Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves
Reunidos no pátio, todos acenavam para Z e agradeciam pela a sua hospitalidade.
Tell trajava uma calça jeans e apenas um colete vermelho, as botas tinham sido arranjadas por Letícia. As manoplas de couro permitiam uma melhor empunhadura na espada bastarda. A cinta da bainha tinha sido atravessada por sobre seu ombro direito.
— Após derrotarem os monstros, não deixem de voltar aqui.
— Como vamos voltar se não sabemos o nome do dono da casa, velhote?
O armeiro sorriu, ela tinha razão. Ele tinha feito mistério esse tempo todo com o seu nome. Agora estava na hora de revelá-lo.
— Meu nome é Zared al Názir.
— Pôdechar, seu Zared, a gente volta ainda hoje pra tomar um cafezinho.
— Assim espero, guria.
Tomando a dianteira do grupo, Saragat pediu para que todos adiantassem o passo.
— Tá bom, oh, nervosinho.
— Quanto mais rápidos terminarmos com isso, mais tempo teremos para descansar.
O mago-espadachim avançou a frente de todos, mas o grupo não o acompanhou.
— Acalme-se, Tell, não seja apressado.
Index repreendeu o garoto que expirou o ar desolado. Os outros riram dele. O mascarado e a gatuna pousaram as mãos em seu ombro e disseram-lhe:
— Vamos fazer isso juntos, pivete.
— Porque somos um grupo, mano.
Trung, esse som chocou os presentes. Duas crateras se formaram com a chegada da dupla de oponentes. E encenando uma esquisita performance, eles ironizaram os heróis.
— Ora, ora, ora, que comovente, irmão.
— O velho lema da amizade à toda prova.
Masashi, o oni vermelho e Seishi, o oni azul, os esperavam à rua. Os seus corpos emanavam um instinto guerreiro que chegava até mesmo a horrorizar os adversários.
— Olha, veja só se não são os irmãos bolos-fofos.
Saragat botou as mãos na cintura numa postura desafiante.
Os onis rangeram os dentes, as presas salientes despontavam para fora das bocarras furiosos.
— Não somos “bolos-fofos”, seu mascarado de uma figa.
— É, Masashi, nós somos fofinhos.
— Então eu vou bater em vocês até emagrecerem.
Rugindo como leões, os dois correram na direção do grupo.
Os libertadores de Bashvaia saltaram cada um para o lado. Rosicler e Letícia ficaram com Masashi, Tell e Saragat lutavam com Seishi.
— Olha só, dividiram o grupo para nos enfrentar.
— Se liga, gordão, vocês têm mais corpo, mas nós temos mais inteligência, sacou?
— Ah, não me chame de gordão.
O monstrengo se inclinou no chão e apoiou as duas mãos no solo pedregoso. Ele preparava uma poderosa conjuração para atacar. A ladina sacou o seu punhal.
— Uoh, lá vou eu!
Venha, seu tapado.
O monstro empreendeu uma desajeitada corrida na direção da alquimista. No meio do percurso ele espalmou as duas mãos e recitou aos gritos:
— Raijin-shô!
Suas mãozorras de dedos roliços ficaram rodeadas por uma corrente elétrica poderosa.
Há poucos centímetros de distância, a jovem alfonsina realizou uma alquimia.
— Transmutação Metálica – Escudo Sangue de Ferro.
No mesmo instante, ao leve toque do solo pelas mãos delicadas da alquimista, um enorme pentágono ferruginoso emergiu do solo barrando o ataque do oni.
Mas como ela parou o meu ataque?
— Ferro é um ótimo condutor elétrico. É só redirecionar a energia para o subsolo e não precisarei me preocupar mais com ela.
— Olé!
Shrink, ao ouvir esse som, o monstro sentiu uma brisa fresca em suas partes baixas. Ao virar para o chão, a sua calça estava arriada. A grossa corda que lhe servia de cinto tinha sido cortada pela ladra.
As duas garotas caíram na gargalhada. Era uma cena muito engraçada ver o inimigo tentando se vestir enquanto a outra parte da calça caia.
— Que troço feio, hihihihi.
— Mas que coisa “monstruosa”, hahahaha.
— Seishi, me ajuda aqui, maninho!
O outro Guardião do Portal estava ocupado demais, para finalizar o inimigo. A militar aplicou-lhe uma rasteira o fazendo cair desacordado no solo.
***
— Fujin-shô.
— ...Raer Umbrátil.
O impulso do vento lançado pelo oni atingiu em cheio o raio de sombras de Saragat.
O mago-espadachim aplicou um corte horizontal no oponente. Usando de sua agilidade o monstro se afastou, mas ele era lento demais para se defender de tantos golpes.
— Saia, seu inseto.
E socando o chão, ele criou uma cratera que arremessou o garoto pra trás.
Index saltou sobre o monstrengo lhe mordendo a orelha.
O encapuzado, se aproveitando da distração do adversário, tentou usar uma de suas conjurações mais poderosas no inimigo, mas o monstro, tentando se livrar da criatura, acabou acertando o mascarado com um safanão.
— Ah, esse desgraçado ainda me paga, viu.
— Saragat, você está bem?
— Como é que eu vou me sentir bem depois de tomar um tapa desse leão de chácara, seu idiota?
O garoto revirou os olhos. O alado continuava a dar combate ao oni, a distração proporcionava o momento perfeito para a dupla de combatentes.
— É agora.
Tell saltou no ar aplicando um golpe de sua espada no monstro.
Entretanto, sua lâmina não o atingiu, e ainda por cima, ele foi capturado. Abraçando o garoto pela cintura, Seishi tentava esmagá-lo com os seus braços.
— Cuidado, Tell!
— Pensou que ia me atingir facilmente, não é, menininho? Morra!
— Na verdade, saiu tudo conforme o planejado.
As sombras saiam de dentro da roupa do garoto rastejando como se fossem serpentes, elas enrolaram o monstro, imobilizando-o.
— Uoh, não c-consigo me m-mexer.
— Um bom conjurador como eu sempre tem um ás na manga, balofo.
Tell pegou o livro do bolso nas costas do colete e o abriu. Após recitar a célebre frase, a monstruosidade deixou o corpo de Seishi e foi parar nas páginas do livro.
— Um já foi, só falta o...
No outro lado, amarrado dos pés à cabeça, seminu e desacordado, Masashi servia de sofá para as duas garotas que lixavam as unhas e conversavam sobre amenidades.
— Mas já?
— Claro, Tell. Achou que a gente ia perder tempo com esse aí? Sai fora, mano! Temo mais o que fazer.
O encapuzado meneou a cabeça e juntou-se aos demais.
O neto de Taala olhou o livro, e o oni azul estava lá, nos mesmos trajes em que tinha sido purificado. Em comparação com o monstro anteriormente derrotado, a sua representação parecia menos feroz, ou melhor, era um tanto mais amistoso.
— O que foi, Tell?
— Veja, Saragat, todas as essências de monstros vão para o livro, mas nas suas páginas, eles não têm toda àquela aura de violência.
— São apenas imagens. Desse jeito não temos a mesma percepção de quando os vemos aqui. Pessoalmente, monstros são monstros.
O mago-espadachim recitou novamente a magia e a monstruosidade do oni vermelho deixou o homem.
Perguntando a Zared, ele disse que os homens pareciam lutadores de sumô vindos lá do Extremo Oriente de Lashra, depois do Deserto Sem-fim.
— Esperem, se me lembro bem, eles vieram acompanhados de um terceiro homem. A dupla formava a sua escolta pessoal. Ele era um samurai chamado Yojimbo. Dizem que ele é o maior samurai do seu tempo, acredito que ele seja o segundo-sargento Titã Cubo.
— Ah, beleza, melhorou tudo agora...
— Da pra parar com a encheção de saco, hein, oh, da capa-preta, tu reclama o dia inteiro, cansa não, é?
— Bem, seja lá quem for o nosso adversário, temos que derrotá-lo pelo bem de todos, vamos.
— Estou com o Tell. A nossa operação não pode parar por nada. Quem está comigo?
A alquimista estendeu as mãos e esperou que os demais acompanhassem a sua disposição.
Saragat pousou a sua mão enluvada na dela, e depois Tell, além, é claro, de Rosicler. Os Libertadores seguiram rumo aos próximos oponentes.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!