Um papel em cada mundo escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 10
Pontos de desequilíbrio




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Conforme os meses se passaram, as coisas pareciam finalmente entrar nos eixos. Nada era mais novidade, de modo que o Sullys sabiam o que era esperado deles e como agir. Mesmo assim, o sentimento de suspeita de que eram tratados como diferente pairava levemente no ar. 

Algo que fez com que esse sentimento fosse um pouco amenizado foi a visita a Árvore das Almas dos Metkaiyna. Era uma experiência diferente e inesperada, não apenas ouvir os ancestrais, mas também vê-los. Lay'ti recebeu a visita clara de sua avó, que havia morrido há vários anos, era um alento poder vê-la outra vez. Sua experiência foi interrompida quando Kiri afetou a dela, de certa forma. A irmã de seu noivo teve um uma reação violenta ao se conectar com a árvore. Lay'ti ajudou a socorrê-la, levando-a de volta para casa. Ela e Netyam fizeram tudo que puderam para reanimá-la, mas nada fazia Kiri voltar de seu desmaio. Restou apenas ao pai desesperado dela recorrer a medidas desesperadas.

Mesmo naquela situação complicada, era reconfortante rever Norm Spellman e Max Patel, amigos antigos e leais de Jake, enquanto eles trabalhavam em Kiri, buscando uma resposta. Lay'ti estava perto, observando tudo. Era um segredo mal guardado que ela tinha um certo fascínio pela medicina humana, começando pela intrigante capacidade de criar os avatares. Ela tinha consigo que talvez um dia, a ciência que tinha trazido os humanos para Pandora, fosse uma aliada na medicina dos Na'vi. Ainda assim, ela era muito devota, também entendendo que a Grande Mãe tinha seus planos misteriosos e que talvez Kiri fizesse parte deles.

Depois que Neytiri e Ronal expulsaram os cientistas dali, Lay'ti continuou observando a tsahik com o mesmo fascínio. Apesar de ser uma mulher muito dura que tinha sido um obstáculo ferrenho para que sua família se adaptasse ali, Ronal era admirável por seus talentos. Lay'ti a observou trazer Kiri à vida novamente, o que a encheu de alívio e gratidão. Mesmo assim, antes que Norm e Max partissem de volta, ela fez questão de conversar com eles sobre suas explicações para o estado de Kiri.

 -Não esperávamos uma reação dessa a Árvore das Almas, nunca vi algo assim antes - Lay'ti comentou com Norm e Max.

 -Tentamos entender o que aconteceu, mas acredito que depois de ser reacordada, ela vai ficar bem - Norm deduziu.

—Eu espero - Lay'ti respondeu, ainda apreensiva com a situação - eu achava melhor que vocês deixassem um pouco do equipamento médico aqui, lembro das coisas que vocês me ensinaram, talvez isso possa ser útil.

 -Eu não sei se é uma boa ideia, Lay'ti - Max opinou - como nós acabamos de ver, eles são muito adversos à tecnologia, não sei se isso seria bem visto pelos outros.

—Acredite, passamos por coisas bem piores na questão de sermos visto de forma diferente - a moça Na'vi explicou, o pesar em sua voz já comunicava tudo que ela e a família tinham passado nos últimos meses - eu prefiro ter os recursos que podem me ajudar do que dar ouvidos a uma opinião contrária.

—Cuidado, isso é muito perigoso - Norm se assustou com o que ela disse.

 -Eu sei - a moça suspirou - talvez isso não pareça correto, mas de alguma forma eu poderia usar vocês e sua ciência para nos ajudar do mesmo jeito que a ciência trouxe Toruk Makto.

—Talvez seja essa uma boa justificativa - Max acabou a entendendo.

Ela se despediu deles junto com Jake, expressando mais uma vez sua gratidão por fazerem o que podiam por Kiri. Eles concederam o pedido de Lay'ti ao deixar o equipamento médico ali. Estudá-lo e entendê-lo melhor foi o que a ocupou nos próximos dias.

Ela podia estar parcialmente certa sobre a tecnologia ajudar seu povo, mas não era ingênua a ponto de pensar que os humanos e sua equipe os deixariam em paz. 

Antes disso, ela e os Sullys tiveram o privilégio de presenciar a visita especial dos poderosos e lindos tulkuns. Tinha sido uma grande emoção e era algo que ela nunca tinha presenciado ou imaginado antes e imaginou que era um pouco dessa emoção que tinha levado Lo'ak a criar uma amizade profunda com um deles. Mais uma vez, o menino tinha feito uma loucura e ido contra o que o povo que tinha os acolhido aconselharia, mesmo assim, sabendo como ele era teimoso, era esperado que ele manteria esse relacionamento.

O que parecia trazer a paz finalmente trouxe a tragédia. A tecnologia se provou um recurso ruim nas mãos erradas quando os tulkuns foram atacados.  Uma guerra foi instaurada pela provocação dos humanos, ferindo os animais. Jake tinha aconselhado a família para ficarem fora de qualquer conflito, entendendo muito bem a gravidade da situação. Lay'ti entendia que seria muito mais útil se ficasse de prontidão para atender qualquer um dos feridos. Suas ervas, remédios e equipamento estavam prontos, o que ela fez com apreensão.

Depois de arrumar tudo, foi interrompida por um preocupado Neteyam, que foi averiguar como ela estava no meio de todo aquele caos inesperado.

—Meu pai disse para ficarmos aqui, seria mais seguro e eu pretendo fazer isso - ele contou.

—Eu sei, que bom, isso me deixa aliviada, eu já estou nervosa o suficiente, se vocês estivessem em combate ficaria ainda mais, passamos por muita coisa aqui, mas não esperava que a guerra chegasse até nós - ela confessou com medo.

—Nós fizemos de tudo para evitar, não foi? Nos esforçamos para nos adaptar e nos encaixar e ainda assim, eles não conseguem deixar nossa família em paz, não conseguem deixar o meu pai em paz - Neteyam lamentou.

—Eu não faço ideia do que pode acontecer hoje e eu não quero que o pior aconteça, mas de qualquer forma, seu pai vai ter que fazer alguma coisa - Lay'ti admitiu.

—Se ele tiver que tomar uma decisão difícil, vou deixar isso com ele, eu vou obedecer sua última ordem, vou ficar aqui - ele disse com toda certeza - eu vou reunir a família de volta, ver onde todos estão, volto logo e você fique segura.

—Eu vou - ela confirmou sem hesitar - não se preocupe.
 
Era impossível não se preocupar naquela situação. Tomado por um impulso ligado à proteção, ele beijou a testa dela antes de partir. Pesava em seu coração vê-la tão aflita, Lay'ti tinha sido sempre uma boa amiga, constante, atenciosa e sempre disposta a ajudar e a ouvir. Eles tiveram momentos felizes ali, mas entrecortados por momentos de tensão e aflição. Neteyam sabia que alguém como ela não merecia passar por tudo aquilo e ele não conseguia deixar de se culpar por ser o motivo de trazê-la até lá. Ainda assim, reconheceu em si um pensamento egoísta, não conseguiria estar ali e viver sem ela.

Ele suspirou depois de constatar isso e focou na sua missão vigente. Seus instintos não falharam, seu irmão estava prestes a fazer algo precipitado. Não adiantava tentar impedir Lo'ak tão determinado a salvar Payakan. Tudo que restava era apenas acompanhá-lo e mais uma vez em sua vida, seguindo a missão de protegê-lo, Neteyam foi atrás dele, se certificando de que ficaria a salvo.


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