Um papel em cada mundo escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 29
Crescendo a cada passo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808358/chapter/29

Como qualquer outra criança, não importasse a que clã pertencesse, Nimwey era extremamente curioso com o que estava ao seu redor. Desde muito pequeno, quando a mãe o levava amarrado às costas durante as atividades diárias que ela realizava, o garotinho observava tudo ao seu redor, principalmente o mar, encantado com aquela imensidão azul, ainda era cedo para imaginar onde todo aquele caminho chegava ao seu fim, mas foi um pensamento que se formulou na cabeça de Nimwey quando ele ficou um pouco mais velho.

Agora, com seis anos, ele costumava acompanhar a mãe nas suas atividades de coletar ervas e atender os doentes. Era fascinante por si só ver o quanto ela sabia de muitas coisas, mas não mais que tia Kiri, que parecia ter um acesso muito mais profundo à sabedoria de Eywa, ou ao que Ronal e vovó Neytiri sabiam. Mas como todo futuro guerreiro, ele tinha admiração pelos guerreiros, como também os caçadores. Ver eles voltando de uma caçada montados em seus poderosos tsuraks era uma visão e tanto.

Sendo ainda jovem, Nimwey tinha que se contentar com as histórias e apenas observar, esperando o dia que chegasse seu treinamento. Agora, ele ajudava Lay'ti, coletando plantas e conchas enquanto ela segurava um grande cesto, enchendo com o que encontravam.

De vez em quando, Nimwey se distraía, olhando para o mar, um olhar de vontade de tocar a água, de mergulhar na imensidão e se sentir livre, como umexplorador, um caçador, talvez até viver uma aventura.

Notando a distração do filho, Lay'ti suspirou. Conhecendo-o bem, sabia o que estava passando em sua cabeça.

—Está tudo bem, meu amor? - ela tentou, buscando uma resposta direta e sincera dele.

—Sim, sim - ele respondeu quietamente, voltando a sorrir, se comportando bem.

Apesar de muito agitado e cheio de energia em momentos de brincadeira, Nimwey podia ser tão obediente e atento como seu pai, era um pouco espantoso o quão parecido com Neteyam ele era.

—Nós já estamos terminando, você pode brincar depois, se quiser - ela concedeu uma recompensa, já que ele estava ajudando tanto.

—Obrigado - ele respondeu com um sorriso maior ainda.

—Só falta um pouco das folhas mais altas, elas são bem mais eficazes que as de baixo, a questão é como vamos pegar - Lay'ti explicou, parando em frente ao alto da palmeira, com uma das mãos na cintura, encarando o desafio de forma pensativa.

—Eu tenho uma ideia! - Nimwey disse animado e antes que sua mãe pudesse impedi-lo de fazer qualquer coisa, ele já estava subindo na árvore com uma habilidade impressionante, coletando exatamente o que sua mãe precisava, descendo com a mesma habilidade, mas tomando um pouco mais de cuidado dessa vez, já que estava com uma das mãos ocupada.

—Isso foi impressionante, obrigada, filho - Lay'ti sorriu impressionada - mas tome cuidado, por um momento achei que você fosse cair.

—Eu já fiz isso antes, e nunca caí - ele confessou, mas depois se arrependeu de ter dito isso, temendo uma bronca.

—Como assim já fez isso antes? Quem te ensinou a fazer isso? - ela questionou seriamente, sabendo que esse não era um costume que as crianças Metkayinas faziam.

—Vi o papai fazer isso uma vez, e tia Tuk também, eu achei que também poderia, eu consegui fazer igual eles! - Nimwey se empolgou, mas se conteve outra vez.

—Está tudo bem, meu menino, só me deixou preocupada - Lay'ti compreendeu a situação toda e acariciou o queixo dele - tome mais cuidado da próxima vez.

—Pode deixar - ele assentiu.

Eles então voltaram pra casa, com Nimwey ficando quieto em um canto, ainda muito pensativo.

Lay'ti decidiu não pressionar muito, dando um tempo para que ele mesmo tentasse entender o que estava acontecendo, mas logo em seguida, sentiu dúvida. Ele era só uma criança, era claro que precisava de um pouco de orientação.

—Você sabe que pode falar qualquer coisa comigo, não sabe, meu amor? - ela se aproximou, acariciando os cabelos dele.

—Sim - ele respondeu quietamente - eu só tava pensando uma coisa... que eu queria poder mergulhar como todo mundo... papai, meus tios, minhas tias, todos eles fazem isso, eu não vejo você fazer tanto isso.

—Bom, é que, eu me sinto mais confortável na superfície, Nimwey, é apenas uma coisa minha - ela tentou explicar de forma simplificada, de modo que ele compreendesse bem.

—Então, se é uma coisa só sua, quer dizer que não tem problema eu ir até a água, como todo mundo faz? - ele quis saber, tendo a consciência de que era melhor a autorização da mãe para fazer algo assim.

—É claro que pode, é só que... = Lay'ti suspirou, achando que essa conversa podia ser adiada para um outro momento, mas a hora para ela tinha de fato chegado - você sabe como cada bebê que nasce aqui tem seu primeiro fôlego na água, não sabe? E você também sabe que nossa família veio da floresta - conforme Nimwey foi assentindo, ela prosseguiu - nós não estávamos acostumados com a água, não conhecíamos o caminho da água, fomos aprendendo aos poucos, e quando você nasceu, eu temi se você conseguiria respirar como os outros bebês, mas agora que você está maior, eu não vejo problema em você aprender a mergulhar.

—Eu posso mesmo? - Nimwey se iluminou outra vez.

—É claro que pode, meu amor, essa é nossa casa, afinal, e esses costumes também são os nossos, junto com os da floresta - ela afirmou com alegria, contente por ver o filho se sentindo muito melhor.

—E quem ensinou vocês também pode me ensinar? - ele continuou perguntando, muito interessado no assunto.

—Quem nos ensinou vai ficar muito feliz de te ensinar, eu tenho certeza - Lay'ti contou = foi sua tia Tsireya que nos mostrou tudo que sabemos, ela vai amar fazer isso outra vez por você.

—Obrigado, mamãe, obrigado - o menino chegou a se levantar e a abraçá-la.

—De nada - Lay'ti sorriu, apenas aproveitando o carinho e o retribuindo.

Neteyam tinha chegado a tempo de presenciar a cena, o que o deixou comovido. Ele não disse nada dessa vez, apenas sorriu e a esposa notou sua presença, o olhando de forma convidativa a participar daquele abraço.

Nimwey então notou que o pai tinha chegado e contou o motivo de tanta comemoração e carinho.

—Mamãe disse que eu posso começar a aprender o caminho da água - ele explicou, mais calmo agora, mas ainda muito feliz.

—Ah isso é ótimo, é só o começo do seu treinamento como um guerreiro - ele sorriu de orgulho para o filho e depois para a esposa.

Conciliar as duas culturas foi sempre um dilema para Lay'ti, mas tudo se encaixava e fazia todo o sentido com Nimwey sendo uma prova concreta disso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um papel em cada mundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.