele?

— Felicity, se eu conseguir distrai-lo você pega o carro e foge, me ouviu?- seus olhos se arregalaram, assustada.

— Eu não vou deixar você com esse maluco.- apontou. Engoliu em seco ao notar o que o homem carregava na mão.- Um maluco armado.

 

O rapaz se aproximou com uma postura marrenta e uma cerveja na mão esquerda. Terminou de bebe-la e a jogou na estrada, batendo sua mão no vidro, e sem vontade alguma eu o abaixei.

— Oliver Queen.- disse com certa animação.- O que faz andando pra cá?

— Não é da sua conta Malone.- respondi. O vi trincar o maxilar.

— Vou ver uma paciente.- Felicity respondeu. Se Billy não havia a visto, agora a notava completamente. Fechei as mãos em punho.

— É médica?- perguntou interessado.

— Sou.

— Interessante.- pensou. Seu olhar fora de Felicity a mim, e um sorriso presunçoso surgiu em seus lábios.- Você deve servir. Desce do carro, você vai comigo.

— Ela não vai a porra de lugar nenhum com você.- meus músculos se tornaram tensos, e minhas mãos, tão pressionadas, clamavam por socar a cara de Billy. Embora eu estivesse com ódio, estava preocupado. Se ele a levasse…

 

Ele não ia levá-la

 

Nem que eu morresse por isso.

— É mesmo?- falou com graça. Engatilhou sua pistola, e a apontou no meio de minha testa. Felicity soltou um grito assustado e agarrou em minha mão.

 

Não era a primeira vez que eu vivia uma situação como essa, a questão é que eu não estava sozinho. Não podia perder o controle, e principalmente, não podia deixar Felicity sair machucada. Billy era um homem controlado por alguém maior, alguém que eu conhecia bem, mas mesmo assim era perigoso.

 

Mas eu não podia simplesmente deixar que ele a levasse.

 

Isso estava fora de cogitação.

 

E uma parte de mim estava apavorada só de imaginar para onde ele a levaria. Eu tinha que protegê-la, e se fosse eu levar mais um tiro por isso tudo bem.

 

Mas ele não ia machucá-la.

 

Não comigo aqui.

 

O monstro de guerra, que geralmente tomava vida no campo de batalha rosnou, pronto para o combate. Retribui o olhar de Malone, carregado de ódio e desprezo.

— O que vai fazer agora, Queen?

— Ela não vai com você.- repeti firme.- E vai precisar muito mais que uma bala pra me impedir de quebrar a sua cara se encostar em um fio de cabelo dela.


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Notas finais do capítulo

E agora, hein? O que será que o nosso amado tenente vai fazer? Fiquem ligados!

Comentem muitoooooo!

Beijos e até a próxima atualização;



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