A Viagem dos Sonhos... De Quem? escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta com essas duas! Dessa vez aprontando com uma viagem à Disney.
Só para variar, ficou imensa, não tinha como não ser.
Espero que se divirtam.
Boa leitura!



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Elena

— Mas me dê só uma razão, uma mísera razão para não poder ir para Disney, papai? – Choraminguei atrás de meu pai pela casa, até que ele se enfiou em seu escritório e trancou a porta, me deixando do lado de fora. – Papai!! – Tornei a pedir.

Não, eu não ia desistir, já tinha conseguido convencer o inconvencível Chris de que ir para a Flórida ia ser divertido, não teria como meu pai negar agora.

— Pai! O senhor já tinha dito que eu poderia ir! – Falei contra a porta fechada. Estava com a testa apoiada nela e, acabei perdendo o momento em que a maçaneta foi virada e a porta aberta. Resumo, só não caí de cara no chão, porque papai estava parado do outro lado e me segurou, depois me colocou de pé, me encarando seriamente. Na verdade, ele não me encarava seriamente, ele me olhava como se quisesse me matar!

—  Quando eu te deixei ir para a Disney, você não me disse que iria com seu namorado....

Fiz carinha de cachorro pidão, isso sempre funciona. Dessa vez não deu e o poderoso Aaron Hotchner só me deu as costas e voltou para a sua mesa, falando o seguinte:

— Peça o reembolso das passagens...

Fiz uma careta. Isso ia ser um pouquinho... difícil.

— Uhn... papai...

E lá estava a carranca de novo. Eu ia ter que acabar pedindo um empréstimo para o Tio Dave para poder pagar o que devia ao meu pai.

— Elena Prentiss-Hotchner...

— Não tem reembolso... Sou pobre, não herdeira do Tio Dave, assim comprei passagem na Black Friday, promoção fantástica... só que não tem reembolso ou remarcação do dia...

Meu pai, que me encarava, arredou minimamente a cadeira para trás e meu instinto de super coragem me dizia que era hora de fazer uma estratégica saída de contingência de danos, ou em uma palavra mais fácil, correr e fugir para meu quarto.

Comprou na promoção...

— É para isso que serve a black Friday, né?

— Você quer ir para a Disney, com o seu namorado, no dia dos namorados?

— Sim... essa é a ideia. Mas também é uma forma de pagamento por ele ter me arrastado para ver o tal do Super Bowl... ele sabia que eu não dou a mínima para o futebol, e mesmo assim me levou para aquela coisa interminável....

— Ele não gosta da Disney? – A pergunta me pegou desprevenida, pois o tom de voz e a expressão de meu pai mudaram de repente.

— Nunca disse nada a favor ou contra... mas só vou descobrir quando chegarmos lá. – Soltei sem querer e me arrependi na hora, pois o sorriso que meu pai dava fez os pelos da minha nuca se arrepiarem.

Ele não sabe para onde vocês estão indo?

— Não. – Respondi dando um passo para trás, avaliando se uma fuga ainda era possível, ou quem sabe voltar no tempo.

O sorriso de meu pai ficou maior, o que era um sinal de alerta nível MIL, porque ele nunca, NUNCA sorria desse jeito. Assim comecei a pensar em outras razões para ele não me deixar passar o final de semana na Disney com meu namorado até que ele soltou, ainda sorrindo triunfante:

— Então você pode ir.

Eu fiquei pasma, Completamente atordoada. Muda. Calada. Petrificada. Meu cérebro deu a tela azul da morte. Chame como quiser a minha total falta de reação enquanto encarava meu pai e processava a informação que eu tanto queria ouvir, mas ainda não acreditava que tinha escutado.

— Oi?! – Foi tudo o que eu consegui formular para tentar entender o que meu pai tinha dito. Eu tinha certeza de que tinha compreendido errado.

— Vão. Divirtam-se. Conte-me como vai ser quando chegarem.

— Pai... o senhor tá bem? – Soltei sem querer, chegando mais perto da mesa e tentando conferir se ali estava realmente meu pai, ou se tinha algum traço de que ele estivesse doente, ou até mesmo delirando.

Tudo o que vi foram seus olhos castanhos (e meus, porque temos os mesmos olhos) me fitando de volta, divertidos.

— Eu não estou doente, Elena. – Ele me respondeu ainda sem conseguir esconder o sorriso, que agora era seu tradicional sorriso de lado, que deixava as covinhas amostra e tardiamente percebi que também tinha herdado isso dele.

— Mas parece que está... – Murmurei. Eu devia estar querendo me sabotar falando algo assim, mas a reação de meu pai me deixou muito preocupada! Ele não cede tão fácil assim... queria que mamãe estivesse aqui e não em um caso lá nas cuicuias para traduzir essa reação dele.

— Elena...

— Então... eu... bem... vou... arrumar a mala... o voo é amanhã, bem cedo...

— Eu vou levá-los até o aeroporto. – Foi o que ele me disse quando pisei no corredor. – Essa é a minha única exigência, Elena.

Balancei afirmativamente a cabeça e depois tratei de sair correndo dali, não deu muito certo, porque logo acabei por tropeçar nos meus próprios pés e caí no meio da sala, ainda um tanto atônita sobre o que tinha acabado de acontecer... mas com uma única certeza em mente, essa ia ser a pior carona da história.

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Elizabeth

Eu andava de um lado para o outro, meus pais estavam em conferência no escritório de minha mãe e tinham dragado o pobre do Sean com eles. Pelas reações dos três até parecia que algo muito grande estava para acontecer.

Só que não era nada disso.

O meu lindo, mas um tanto tagarela demais, namorado tinha deixado escapar que íamos fazer uma viagem.

Só tem um detalhe nisso tudo: Ele não sabe para onde, porque eu escolhi o destino.

Meu pai ainda não estava ciente do meu plano e foi pego de surpresa pela fala de Sean.

E isso tudo gerou uma espécie de treinamento de emergência para uma catástrofe nuclear nessa casa.

Meu pai faltou muito pouco para explodir, minha mãe, que chegava de Langley naquele exato momento, caiu de gaiato no meio da história e acabou segurando o papai que ia para cima de Sean e eu tentava explicar o contexto da conversa.

Acabou que ninguém me ouviu, minha mãe arrastou meu pai para o escritório dela, que por sua vez, arrastou o Sean.

E eu acabei aqui na sala, tendo somente a companhia de Ice.

Ouvi passos acima de mim. Tentei decifrar de quem eram... com certeza de meu pai. E isso era uma péssima notícia, afinal dizia que mamãe não estava mais contendo o marido e que a vida de meu pobre e falastrão namorado corria perigo.

Fiz mais uma careta enquanto olhava para o teto e tentava imaginar o que estava acontecendo no escritório de minha mãe em minha cabeça.

Nada de bom saiu da minha mente... por que sempre temos que imaginar os piores cenários possíveis?

Os passos de papai cessaram, outros começaram, os clássicos scarpins de minha mãe agora clicavam alto pela casa.

Ela estava furiosa. E com razão, essa era o que, décima vez que ela tinha que evitar que papai assassinasse o “Marine Suicida”?

Até eu já tinha perdido as contas!

Deitei-me no sofá, concentrando minha audição nas vozes abafadas e no clic-clac dos saltos de mamãe.

Não pude distinguir muita coisa, além de estarem falando bem baixo, o que dadas as circunstâncias era muito anormal, meu cachorro resolveu roncar bem na hora em que conseguir entender o seguinte fragmento:

— Mas a ideia não é sua?! – Meus pais falavam juntos.

Nem queria imaginar a carinha de Sean que deveria estar mais parado que boneco de papelão.

Sei que eles continuaram o interrogatório, mas a motosserra do meu lado me impedia de escutar.

Cutuquei Ice com o pé para ver se ele desconfiava, tudo que meu cachorro fez foi virar de barriga para cima achando que iria ganhar carinho!

— Carente! – Murmurei, mas acabei cedendo a essa bola de pelo branca.

E entre o clic-clac lá de cima, os roncos de Ice e o tic-tac do relógio, passou quase uma hora.

E nada de me falarem o que estava acontecendo!! Haja ansiedade!

Estava a ponto de começar a subir a escada com muito cuidado para evitar o degrau que range alto, quando a porta do escritório de mamãe foi escancarada e acabou batendo na parede, um claro sinal de que quem executara o movimento fora:

— Jethro! Será que pelo menos em casa, você pode tratar a minha porta como uma porta?

— Fui eu quem a colocou aqui, Jen!

— Por isso mesmo, valorize seu trabalho! – Retrucou minha mãe.

Papai não se deu o trabalho de responder novamente, só assobiou alto, um claro sinal de que estava me chamando, pois se fosse o cachorro, iria esperar até amanhã, Ice ainda roncava alto e duvido que tenha sequer escutado o chamado.

Sua filha não é um cachorro!— Mamãe rosnou.

— Mas ela sabe que é para ela... Ice já está quase surdo e passa o dia dormindo, Jen.

Dei um pulo do sofá e depois subi os degraus ajeitando o cabelo.

— Chamou? – Perguntei ainda no meio da escada.

— Aqui e rápido! – Os dedos de papai tamborilavam na madeira.

Subi de dois em dois os degraus e depois de cruzar o corredor correndo, parei na frente dele, que só me indicou com a cabeça que entrasse.

Finalmente estava no meio da reunião secreta!

Dei uma olhada pelo cômodo e notei que Sean estava sentado, todo preso na postura de militar que ele era, mas seus olhos estavam um tanto assustados. Perguntei com o olhar o que estava acontecendo e ele só deu de ombros.

Não sabia...

Isso ajudava tanto, só que não.

— Então vocês estão querendo viajar? – Minha mãe tomou a frente da conversa, estranhamente meu pai ficou parado na porta, braços cruzados, olhando de mamãe para mim e depois para Sean.

— É uma ideia... – Comecei a arrumar o terreno para contar.

— Mas você já tem até as passagens compradas, Elizabeth! – Ela contra-atacou.

Não acredito que ela usou sei lá o que ela poderia usar lá da CIA para futicar no meu computador e achar as passagens!!!

Olhei ultrajada para a poderosa Diretora Shepard (porque essa pessoa que invade a minha privacidade não é a minha mãe!!) que nem se abalou e deu a cartada final.

Aquela que ninguém sabia qual era, a não ser eu!

— E vão para a Disney! – Terminou com um sorriso vitorioso nos lábios. Definitivamente não era a minha mãe ali!

Disney?! – Sean, que ainda estava calado, deu um pulo, parando na minha frente e, fez uma cara engraçada ao me olhar como se quisesse que eu negasse a informação. E eu me perguntei o que ele tinha contra a Disney para fazer essa cara.

— Sim... Disney! – Confirmei.

— Com um país inteiro para ir... você quer ir para a Disney? – Continuou meu namorado.

— Eu nunca fui à Disney! – Retruquei. – Nunca tiveram tempo de me levar! – Apontei para meus pais.

Sean se sentou e colocou as duas mãos no rosto, um gesto de desespero. E essa reação agradou o outro marine da sala.

— Você vai ou não para a Disney com a Liz, Marine Suicida? – Quis saber meu pai, colocando mais pressão em Sean.

Meu namorado suspirou do meu lado, eu ainda o encarava, revoltada só com a ideia de alguém que não gosta da Disney! E depois murmurou:

— Se é para onde ela quer ir, senhor...

Ele não estava feliz com o destino escolhido, assim só o chutei e perguntei:

— Por que tão revoltado com o destino?

— É a Disney... – Ele disse somente, dando uma conotação de total desprezo para o nome do lugar.

— Mas é para lá que a gente vai! – Levantei-me e bati o pé, meio como minha mãe, percebi um tanto tardiamente, ao fitar a expressão de meu pai.

— E quando começa o meu martírio?

Pelo visto teríamos uma DR bem na frente dos meus pais.

— Amanhã, Madre Teresa. – Respondi sarcasticamente.

Sean tornou a levantar a cabeça e estava pronto para retrucar algo, porém ele se lembrou de onde estava e quem estava nos observando, assim, só balançou a cabeça e fez menção de ir.

Ele nem tinha chegado direito e já estava querendo ir...

Se despediu de minha mãe e quando passava perto de papai, que permanecia parado na porta, ouviu:

— Pode ficar tranquilo, Marine, amanhã eu levo vocês no aeroporto...

E Sean saiu de casa sem dizer uma palavra! E nem perguntou que horas partia nosso voo.

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Elena

Acordei às 04:30 da manhã e essa era a primeira vez em que eu acordava tão cedo e tão disposta. A perspectiva de passar dois dias na Flórida com meu namorado para curtir os parques era revigorante.

Rapidamente tomei um banho, acabei de fechar a minha mala e, depois de pegar a dita cuja e a mochila, desci a escada para o primeiro andar com um humor exultante, que morreu no instante em que vi meu pai, sentado à mesa, tomando uma xícara de café.

Ele estava com roupas casuais, nada de terno e gravata para o Diretor do FBI hoje, calça jeans e camisa de gola polo, e o sorriso triunfante de ontem continuava em suas feições.

— Bom dia, Elena! – Ele disse bem-humorado.

— Bom dia, papai! – Respondi passando atrás dele e lhe dando um beijo na bochecha.

— Avisou ao Christopher que eu vou levá-los ao aeroporto?

— Bem... mais ou menos. Disse que tínhamos carona e que assim iríamos economizar no estacionamento.

Ele levantou uma sobrancelha, e eu sabia o que ele pensava, estava calculando as chances de a filhota ainda ter um namorado quando voltasse de viagem.

— Ao menos falou para onde estão indo? – Continuou com o interrogatório.

Dei de ombros.

Genericamente.

— Não existe ‘genericamente’ quando se trata da Disney, Elena.

— Eu falei que vamos para um lugar movimentado e ensolarado na Flórida...

Meu pai largou a xícara na mesa e me estudou. Seus olhos atentos no meu rosto e seus pensamentos em minhas repostas vagas.

— Você tem ideia para onde ele acha que estão indo? – Soltou ainda me analisando.

Fiz uma careta... eu não tinha pensado nisso.

— Não, você não tinha pensado nessa ideia quando deu as dicas. – Ele continuou depois de interpretar corretamente as minhas feições.

Sacudi veementemente a cabeça em negação, meu cabelo voando para todo o lado.

Minha reação agradou meu pai, que se recostou na cadeira e soltou a seguinte e agourenta frase na minha direção:

— Elena, hoje você vai me fazer rir muito.

Fiz outra careta, dessa vez olhando para a minha xícara, meu estômago se contorceu de forma estranha e desisti de tomar o café.

Com um suspiro levantei-me da mesa, lavei a xícara intocada e depois de ajudar meu pai com as vasilhas do café, mandei uma mensagem para Chris, informando que já estávamos indo.

A resposta que recebi, quando já estava dentro do carro, foi a seguinte:

Nossa carona é o Jack ou o Morgan?

Como havia lido a mensagem pela barra de notificação, resolvi deixar sem resposta, seria melhor assim, ele só saber quem era a nossa carona quando chegássemos na porta de sua casa. Tipo puxar o curativo de uma vez, para a dor ser rápida e única.

Meu pai nunca havia ido à casa de Chris, na verdade, nunca nem tinha me perguntado onde era. Todas as vezes em que eu fui até lá, meu namorado havia me pegado, me levado e depois me deixado em casa, um arranjo ótimo, tendo em vista a nossa diferença de idade e o fato de que ele sabia dirigir e tinha um carro e eu, bem... tinha sérios problemas com carros automáticos e seus pedais faltantes e tinha problemas com carros manuais e seu excesso de pedais e marchas confusas. Contudo, o estranho era que o Senhor Aaron Hotchner sabia exatamente o caminho, até mesmo os atalhos, isso sem nem ter um GPS ligado ou ter me perguntado algo.

Encarei meu pai, séria e furiosamente.

Ele pareceu saber sobre o que eu pensava, porque só respondeu:

— Você realmente achou que eu não iria pesquisar onde ele morava? Que caminho ele fazia com você dentro do carro e quanto tempo vocês gastavam para ir e voltar, Elena?

— Tia Pen!!!! – Murmurei indefesa. – Como ela fez isso comigo?

— Não foi porque quis, mas porque eu e o Derek pedimos.

— Jogo sujo com ela. E maldoso também.

E depois disso fiquei calada. Chris ainda mandou mais duas mensagens, a última quando entrávamos na rua de sua casa e seria cômico, se não fosse tão trágico, ter acompanhado as mudanças em seu rosto quando ele tomou consciência sobre quem nos levaria até o aeroporto.

Papai fez questão de abrir a janela do lado do motorista, algo que ele nunca fazia por motivos de segurança, e cumprimentar Chris que ainda estava parado na calçada, olhando um tanto descrente para o carro e para o motorista.

Fiz menção de descer e tentar explicar o ocorrido e a barganha que resultou nessa situação, mas papai colocou a mão em meu pulso e só disse:

— Christopher pode muito bem guardar a mala dele no porta-malas e se sentar sozinho no banco de trás, não é mesmo? – Esse último pedaço olhando para fora, para a cara de estupefato de meu namorado.

Chris balançou positivamente a cabeça e foi para a parte de trás do carro guardar a mala, depois se sentou atrás do banco do motorista, sem entender muita coisa.

— Bom dia! – Cumprimentei-o, virando de lado, para poder vê-lo e tentar dar um sorrisinho como se me desculpasse pela surpresa desagradável.

— Bom dia, Sr. Hotchner! – Ele cumprimentou meu pai primeiro e me deixou no vácuo!!

Ai que vontade de estar sentada do lado dele e de dar um bom tapa no ombro dele!!

Depois dessa, a viagem até o aeroporto virou um velório, ninguém abriu a boca, a única pessoa feliz dentro do carro, que teve até o disparate de começar a assobiar, era meu pai.

Foi com alívio que vi a estrutura do Aeroporto Internacional Washington Dulles, já vislumbrando a despedida de meu pai e uma melhora no humor de meu namorado.

Como que pressentindo a minha ansiedade para logo estar só ao lado de Chris, meu pai decidiu parar na vaga mais distante da porta e ainda fez questão de nos levar até o balcão da empresa aérea, como se fossemos crianças. Juro, isso me irritou, e foi somente quando ele abriu a boca para nos desejar uma boa estadia na Disney, que eu entendi as suas reais intenções.

Ele queria ver a reação de Chris quando ele descobrisse para onde estávamos indo.

— Desculpe, Sr. Hotchner, o senhor disse Disney?! – Perguntou um incrédulo Chris.

— Sim. Elena não te disse? – Papai perguntou todo inocente, só que aquele sorriso, ah, não me enganava, ele estava se divertindo muito às minhas custas.

Chris olhou para mim e eu só soube abrir um daqueles sorrisos amarelos, como que dizendo: eu sei, poderia ser melhor, mas vamos nos divertir. Não teve muito efeito e eu sabia que meu namorado iria começar a protestar ali mesmo, se não fosse a presença de meu pai e de outras pessoas que chegavam naquele mesmo instante, e que não pareciam nada felizes...

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Elizabeth

Depois que meus pais arruinaram o meu super plano de viagem, não me restou muita coisa a fazer a não ser, arrumar minhas malas e tentar falar com Sean. Animá-lo um pouco e ainda passar os detalhes do voo, que ele, estranhamente, não tinha perguntado.

Passei tudo bonitinho por mensagem, com direito a emojis fofos e figurinhas bonitinhas, tentando dar uma levantada no astral do Marine Suicida e, também, no meu, já que eu pressentia que essa viagem já tinha virado um fiasco antes mesmo do avião decolar. Contudo, tudo o que eu recebi de volta foi um: “Tudo bem”.

‘Tudo bem’... só isso. Como é que pode ele ter saído do maior tagarela e fofoqueiro do mundo para um ser que só respondia “tudo bem”? Como?! Pegou a doença do meu pai? Acho que não, até porque meu pai não fala ‘tudo bem’, ou ele não diz nada, ou ele bem... não diz nada. Enfim, minhas previsões poderiam se concretizar o mais rápido que eu imaginava.

Pensei seriamente em tentar vender as passagens e os ingressos, deixar essa ideia para lá, pelo bem do meu relacionamento que já estava bem difícil devido à distância, seria muito melhor não arriscar um fim prematuro ou empurrar o Sean ainda mais para as loiras patinadoras de shortinho que lotam as orlas da Califórnia...

Estava com o computador aberto, prontinha para fazer isso, quando um estalo me deu a visão geral de tudo o que aconteceu hoje: a falta de falação do meu pai na reunião no escritório de minha mãe, a carinha dos dois quando eu confirmei aquilo que eles já sabiam, porque a Diretora da CIA tinha invadido o meu computador e visto tudo, e a frase de papai dizendo que nos levaria ao aeroporto, tudo isso era parte do plano, de um plano muito cruel dos dois para me fazer desistir da viagem, ou talvez só estavam torcendo pelo fim do meu namoro... mas, no fundo, o que eles queriam era que eu cancelasse os planos.

Desisti de fazer isso e escutei um grunhido vindo do escritório de mamãe...

— É, papai, eu vou sim viajar amanhã. – Falei alto ainda de dentro do meu quarto.

Dele eu não tive respostas, mas de minha mãe, eu tive.

— Bem pensado, Jethro, mas não funcionou, a garotinha do papai vai para a Disney com o Marine Suicida.

Passou-se alguns minutos de total silêncio até que escutei uma batida na minha porta e a seguinte frase:

— Vocês podem até ir para a Disney, Liz, mas será que voltarão juntos?

Essa era mais uma das tentativas agourentas de meu pai.

E o pior que essa poderia até dar certo, tendo em vista a reação de Sean...

Confesso que não dormi muito bem, não sei se era ansiedade pela viagem ou se era medo mesmo, afinal, meu pai fez um bom trabalho me colocando em dúvida quanto ao resultado dessa peripécia não tão bem planejada. Assim, quando me levantei e já desci com a duffel bag e a mochila e encontrei com meu pai já sentado à mesa, minha noite quase insone não passou despercebida, a julgar pelo sorrisinho de lado que meu pai deu e o consequente pisão no pé que ele recebeu logo em seguida.

Como o voo era cedo e meu pai ainda iria trabalhar naquele dia, saímos logo para o aeroporto, Sean já estava do lado de fora de casa, ainda com aquela cara de quem está indo para a forca, não para um fim de semana de descanso, ou melhor, andança em um parque enorme.

Ele entrou no carro, se sentando no banco de trás, somente nos dando bom dia e não falou mais nada.

Na verdade, ninguém falou nada. Mas cada um ali tinha um humor diferente.

Sean estava um tanto furioso e descrente do destino que eu havia escolhido, será que não dava para ele relevar? Ele já me levou a jogos de beisebol, de futebol e hockey e eu não gosto de nada disso, mas nunca reclamei!

Papai estava estranhamente feliz. Acho que ainda apostava que eu voltaria sem namorado da Flórida.

Já eu... era para estar feliz, animada, exultante e saltitante, não que desse para começar a pular dentro do carro, contudo, eu estava em dúvida. Já não confiava mais que tudo sairia perfeito ao extremo, mesmo depois de meses planejando esta viagem.

Dei um suspiro audível dentro do carro e pude sentir dois pares de olhos na minha direção. Não me dignei a responder, porque sei exatamente o que eles falariam: ‘então desiste da viagem!’, sim, hoje os dois estariam pensando a mesma coisa, eles queriam que a viagem fosse para o espaço, não pelos mesmos motivos, é claro, mas no final, dava no mesmo. E foi por isso que me mantive calada e comecei a me concentrar em que tudo daria certo no final.

Meu pai dirigiu loucamente, como de praxe, não se importando muito em como entrava nas curvas, e sempre dava um sorrisinho de vitória quando Sean não conseguia se segurar no banco de trás e acaba quase virado de ponta cabeça. E o que ele falava em um falso tom de desculpas:

— Eu falei para Jen que essas SUV’s não prestam.

Eu só olhava para ele de lado, como quem dissesse: “mente que nem sente, né pai?”

E depois de muitas curvas fechadas sendo feitos acima do limite de velocidade, chegamos no aeroporto de Dulles.

Só Deus sabe o motivo, ou não, de meu pai ter parado tão longe do portão principal e ainda ter cismado de nos acompanhar até a área do check in.

Sean estava calado atrás de mim, só observando o que eu fazia na tela do totem, e como não tínhamos malas grandes, não precisamos despachar nada.

Só o meu pai que ainda estava com aquela cara de feliz que nada combinava com ele, aquele tipo de felicidade incontida ao saber que talvez ele não teria um genro por muito tempo.

Estava para me despedir de meu pai e seguir para a sala de embarque quando avistamos outras três pessoas ali, paradas no meio do corredor que levava para as escadas. Dois parecendo deslocados e o outro bem feliz com a situação. Quase uma cópia do que acontecia comigo, Sean e papai.

Olhei para o casal que estava prestes a começar a discutir e depois olhei para o espectador muito interessado no desenrolar da história à sua frente... não precisei me colocar no lugar da garota, que, por sinal, era a minha melhor amiga, eu sabia o que ela estava passando, principalmente quando nossos pais, que há alguns anos mal se falavam e hoje pareciam besties, se cumprimentaram entusiasticamente, dando até aqueles abraços típicos de homens, como se ao mesmo tempo dissessem que estavam felizes em ver o outro, mas mediam forças.

Uma cena inacreditável, rara e só podia acontecer por um único motivo:

O ódio que eles tinham de nossos namorados!

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Elena e Elizabeth

— Eu não estou acreditando nisso! – Elena sussurrou para a amiga ruiva, que ainda estava perplexa e petrificada ao encarar os dois homens à sua frente.

Atrás das duas, os dois rapazes, alvo do ódio dos poderosos pais, só se perguntavam qual era a nova invenção da namorada do outro. E a resposta igual fez com que um se solidarizasse com o outro, afinal, Disney nunca foi lá um destino que eles pensavam que iriam, ainda mais com as namoradas.

Elizabeth ainda tentava aceitar o destino que a aguardava, e esperava que o pai acabasse logo de falar de Sean com o Diretor do FBI, não que este último não estivesse fazendo o mesmo...

— Até quando eles vão continuar a fazer as caveiras dos... cadê os dois? – Elizabeth perguntou olhando por sobre o ombro sem ver sinal de Sean ou de Chris.

— Acho que fugiram... – Gibbs falou feliz.

A verdade era que os dois, já prevendo o desastre que teriam pela frente, resolveram se sentar na escada, o mais longe possível dos sogros que tinham como passatempo favorito falar mal deles.

— Às vezes eles são piores do que minha mãe com a vizinha... – Disse Chris.

Sean só concordou e ficou de cara fechada, enquanto Liz o olhava ainda mais brava e o mandava voltar para perto dela. Quando ele disse que não ia, viu a namorada quase explodir de ódio e o sogro abrir um sorriso.

Não demorou muito e os pais finalmente se despediram das filhas e, antes que se afastassem completamente, profetizaram:

— Estaremos aqui no domingo à noite para saber como foi a viagem de vocês.

Elena revirou os olhos, Elizabeth suspirou e depois as duas amigas foram de encontro aos respectivos namorados. Elena cruzou os braços e acidamente disse:

— Obrigada pelo apoio, fujão. – E foi passando por ele, pisando duro, na direção da sala de embarque. Era para ser uma cena dramática, se ela não tivesse jogado a mochila com uma força excessiva no ombro e quase caído escada abaixo. 

Elizabeth foi um tanto mais silenciosa, só arremessou a duffel bag no colo do namorado e seguiu de cabeça erguida na frente dele.

— Se for para me tratar assim, por que vamos parar na Flórida? – Sean questionou.

— Agora é questão de orgulho, não vou deixar meu pai ganhar essa briga! – Sibilou a ruiva.

Mas como os dois casais eram almas gêmeas, logo essa pequena DR foi esquecida, ou pelo menos colocada temporariamente de lado, à medida que iam fazendo planos para poderem curtir ainda mais o final de semana.

A curta viagem de avião não foi capaz de interromper a falação, principalmente de Elena e Chris, que depois de uma pesquisa rápida na internet, viu que a Disney não se tratava somente de ficar tirando fotos com as princesas e demais personagens. Havia sim algo que ele queria fazer. E, como uma forma de dar o troco na namorada, resolveu comprar logo o ingresso para o brinquedo.

Uma vez que os quatro iriam ficar até no mesmo hotel, algo que trouxe uma certa desconfiança para os meninos, afinal, as garotas juraram que não tinham planejado essa viagem juntas, decidiram por alugar um carro, que Sean, por ser o mais velho ali, dirigiria (a verdade: ele não queria ter a vida encurtada no caso de Elena cismar de dirigir e dessa vez, ao invés de entrar dentro de uma farmácia, acabasse dentro de um dos braços do mar.).

A manhã de sábado estava gloriosa, ensolarada e quente, propícia para que todos se perdessem nos parques.

Um rápido check in no hotel, as malas foram colocadas de qualquer jeito nos quartos e, devido à ansiedade de Elena e Elizabeth, logo os quatro partiram para o primeiro parque.

Era uma viagem de Dia dos Namorados, então, nada mais justo que os casais se separassem e fossem cada um para o seu lado. Assim, eles poderiam curtir a companhia um do outro enquanto se divertiam.

Mas será que todos se divertiriam mesmo?

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Elena

— Fico muito feliz que tenha melhorado o seu humor... – Comentei com Chris que, assim que deixamos Liz e Sean, pegou a minha mão e saiu me guiando no mar de gente que sempre deveria ter nesse lugar.

Ele me abriu um sorriso estonteante, que fez o meu coração perder algumas batidas e minhas pernas ficarem moles igual gelatina.

— Eu vi que nem tudo é ruim por aqui... – Ele disse e fez uma careta para o Pluto que passava perto de nós. Fiz menção de parar para tirar foto com o personagem, mas meu namorado só apertou ainda mais minha mão e me guiou com habilidade no meio das pessoas.

Andamos muito, achei até que já estávamos atravessando a fronteira com o México, quando tomei a coragem para perguntar:

— Uhn... Chris, para onde vamos?

Nesse momento ele parou no fim de uma fila não muito grande, mas que dava para sentir uma aura de ansiedade em que em estava lá.

— Ali. – Ele apontou para o lado e eu vi o brinquedo.

E queria não ter visto.

— A...a...qui? – Gaguejei.

— Sim, no estilingue humano. – Ele respondeu ainda sorrindo.

Olhei para cima, para o exato momento em que o brinquedo era lançado. Não sei muito bem como me senti vendo aquilo, mas o sentimento era o mesmo da pessoa que ia gritando como uma louca desvairada lá cima:

Desespero.

— Está com medo? – Chris me cutucou na cintura.

Balancei a cabeça para ele e dei um dos meus sorrisos corajosos:

— Quem?! Eu?! Hahaha! Claro que não! Isso vai ser divertidíssimo! – Fingi uma falsa empolgação enquanto ainda escutava os gritos dos atuais ocupantes do brinquedo.

Lentamente foi chegando a nossa vez. Eu ouvi as mais diversas reações enquanto esperava pela minha morte iminente.

Chris não parecia se abalar com os gritos, pedidos de socorro e até mesmo com a peruca que caiu da cabeça de uma das mulheres que se aventurou no brinquedo. Essa eu fiz questão de olhar quando desceu, além de careca, ela estava tonta, suas argolas enormes estavam tortas e ela tinha perdido um cílio postiço... como eu seu disso? O olho sem o cílio estava grudado e ela clamava para alguém ajudá-la. Seria divertido, se eu não fosse a próxima.

Engoli em seco quando abriram a portinha para nós.

— Não está com medo, está? – Chris murmurou na minha orelha.

— Não! – Fiz cara de corajosa e me sentei na cadeira, do lado direito de Chris.

Fecharam e conferiram as travas. Tudo estava certo.

Um pouco antes da contagem regressiva (sim, a tortura psicológica, além de esperar na fila, era ter que aturar uma contagem regressiva que te avisava a hora em que você seria lançado no espaço!), avisaram que tinha uma câmera no brinquedo que gravava as nossas reações.

Que maravilha! Agora meu mico, porque eu tinha certeza de que pagaria um king kong nesse troço, será transmitido para toda a família!

Chris achou um máximo, melhor do que levar a GoPro dele, assim, se ajeitou e antes que a contagem chegasse no um, disse:

— Você quis vir à Disney, agora aproveita o passeio...

E nós fomos lançados.

Não sei a quantos quilômetros por hora esse treco chegou, mas é veloz, muito veloz, assim, meu grito, a reação natural para o meu medo, acabou ficando preso na garganta e só quando eu via toda a extensão do parque sob meus pés, foi que gritei, alto, desesperador, um pedido de socorro em altos decibéis.

Não sei como não arrebentou os tímpanos do meu namorado.

Mas então veio a paz....

E o caos.

E a paz, novamente.

E o desespero de ver que isso não acabava nunca!

E a paz.

E o pânico de morrer lá em cima.

E a paz.

E o fim, que eu não vi chegando, só notei que tinha acabado quando Chris me cutucou no ombro e eu, ainda tensa pela adrenalina, grite e balancei os pés e as mãos, só para me dar conta que já estávamos parados e todo mundo me olhava.

Destravei o cinto e desci do brinquedo como se eu não tivesse feito nada de errado, só para ver, logo após que a minha ida tinha virado filme...

E eu vergonhosamente fiquei gritando e desmaiando o tempo todo.

Os momentos de paz eram os momentos em que eu desmaiei, para acordar logo em seguida, ainda pilhada, gritar, me descabelar, e desmaiar de novo.

Fiquei vendo o vídeo estarrecida, isso era mais do que um king kong...

Chris, claro, quis levar uma cópia do vídeo, ele não perderia isso por nada desse mundo.

E, enquanto ele ria, ria de chorar das minhas reações exageradas, eu só tive uma resposta.

— Pelo menos eu ainda tenho cabelo e cílios....

— Mas dignidade... – Ele completou.

Essa eu tinha perdido no momento em que o brinquedo foi lançado, assim como a minha alma que deveria estar planando por aí... 

O restante do dia não foi muito bom, eu acho, meu cérebro deve ter saído da minha cabeça e voado por aí, porque não me lembro muito bem de tudo o que aconteceu, só que eu passei um bom tempo tremendo e com a cabeça tão leve, que parecia que eu estava desconectada do meu corpo.

Juro, que nem do jantar eu me lembro...

Será que estava tudo bem comigo? – Foi a pergunta que me fiz, quando caí na cama e apaguei.

O domingo foi melhor, não tendo sido obrigada a ir a nenhuma brinquedo assassino, mas sim nas odiosas montanhas russas, que me deixaram tonta e enjoada, mas não faziam nenhum efeito em meu namorado... o que me deixava com mais raiva ainda, pois ele estava aproveitando uma viagem que ele jurou que não gostava, já eu, eu não conseguia dar um passo sem cambalear.

Cheguei a pensar que estava com labirintite... só essa a explicação para a minha situação deplorável.

Para se ter uma noção de tudo o que aconteceu, até uma criança, uma criança, com um pouco mais de um metro e vinte ou trinta de altura, não sei ao certo, mas ela tinha o suficiente para poder entrar na montanha russa que te vira de ponta cabeça, riu da minha cara, quando pedi para Chris me ajudar, porque eu não estava conseguindo andar.

Uma criança riu da minha cara!

Sério?!

Uma criança!

Em que tipo de viagem me meti?

 Depois de experimentar quase todas, se não todas as atrações que te viravam de cabeça para baixo, que te jogavam de um lado para outro, que te encharcava e que tinha alta dose de adrenalina, paramos para comer algo.

Bem, Chris conseguiu comer, eu ainda estava com a cabeça rodando do último brinquedo e fiquei só na água mesmo.

Assim que acabamos o almoço, ou Chris acabou, nos sentamos em um dos muitos bancos para tentar planejar as nossas últimas horas, antes que tivéssemos que ir para o aeroporto.

Ele ficou na dúvida se queria ir em mais alguma montanha russa ou se dessa vez ele iria no do Indiana Jones. Enquanto ele pesava os prós e os contras das atrações, eu vi ao longe dois personagens que eu procurava desde que cheguei.

— Chris! – Peguei o braço dele.

Ele continuou a falar, olhando mapa do parque que estava em um totem perto de nós.

— CHRIS!! – Falei mais alto, quase como uma criança.

Ele não ligou e eu saí dali, indo na direção dos personagens que já estavam cercados de crianças. Não me importei, afinal, era a minha última e única oportunidade de conseguir uma foto com meus dois neurônios, ou melhor, com Tico e Teco.

Meu namorado, com pouco, me alcançou e segurando o meu braço, só falou:

— Você não vai fazer isso, vai?

Olhei para ele e iria começar a enumerar cada um dos brinquedos sem noção que ele escolheu ou me arrastou ou me desafiou a subir, quando eu estava apavorada demais para ir, mas só entreguei meu celular a ele e falei:

— Você sabe a senha, pode tirar a foto! – Pisquei e corri até onde Tico e Teco estavam. Não precisei esperar muito e logo me posicionei entre eles e fiz a pose, Chris não teve opção a não ser tirar a foto.

Agradeci aos funcionários que andavam o dia todo dentro dessas fantasias e fui sorrindo na direção de meu namorado.

— Não acredito que você fez isso. – Ele disse mais incrédulo do que com raiva.

— E se aparecer o Pateta, já sabe, é outra foto.

Infelizmente o Pateta não apareceu, e eu fui dragada para uma última atração, o tal do elevador.

Achei sem graça e sem função, que razão tem ficar preso ali dentro e depois despencar?

Chris adorou e foi rindo até o carro, das caras e bocas que eu fiz, quando o troço despencou.

Eu não gritei, mas a cara de medo é um tanto difícil de se esconder...

Com o sol se pondo, decolamos da Flórida, na companhia de Sean e Liz, que tinham invertido os humores da ida, ele feliz da vida, já ela, com uma cara que rivalizava com a do pai.

Quando perguntei o que tinha acontecido, ela só me respondeu:

— Nada....

Sean riu alto, mesmo dentro do avião e ela deu uma cotovelada nele.

Quando saímos da sala de desembarque, meu pai estava sentado tranquilamente em um café, bebericando uma xícara de espresso e quando olhou para nós, notou de cara que a viagem não tinha sido lá um verdadeiro sucesso, ainda mais quando Chris, ainda animado depois de tanta adrenalina, soltou:

— Senhor Hotchner, o senhor tem que ver as caras e bocas da sua filha para andar nos brinquedos! Nunca vi mais covarde! - E, de uma vez, sem nem piscar, sacou o celular e mostrou para o meu pai o vídeo do estilingue...

Logo esse.

O estilingue.

De início a expressão de meu pai foi de puro pavor, ele sabe que essas coisas não são lá tão seguras assim, mas depois... depois...

POR QUE SENHOR??

Ele e Chris se sentaram lado a lado e reprisaram o vídeo umas quatro vezes, ou, ao menos, foi isso que eu contei, até que, cansada de ser a razão das risadas dos dois, peguei a chave e sai arrastando a minha mala à procura do carro.

Os dois chegaram logo depois que eu encontrei o carro e, vingativa como só, já tinha me sentado no banco do motorista.

— Elena... – Foi tudo o que o papai disse quando viu onde estava.

— Viagem com emoção, para os dois bonitos que ficam rindo da minha cara! – Falei friamente e arranquei o carro, deixando uma pequena névoa de gelo na vaga.

E o que eu sofri na Flórida, Chris sofreu em Washington. Foi realmente uma viagem com muita emoção, tanta que nem meu pai conseguiu abrir a boca para reclamar.

Assim que parei na porta da casa de Chris, ele desceu até trocando as pernas e, imitando o movimento de meu, abri a janela do motorista e só falei:

— Espero que tenha curtido o passei, Christopher! Tanto a ida, quanto a estadia e, principalmente a volta!

Tudo o que ele fez foi me olhar com os olhos arregalados.

— O que foi tudo isso?!

— Vingança!

— Mas como você sabe que eu mandei esse vídeo para toda a sua família?

Isso eu não sabia. Nem fazia ideia.

Do meu lado, papai sibilou, como se ter mandado o vídeo para o grupo da família fosse um segredo dos dois.

— Vocês fizeram o que? – Perguntei furiosa.

— Bem, mais alguém tem que rir, não é? Um dia você vai rir também... – Disse Chris.

E que vontade que me deu de cometer um assassinato... Mas eu sabia as consequências de ficar sem carteira, então só arranquei o carro e fui para casa, sem falar uma palavra.

Parei o carro na garagem cantando pneus, peguei minha mala e entrei em casa pisando duro, papai ria atrás de mim, não sei se ainda do vídeo ou se da minha reação um tanto infantil.

E não ajudou em nada, quando passei pela sala, e minha mãe, que passou quase duas semanas lá no Beleléu, soltou:

— Mas você desmaiou em um brinquedo, Elena?

E, ao fundo, ainda escutei as risadas de Jack e a seguinte fala:

— Dá próxima vez em que quiser ir para a Disney, me leve junto, quero rir da sua cara ao vivo! – Disse meu irmão aos arquejos de tanto que ria.

— Isso porque ela queria fazer uma surpresa para o namorado e era ele quem não queria ir. – Falou meu pai, também bem-humorado.

Bufei e subi a escada, claro que tropecei no processo, soltei alguns impropérios em russo e francês e depois bati a porta do quarto, um claro sinal de que não queria ser incomodada.

— A pergunta que fica. – Escutei mamãe falando alto. – Ela ainda tem namorado?

— Agora que o Moleque nos fez o favor de mandar esses vídeos, claro que tem, Em. – Foi a resposta de meu pai.

Vídeos? Como assim no plural.

Tirei o celular da mochila e abri o grupo da família.

Chris tinha gravado os piores momentos e espalhado para todos. Eu fiz a alegria do fim de domingo da família inteira!

Essa viagem foi um erro tremendo! Pois eu terminei como a covarde da família e meu namorado, até então um tanto excluído, virou a celebridade.

Era incrível a minha má-sorte.

E o pior, não tinha como eu desfazer isso, afinal, fui eu e minha brilhante ideia que tinha dado início a isso.

Ah, se eu pudesse voltar no tempo e não ter implorado para meu pai me deixar viajar para a Flórida...

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Elizabeth

Observei Chris arrastar Elena para o meio da multidão e tentei me lembrar que tipo de atrações tinha daquele lado.

A única que me lembrei, e que eu rezava para que Sean não quisesse ir, era o estilingue humano. Até me arrepiei com a ideia de ser arremessada pelos ares.

Mas, como se tratava de um fim de semana dos namorados, seguimos para o lado oposto.

Na Disney você tem três tipos de atrações, brinquedos radicais, os personagens e a parada que acontece à noite e os temáticos de alguns filmes do estúdio.

Começamos tranquilamente andando pelo parque, atrás de algumas das atrações radicais.

Sim, eu gostava da emoção das montanhas russas, não ligava de ser jogada de um lado para o outro ou até mesmo virar de ponta cabeça. E pelo visto nem Sean. Bastou duas e ele já estava no seu humor falante e já procurando aquela que era ainda mais legal.

Nem todas ficam no parque da Disney em si, assim, não vimos problema, de, no meio do dia, buscar outros parques. Mas, eventualmente voltamos ao Mundo Mágico.

Tudo estava indo às mil maravilhas, até que, passando perto de algumas crianças, ouvi uma dizer:

— Olha! A Ariel.

— Não! É a Merida!

Fingi que não ouvi o comentário, não estava ali para tirar foto com nenhum personagem, mas para aproveitar as atrações. Contudo, Sean escutou e soltou um sorrisinho. Dei uma cotovelada em suas costelas e sai rebocando o Marine Suicida para o meio do parque, parando quando vi a atração que era que era uma montanha russa que despencava na água.

Era legal, ela sobe alto e desce de uma vez, encharcando quem estivesse dentro e fora do brinquedo. Adorei.

Só não gostei quando, na saída, um animador soltou:

— Olha, a Ariel veio nos prestigiar.

Bufei e novamente fingi não ouvir.

Acontece que isso se repetiu infinitamente.

Não importa se estávamos no Epcot, Disney Hollywood ou só passando de um brinquedo para o outro. Sempre tinha alguém que falava que eu era a Ariel, ou depois de uma montanha russa particularmente radical que me deixou todo descabelada, a Merida.

Sean achava graça, afinal, não era ele quem estava sendo comparado com uma Princesa. Ainda mais a Ariel, eu detesto a Ariel!

Como ele estava se divertindo, não se importou em ficar para a parada que acontece no início da noite.

É coisa de criança? Pode até ser, mas eu já tinha visto inúmeros vídeos na internet para saber que eu queria ver ao vivo. E como eu já estava ali, dentro do parque, não custava nada.

Nos ajeitamos em um degrau e esperamos. Vimos tudo, vergonhosamente, chorei, o que causou outra onda de risos em meu namorado. Tudo o que eu fiz foi bater em seu ombro, já que ele estava dois degraus abaixo de mim, para garantir que ninguém tamparia a minha visão (as vantagens de se ter um namorado bem mais alto!).

No finalzinho da parada, um casal mais velho, parou do nosso lado, eles tinham a idade para serem meus avós, e percebi que estavam ali com os netos, a senhorinha, muito simpática, ficava sorrindo para mim, eu, educadamente, respondi aos sorrisos, um tanto sem graça. Voltei a prestar atenção na parada, afinal agora vinham Mickey e Minnie e o show de fogos.

Depois do encerramento, Sean, dando graças a Deus, pegou a minha mão e começou a me puxar para longe de onde estávamos, com medo de que eu fosse inventar mais alguma coisa, quando ele já estava morto de fome.

Desejei boa noite para a senhorinha e seu marido, só para continuar a ser educada, quando escutei:

— Você e seu namorado deveriam estar na parada, formam a versão real da Ariel e do Príncipe Eric.

Sean não se importou muito com o comentário, desconfio que ele não faça ideia de quem seja o Príncipe Eric, e nem a Ariel, para ser bem sincera, sabe que é ruiva, porque estão mexendo comigo... já eu... dei um sorriso que era para ser simpático e acabou saindo mais falso que nota de três dólares e puxei Sean dali.

No caminho até o carro, ele tentou entender o motivo da minha raiva...

— Sério, Lizzy, o que isso tem demais?

— Uma vez, beleza, duas até dá para levar, mas toda hora? Eu não estou aqui para ser atriz de um possível live action d’A Pequena Sereia!

— Achei que toda garota, um dia, quisesse ser uma princesa da Disney... – Ele murmurou quando assumiu o volante, Elena e Chris tinham ido mais cedo pois iam jantar em algum lugar por aí.

— Eu. Não. Gosto. Da. Ariel. Ela é uma princesa ingrata e mal agradecida! – Falei entredentes.

— Se a Ariel não é a sua princesa preferida... é a outra... Me alguma coisa...

— O nome dela é Merida. E também não é ela. Eu não tenho uma princesa preferida. Entenda. Sempre gostei mais dos personagens secundários do que das protagonistas. Apesar de sempre ter gostado muito da Mulan... mas isso se deve ao fato de que ela se junta ao exército para salva o pai dela e da Belle. – Divaguei.

— Tudo bem, nada de te chamar de Ariel...

— Faça isso, e você vai descobrir o porquê de meu pai te chamar de Marine Suicida! – Sibilei.

O domingo começou tranquilo, apesar de que Sean cismou de ir no tal do estilingue, depois que Chris falou para ele que era o brinquedo mais emocionante do parque todo. Eu achei apavorante, mas pelo menos não desmaiei ou pior, dei vexame quando ele já estava parado.

O problema começou quando retornamos para o Disney Hollywood Studios e as crianças começaram a me chamar de Ariel.

A língua eu segurei, a expressão não. E cada vez que eu revirava os olhos ou bufava, Sean faltava pouco morrer de tanto rir.

Era a vez dele de escolher uma atração, tínhamos acabado de sair do Indiana Jones e antes fomos na Rock n’ Roller Coster e seus loopings infinitos.  Ele parou e decidiu.

— Sério? Esse é mais clichê que a parada... – Murmurei.

— Vamos ver se você é claustrofóbica. – Falou e me puxou na direção do brinquedo. O famoso Twilight Tower of Terror, ou só 'o elevador que despenca'.

Entramos na fila, vi que tinha algumas crianças por ali também. Mas como deveriam ter a idade e a altura mínimas, era o direito delas. Só que duas meninas ficavam olhando para mim e depois riam.

Pensei que tinha algo no meu cabelo, peguei o celular na bolsa e depois de abrir a câmera frontal, vi que estava tudo normal, só um tanto embolado por conta das montanhas russas. Depois achei que era na minha roupa, tudo ok.

Não tinha nada, e as duas ficavam olhando para mim e depois cochichavam. Pareciam até as líderes de torcida da minha escola... nem aqui eu tenho paz.

Infelizmente, elas entraram no brinquedo junto com a gente e, quando o elevador parou no último andar e travou, soltaram para mim:

— Você pintou o cabelo para ficar parecida com a Ariel?

Eu tive que respirar fundo para não falar besteira, acontece, que não tem como se prever quando o elevador vai despencar...

Aí, a vaca foi pro brejo, porque ao invés de respirar para me acalmar, acabei tomando fôlego e soltando todos os palavrões que ficaram presos na minha garganta durante estes dois últimos dias, xinguei muito, até demais, e ainda gritei por que raios uma menina ruiva tem que ser comparada com “aquela princesa insossa e sem noção e sem gratidão alguma da Ariel.”

Quando o elevador parou e as portas se abriram, os pais só puxaram as meninas pelos braços e reclamaram do meu comportamento...

Conclusão: fui convidada a me retirar do parque.

Sean riu o tempo inteiro, me chamando de esquentadinha e ainda conjeturando o motivo de eu não ter xingado o segurança que nos escoltou até a saída.

— Porque ele só estava cumprindo ordens... – Murmurei infeliz.

— E talvez você tenha ofendido a princesa preferida dele.... – Ele disse rindo.

Pensar que tive que aturar as risadinhas dele até dentro do avião, quando Elena tentou descobrir o motivo da minha cara feia.

Assim que desembarcamos, vi que tinha uma mensagem da minha mãe, informando onde estava o carro. Eles não desceram porque chegaram em cima da hora.

Sean carregava a minha mochila, o que deve ter desagradado um tanto meu pai, afinal, meu namoro ainda estava de pé, assim, quando entramos no banco de trás do carro, os dois nos olharam.

Eu ainda deveria ter um semblante sombrio, já Sean, ele ainda ria.

— E como foi a viagem? – Minha mãe perguntou com os olhos brilhando de curiosidade.

— Foi boa, Senhora Gibbs. – Disse Sean.

— Você parece ter gostado bastante, Marine... – Meu pai disse desconfiado do bom humor dele e do meu silêncio.

— As atrações não são tão ruins assim, e como a Liz não tem medo de montanha russa, aproveitamos bastante.

Minha mãe se virou para trás, procurando a minha opinião com um levantar de sobrancelhas.

— Então vão voltar? - Questionou quando não respondi.

Sean segurou a risada.

— Não. – Falei secamente.

— Mas se vocês gostaram... – Ela insistiu.

Eu olhei para fora, para a janela, ainda amaldiçoando aquelas duas meninas linguarudas.

— Lizzy não pode mais voltar na Disney, Sra. Gibbs.

Foi meu pai quem verbalizou a pergunta:

— Por que não?

— Ela foi expulsa do parque por mal comportamento. – Ele já nem disfarçava a gargalhada e eu só me encolhia no banco, querendo socar alguma coisa.

— Mas o que aconteceu? – Minha mãe perguntou.

— Eu ofendi a princesa preferida de alguém, pelo visto...

— Elizabeth...

— Não foi nada. Só porque eu, depois de muito ser chamada de Ariel, explodi dentro daquele elevador que despenca, soltei umas verdades sobre a personagem e alguns palavrões também... as mães não gostaram do que eu falei e reclamaram... conclusão, fomos colocados para fora.

— Vocês não seriam expulsos só por alguns palavrões... – Minha mãe disse cética.

Ainda bem que ela não ouviu o que eu falei...

Dei de ombros.

— Bem, foi isso o que aconteceu... editei o final onde eu xinguei as meninas também.

Meus pais não acreditaram na história, não era mentira, só estava parcialmente editada, mas eles deveriam saber que meu mau-gênio estouraria de novo.

Ficamos em silêncio, a não ser por Sean que sorria sozinho, como se estivesse planejando algo.

Chegamos em casa, agradeci a carona de meus pais e meu namorado se despediu deles, e, quando foi se despedir de mim, falou o seguinte:

— Bem, pelo menos pudemos aproveitar todos os brinquedos e as atrações temáticas que você queria. Confesso que não estou triste de não poder voltar...

Estreitei meus olhos na sua direção.

— Isso não é mentira, Lizzy, você sabia desde o início que a Disney não era o meu destino favorito.

— Vou fingir que isso quer dizer obrigado. – Falei azeda.

— Sim, é um obrigado. Não foi tão ruim assim, ainda mais a parte em que você estourou daquele jeito...

— Você está brincando com a minha cara? – Sibilei, minha fúria voltando.

— Longe de mim. – Ele falou, me deu um selinho e atravessou a rua, só para se virar na minha direção e soltar: - Durma bem, Ariel!

Eu nem sei como eu consegui fazer aquilo, mas só sei que minha fúria voltou com tudo e arremessei a primeira coisa que tinha na mão, era o celular dele, que não sei o porquê, estava comigo, e que acertou lindamente o alvo, ou seja, a testa dele.

— Durma com esse prejuízo, Príncipe Eric! – Falei friamente e fechei a porta de casa.

E, sentados na mesa da cozinha, meus pais só se olharam e falaram:

— Se fosse a sua filha não parecia tanto.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso.
Espero que tenham gostado e desejo um Feliz Natal vocês!!



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