Querida Erika, 

Desde a sua partida eu sigo com um vazio específico que nunca tinha sentido antes. Creio que seja por eu nunca ter tido uma amiga, ou ainda, nunca ter tido uma amiga que se foi. Não ache que estou sendo contra sua atitude de ir viajar para seguir seu sonho, na verdade você está coberta de razão, pois da mesma maneira, eu estou seguindo o meu, e coincidentemente tínhamos o mesmo sonho: sermos livres. Mas nossas liberdades são distintas, mesmo que sejamos idênticas. 

Estou aos poucos em busca de reerguer o reino da pobreza. Os geodos que encontramos na mina têm grande utilidade, estamos organizando uma indústria para fazer bom uso deles. Estou pensando em um projeto para a aldeia, não acho justo vivermos nesse luxo descomunal dentro do palácio até mesmo quando ficamos sem ouro enquanto pessoas morrem de fome, portanto eu decidi dividir melhor o que conseguimos nas minas, e alterar os impostos das pessoas, fazer algo que faça mais sentido. Amo muito a minha mãe, mas acho que a maior habilidade dela é seguir as regras e essa é a minha maior falta (ainda bem), portanto, agora que ela pretende me passar o trono eu resolvi começar a planejar alterações de todas as regras. O conselho ainda está muito resistente em relação a muitas coisas, começando por eu assumir o reino enquanto uma mulher solteira, querem um regente ou algo assim, eles acham que não sou capaz? E isso que eles ainda nem tem conhecimento dos meus futuros projetos. Eles são um bando de velhos idiotas (desculpe o palavreado, esse é o tipo de coisa que só falo na sua frente e do Julian) inclusive estou recebendo muito apoio do Julian, e também da própria comunidade. Nós deveríamos apoiá-los, você não acha? O mais correto seria isso, não? Fazemos tudo que fazemos para ajudar o sustento do nosso povo. Depois que fui com o Julian para a aldeia e que conheci você, mudei de ideia sobre as coisas, preciso ser uma boa líder, se eu não for a melhor no que eu faço eu prefiro não fazer! 

Por falar em Julian, para além das nossas aulas e tarefas, não tocamos mais nos assuntos sentimentais. Ele sabe que o amo, mas acho que não sabe o que fazer em relação a isso. Chega a ser engraçado ver o homem mais inteligente que conheço ser tão ignorante em assuntos do coração. E eu, infelizmente, também carrego certa ignorância. Tivemos um momento muito especial na mina, mas estávamos correndo risco de morte, acho que ele desconsiderou por conta disso. Consegui falar até com minha mãe que é com ele que quero me casar, mas com ele, nada…

O rei Dominick está construindo uma aliança conosco, está cada vez mais próximo de nós, ele vem para cá sempre, nunca somos nós que vamos para lá, é um interesse e comprometimento realmente muito grande. Ele sempre pergunta de você e fica cabisbaixo ao saber que você ainda está viajando, mas assim como eu, apesar da tristeza, ele apoia sua decisão e sua liberdade. Eu e Julian ainda não entramos em detalhes com ele sobre os projetos que estamos idealizando, mas acredito que a qualquer momento isso virá à tona. Infelizmente no momento nossa luta é para que eu consiga assumir o trono sem ser casada, o resto ainda está mais no papel. 

Gostaria de saber como estão suas viagens, suas cantorias e tudo o mais. Apesar de termos uma conexão enorme e fora de série, eu ainda acho que passamos pouco tempo juntas e que deveríamos nos conhecer mais, por isso envio esta carta, quero que me conte tudo em cada mínimo detalhe. Mande lembranças a quem estiver com você, nem que seja só o cavalo e o Wolfie, que por sinal, a Serafina aparenta sentir muito a falta. 

Com amor, da sua melhor amiga. 

Anneliese.