Dualitas escrita por EsterNW


Capítulo 41
Capítulo XLI




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As petúnias no jardim respiravam o frio vento invernal, começando a murchar pelo esquecimento de quem fosse o empregado que cuidava delas depois da morte da patroa. Se Brigite estivesse ali, as flores não estariam daquela forma em estação alguma. 

Se Brigite estivesse ali, a situação seria completamente diferente. Se ela estivesse ali, encarar os problemas seria muito mais fácil. No entanto, se ela e Bernardo ainda estivessem ali, ele provavelmente continuaria na Nova Inglaterra, perseguindo objetivos que nem acreditava mais e tentando provar sua coragem ao encarar uma colônia que promovera uma caça às bruxas décadas antes. Era patético.

No lado da janela em que Matias estava encostado, ele respirava a poeira do ateliê de sua mãe. Respirava poeira e lembranças que viviam ali. Também respirava os pensamentos que tentara evitar por tanto tempo. 

Pensar em Irina trazia-lhe o alívio que queria no meio da vida, contudo, não poderia usá-la como uma válvula de escape. Ela era muito mais do que isso e as responsabilidades que teria de assumir com ela fizeram-no recordar-se do que deveria lembrar. Responsabilidades que seu coração desejava assumir com ela e que sua mente, porém, temia. 

No meio de tanta confusão, poderia simplesmente não ser correspondido, como acontecera da outra vez. Contudo, sabia que tinha de tentar. E Isaac faria questão de lembrá-lo disso. 

Naquela tarde, porém, resolvera deixar a memória dela descansar um pouco. Assim como tinha responsabilidades para assumir com ela, também tinha responsabilidades para assumir em outras áreas de sua vida. E as memórias da mãe traziam aquilo à tona. 

Se voltasse os olhos na direção da estufa, veria seu pai trabalhando, recolhendo uma das plantas que serviria de ingrediente para alguma poção. Se Brigite estivesse ali, aquele trabalho seria feito por ela, com sua aptidão voltada para a natureza. Sem ela, Leônidas fazia tudo sozinho. 

Como deveria estar fazendo há um bom tempo, desde que o casamento dos dois desabou por causa de suas tantas mentiras e segredos. E das quais ele apenas tinha pistas soltas por todos os lugares, pois sequer conseguira investigar a fundo. 

Sua vida estava um caos com tanto acontecendo ao mesmo tempo e ele não colaborava para tentar encontrar uma forma de enfrentar a tempestade, ao em vez de permanecer em um abrigo para o resto da vida.

Desviando os olhos do pai de volta para o jardim, viu Matilda através do vidro. Os olhares dos dois se cruzaram e, junto de um sorriso que não via no rosto dela há um bom tempo, ela começou a correr para dentro de casa.

Matias se levantou, sabendo que deveria deixar o ateliê e seu ar carregado de poeira e lembranças trancado novamente. Saiu de lá e caminhou ainda sentindo o ar carregado até esbarrar-se com a irmã mais nova, que começava a entrar no corredor que levaria para o cômodo onde estivera. Matilda fora muito mais rápida do que seus passos lentos e cansados. 

― Baltazar não partiu! ― ela exclamou em um murmúrio, mantendo o tom do segredo que compartilhavam.

Matilda ainda passava quase o dia inteiro trancada no quarto, evitando as refeições com o pai e a irmã. Não que fizesse tanta diferença, pois a única coisa que teria de aturar seria Meredith e suas provocações. Leônidas estava quebrando o hábito e compartilhando cada vez menos refeições com os filhos, coisa que fazia somente quando estava ocupado com o trabalho e não podia comparecer à mesa no horário.

O Dr. Salazarte também começava a mostrar sinais que chamariam a atenção de qualquer médico, como olheiras profundas sob os olhos e um emagrecimento que ia se tornando mais aparente. À pergunta se estava tudo bem, Matias recebera somente uma óbvia mentira.

― Ele disse que não pôde ir ao cais naquele dia e que sente-se esmagado pela culpa por ter me feito pensar que ele teria partido sem mim, coitadinho. ― Ela apertava um papel todo amassado contra o corpete do vestido, tendo voltado a se arrumar mais para ficar em casa. Mesmo que não mais como antes.

― Alguém te entregou isso?

― Oh não, não dessa vez. Baltazar amarrou o papel em uma pedra e atirou-o para o nosso jardim. E não comente sobre a audácia dele de invadir nossa propriedade para isso! ― ela o censurou, contudo, Matias somente conseguia pensar em como Baltazar poderia saber que Matilda não estava mais se trancando no quarto, para não tentar entregar outro bilhete por um intermediário. Talvez a empregada da outra vez? Definitivamente teria de conversar com o pai sobre. — Ele sempre fez isso por um bom motivo. 

― Ele planeja outra fuga? — o irmão interrompeu a justificativa dela com outra pergunta.

― Sim ― Matilda respondeu com um biquinho, partindo logo para defesa. ― Mas eu não vou aceitar! Eu vou dizer a ele que você quer conversar e nos apoiar.

Matias suspirou, sentindo o ar pesado, mesmo que não houvesse mais partículas de poeira no corredor.

― Sim, nós dois realmente precisamos conversar.

 

 

Ao descer da carruagem, Matias logo divisou uma figura parada sob a única entrada possível no paredão de pedra. Precisava fazer um esforço para que seus olhos não tentassem desviar o foco para outro ponto, provando a força do glamour que ocultava aquele lugar.

Assim que recebeu a carta de Baltazar, Matilda prontamente escreveu um bilhete, contando-lhe as reviravoltas e pedindo para que o amado encontrasse o irmão. O papel foi deixado em posse de uma das ajudantes da modista que a garota costumava frequentar e uma prova de que, com um pouco de dinheiro, podia ganhar a colaboração de quase qualquer pessoa.

Para sua surpresa, demorou menos de vinte e quatro horas para que uma nova pedra fosse atirada ao jardim com a resposta. Graças a isso, estava de volta àquele lugar no meio do nada para o lugar nenhum, de onde Rui acreditara que poderiam encontrar respostas para o feitiço de magia sombria executado pela tia e onde finalmente tomaria posição em alguma coisa na vida.

― Boa noite, caro cunhado ― ele saudou jocoso, um sorriso brincando pelos lábios finos ―, que surpresa foi saber que você gostaria de falar comigo. Decidiu me dar as boas-vindas para a família? ― Fez um gesto com a cabeça para trás de si. ― Vamos a um lugar mais confortável para uma conversa como essa.

― Saiba que minha irmã tem consciência de onde estou ― Matias alertou assim que entraram. Ao vê-los, os dois ocupantes da mesa, em quem sequer reparou, levantaram-se e começaram a puxá-la para o lado. ― Caso pense em fazer qualquer coisa contra mim, saberão exatamente a quem procurar.

Um alçapão foi puxado, revelando uma longa escadaria de degraus estreitos que guiavam para o fundo. Baltazar riu, descendo na frente e restando a ele segui-lo.

― Isso nem tinha passado pela minha cabeça, mas sabe que é uma ideia tentadora? ― O outro continuou a rir, passando sem muita preocupação pelos degraus escorregadios. Ao contrário de Matias, que precisava tomar cuidado para não cair. ― Mas mais tentadora do que isso foi uma ideia que tive assim que recebi o último bilhete de sua irmã. E, já que seremos da mesma família, creio que posso ser sincero com você. ― Eles atingiram o final da escadaria e Baltazar dirigiu um olhar faiscante em escárnio para trás. ― Você é tão covarde que me pergunto por que resolveu voltar até aqui para falar comigo. ― Junto de outra risada, voltou a caminhar. Matias apressou o passo para não caminhar atrás dele. ― Pelo que sei e ouço falar de você, Salazarte, não me parece o tipo de homem que viria até mim para defender a honra de sua irmã.

Os dois chegaram a um grande portão que dividia  o caminho e, após um aceno de cabeça de Baltazar, o porteiro deixou que passassem. A tranca se fechou às suas costas e continuaram seguindo.

― Não sou tolo para arriscar um duelo contra você. 

― Não imaginei que fosse tolo para isso. ― O caminho terminou em uma larga porta preta e, após o homem tocá-la com um pedaço de obsidiana que tirou do bolso, ela se abriu para passarem. Ele não tinha energia mágica e precisava de um auxílio para isso. ― Eu imaginava é que não teria coragem.

Matias engoliu a raiva, sabendo que, se agisse feito o primo da última vez, terminaria no chão. Ainda mais ao considerar o tamanho do outro.

― Acredito que seja mais sensato mantê-lo longe de minha irmã e de minha família de outra forma. ― Pela primeira vez demonstrando alguma reação de surpresa, Baltazar voltou seu rosto para ele imediatamente. ― Diga-me o quanto quer.

O outro soltou um assobio e parou em frente a uma de tantas portas, no lugar que o bruxo sequer prestara atenção. Somente conseguia sentir um cheiro de açúcar queimado e ouvir sussurros por trás de uma dentre tantas portas iguais. Questionava-se o que acontecia ali.

― Quem diria que você seria parecido com o papai. ― Puxando a maçaneta, Baltazar abriu a porta. ― Não acho que você vá conseguir me comprar com dinheiro, Salazarte. Acredite, você não é o primeiro da família a tentar. 

A porta foi empurrada para que se abrisse sozinha para dentro, onde, em uma das cadeiras em torno de uma mesa, Leônidas encarava o próprio copo feito um bêbado desolado em uma taverna. 

Matias sentiu que todos os seus pensamentos perderam completamente o fio de qualquer meada; já o pai ergueu o rosto na direção deles, lívido e ainda mais pálido do que o habitual dos últimos dias. Baltazar sorriu deliciado para o bruxo que ocupava o ambiente. 

— Eu disse que logo seu segredo sairia do túmulo, Leônidas — o homem provocou o mestre de poções, que tentou se pôr de pé em gestos desordenados que nada combinavam com ele. — Que tal começar pelos filhos? 

― Eu cumpri minha parte no acordo, miserável! ― o médico quase rugiu para o outro, irrompendo em fúria e ficando face a face com Baltazar.

― E eu não faço acordos com assassinos ― ele sibilou, pouco se intimidando. Encarava o bruxo com superioridade e os olhos escuros faiscantes. — Você me pagou porque quis. 

― O que é que está acontecendo aqui?! ― Matias interrompeu em uma exclamação. Sequer se mexera de onde estava, contudo, recusava-se a ficar parado atordoado enquanto os dois se degladiavam em olhares cheios de ódio. 

― O que está acontecendo é que seu querido pai está com medo de que você saiba que ele é um assassino e responsável pela...

― Diga mais uma palavra e não sairá dessa sala ― Leônidas o cortou.

Baltazar riu.

― Vamos, Leônidas, acha que sou idiota? Se você pudesse acabar comigo, eu não estaria mais aqui ― o homem exclamou, abrindo os braços na frente do outro. ― Venha, Salazarte, entre e feche a porta. Ou não quer ouvir a história de como seu amado pai...

― Uma vida por outra vida ― o doutor interrompeu o relato dele mais uma vez. ― Eu matei sua sobrinha, seu irmão matou minha cunhada, minha esposa e meu filho e você quer vingança.

Matias congelou contra a porta ainda aberta. Seu olhar fixou-se assombrado no pai, que esqueceu por um minuto do homem que exalava ódio contra os Salazarte pelos poros e olhou para o filho. O cansaço e o abatimento desapareciam para a vergonha. Leônidas desviou os olhos. 

Naquele ponto, não tinha mentira nenhuma que seu pai pudesse se valer, pois Baltazar acabaria com elas no mesmo instante, e sabia que seu pai era orgulhoso o suficiente para admitir o que fez ao invés de ver seus argumentos falharem. A verdade viria por ele e mais ninguém.

— Espere um pouco aí. — Baltazar abaixou os braços, o sorriso e o deboche sumindo. — Sua cunhada se matou porque não conseguia lidar com a culpa, não venha querer acusar meu irmão. 

— Assuma a culpa de sua família e eu assumirei a minha. 

Baltazar soltou uma risada nervosa na direção do outro. 

— Agora que está na frente de seu filhinho quer assumir o que fez apenas para aliviar as coisas para o seu lado? Não comigo aqui! 

— Isso é assunto de nossa família, Baltazar.  — Matias finalmente se manifestou outra vez, fazendo sua mente sair do torpor para poder controlar algum movimento. Caminhou na direção dos dois. — Deixe-nos a sós. 

— Isso é assunto meu! — o homem exclamou, pela primeira vez derrubando sua atuação que disfarçava seus verdadeiros sentimentos. — Minha família arruinada, minha cunhada chorando perdas que vocês causaram!

— Vá embora, Baltazar, está exaltado demais — Leônidas orientou, tentando tomar o domínio da situação para si. — Não haverá negócios nesse estado de espírito. 

— Não haverá mais negócios com você, Leônidas — Baltazar cuspiu e Matias começou a se aproximar dos dois, sendo notado. — Isso é só o começo do seu inferno.

Com um empurrão de ombro em Matias, Baltazar trovejou para fora da sala, deixando pai e filho a sós. O médico mostrou a face exausta na direção do filho, ignorando completamente a partida do homem que estivera presente. 

— Feche a porta. 

― Não é hora de continuarmos com mentiras. ― Matias conseguiu articular, ainda sentindo a mente atrapalhada demais com as palavras. Antes fosse somente Baltazar e suas acusações, mas ouvir aquilo da boca do próprio pai... ― O senhor deixou isso passar dos limites. Esse homem...

― Feche a porta, Matias, nós precisamos conversar ― ele pediu outra vez, sentando-se novamente na cadeira. O homem que controlava e ditava as regras estava misturado no peso do cansaço.

O filho afastou-se alguns passos para fazer o orientado. Ao ouvir o clique, virou-se, vendo-se sozinho com o pai no ambiente que sequer tinha reparado direito, mesmo que houvesse uma lareira num lugar subterrâneo.

Seus olhos focaram-se no pai, sentado à mesa e finalizando o que sobrara de sua bebida com um gole. Finalmente teria o momento que tanto fugira. No fim, as buscas à sua maneira levaram para a solução que tanto tentara evitar. Enquanto caminhava em direção à mesa, engoliu a saliva rapidamente, optando por ele próprio tentar tomar as rédeas daquilo. 

— Magia sombria. O senhor e tia Inês se envolveram com magia sombria — começou de maneira um tanto desajeitada, ainda atordoado com o que ouvira minutos antes. Seu pai admitira ter matado uma pessoa. Ele próprio dissera sem nem hesitar. — É por esse motivo que está aqui? 

— Estou aqui para negociar com Baltazar. Ele sabe de tudo — o mestre de poções respondeu sucinto, recebendo um suspiro do filho. 

Negócios… Aparentemente seu pai estava sendo chantageado por Baltazar e o maldito orgulho o impedia de assumir a verdade. O tornava vulnerável. Mesmo que os sentimentos estivessem escorrendo para fora, se recusava a admitir. 

— Eu não compreendo... — Matias retomou, vendo o pai encher o copo outra vez. — Que motivos vocês dois teriam para se envolverem com magia sombria? Se ela foi paga em sangue…

O vidro tiniu quando a garrafa foi devolvida para a mesa. 

— Alguns meses antes de nos casarmos, sua mãe esteve à beira da morte por uma doença que não conseguíamos reconhecer bem… Começou nos rins e se agravou rapidamente. — Ao devolver a tampa para a garrafa, empurrou-a na direção do filho, que ignorou-a. — Inês fez um acordo com a Sombra para salvá-la. 

Leônidas parou, encarando o líquido amarronzado no próprio copo, a visão parecendo não estar de fato focada ali. Matias aguardou para que ele tomasse seu tempo para voltar a falar. 

— Passaram-se anos, tentamos alguns outros contatos com a Sombra, mas Inês estava convicta de que Ela estava drenando sua magia e que a mataria em algum momento. — Ele deixou o copo sobre a mesa, usando-o como foco para ter para onde olhar, ao em vez de bebê-lo de fato. — Eu acreditava que ainda tínhamos uma solução. Podíamos tentar um acordo com a Noite, da mesma forma como ela fez com a Sombra. 

— A Noite não faz acordos — Matias cortou o relato com a frase que todos conheciam. 

A Noite somente fez suas criações por pura inveja da irmã e deixou-as. Seu ego estava satisfeito e aquilo bastou. 

— Algumas pessoas desse lugar possuem mais conhecimento que a maioria de nós, ainda podíamos tentar. — Ele finalmente tomou um longo gole. — Inês estava resignada, satisfeita pelo que conseguiu e satisfeita que aquele seria seu fim… Mas ainda tínhamos uma possibilidade. Havia a possibilidade de tentar uma invocação à Noite e um dos itens necessários era o sangue de um de seus filhos.

― Essa era a sobrinha de Baltazar? ― Matias questionou, recebendo um aceno afirmativo de cabeça.

Enquanto seu pai encarava a bebida como se mal a visse, começou a freneticamente bater os dedos da mão direita sobre a mesa, sendo o único som a ocupar o ambiente quando as vozes se calavam.

Se sua mãe tivesse tomado consciência daquilo...

― Elas sabiam?

― Inês soube um pouco depois. Sua mãe... ― Ele bebeu um gole demorado, mesmo que, quando o copo foi devolvido novamente para a superfície, pouco do líquido tivesse diminuído. ― Sua mãe descobriu tudo depois de um ano, quando Baltazar e seu irmão concluíram que eu era o culpado. 

E quando provavelmente sua família começou a ruir. 

Não, aquilo começara bem antes, desde o momento em que Leônidas decidira tirar a vida de uma filha da Noite para uma tentativa de acordo com a Noite. Toda a cadeia de acontecimentos seguintes era somente consequência de um erro.

Um erro que começara quando sua tia fez um acordo com sangue para que sua mãe pudesse viver. Ele sequer estaria ali se não fosse pela escolha de sua tia.

Sentia um gosto amargo se misturar com a saliva quando parava pensar no que tudo aquilo implicava. Eram pensamentos demais para serem processados em uma única noite. E ainda tinham muito o que conversar.

― Bernardo também sabia? ― Matias inquiriu, recebendo outra confirmação de cabeça.

Então ali estava a resposta para todas as estranhezas do comportamento de seu irmão. Como ele poderia exigir qualquer bom comportamento do filho com uma moral como aquela?

― Devo pedir para que essa conversa fique apenas entre nós ― Leônidas soltou quase em um suplício. Tão diferente do homem altivo e que governava aquela família com base em regras e morais. ― Suas irmãs não podem em hipótese alguma saber disso.

― Elas têm direito a isso, assim como eu tenho ― o filho devolveu, não conseguindo segurar a própria acidez, tão fora do comum. ― Mas sei que não estamos no melhor momento para isso. Baltazar está lhe chantageando e enganando Matilda. ― O mestre de poções suspirou para o ar, transpirando exaustão. ― Como o senhor pôde não tomar conhecimento que os dois eram a mesma pessoa? Não acredito que Baltazar ficaria calado enquanto conseguia seduzir Matilda. 

Ainda mais quando Baltazar parecia fazer o tipo que adorava se vangloriar e principalmente provocar. Roubar o coração da filha mais nova da família certamente era algo que não poderia conter a própria língua para esfregar na cara do Dr. Salazarte.

E, se Baltazar fosse irmão do lobisomem que matou sua mãe, aquilo significava que ele tinha sangue de lobisomem em suas veias? Talvez pudesse explicar porque parecia ter tanta força para bater, não era apenas ódio. E também explicava porque se passava tão bem como mundano. 

― Sua irmã nunca foi o tipo de garota que se renderia a uma lábia como a dele. Sua mãe sempre se assegurou de que os rapazes que se aproximavam dela fossem respeitáveis.

― Nem sempre podemos controlar tudo. Ainda mais pessoas. ― Matias não pôde conter sua própria provocação. Leônidas negou para si, virando o copo rapidamente. A bebida acabou. — Mais alguém sabe disso? 

— Seu avô sabe. Ele impediu que o escândalo viesse a público quando o irmão de Baltazar foi condenado. — Os dedos de Matias pararam de batucar no mesmo instante. Leônidas encarou o filho pela primeira vez em minutos e foi capaz de ler a pergunta escondida em seus olhos surpresos, logo esclarecendo-a. — Ele decidiu que era mais seguro para todos nós que ele se retirasse depois disso. Não haveria mais ninguém tentando tirá-lo do poder e não haveria mais riscos de que nenhum de seus segredos fosse descoberto.

— O sacrifício dele torna-se inútil se Baltazar nos põe em risco com sua ameaça de contar tudo para o Submundo — o filho concluiu em voz alta. 

Conhecendo o pai como conhecia, sabia que esvaziaria seus bolsos se aquilo fosse capaz de calá-lo. Vendo o comportamento de Baltazar, duvidava que seu silêncio pudesse ser comprado por dinheiro. 

— Há apenas uma solução para isso — o médico retorquiu, finalmente retomando sua coragem para permanecer encarando o filho. — Esse segredo precisa ir para o túmulo com Baltazar. 

Matias conseguiu não engasgar com a própria saliva ao ouvir aquilo. Algo que nunca imaginaria que ouviria da boca de seu pai. 

— O senhor não pode… 

 — Estamos falando de nossa família, Matias — Leônidas o cortou, a exaustão e a vergonha descansando para dar lugar ao olhar do homem que ele conheceu a vida inteira. — Nós não recuamos quando se trata da nossa família. 


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