- Alex, tu consegue uma folga no sábado? – Nishi perguntou ao telefone.

               - Ah sim, na verdade todo fim de semana é minha folga. É que às vezes me pedem pra fazer mais dias, mas...

               - Amigo, tu tá bem? – Nishi, preocupada, perguntou.

               - Eu to, não se preocupa. Dessa vez, se pedirem, direi que não vai dar. – Alex respondeu, firme.

               - É que já fazem alguns meses que tá aí, acho que já juntou grana pra arrumar o café, não é?

               Alex ficou em silêncio por uns segundos.

               - É que ainda falta... Mas... Diz, que vai rolar no sábado? – Alex perguntou e Nishi pôde ouvir alguém chamando-o na distância.

               - Doug me pediu em casamento então vamos fazer uma festa pequena e íntima só pra nossos amigos. – Nishi respondeu, o tom excitado na voz que ela tentava disfarçar era evidente. – Já que os pais dele não são daqui e os meus foram para Grécia.

               - Nossa, Nishi... – Alex surpreendeu-se pois não faz tanto tempo que ambos se conhecem e, de repente, casamento? - ... Parabéns! Eu fico muito feliz por você! Parabéns mesmo. Eu vou sim, pode deixar, só me manda as informações.

               - Acha muito sacana fazer o Caleb de daminho de honra? – Nishi brincou e Alex riu.

               - Melhor nem brincar, sabe como ele é quando brincam dele ser o mais novo da trupe, digamos. – Alex falou rindo e Nishi concordou.

               - Certo, mas venham. Vocês dois, o Caleb já tá ciente e todo mundo mais. Mas será pouca gente, afinal ainda não podemos aglomerar. – Nishi disse e Alex concordou.

               - Pode deixar. Preciso ir, amor. Até sábado. – Alex disse e despediu-se de Nishi bem quando Amelia entrou em seu camarim.

               - Alex, vamos? Reno está surtando. – Ela pediu, num tom cuidadoso e amigável, Alex concordou e saiu, já trajando as vestes para a nova tiragem de fotos de nova edição para a revista que os havia contratado.

               Reno estava logo sentado em frente a sua câmera, abanando-se devido o calor que fazia ali, olhou para Alex quando pisou para fora do corredor de camarim.

               - Não não não, pode voltar. – Ele disse, abanando a mão agora para Alex. – Mandaram trocar a coleção, já estão levando pro armário das manequins. Era assim que ele chava o espaço do vestuário onde trocavam-se de roupa os modelos. Alex virou os olhos e deu as costas, aquela veste de couro sintético não era nada agradável. Quente, abafado e pegava na pele, ainda mais quando o ar condicionado havia quebrado e se preparou para outra troca abafada e calorenta.

               Ao fim de seu expediente, naquela sexta, Caleb veio buscar Alex pessoalmente pois acabou descobrindo que...

               - E aí, vamos jantar? – Ofereceu Jake que saía do edifício junto de Alex e ele o convidara assim que passaram pela porta do prédio.

               - Ah, então... – Respondeu um desconcertado Alex e Caleb aproximou-se, seu nariz avermelhado com uma faixa de esparadrapo no meio. – Ei! Que aconteceu? – Sua atenção foi totalmente para Caleb e Jake franziu o cenho quando Alex correu para o rapaz loiro de colete jeans e camiseta branca.

               - Oi oi. Ah, só um acidente no colégio, nada demais. – Caleb falou.

               - Andou brigando, foi? – Alex disse num leve tom de censura.

               - Antes fosse, Owen me acertou com uma bola bem no nariz quando ele tava treinando. – Caleb justificou.

               - Dói? – Alex parecia resistir a tentação de tocar o nariz do rapaz embora suas mãos aproximavam-se e afastavam do lugar avermelhado.

               Jake pigarreou e os olhos se voltaram a ele.

               - A-ah, sim, desculpe. Então, eu já combinei de sair com Cay hoje. – Alex disse e Caleb, possessivamente, pousou um braço por cima dos ombros de Alex e parece que deu uma pequena puxadinha para se juntar mais.

               Jake olhou Caleb de cima abaixo, com uma expressão nada amigável no rosto e depois sorriu.

               - Tudo bem, não tem problema, na próxima a gente sai. – Jake andou até a calçada onde um carro preto parou, um rapaz saiu de dentro do carro, entregou as chaves ao homem que entrou ao carro. – Se cuida. – E deu a partida colocando o carro para andar, a príncipio, com um grande barulho do pneu e sumiu.

               - Cara estranho. – Caleb disse olhando para a rua.

               - É meu chefe. – Alex disse e Caleb resmungou. – Tá, é filho do meu chefe mas acho que ainda assim é meu chefe.

               - Mané. – Caleb mostrou a língua pra direção que Jake sumiu. – Então, bora comer? Eu pensei ir até aquele restaurante do governador lá que abriu agora.

               - Le Gouverneur? – Alex riu e olhou para Caleb enquanto andavam devagar pelas ruas centrais de Seattle. – Lá é bem caro e é um tipo de comida que acho que você não ia curtir.

               Caleb entortou a boca.

               - Vai que eu goste. – Ele disse.

               - Não tá tentando rivalizar com o Jake querendo me levar pra esses lugares, né? – Alex riu. – Não, ele não é seu rival, pelo amor. Se ele tem algum outro sentimento por mim, ele que me desculpe mas eu já tenho alguém. – Alex disse e levantou a mão mostrando sua aliança de compromisso.

               Caleb riu e beijou a mão de Alex.

               - Eu sei, eu sei. Sushi? – Perguntou.

               - Já conseguiu gostar? Da última vez você ficou verde quando enfiou o sashimi na boca. – Alex riu com a lembrança.

               - Vamos tentar de novo. Agora sem a massinha verde ardida.

               - Wasabi, certo, se tem certeza. – Alex disse e colocou em seu smartphone o endereço de algum restaurante japonês por perto. – Ah tem um logo aqui, bom que no centro é perto e é de boa procedência.

               Caleb agachou-se um pouco para ver a tela do smartphone e Alex foi virar num beijinho que acabou acertando ao nariz do rapaz que soltou um gemidinho.

               - Au au!!

               - Ah, desculpa. Que cachorrada, né? – Brincou Alex.

               - Foi, mas... – Caleb disse e abraçou ao outro que deu-lhe um selinho longo aos lábios e de olhos fechados pra depois separar lentamente. – Me deixa louco, baby.

               Alex riu e continuou a andar com Caleb, as luzes da cidade pareciam ainda mais coloridas do que antes.

               - Aliás, quando foi que colocou essa argola na orelha direita? Eu não lembro dela. – Alex falou olhando para a orelha de Caleb que levou a mão livre até a argola.

               - Não curtiu?

               - Ficou bonito, mas quando foi que fez?

               - Ah... – Caleb coçou a nuca. – Mariko fez pra mim enquanto estávamos na enfermaria, tinha tudo lá e ela me deu uma argola. Ela ia colocar na orelha dela mas decidiu dar pra mim.

               - Na enfermaria da escola ? Vocês são malucos. – Alex riu. – Mas ficou bom, Mariko devia virar uma profissional.

               - Ela meio que já é. De piercing e tatuagem, foi algo que a fez se ocupar na pandemia, a irmã dela é pro nisso. – Caleb foi falando até Alex interromper ao fim da frase para anunciar.

               - Aqui. – Alex disse e pararam em frente a um restaurante japonês onde havia também uma área externa e algumas mesas já com algumas pessoas, Japonessa Sushi era o nome do restaurante.

               - Bom apetite e boa sorte pra nós. – Caleb disse e entraram no recinto.

               - Agora deu, não foi? – Alex riu ao sair do restaurante japonês, Caleb saiu acariciando a barriga e balançou a cabeça positivamente.

               - Uma delícia, só tenho medo de parir um salmão de tanto que eu comi. – O rapaz disse rindo e pegou na mão de Alex para andar de mãos dadas, ele olhou para o horizonte. – Olha, a Roda Gigante, vamo lá?

               Alex consentiu e andaram rumo ao pier 57 onde ficava a roda gigante, para sua sorte a fila não estava nada grande e conseguiram uma cabine que deu a sua usual tremida ao o casal adentrar e se sentar.

               - Faz muito tempo que eu não venho aqui. – Alex observou quando sua cabine começou a subir, Caleb sentado ao seu lado colocou o braço atrás das costas de Alex que observava o horizonte pelas janelas e para o povo lá embaixo, um certo cabelo acobreador cacheado muito familiar se movia pela multidão. – Ei, aquela é...?

               - Não sei. – Caleb respondeu e Alex olhou para ele, Caleb não tirava os olhos de Alex e sorria amorosamente, aproximou-se para trocar um beijo com Alex, que sentiu a língua de Caleb deslizar decidido por entre seus lábios entreaberto e tatear por cima da sua língua e entrelaçar firme e brincar uma com a outra, Alex gemeu abafado com aquilo, ficou todo corado, sem fôlego que Caleb sentiu e desfez o beijo sorrindo para ele e lhe dando outro selinho. – E faz tempo que eu não te sentia assim.

               - D-Desculpa, é o trampo que... – Alex disse, o rosto corado e havia ficado sem fôlego que acabara de recobrar.

               - Eu sei, eu sei. Por isso eu queria pedir... Tem como me colocar em algum tipo de lista de autorização pra ir te ver lá onde você trabalha? Ás vezes você some e eu fico com muita saudade e preocupado e queria poder te ver e, sei lá, até te levar algum hambúrguer pra comer. – Caleb falou compreensivo.

               Alex riu.

               - Acho que nunca te deixariam entrar com algo tão calórico por lá, acho que até o Reno sairia correndo só de sentir o cheiro.

               - Tá, um biscoito fit light diet zero essas coisas. – Caleb riu gesticulando com a mão.

               - Eu vou ver o que posso fazer, ta? – Alex disse e acariciou ao rosto de Caleb e deu um leve beijinho no nariz machucado dele. – Antes de casar sara.

               - Então tenho 2 dias pra sarar, né? – Caleb brincou.

               - Oi? – Alex franziu o cenho e deu um sorriso torto.

               - To brincando, to brincando. 3 dias. Brincadeira de novo!! Bom, mais ou menos, já que tem gente que vai casar logo em breve. – Caleb ria e, quando notaram, o tempo deles na Roda Gigante havia terminado e depois ambos sairam da cabine rindo e depois ficando de mãos dadas.

               Em Miner’s Landing, onde ficava a Roda Gigante, ficaram interessados em passar mais um tempinho por ali, até visitar um Arcade de games onde jogaram de tudo um pouco até um temporário que estava por lá, um clássico “atire no alvo e ganhe”.
               - Vai levar o ursinho pra moça? – Disse o homem que estava na estande do jogo e ofereceu uma arma de ar comprimido para Caleb.

               - El... – Caleb ia corrigi-lo mas Alex o interrompeu e balançou a cabeça. A confusão era tanta com seu gênero que ele não se importava mais de como o chamavam, até sua  voz meio andrógina ás vezes deixava as pessoas ainda sem saber o que ele era e já não mais se importava com isso.

               - Certo. – O rapaz recebeu a arma e Alex se impressionou que o mesmo tinha muito boa pontaria, derrubando todos os alvos em que mirava o responsável pela estande ficou assombrado e sutilmente um tanto revoltado, ele havia conquistado o maior urso da estande. Um urso branco de 1 metro de altura que Alex ficou agarrado. – Alguém andou praticando muito no Call of Duty, não foi?

               - Nah. – Disse um orgulhoso Caleb, pegando na mão de Caleb. – Foi no Red Dead Redemption 2.

               - Ui, cowboy.  – Alex brincou e andou para fora do Arcade com Caleb. – Eu já sou uma negação pra isso. Ah, argolas!

               Alex apontou para outra estande onde já havia vários pinos para se acertar com argolas, ele passou o urso pra Caleb e foi jogar e, dessa vez, foi Alex que mostrou um talento indiscutível em acertar argolas no alvo. Ele conseguiu, coincidentemente, um urso pardo de 1 metro com chapéu de cowboy e palhinha na boca.

               - Temos um casal! – Alex falou alegre, pegou o urso branco e passou o pardo para Caleb, de presente e riu.

               - Opa. É a gente. – Caleb disse e encostou o urso pardo no branco e fez um barulhinho de beijo. – E aí gatin? Digo, ursin.

               Ambos se sentaram em um banco de madeira do pier para olhar para o céu e depois trocar um olhar. Um para o outro. Coisas impossíveis para se colocar em palavras, que apenas um olhar especial de sua pessoa especial sabia o que dizia, coisas impossíveis de serem ditas, apenas sentidas e foi nesse sentimento que Alex deitou a cabeça no ombro de Caleb e este deitou a sua sobre a de Alex enquanto acariciava a mão livre um do outro, cercados pelos enormes ursos.

               - Bom. – Falou Alex depois de um tempo. – Já tem roupa pro casamento da Nishi?

               - Eu tenho que ver se ainda serve, faz tempo que não visto minha roupa social. – Caleb disse.

               - É, você espichou bastante de um tempo pro outro. Pra cima e pros lados. – Alex falou.  

               - Engordei?

               - Não não, só ganhou... Bastante músculo. – Alex falou e apertou o braço dele de leve e Caleb riu.

               - É pra te abraçar melhor.

               - Pra me abraçar, é? – Alex riu.

               - E proteger. Vou te proteger de tudinho. – Caleb deu um beijo no topo da cabeça de Alex.

               O casal ficou mais um tempinho sentado, conversando, trocando carícias, beijinhos aleatórios e piadinhas ruins que foi quebrado quando um gato frajola apareceu esfregando-se na perna de Caleb que foi tentar pegar o bichano e o peludo se jogou de lado e ficou de barriga pra cima.

               - A armadilha ta aí, cai quem quer. – Avisou Alex.

               - Armadilha? – Caleb foi entender o aviso quando enfiou a mão  na barriga do gato que fechou as patas na mão dele e Caleb se assustou que deu um salto e o gato assustou-se também que pareceu, do nada, ficar comportado e deixar o rapaz acariciá-lo e o mesmo ronronou e fez charme na perna do mesmo. – Poxa, que bonito. Se  o Filisteu não fosse ciumento...

               E também nem seria possível, o gato levantou a cabeça e correu para um homem perto que olhava para o gato e o bichano pulou que subiu no ombro do moço que acariciou gentilmente entre as orelhas do gato e seguiu o percurso pelo pier.

               - Se quiser, sempre posso ver se podem emprestar alguma outfit no trabalho. – Ofereceu Alex e Caleb entortou a boca e fez que não com a cabeça.

               - Não quero depender de nada lá não. Eles me tiram demais de você e... Tá tão magro. – Caleb disse, preocupado. – Não tem comido bem, né? O que come por lá?

               Alex deu de ombros.

               - Saladas e tudo mais, mas eu não tenho sentido muita fome mesmo. – Ele disse fazendo bico, Caleb resmungou.

               - Eu vou te levar pra um rodízio de pizza.

               - Mas não hoje, né? Que olha. Muito peixinho. – Alex respondeu e deu tapinha de leve no estômago.

               - Vai ser um rodízio surpresa, vou aparecer e te levar. – Caleb brincou. – Mas e você tem roupa pra ir no casório? – E Alex balançou a cabeça positivamente. – Que bom, então vamos de casalzinho, né?

               - Com certeza. – Riu Alex e apertou mais a mão de Caleb depois. – Vamos pra casa?

               Caleb confirmou ao levantar-se com Alex e ambos seguiram por um caminho até decidir pegar um Uber para casa pois seria um caminho longo demais para se ir a pé.

               - Ainda arranjo uma moto pra podermos ir onde quisermos. – Falou Caleb enquanto aguardava a carona.

               - Até a lua? – Alex perguntou.

               - Onde quisermos. – E Caleb lhe deu um pequeno selinho nos lábios enquanto ouviu o carro chegar e parar diante deles para finalizar sua bela noite.