Um papel em cada mundo escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 17
Treinamentos




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Ter um Marui só para Lay'ti e Neteyam era no começo algo estranho, sentiam a falta de toda agitação do restante da família, mas conforme os dias passaram, ela esqueceu um pouco disso se ocupando com a organização do espaço, era praticamente perfeito, metade para ela, seus pertences pessoais, suas ervas e equipamento médico. Metade para seu marido, com o arco, flechas e a lança se destacando no espaço.

Era exatamente o que os definia no momento, Lay'ti cuidando dos doentes e Neteyam treinando os guerreiros, prontos para qualquer batalha. Durante os últimos anos, não tinham mais ouvido notícias dos guerreiros do povo do céu no encalço deles, mas esperavam que esse dia chegasse e por isso, era importante se preparar para o combate iminente.

Naquela manhã, Neteyam tinha partido ao encontro da irmã mais nova, que estava ansiosa por suas primeiras lições. Era ainda um pouco assustador ver o quanto Tuktirey tinha crescido, quase do tamanho de Neteyam agora, tendo a idade que ele tinha quando chegaram a Awa'atlu. Não crescia só fisicamente, mas em seu jeito de encarar a vida, justamente por sua maturidade, entendia que deveria estar preparada.

—Como você está nessa manhã, irmãzinha? - ele fez questão de chamá-la assim, chegando a afagar os cabelos dela, arrumado em tranças mais compridas agora.

—Eu estou bem, só para de enrolar logo e vamos começar - ela insistiu.

—Ah está aí sua primeira lição, ser paciente - ele comentou logo de cara.

—Eu sou, esperei todos esses anos, não foi? Só me ensina como atirar - ela tentou pedir com menos pressa, mas sem muito sucesso.

—Muito bem, Tuk, certo - ele entregou o arco para ela, sem mais perda de tempo.

Era um gesto natural para ela, depois de conviver a vida inteira com uma família em que todos eram arqueiros. A posição dos seus braços estava completamente correta.

—Me dá uma flecha - ela pediu.

—Aqui está - seu irmão fez o que ela pediu, sentindo orgulho do seu bom desempenho e força de vontade - espera, você precisa de um alvo.

Ao perceber isso, Neteyam improvisou com o que tinha, fez um varal com os cordões que carregava na bolsa, mais um trapo para eventuais primeiros socorros.

—Tenta acertar ali - ele indicou.

Antes, corrigiu a maneira dela de puxar a corda do arco e encaixar a flecha ali. Sentindo-se pronta, Tuktirey a atirou, ansiosa com o resultado, mas desapontada, ao perceber que a flecha passou de raspão por muito perto.

—Foi muito ruim, não foi? - ela reclamou um pouco do próprio desempenho.

—Não, foi sua primeira tentativa, não se preocupa, só trabalha mais sua mira - Neteyam aconselhou com toda paciência e compreensão - olha exatamente pra onde você quer atingir, e relaxa mais o braço quando for atirar.

—Entendi, tá bom - ela assentiu e tentou de novo, seguindo as instruções do irmão.

Levou mais três tentativas de tiro, mas ela conseguiu na quarta.

—Muito bom, Tuk Tuk, bom trabalho - ele ergueu uma mão para ela, comemorando seu feito, e ela bateu de volta, feliz com o que tinha conseguido.

—Eu sei que ainda preciso de mais treino, mas acho que fui bem pra começar, não fui? - ela opinou sobre o próprio desempenho.

—Sim, também acho, mas você chega lá, vai ser uma grande arqueira, tenho certeza - Neteyam comentou - além disso, tem outras coisas pra aprender, como usar a lança também.

—Podemos deixar essa lição pra depois, não acha? - Tuk foi bem sincera.

—Seria bom aprender a lutar com a lança também, afinal é a arma típica de um Metkayina - ele reforçou a explicação sobre a importância disso.

—Eu sei, eu vou aprender - ela garantiu - é só uma coisa que eu fiquei pensando, quer dizer, eu não quero esquecer de quem realmente somos, entende o que quero dizer?

—Claro, nós ainda somos Omaticaya, apesar de termos os hábitos daqui agora - ele assentiu.

—De todos nós, eu sinto que eu era a pessoa da família que mais poderia esquecer a floresta - Tuk chegou a se sentar para conversar melhor, Neteyam fez o mesmo ao lado dela logo em seguida - eu cresci com os hábitos daqui, diferente de vocês, mas ao mesmo tempo, é uma coisa que eu não posso negar, minhas origens.

—Entendo, e acho muito bom que pense assim - ele pôs uma mão no ombro dela - mas nos tornamos de dois clãs, é quem nós somos, diferentes, não completamente Metkayina, mas um pouco dos dois.

—Um pouco dos dois, me parece justo então - sua irmã resolveu aceitar aquela explicação - vamos tentar honrar os dois lados então.

—Isso, exatamente - ele assentiu.

—Vamos continuar com a lição de arco e flecha então, depois você pode me ensinar a lança - ela pediu, se animando outra vez, voltando aos treinos.

Neteyam fez como ela pediu e os dois passaram um bom tempo ali, só voltando para casa quando sentiram fome.

—Quer comer com a gente? - seu irmão a convidou.

—Ah por mais tentador que possa ser, eu e Kiri combinamos de ir pescar juntas depois do almoço, fica pra  depois, outro dia, quem sabe - Tuk recusou a oferta gentilmente.

—Entendi, manda lembranças minhas pra todo mundo? - ele pediu.

—Claro, foi bom te ver, irmão - ela se despediu dele.

—Eu digo o mesmo, Tuk - ele assentiu e a viu partir, tomando um caminho diferente do dele.

Voltando para casa, Neteyam esperava encontrar a esposa sozinha, mas antes que entrasse em casa, ouviu uma risada conhecida ali.

—Eu vejo você, Tsireya - ele a cumprimentou e depois foi direto até Lay'ti, beijando a testa dela - não esperava sua visita a uma hora dessas, de qualquer forma, é sempre bom vê-la.

—Obrigada, Neteyam - respondeu Reya - eu espero não atrapalhar vocês.

—Eu já disse que não está atrapalhando  - Lay'ti a corrigiu levemente - eu até reforço o convite para ficar pro almoço.

—Tudo bem, então - a Metkaiyna concordou.

—Como foi o treino com a Tuk? - Lay'ti quis saber, perguntando a Neteyam.

—Foi ótimo, ela tem talento pras nossas habilidades, ela insistiu muito no arco e flecha e eu ensinei o que sabia - ele contou, claramente orgulhoso da irmã.

—Por acaso, Lo'ak estava com vocês nesse treino? - ela perguntou, o que deixou Tsireya claramente constrangida.

—Lay'ti, não faz isso... - ela chegou a murmurar.

—Eu posso saber o que está acontecendo? - Neteyam notou a tensão entre elas.

—Nada, é só que eu acho que o Lo'ak anda estranho ultimamente, eu queria saber o motivo, mas também não queria ser inconveniente - Tsireya explicou.

—Bom, tem algumas coisas preocupando o meu irmão, sim - ele tomou a frente da situação, sem revelar nada que Lo'ak não quisesse - mas não cabe a mim dizer, se posso dar um conselho, Reya, converse com ele, confie na amizade de vocês e vai dar tudo certo.

—Eu poderia tentar, se ao menos ele me desse uma chance - a moça ponderou.

—Nós podemos criar essa chance por você, está bem? - Lay'ti prometeu.

—Certo - Tsireya achou melhor aceitar a proposta.

Sem mais conversas sobre Lo'ak, Neteyam e Lay'ti trocaram um olhar que compreendia exatamente o que estava acontecendo. Era melhor que ele e Tsireya se entendessem logo antes que continuassem sofrendo.

 


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