Quando toca o sino escrita por Miss Siozo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Cheguei no natal com uma fic especial, mas desta vez não terá nada fofo ou engraçado. Não sei como passaram o último ano, mas sei que para muitos foi difícil e recentemente assisti no noticiário notícias tristes sobre perdas e fiquei imaginando sobre como essas pessoas conseguem passar por uma data festiva assim?
Bom, aqui veremos um pouco do lado da Saori no pós-guerra.
Agradecendo ao @Echeveria por fazer essa capinha linda pra fic!
Boa leitura!



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Uma parte de nós conseguiu chegar em dezembro. Não digo que chegamos inteiros, pois algo quebrou dentro de cada um de nós. Gostaria de ter as mesmas preocupações dos humanos comuns, por um lado, falar algo assim em voz alta soa idiota. Cada um sabe de sua batalha pessoal, mas quando se é um deus, as responsabilidades são elevadas à enésima potência.

 

Me recordo da época que era criança e meu avô humano realizava todos os meus caprichos. Acredito que ele tenha me mimado ao máximo enquanto podia, pois sabia do fardo que eu carregaria no futuro. É realmente pesado!

Não precisava ser meu aniversário ou o natal para receber presentes, diferente dos garotos órfãos que foram criados comigo sem tais regalias. Consigo me lembrar de um natal em especial, o primeiro que eles passaram aqui e meu avô providenciou brinquedos simples para todos: bolas, piões, bonecos e pipas. Cem meninos brincavam radiantes e os menores ainda acreditavam no Papai Noel.

 

Por mais que eu saiba que “o bom velhinho” não existe, queria muito voltar a acreditar para fazer pedidos. Se bem que ele costuma trazer brinquedos para crianças, não realizar feitos mágicos em jovens.

 

— Senhorita Kido, atrapalho? — Tatsumi bateu na porta de meu escritório.

 

— Pode entrar. O que houve?

 

— Seus convidados chegaram. A senhorita vai recebê-los aqui ou no salão?

 

— Peça-os para virem até aqui. Acho que esse ambiente traz a formalidade que precisamos no momento.

 

— Certamente, com licença.

 

Marin, Kiki e Seika chegaram ao Japão. Há certas coisas que não dá para simplesmente contar por uma carta. Kiki sabe que Mu não retornará, nenhum dos cavaleiros de ouro retornarão. Ele é uma criança que passou por coisas demais e precisa de cuidados…

 

— Senhorita Athena — Marin fez uma reverência e ainda utilizava sua máscara. Essa sim é uma lei que estava me incomodando de tão arcaica.

 

— Podem entrar, por favor e sentem-se — tentei usar de meu sorriso social para que se sentissem mais à vontade — Temos muitos assuntos a discutir. Ah! Fico feliz em revê-la, Seika.

 

— Tudo ainda está estranho para mim, Saori. Há poucos dias que consegui recordar de tudo o que houve antes de perder a memória e já recebi um monte de informações após aqueles ataques terríveis. Kiki agiu como um herói! — elogiou — Seus outros cavaleiros também merecem elogios.

 

— Quero te parabenizar primeiro, Kiki. Seu mestre ficaria orgulhoso da sua bravura!

 

— Eu fiz o que era certo, senhoritas — respondeu timidamente o menino, seguido de um sorriso triste que parecia por se recordar do ariano dourado.

 

— Agora darei as notícias coletivas e depois preciso falar em particular com cada um ao seu momento — suspirei — Vocês já sabem que lutamos uma batalha mortal, cada grupo foi levado ao limite e agradeço pelas informações compartilhadas sobre o grupo que defendeu o Santuário dos ataques, Marin. 

 

— Tivemos baixas e muito foi destruído. Estávamos em primeiro momento enterrando os mortos e cuidando dos feridos.

 

— E fizeram bem. Precisamos desse momento para depois pensar na reconstrução do Santuário.

 

— E como está o meu irmão Seiya e os amigos dele? 

 

— O caso de Seiya é delicado. Há pouco tempo voltou para a mansão e está em um dos quartos do térreo. Se encontra em uma espécie de coma e não fazemos ideia de quando acordará — dar uma notícia assim era terrível, mas precisava falar a verdade sem polimento — Os demais estão feridos, alguns mais do que os outros, não apenas no físico, na alma também.

 

— Eu preciso ver o meu irmão agora, Saori, desculpe. Tantas coisas estão passando pela minha cabeça, que antes de tentar culpar alguém, eu preciso vê-lo.

 

— Peça ao Tatsumi, ele o levará até Seiya — minha voz saía cansada, por mal ter dormido desde que retornei. Após a saída de Seika, sabia que precisaria detalhar mais sobre o estado dos demais.

 

— Daqui a pouco verei o meu pupilo, porém antes preciso saber sobre os outros. Toda a ajuda será bem-vinda no Santuário.

 

— Fisicamente quem está melhor é o Ikki, apesar de ter sofrido com algumas fraturas. Ele, Shiryu e Hyoga precisam de um tempo de recuperação. Creio que por causa do cosmo, em menos de um mês voltarão a ativa.

 

— E quanto ao Shun? Pude sentir o cosmo dele quando chegamos aqui — perguntou o pequeno.

 

— Ele chegou aqui bastante debilitado, perdeu muito sangue e por pouco quase o perdemos. Fisicamente se recupera devagar, mas essa não foi a pior parte — pensava nele que estava no quarto do andar de cima com Ikki — Os cavaleiros que estavam no Submundo viram e passaram por coisas que abalaram seus emocionais. Hyoga estava preocupado com o destino da alma de sua mãe e também conversei com Shiryu acerca do que pensava sobre o que se passou. 

 

— O que ele respondeu para lhe preocupar tanto?

 

— Ele quer viver o hoje, Marin. Continuará sendo leal a mim e sempre que eu precisar ele virá depressa, mas quer viver a vida dele e eu entendo isso.

 

— Não entendi.

 

— O destino de quem enfrenta um deus de frente, como os cinco que estiveram comigo e os cavaleiros de ouro não é nada agradável quando morrem. O dragão e o cisne desejam criar memórias felizes que os confortarão no sofrimento eterno.

 

— Meu mestre está lá, Athena? — perguntou com os olhos cheios de lágrimas.

 

— Provavelmente sim, Kiki. Nós causamos um estrago naquele lugar, na melhor das hipóteses a alma dele e dos cavaleiros de ouro estão vagando sem destino pelo Submundo até que reconstruam aquele lugar. 

 

— Fênix e Andrômeda não compartilham dessa ideia de “viverem a vida”? — Marin mudou de assunto vendo o meu desconforto, mas trouxe à tona outro assunto desagradável.

 

— Ikki está preocupado demais com o irmão para pensar em ficar solto pelo mundo como fazia antes. Se as sequelas de Seiya são físicas, Shun foi atacado de dentro para fora. Essa informação ficará entre nós apenas, entendido?

 

— Claro. 

 

— Tudo bem — fungou Kiki choroso.

 

— Shun foi o receptáculo de Hades no Submundo por um tempo. Consegui livrá-lo da possessão e ele até lutou bravamente nos Elísios, mas quando voltamos não voltou a ser a sombra do que era.

 

— Posso tentar ver o meu amigo? — perguntou Kiki.

 

— Pode sim, mas preciso te passar algumas instruções antes — respirei fundo — Não mencione nada sobre a guerra e não faça contato físico com ele. Shun começou a tomar uma medicação que é forte, então talvez ainda esteja dormindo.

 

— Ok, entendi. 

 

— Sem teletransporte, Kiki. Bata na porta antes de entrar. Ikki estará lá.

 

— Tchau!

 

— A situação está lastimável! — comentou a amazona — Estamos completamente fora do clima que a maior parte do planeta está neste momento.

 

— As ruas estão enfeitadas, as pessoas estão mais sorridentes… Até fiz algumas doações aqui no Japão, na Grécia também para famílias em situação de vulnerabilidade e orfanatos. Nosso natal não tem nem como ser comemorado.

 

— Esse foi um ano de muitas perdas e guerras invisíveis aos civis humanos.

 

— Estamos aqui para garantir a proteção deste mundo, mesmo que isso signifique a nossa infelicidade…

 

— Tem razão… E quais serão as próximas ordens?

 

— Fique conosco por uma semana. Vamos comer a ceia que Tatsumi insistiu tanto para ter — uma lágrima escapou pelo meu rosto — Retornaremos antes da virada do ano. Até lá preciso reencontrar com a esperança que sempre esteve presente comigo, que parece que se perdeu enquanto deixava o Submundo. Preciso transmitir positividade para os que não caíram para a morte.

 

— As coisas são mais fáceis de se lidar quando seguimos ordens ou estamos em situação de risco. A sensação do torpor após essas guerras é pior, desnorteante. 

 

— Não precisa continuar com essa máscara, Marin. Desejo ver suas expressões como as de qualquer outro ser humano. Permita-se.

 

— Está bem — ficou um pouco hesitante quando tocou a máscara em seu rosto, mas a retirou e revelou seu rosto que estava vermelho e um pouco inchado pelas lágrimas que derramou por trás do acessório — Vamos, por favor, ver os rapazes. E Athena…

 

— Sim.

 

— Eu desejo nesse natal, além da recuperação de todos, que reencontre a esperança para ser o nosso norte outra vez.

 

— Gostaria de acreditar em milagres de natal — levantei de minha poltrona e a segui em direção a porta — Terei que torcer pelos astros para que conspirem a nosso favor.

 

Horas depois, estávamos todos reunidos na sala de jantar. Seika cuidava zelosa de seu irmão caçula, o alimentando com certa dificuldade. Não era o cenário que ela desejava esse reencontro, com toda certeza, mas parecia conformada com o que tinha.

Já Shun não aguentou ficar sentado à mesa por cinco minutos e saiu correndo em direção a cozinha. Antes, quando havia chegado com o irmão à mesa, não conseguia falar uma palavra sequer ou olhar para nós por muito tempo e sua mão sobre a mesa estava trêmula. Creio que consigo imaginar algumas das coisas que passam pela cabeça dele, a culpa e o medo principalmente.

 

— Com licença — foi o que Ikki conseguiu dizer ao sair apressadamente atrás do irmão.

 

— Não entendi, ele está passando mal?

 

— É outra crise de ansiedade, Kiki. Acho que esses cinco minutos foram intermináveis para ele.

 

— E quando partiremos?

 

— Antes do final da semana, Shiryu. Pode convidar a sua amiga Shunrei a ficar conosco até reconstruirmos o Santuário. Creio que queira dar a notícia sobre Dohko pessoalmente.

 

— É o que eu desejo, Saori — falava em tom triste, com razão. Todos nós tivemos perdas nessas guerras todas. É tolice dizer que saímos vencedores quando também perdemos vidas importantes, amigos ou simplesmente aliados pela mesma causa.

 

Naquele momento, o sino de uma igreja próxima começou a tocar e seu som soava alto. O natal havia chegado ao Oriente. É diferente o modo que vemos a data, é algo mais bonitinho e comercial do que em outros países de cultura cristã predominante. Talvez seja por isso e pelos os que estão aqui presentes conhecerem a verdade, o toque do sino não possui significado além do próprio som que produz.

 

“Todos nós precisamos de renascimento e paz de espírito” — foi o meu pedido silencioso em meio ao caos que foi esse último ano.


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Notas finais do capítulo

Então gente, essa fic foi para ler com uma caixinha de lencinhos ao lado. Este projeto surgiu de uma ideia antiga que eu pretendia fazer uma shortfic (Quando? Boa pergunta!), que falaria sobre as sequelas do exército de Athena após a vitória contra Hades. Há umas duas semanas atrás eu fiquei pensando em como fazer uma fic natalina para esse ano, já que em 2020 e 2021 escrevi duas fics fofas e com uma mensagem positiva e esperançosa.
2022 foi um ano duro pra mim e o aprendizado veio junto com a dor. Tem momentos que nos sentimos sozinhos e cansados nessa luta. Está tudo bem demonstrar vulnerabilidade, não conseguir ser forte o tempo todo e ter dúvidas sobre o caminho e o futuro, mas é preciso tentar seguir em frente, ainda mais quando desistir não é uma opção. Assim como Saori precisa recuperar suas energias e esperanças para conduzir seu exército e a humanidade. Eu desejo para vocês, principalmente para quem não está num bom momento, que seus caminhos sejam iluminados para o próximo ano e que a esperança não venha a faltar jamais em nossas vidas. Um bom natal e um feliz ano novo a todos!



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