Um papel em cada mundo escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 33
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Para manter a comunicação entre as ilhas vizinhas, que eram muitas, era comum que cada clã tivesse seu próprio grupo de mensageiros, era geralmente um grupo de guerreiros que eram preparados para a missão de visitar ilha após ilha, juntando informações e também trazendo notícias de seu próprio clã. Era justamente com quem Lay'ti precisava conversar para saber como estava seu antigo lar e ter uma breve noção de como seus pais estavam.

Antes que ela contatasse os mensageiros, ela seguiu a sugestão de Neteyam de ela mesma conversar com Jake e explicar a situação que estava acontecendo.

—Eu tenho sentido saudades dos meus pais, desde que nos mudamos pra cá - ela se justificou, sentindo dificuldade em falar - eu sei da escolha que eu fiz, e não me arrependo, eu amo Neteyam mais que tudo e ainda mais o Nimwey, é só que... parte de mim ficou para trás e eu não consigo deixar de pensar neles. O senhor e Neytiri são avós maravilhosos, mas eu gostaria que o Nimwey tivesse a chance de conhecer os outros avós dele também, eu sei o quanto preza pela nossa segurança, Jake. Se disser que não é uma boa ideia, eu vou aceitar, eu entendo o motivo do nosso sacrifício de deixar os Omaticaya.

—Lay'ti, eu fico muito triste de ter que fazer você passar por tudo isso, mas o que me deixa aliviado é saber que você entende porque fiz isso - Jake respondeu, soando bastante compreensível.

—Pai, voltar até lá pode ser arriscado, mas a sugestão que dei à Lay'ti foi ver se os mensageiros dos Metkayina conseguem notícias de lá para nós - Neteyam explicou melhor o que ele e a esposa tinham pensado.

—Então, a princípio, seria só isso? - Jake sabia que havia muito mais além disso = dá pra ver como a Lay'ti gostaria de voltar, talvez até de ficar por lá.

—Não, senhor, eu... eu só queria poder rever os meus pais, voltar à floresta, por mais falta que eu sinta do meu povo é algo que entendo ser arriscado - Lay'ti respondeu imediatamente, entendendo completamente a gravidade da situação.

—Eu entendo o que sente, Lay'ti, de verdade - seu sogro tentou confortá-la - não tem muito que eu possa prometer a você, a você e ao Neteyam na verdade, mas ao menos podemos esperar pelas notícias dos mensageiros e só então tomar uma decisão, o que acham?

—Me parece bom - ela respondeu quietamente.

—Pai, independente do que for o relatório dos mensageiros, a decisão de voltar à vila Omaticaya vai ser completamente nossa, eu não quero que veja isso como uma afronta, mas como uma decisão que cabe a nós porque eu e Lay'ti somos os envolvidos nisso - Neteyam fez questão de dizer, respeitava o pai completamente, mas também entendia que agora ele era um adulto cuidando de sua própria família, fazendo suas próprias escolhas difíceis.

—Eu entendo, entendo, os dois - Jake olhou para seu filho e sua nora com compreensão - eu vou respeitar a escolha de vocês, independente de qual for e o que fizerem, confio em vocês.

—Obrigado pai - Neteyam agradeceu de coração, entendendo a compreensão que se passava entre eles, Jake entendia o que ele percebia sobre si mesmo, era um homem feito e crescido.

—Obrigada, Jake - agradeceu Lay'ti, aliviada por ter sido entendida.

Assim, ela e Neteyam prosseguiram o curso da vida, não contaram os seus planos a Nimwey, até porque então, nem eles mesmos tinham certeza de alguma coisa e se sua visita ao seu tão longínquo e antigo lar aconteceria de fato.

Neteyam preferiu ir falar com um dos mensageiros sozinho, caso ouvisse algo negativo, poderia contar de forma mais branda a Lay'ti, de modo que sua esposa não se decepcionaria tanto.

—Tem alguma notícia sobre a floresta? - ele perguntou ao mensageiro, sentindo a expectativa aumentar pela garganta quase que fisicamente.

—Temos, Neteyam - respondeu o mensageiro seriamente - não há mais conflitos com o povo do céu da Cidade das Pontes com o seu povo, na verdade, os Omaticaya baixaram a guarda por não serem mais atacados, ao menos diretamente. Pelo que entendemos, eles ainda tem suas próprias explorações, mas sem perturbar os Omaticaya novamente, é como se estivessem em trégua.

—Trégua... não me parece tão ruim quanto pensei... - o filho mais velho de Jake refletiu em voz alta - muito obrigado.

O rapaz curvou a cabeça para ele num cumprimento rápido e se afastou, Neteyam fez o mesmo em direção oposta. Voltando para casa, não encontrou nem Nimwey nem Lay'ti ali, logo deduzindo que ela devia estar ocupada com alguma visita a alguém precisando de suas habilidades de curandeira. 

Ele deu uma caminhada paciente pela vila, olhando aqui e ali discretamente, procurando pela esposa e o filho. Enquanto estava distraído, foi pego de surpresa por ninguém menos que Nimwey, abraçando suas pernas, a cabeça do garoto batendo em sua cintura. Lay'ti estava bem ali atrás, com o cesto cheio de seus remédios apoiado ao quadril, ela deu um sorriso ao apreciar a cena em sua frente.

—Oi, eu quase levei um susto! - Neteyam riu e acariciou sua cabeça - eu estava justamente procurando por você e a sua mãe.

—Mamãe acabou o trabalho, estávamos indo pro mar, quer ir com a gente? - Nimwey convidou de forma muito animada.

—Claro, por que não? Enquanto você nada, eu faço um pouco de companhia à sua mãe, pode ser? - o pai propôs de volta.

—Hum, acho que sim - respondeu o garoto, de uma forma que lembrou o próprio Neteyam de quando ele era criança.

—Está tudo bem, meu amor? - Lay'ti se aproximou, então.

—Está sim - Neteyam assentiu pra ela - vamos indo e te explico melhor, logo, logo.

Lay'ti entendeu e apenas o seguiu, deixando que Nimwey caminhasse um pouco à frente deles. Com o filho já se divertindo dentro da água, o casal se sentou lado a lado, como sempre faziam, o que se tornou um costume reconfortante.

—O que tenho pra te falar é que recebi notícias da floresta, me foi dito que os Omaticaya e o povo do céu estão numa trégua no momento - ele explicou calmamente - não há ataques do povo do céu por um longo tempo, eu pensei que, se há um momento para ao menos visitar, seria agora, também acho que quanto mais discretos formos nessa visita, melhor para nós, eu não quero chamar atenção, seria um trunfo muito grande ter o filho de Toruk Makto sob a custódia deles.

—Entendi, Neteyam, é a melhor chance que temos em anos, mas não podemos nos arriscar - Lay'ti assentiu devagar - nós podemos falar com meus pais apenas e Mo'at, claro, pedir que não espalhem que estamos ali e ficar o menor tempo possível.

—Acha que dois dias seria suficiente? - ele deduziu.

—É muito pouco pra ficar num destino que se leva uma viagem tão longa pra se chegar - ela suspirou - mas é melhor do que nada, se é disso que depende nossa segurança, eu seguirei esse plano.

—Está bem - Neteyam assentiu, concordando.

O que os dois ansiavam por tanto tempo estava mais próximo de acontecer do que o esperado, e parecia que depois de tanto tempo, o impossível tinha se tornado alcançável.


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