Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves
A 7º Estação era a última, ela se encontrava perto do vulcão adormecido. Essa parte do caminho era muito mais íngreme e pedregoso, e mais perigoso também.
A alquimista, pela primeira vez, percebera algo inusitado no poder do incrível artefacto.
— Se o Monstronomicom não devolvesse a humanidade da pessoa assim como ela era antes de ter sido transformada em monstro, aquele sacerdote estaria cego agora.
— Pelo menos de um olho, ele ainda poderia se tornar um pirata com tapa-olho.
Embora a ladina tivesse falado de modo sério, todos riram de sua observação.
— Gente, eu acho que não é hora de rir, olha só o tamanho do problema!
— Isso é o que podemos chamar de um problemão, Rosicler.
Entre todas as criaturas de elevada estatura que eles já tinham enfrentado, o capitão do Batalhão Colossal era o maior de todos até o momento.
— Uoh! Vocês chegaram até aqui, é muita audácia.
A criatura falava num tom de voz extremamente gutural, como se fosse um trovão. Seu timbre grave ecoava pelas montanhas. Sua face era grotesca, usava apenas um saiote e sandálias de tiras de couro. Sua musculatura era protuberante. Com seus dezesseis metros de altura, ele nem precisava de muito para intimidar os adversários.
— Eu sou Adamastor, o capitão do Batalhão Colossal. Apenas eu fui necessário para intimidar o exército de Bashvaia.
— Também, um grupelho de mercenários não lutaria até a morte por nada.
A criatura gigante respondeu com um sorriso de escárnio. Ele apontou o seu dedo na direção de Saragat e lhe disse:
— Pequenino, tu não me temes? Mas olha, tu não passas de uma formiga em relação a mim. Curva-te e deixarei que viva os restos dos teus míseros dias gozando o favor do Meu Rei e Senhor Zarastu.
— Agradeço, oh, imponente e bizarra criatura que bafeja alho com palavras tolas, mas eu só me ajoelho perante Nalab.
A criatura soltou uma estrondosa gargalhada e a companhia sapateou sobre um terremoto, os pés de grande proporção fendiam a terra magmática. Ele era tão grande que poderia abraçar uma montanha e arrancá-la pela cepa.
— Tell, essa é a sua vez de descansar. Não se preocupe. Fiquei com muita vontade de bater nesse grandão, afinal de contas, tamanho não é documento.
Rosicler e Letícia se adiantaram na vanguarda e cada uma atacou o gigante com o que tinha. Com transmutações aeriformes, a alquimista tentava desequilibrar o monstro. A gatuna se punha a acertar o rosto do grandioso ser, mas as suas adagas pareciam nada mais do que mosquitos a atingir-lhe a face.
— Mas que coisa, tiros de arco e flecha, até mesmo de canhões não feriu o meu rosto, como poderá meras faquinhas de cortar peixe me causarem algum dano?
— Sempre há uma primeira vez...
E usando o mesmo artifício da luta anterior, a ladina jogou as suas adagas nos olhos do gigante, elas resvalavam na pupila de Adamastor, que continuou imóvel.
— Brincadeira de criança.
— E que tal brincar de alquimia? Transmutação Telúrica – Mísseis Acúleos.
O solo pedregoso a frente da militar formou estalagmites, as formações flutuaram e fizeram uma linha de tiro. Em pouco tempo elas já estavam cravadas no gigante. O capitão contraiu os músculos e as transmutações se desfizeram em pó.
— O que é isso, uma sessão de acupuntura?
— M-mas, mas como ele...
A jovem alfonsina ficou assombrada como o seu ataque tinha sido neutralizado facilmente. O mago-espadachim e o guardião gritaram palavras de animo:
— Vai lá, Letícia, estamos torcendo por você!
— É isso aí, manda ver, professora Letícia.
Hahaha, eu tenho até torcida organizada...
Concluindo o seu rogo, o conjurador estava prestes a lançar a sua conjuração quando um abalo sísmico ocorreu derrubando todos no chão.
— Pequeninos, olhem como são ínfimos perante a grandiosidade do poder do meu deus, nem são capazes de ficar em pé.
Ímpetus! Jura? Essa deve ser a única conjuração que esse idiota consegue fazer...
Saragat agitou o capuz e olhou ao redor, algumas pedras tinham desmoronado, mas o grupo estava bem. O mascarado ergueu-se estalando as costas, elas doíam a cada passo que ele dava.
Rosicler tinha alguns ferimentos leves.
A alquimista estava debaixo de uma pedra, o servo de Nalab a ajudou a sair de lá.
— Você está bem?
— S-sim, eu acho que estou bem, mas e os outros?
— Tell, apareça, garoto chato!
— Tô bem aqui, Saragat.
— Viu só, tá tudo beleza.
Dançando e festejando a destruição, o capitão olhava para o grupo de guerreiros com triunfo. A militar rangeu os dentes furiosa.
— O que nós aprendemos sobre nossos inimigos de grande estatura?
— Quanto maior o tamanho, maior a queda?
O encapuzado correspondeu ao sorriso irônico da alfonsina e deu um tapinha em seu ombro. Letícia posicionado as mãos no chão e iniciou uma transmutação, bradou:
— Transmutação Telúrica – Sarcófago de Areia.
Ao redor de Adamastor o solo pedregoso deu lugar a areia e lama, uma espécie de areia movediça extremamente pegajosa.
Quando mais força o gigante empreendia para evadir, mais ele se enterrava nela.
— Não, não, isso é impossível, eu tenho o tamanho para...
— É realmente, você só tem tamanho mesmo, porque inteligência, tisc-tisc-tisc... Saragat, agora é com você!
— Pode deixar, Letícia, ele é grande, mas não é dois. Deusa que reina sobre as sombras e exerce infinito poder sobre elas, escuta o meu rogo... Raer Umbrátil.
Usando o Cajado Nebuloso para concentrar a energia divina de Nalab, o conjurador disparou uma rajada de sombras, acertando o peito de Adamastor. A criatura tombou para trás, desfalecendo, só depois Tell se aproximou dele, receoso.
— Eu vos purifico.
E o que antes era um gigante, se tornou um mero garoto de dezesseis anos.
— Incrível como alguém tão pequeno possa carregar tanta monstruosidade no coração.
Todos refletiram sobre as palavras do mago-espadachim e colocando o purificado em segurança, partiram para o QG do Batalhão Colossal.
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