Dualitas escrita por EsterNW


Capítulo 48
Capítulo XLVIII




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808312/chapter/48

As mãos de Matias escorregaram para longe dela no mesmo instante que Meredith soltou seu anúncio e ele se apressou até a irmã antes que ela sequer entrasse realmente na biblioteca. O bruxo tomou o papel das mãos dela e absorveu a mensagem com uma passada de olhos ligeiros e meteu-o de qualquer jeito no bolso. Irina ainda se aproximava dos dois. 

― Não saia daqui, irei atrás do nosso pai ― ele orientou, correndo para fora da biblioteca. 

― Mas o que significa esse “quer terminar em sangue o que começa em sangue” e “onde a dor começou”? ― Meredith foi lançando suas perguntas enquanto tentava partir na mesma velocidade que o irmão. À Irina restou juntar suas saias e lutar para acompanhar o ritmo, mesmo que não fizesse ideia do que estava acontecendo. ― Matias!

Matias chegou ao fim do corredor e olhou para trás, parecendo finalmente dar-se conta de que tinha duas mulheres ao seu encalço. Irina notou o peito que subia e descia e a respiração que parecia sair em lufadas de desespero dele. Ela forçou os pés a tomarem passadas mais longas e chegou até ele, tocando-lhe o rosto. 

― Fique com ela, por favor, e não a deixe sair dessa casa de forma alguma ― Matias pediu e Irina somente assentiu. 

― São aqueles problemas? ― a Srta. Gutiérrez questionou, sabendo parcialmente de alguns dos últimos acontecimentos da casa dos Salazarte. Matilda estava envolvida com quem não deveria, a tia estivera envolvida com magia sombria e o pai escondia todo tipo de segredos. 

Salazarte assentiu e voltou os olhos para a irmã, que parava ao lado dos dois, um quase vinco entre suas sobrancelhas e fuzilando o irmão com o olhar. 

― Eu vou trazer nossa irmã de volta. Fique com Irina ― orientou uma última vez e afastou-se do toque dela, retomando a quase corrida desesperada.

― Irá trazer ela de onde? ― Meredith ergueu as saias até os tornozelos e tentou correr atrás dele. O hall principal foi atravessado com rapidez e nenhuma das duas conseguiu chegar até ele. ― Matias! ― ela gritou outra vez. 

A porta foi aberta e deixada para bater com o vento. Meredith soltou um grito estrangulado e Irina correu até ela, segurando seus ombros para tentar pará-la. 

— É melhor que esperemos por notícias de seu pai e de seu irmão — tentou argumentar, vendo-a se virar em sua direção. As grossas sobrancelhas franzidas junto do cenho transformavam um rosto tão bonito. — Não podemos ajudá-lo e apenas iríamos atrapalhá-lo. — A Srta. Salazarte abriu a boca para reclamar e continuou. — Seu irmão pediu para que ficasse aqui, é melhor não trazermos mais preocupação a ele. 

— E que diferença faria se eu saísse daqui agora mesmo?! — Meredith berrou, tentando se afastar das mãos dela. — Solte-me, eu não irei sair. — Irina cedeu ao pedido, vendo que ela realmente cumpriu, partindo em direção às escadas. — Pouco importaria a eles se eu estivesse aqui ou na rua, nenhum deles daria a mínima. 

Irina seguiu-a outra vez, conseguindo manter o ritmo sem muito esforço. Era mais alta do que as duas irmãs Salazarte e tinha passadas mais longas.

— Matias se importa demais com você, Meredith — ela partiu em defesa do noivo e pela primeira vez pensando nele associado àquela palavra. Se não estivessem vivendo um caos, estaria sorrindo. 

— Se importa, é claro que se importa. — O sarcasmo correu solto e as duas chegaram ao segundo andar. Meredith virou-se para a convidada. — Mas se importa muito mais com Matilda do que comigo, todos se importam mais com ela. — Meredith riu, cruzando os braços. — A queridinha da família, que ninguém tem coragem de dizer uma única reclamação sobre. 

— Sua irmã estava de castigo pelo que fez — Irina tentou rebater. 

— E você sabe tudo o que ela fez até meu pai resolver puni-la?! — Ela se exaltou, soltando os braços e balançando uma mão no ar. — Me provocava e ele nunca a repreendeu, flertava com rapazes mundanos e ele nunca a repreendeu, escapava das aulas de poções para ler e ele nunca a repreendeu. — Meredith enumerava nos dedos e Irina suspirou, entendendo muito bem o que acontecia ali. Passou um braço pelo ombro dela, guiando-a novamente para o primeiro andar. — Nada disso teria acontecido se meu pai tivesse a repreendido alguma vez.

— Alguns pais acabam tendo um filho favorito. — As duas foram descendo os degraus e o único lugar em que Irina pensou para levá-la foi a biblioteca. O único lugar que de fato explorara naquela casa, além da sala de visitas. 

— E se meus irmãos também tiverem uma irmã favorita? 

Irina precisou de alguns segundos para reformular uma contraresposta. 

Se aquela pergunta fosse feita a qualquer um dos filhos dos Gutiérrez, a resposta viria no mesmo instante. Nunca negaria seu amor por Estevão e até mesmo por Isaac, por mais que às vezes o odiasse, mas era óbvio que ela tinha um favorito. 

— Às vezes acabamos sendo mais próximos de um irmão do que de outro. — Elas foram passando pelo corredor vazio. — Não é algo incomum, eu arriscaria dizer. Às vezes nos damos melhor com um do que com outro.

— Não é isso que eu quero dizer. — As duas alcançaram a biblioteca e deixou Meredith ir, encaminhando-se em direção a um dos sofás. — Matias consegue se dar com quase todo mundo e Betina… — ela suspirou, tendo o assento ao seu lado ocupado pela convidada. — Imagine alguém impossível de se odiar. A única pessoa que se parecia comigo era Bernardo. — Os pés foram postos no sofá, mesmo que fossem sujar o tecido de terra, e os calcanhares abraçados. — Mas ele me deixou e nunca disse por que foi embora. 

Irina colocou uma mão sobre o braço dela, em um afago indo e voltando. Tinha lá suas suspeitas do por que o filho mais velho dos Salazarte poderia ter se separado da família em termos tão bruscos, contudo, sabia que Matias somente compartilhara aquele tipo de coisa com ela por confiança. 

Irina estava mais ciente do que se passava dentro da família Salazarte do que a própria Meredith, de certa forma. 

— E ninguém parece ter sentido falta dele além de mim. E da minha mãe — a Srta. Salazarte acrescentou, depois de uma breve pausa. — Minha mãe era a única capaz de amar todos os filhos da mesma forma — murmurou junto de um breve suspiro, trazendo as pernas para mais perto de si e sujando o tecido do sofá com as solas dos sapatos. 

— Eu sinto muito pelo que aconteceu — Irina sussurrou, a frase de praxe para quem tinha perdido alguém. 

— Eu também sinto — ela retorquiu, encarando a janela com um olhar perdido. — Sinto porque perdi as únicas pessoas nessa casa que conseguiam me enxergar de verdade. 

Irina continuou a tentar afagá-la, vendo-a parecer mais perdida dentro de si mesma do que ali. 

De certa forma, não podia negar que sabia como Meredith se sentia, mas, ao menos… Ao menos ainda tinha o pai, Estevão e Ezequiel ao seu lado. Meredith mal tinha o próprio irmão para contar-lhe a verdade. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dualitas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.