Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves
Na oficina, Rosicler, Index e Z faziam uma módica faxina, o local de trabalho do armeiro estava em cacos.
Uma aranha unócula e de tamanho desproporcional fugiu de uma vassourada enquanto o armeiro retirava o pó de um criado-mudo. Ele ficou confuso por alguns instantes.
— Index, tu tá fazendo o que aqui mermo?
— Bem, ajudando?
Z reclamava da sujeira e das teias de aranhas. Dezenas de espadas por fazer estavam dependuradas na parede. Mas ao invés de trabalhar numa delas, o homenzarrão pegou uma barra de ferro enorme.
— Rosicler, acenda a fornalha. Não se preocupe com a lenha, temos bastante.
A ladina iniciou o aquecimento da fornalha. As chamas eram tão altas que pareciam derreter a sua pele negra.
— Já está bem quente?
Ela teve que gritar para ser ouvida, mas o homem fez que não com a cabeça.
— Ainda não, nessa temperatura seria impossível malhar o ferro e retirar as suas impurezas.
A ladra revirou os olhos e continuou a animar o fogo com um abanador. A flama aumentou tanto de intensidade que fez chispas saltarem de dentro das chamas.
Rapidamente o armeiro a tirou de lá, não permitiria que sua mais nova aprendiz se machucasse.
A jovem dobrou as mangas e retirou a sua bandana, revelando um cabelo longo e cacheado. Z vestia apenas uma calça e um avental de couro cru.
— Está pronta?
— Estou! Não, espera aí, espera aí, falta só uma coisinha, coroa...
— E o que é?
— Tem um corujão olhando a gente...
Antes que o guardião pudesse fugir, ela o capturou pelas enormes orelhas e esticou todo o seu corpo como se fosse um estilingue.
— Não, Rosinha do meu coração, não faça issoooooooooooo!
Quando a garota o soltou, o orelhudo havia desaparecido pela chaminé do teto logo acima da fornalha.
Z revirou os olhos. Ele foi até o fogo e assoviou baixinho.
— A fabricação de uma boa espada pode demorar até cinco dias. Com ajuda de uma pessoa, eu posso fazer uma boa espada em até três dias. E então, você consegue, guria?
— Sim, se terminarmos logo a espada de Tell nós poderemos trabalhar na fabricação de minha arma.
— Está bem, mas preste atenção: se falharmos, não teremos mais uma semana, e sim apenas quatro dias, e ainda perderemos uma boa barra de ferro no processo.
— Eu estou pronta!
Com essa resposta positiva, o armeiro calçou o par de luvas grossas e pegou o malho. Ele explicou a gatuna que a constituição do aço nada mais era do que o ferro misturado ao carbono. Cada espada, assim como uma poção mágica, tinha sua dosagem correta. Quanto mais carbono era acrescentado à liga, mais rígida e quebradiça seria a lâmina.
— E qual será o modelo de nossa espada, coroa?
— Sem pressa, guria. A espada se faz por si mesma, nós somos apenas ferramentas nesse processo.
— Muito loco esse troço!
A barra de metal passou horas vermelhando na fornalha. Quando Z julgou-a no ponto certo, ele a retirou de lá. Indo até uma prensa pneumática, o armeiro deu-lhe diversas pancadas. Bang-bong, o metal pesado lançava a sua agressiva melodia pelo ar. Lascas de fogo saltavam e escorriam pela extremidade da prensa escorrendo pelo piso.
— Se liga, parece até fogos de artifício!
— Ora, pare com isso, guria. Preste atenção, pois quando eu cansar, você é quem fará todo esse trabalho, e nenhum de nós dois pode parar, ouviu?
— Tudo bem, manda brasa!
— Eu posso até me arrepender no futuro, mas eu gosto de você, guria.
A barra foi posta na fornalha mais uma vez. O artesão chacoalhou a sua barriga flácida e disse pedagogicamente para Rosicler:
— Agora nós estamos retirando as impurezas do aço. O oxigênio, por exemplo, deixaria a nossa lâmina bastante fria, e até condensá-la-ia se assim deixássemos.
— Tá ficando complicado...
— Quer desistir?
— Que desistir o quê? Um Cochrane nunca desiste!
Z enxugou a testa com uma flanela e fixou os seus olhos na ladina que alimentava as chamas com um fole. Tanto observou que a garota ficou sem graça:
— Num me diga que eu tô fazendo errado?
— Não, ao contrário, Cochrane, hã? Seus amigos sabem disso?
— Não, ainda não.
— Mas deveriam, não é todos os dias que bandidos como ele viram herói...
A ladra nada respondeu, apenas continuava a trabalhar com afinco. O suor caia torrencialmente de sua face.
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