Um papel em cada mundo escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 23
Encarando o novo




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Mesmo de uma certa distância, dava para Neteyam e Lay'ti notarem o nervosismo de Lo'ak, mas também de alguma forma, entrecortada pelo tremor, sua alegria era notória. Tsireya, ali na frente dela, ostentava o sorriso mais marcante, tão característico dela, mostrando que também se encontrava muito feliz.

Adornos enfeitavam a todo o povo, arrumados para a ocasião especial. Toniwari tinha tomado o centro do evento, pedindo que Eywa abençoasse a união de sua filha com o filho de Toruk Makto. A seguir, os noivos deram passos comedidos até uma espécie de barca, havia presentes de todo o povo ali, coisas simples, pequenos objetos de valor e até mesmo sagrados, uma maneira de mostrar seu desejo de boa sorte.

Tsireya e Lo'ak empurraram a barca juntos com o objetivo de que ela tocasse um arco colocado sobre a água. Depois de liberar a pequena embarcação, os dois mergulharam de modo a dar as mãos sobre o arco, acima da barca. Quando isso foi feito, toda a aldeia jubilou alto, o casamento tinha acontecido, o compromisso público feito à vista de todos.

Os recém casados saíram da água juntos, ainda de mãos dadas, sendo recebidos por toda aquela empolgação. Ao abraçar Tsireya, Lay'ti sentiu até mesmo seu bebê se empolgar, sendo contagiado por tanta energia.

—Olha só, seu sobrinho também está feliz por vocês - Lay'ti fez questão de mostrar - meus parabéns, Reya, que um futuro brilhante alcance vocês.

—Obrigada, e agradeça ao meu pequeno - a tia agradeceu de volta.

—Lo'ak, meu irmão - Neteyam demorou-se mais no abraço do que seu irmão esperava - eu nunca achei que fosse ver esse dia, você sendo um jovem primoroso e responsável.

—Ah para com isso, até o pai deixou essas cobranças pra lá, não precisa fazer isso - reclamou o mais novo, mas tendo uma ideia clara de onde seu irmão queria chegar.

—Eu estou muito orgulhoso de você, cara, de verdade - Neteyam admitiu, emocionado - eu sempre soube do seu potencial, que um dia reconheceria seu próprio valor, independente de como você se parece ou das nossas origens.

—Um mestiço casado com a filha do chefe, nada mal pra um esquentado - Lo'ak comentou, mas sentindo profundamente as palavras gentis do irmão - mas tem razão, Neteyam, eu me encontrei bem longe de casa, sabe, a floresta é o nosso lar, mas aqui com a Reya, eu também construí um lar, primeiro com vocês, e agora com ela, parece que finalmente nossa mudança fez algum sentido, depois de tanto tempo...

—Pois é, conseguimos a paz que o pai sempre quis - o mais velho concordou, se emocionando também - no fim, foi um sacrifício que valeu a pena.

—Valeu sim, mas não fique triste pensando no passado, se não a saudade da floresta aumenta - Lo'ak cortou o assunto sentimental - eu agradeço por tudo que disse, eu não estaria aqui se não fosse por você, mano, sempre me ajudando, e é por isso que como irmão mais velho e mais esforçado, você merece aproveitar a festa e se divertir, além disso, você já tomou muito do meu tempo, eu tenho mais parabéns pra receber, com certeza.

—Ah seu convencido! - Neteyam lhe deu uma cotovelada afetuosa que doeu só um pouco - eu entendo, vá lá, aproveite.

Antes que se afastassem, Lo'ak lhe deu mais um abraço e Neteyam voltou para perto de Lay'ti observando o irmão e a cunhada recebendo mais cumprimentos de outras pessoas.

—Você está bem, meu amor? - ela perguntou, ao ver seu rosto claramente comovido.

—O que? Eu? Tô, Lay'ti, eu tô sim - ele assentiu e sorriu, chegando a fungar, sentindo os olhos levemente marejados - é só o orgulho aparecendo.

—Eu sei, me deixa muito feliz ver o quanto ele cresceu - ela sorriu, também orgulhosa de Lo'ak.

Neteyam a puxou para mais perto, beijando a lateral de sua cabeça afetuosamente, mas de repente, a puxando para a fila dos dançarinos, num convite muito claro.

—Vem, vamos aproveitar a festa - ele propôs.

—Ah não, sério? Está bem, vou conceder uma dança a você - Lay'ti riu, atendendo o pedido do marido com alegria.

A vida então seguiu seu curso esperado, uma rotina simples cheia de tarefas, pelo bem da família e do povo, exercida pelos Sullys também. Sendo a ocupação de curandeira sua principal função, Lay'ti observava de perto sua gravidez, também recebendo a constante visita de Neytiri e Ronal. 

—Ele está forte, grande... - a tsahik dos Metkayina comentou depois de examiná=la - está bem perto, Lay'ti.

—Eu sei, eu estou um pouco nervosa, um pouco não, mais do que estava no começo - a futura mãe admitiu.

—Eu sei como se sente, mas não se preocupe, vai dar tudo certo - Neytiri assegurou - falando em o bebê estar para nascer, você decidiu como vai ser seu parto?

—Eu sei que me sentiria mais segura em casa, mas esse bebê vai nascer no recife -  Lay'ti respondeu, com medo do que Ronal poderia achar.

—Vai ser bom que ele se acostume com isso desde seu primeiro fôlego - a tsahik opinou - no entanto, sabemos que ainda assim seu corpo será de um Na'vi da floresta, nós podemos fazer diferente quanto a isso, deixar que o bebê nasça na superfície, mas que você e ele mergulhem logo em seguida, é uma alternativa.

—Sim - Lay'ti apenas concordou por educação, não tendo total certeza se aquela era a melhor recomendação a se seguir.

Ela confiava que Eywa guiaria os primeiros momentos de seu filho e que o melhor aconteceria. Foi justamente isso que Lay'ti constatou no dia do nascimento do seu bebê.

Mesmo um pouco cansada pelo peso da barriga, ela decidiu procurar mais ervas que se encontravam do outro lado da vila. Sabia que devido ao seu estado, seria melhor fazer isso na companhia de Neteyam. Ela deixou que ele conduzisse o ilu e então chegaram onde Lay'ti pretendia.

Ela sorriu ao ver as ervas que queria e se pôs a colhê-las, mas uma forte dor a impediu de continuar o trabalho, a fazendo se ajoelhar, sua mão indo para sobre sua barriga por instinto.

—Lay'ti! Lay'ti! O que foi? - Neteyam gritou desesperado, correndo até ela.

—O bebê... - ela disse entre um gemido - Neteyam, o bebê vai nascer...

—O que? A gente tem que voltar - ele logo percebeu a urgência da situação.

—Não, não, não dá tempo - Lay'ti gesticulou com a mão, negando a possibilidade - vai ser pior se sairmos daqui, vai ter que ser aqui.

—Não, não, por Eywa, como vamos fazer isso? Você precisa de ajuda de verdade - ele mostrou seu desespero.

—Neteyam, eu sei que não é o ideal, mas não temos opção - ela segurou o braço dele com firmeza e olhou diretamente em seus olhos - eu preciso que você confie em mim e eu preciso confiar em você, e eu confio, meu amor, então só faça o que disser.

—Está bem - ele olhou de volta para ela, entendendo bem o que viria a seguir.

Neteyam beijou a testa dela, mostrando que estava disposto a proteger sua família mais uma vez.


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