Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves
A cada momento de tensão na luta, a garota apertava Index contra os seus seios. O guardião já estava completamente amassado de tanto ser espremido contra o voluptuoso busto de Rosicler. A ladra não conseguia conter-se.
— Girf, olha, Rosicler, com mais um aperto desse eu sou capaz de explodir...
— Desculpa aí, Index, esse bicho não cai com nada, veio.
Encostada a uma pedra, ela tinha assistido a luta apreensivamente. Estava tão ausente da batalha que o troll nem tinha percebido que ela estava lá.
A garota vestia um short-saia, suas coxas continham uma bainha, cada uma possuía uma afiada lâmina, mesmo assim ela mantinha o seu fiel punhal na cintura. Estava doida para usá-lo.
— Mas, não, uorfh, eles não vão ganhar a luta se eu morrer, sabia?
Enquanto o ser reclamava, a gatuna observava os movimentos de Titã Cubo, tentando encontrar algum ponto fraco.
Droga! Esse monstrão não tá ajudando, ele é muito forte, mano...
Enquanto isso, os dois esgrimistas trocavam espadadas.
Saragat e Letícia tentavam restabelecer o fôlego. A alquimista era a que aparentava estar mais cansada.
Splang, Tell defendeu um corte da katana de obsidiana. O segundo-sargento demonstrava ferocidade e ambos desviavam e atacavam com perícia.
— Pense rápido!
Saltando no ar, o samurai de pedra girou executando um movimento diagonal e desfechou um golpe que mesmo defendido, abalou as defesas do neto de Taala. Por um momento, ele quase desmaiou com o impacto, toda a sua lâmina vibrou.
Mas que força! Como é que eu vou derrotar um cara que não pode ser atacado e quando golpeia parece ter a força de um exército?
— Tell, você tá bem?
— Se você conseguir achar um ponto fraco nesse monstro, você ganha dez pontos, Rosicler.
— Dez pontos? É muito pouco pra mim, veio.
O garoto sorriu, mesmo numa hora daquela ela conseguia fazer uma piada. O mago-espadachim arfou, pois, o seu braço direito pesava muito. Embora manejasse a espada com as duas mãos, ele nunca tinha sido ambidestro.
— O que foi, nanico, não consegue empunhar uma espada bastarda?
— Espada bastarda? Esse nome é horrível, quando te derrotar eu vou batizá-la.
O troll soltou uma risada crocante, seus dentes de pedra rangiam. Ele girou a sua lâmina exibindo-a para o garoto, era uma bela espada.
— O batismo de uma lâmina é muito importante, essa espada se chama Mugen. Foi forjada por Somatópago, os Anões Siameses, eles são os nossos armeiros oficiais, sabe? Um pouco mal-humorados, mas são verdadeiros artistas.
— Zared nos falou que mesmo a obsidiana não aguentaria a forja, como ela foi criada?
Letícia e Saragat se entreolharam satisfeitos, a garota tomava um dos últimos elixires.
Isso aí, garoto, ganhe tempo pra nós...
— É verdade, uma lâmina de obsidiana seria muito frágil, mas forjada como um artefacto, ela perde todas as suas fraquezas. Através da habilidade dos anões, essa katana adquiriu a capacidade de ser inquebrantável. Por isso eu a chamei de Mugen, que na língua nativa do Extremo Oriente significa “Infinito”. A espada deve ter o nome que define o seu espírito.
— Não se preocupe, acho que já sei como vou chamar a minha espada daqui pra frente.
— É, e qual o nome da dita cuja?
— Que tal... vai se ferrar?
O que se seguiu foi um estrondo ensurdecedor. O encapuzado atingira o monstrengo com uma rajada de sombras tão poderosas que o mesmo ficou encoberto por elas.
— Truotruotruo, não adianta.
Saindo da escuridão, o troll foi atingido no capacete por diversos tiros. A militar alfonsina descarregou toda a munição de um fuzil de repetição. Foram seis cargas de projéteis explosivos.
O trio se reagrupou e esperou o movimento do inimigo. O segundo-sargento se colocou numa posição de ataque e convidou-os a atacarem-no.
— Alizé.
Enquanto o monstro se defendia, Letícia aproveitou para lançar várias poções nele, uma delas com a Goma Dourada. Atingindo as articulações de Titã Cubo, o adversário ficou paralisado. Saragat aproveitou o momento e iniciou uma poderosa conjuração.
— Deusa que repousa sobre as sombras do universo... Raer Umbrátil.
A ponta do Cajado Nebuloso se encheu de sombras, era uma energia tão densa que chegou a escurecer o campo de batalha. As pupilas do servo de Nalab se embranqueceram.
Rosicler ficou horrorizada.
— O que é que tá rolando com, ô da capa-preta?
— Ele está sincronizando ao máximo com a energia divina de Nalab.
Os dentes do conjurador rangiam e um filete de sangue escorreu de seus lábios pálidos. Quando o mascarado disparou a rajada de sombras, o tiro durou um minuto inteiro. A execução da magia divina foi tão poderosa que quando terminou, ele caiu de joelhos.
— Eu não sou rei para que se ajoelhe diante de mim, Zarastu é rei.
Esfarelando a armadura, Titã Cubo se mantinha de pé, na mesma posição defensiva em que se encontrava antes de ser atacado pelo encapuzado. Mais uma vez, tendo o seu exoesqueleto de pedra destruído, a triste figura do troll se revelou novamente. Ele disse triunfante:
— Com a minha conjuração Anima Pétrea, eu posso regenerar o meu exoesqueleto indefinidamente. Não importa qual a potência do golpe, ou quantos me ataquem, em poucos segundos eu terei a minha defesa recomposta novamente.
Tell fincou a sua espada no chão, mesmo ele já demonstrava cansaço.
A ladina sentara-se em cima de uma pedra para refletir melhor sobre a luta. E desse mesmo lugar, ela captou um estranho e interessante fenômeno. Sissssssssss, esse som de uma areia correndo dentro da uma ampulheta aumentou ainda mais quando a armadura do oponente se regenerou.
— Index, está pensando no que eu estou pensando?
— Estou pensando que: ou você cresceu muito ou a rocha em que estamos diminuiu de tamanho!
É isso!
— É isso, é isso, é isso mermo, Index.
— Bluorf, isso o quê, menina?
Se pondo de pé, ela agitou a criatura alada em cima da cabeça e gritou a plenos pulmões:
— TIRA ELE DO CHÃO!
Saragat estreitou os olhos e vociferou alguma coisa, sua raiva era tanta que nem pôde gritar com a companheira. Letícia vagueou o olhar para Rosicler e o troll.
Nossa, é tão óbvio que eu não percebi...
— Tell, se prepara, eu vou precisar de você, garoto.
Titã Cubo ainda tentou usar a Trollagem, mas a alquimista foi muito mais rápida.
— Transmutação Aeriforme – Éolo.
E ascendido ao ar, o inimigo parecia um brinquedo infantil. Tell saltou no ar ricocheteando numa rocha e empreendeu uma poderosa sequência de espadadas.
— Coup de Foudre.
Zing-zang, para cada corte, um bloco de mármore branco caia ao chão. Em pouco tempo, os golpes revelaram uma horrenda criatura descabelada em posição fetal. O Lisliboux sorria enquanto o desprotegido oponente olhava-o horrorizado.
— Uaaaaaaaarh, você não é tão invencível o quanto pensa.
E cravando a espada num estoque, o segundo-sargento teve o ombro direito perfurado. Mesmo tentando evadir, a lâmina o acertara em cheio e ambos caíram no solo. Em meio à poeira da cratera, o filho de Taran se levantou e limpou o pó de eu colete.
— Tell, você está bem!
E sendo abraçado por Letícia, ele foi erguido do chão como se fosse um boneco.
Rosicler cuspiu e rosnou alguma coisa desagradável para a alquimista.
Essa exibida, você é muito veia pra ele, dona moça...
— L-Letícia, m-me larga vai, eu já to perdendo o fôlego.
— Desculpe, é melhor purificá-lo logo antes que ele regenere o exoesqueleto.
— Podem me matar, se quiser. Me matem logo!
Tell foi até o resignado monstro e empunhou a sua espada no topo da cabeça com as duas mãos, e olhando fixamente para o inimigo, declarou em alta voz:
— Minha espada não foi feita para matar, mas sim para trazer a justiça, por isso ela se chamará a Justiceira.
— Um nome contraditório para uma arma.
Saragat foi até o corpo do monstro e acocorou-se no chão, fixou o seu olhar nas pupilas do monstrengo e suspirou indignado.
— Os monstros não sabem o que é o Monstronomicom, não é?
— Nos disseram que é como a morte.
— Não é diferente de uma, mas mataremos apenas a parte de você que não merece viver.
— E qual a sua parte que não merece viver, Saragat?
O conjurador se ergue e abriu espaço para o portador do livro. Tell abriu o tomo e antes que pudesse dizer as palavras mágicas, o ser deformado soltou uma gargalhada.
— Espere, espere, não seja tão precipitado, truotruotro.
— Cuidado, Tell, pode ser uma armadilha.
Index alertara claramente sobre o perigo, mas o garoto resolveu ceder ao monstro.
— O que está tramando?
— O próximo colossal que vocês vão enfrentar é um osso duro de roer, sabiam? Ele é um bogatir, o primeiro-sargento Stalin. Ele também possui uma armadura que reveste todo o seu corpo, mas ele tem um ponto fraco bastante... chamativo, eu diria.
— Que é?
Todos fizeram um ar de expectativa que dava para ouvir o som de uma rocha se formando entre as montanhas.
— O cabeção dele.
— Porque um monstro nos diria como derrotar um companheiro?
— Porque eu odeio aquele desgraçado, acabem com ele viu, moçada.
E engasgando com o seu próprio sangue, o segundo-sargento sofreu com as dores estertorantes que precedem o óbito.
— Eu vos purifico.
Quando a purificação terminou, um jovem samurai surgiu envolto de um belo quimono branco. A espada Mugen continuou fincada no chão.
A alquimista foi até a katana, e retirando um frasco de um coldre, pingou duas gotas na espada, e no mesmo instante ela ficou menor. Do tamanho de uma espada normal.
— Nossa! Agora até eu posso manejá-la agora.
— Tome esse frasco, Tell, essa é a poção que altera o tamanho dos objetos. Pode lhe ser muito útil. Duas gotas aplicadas a um objeto diminuiu o seu tamanho original em um meio. Uma gota o faz voltar ao tamanho normal.
E assim ele adquiriu uma nova espada. Após, o grupo resolveu seguir para o próximo desafio, Letícia descansaria nesse turno, pois, Saragat usou a Cura Divina em si mesmo.
Na 5º Estação, o primeiro-sargento Stalin estaria lá para recebê-los.
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