Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves


Capítulo 10
Capítulo 2: O armeiro - Parte 4




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— Eu já fui um alfaraz, naquela época, eu era apenas um jovem atrás de aventuras. Mas as minhas responsabilidades eram grandes demais para alguém com sede de fama como eu. Quando o Mago Dourado começou a recrutar soldados, eu logo me alistei como voluntário...

Continuando a sua narração, o velhote dizia-se nascido no antigo Deserto Sem-Fim, hoje conhecido como o grande país de Oásis, um dos únicos a não se curvar ao Reinado desde a sua fundação. Z servia a um poderoso e sonhador alcaide.

Ele explicou que os povos do deserto sempre foram livres da influência dos Habsburgos, mas nunca da sua própria rivalidade e de seus egos.

— Muitos de nós comungávamos com a Horda e obtinha vitórias militares sobre os seus entes humanos, uma vergonha...

Então ele deixou a sua terra natal e seguiu a companhia do Mago Dourado. Nessa mesma época, ele estava investindo contra uma poderosa general dos monstros, ele não se lembrava o nome, mas era uma súcubo.

A Primeira Grande Guerra visava destruir os monstros de uma vez por todas. O objetivo por mais cruel que possa parecer, era o genocídio, a completa extinção deles.

— O senhor conheceu Taala, Taala de Lisliboux?

— Não meu, caro Tell, nem Taala, nem Zarastu, nem aquela outra, como é mesmo o nome dela, ah, eu sempre me esqueço...

— Mas que sujeita apagadinha, não?

— Numa lenda, Rosicler, é comum que alguns se sobressaiam aos demais. Existe mais coisas nessa lenda que ainda descobriremos, mas o que a minha memória nunca esqueceu foi o Mago Dourado, apenas sua presença inspirava força e confiança. A coalizão de monstros tinha ordem de só combatê-lo com grandes contingentes, era um grande guerreiro...

De acordo com Z, o lendário herói tinha melenas douradas, olhos claros e pele branca. Usava uma túnica dourada como os antigos magos, e embora ainda fosse jovem, demonstrava uma sabedoria que superava a de muitos anciões.

E sim, ele dominava todos os sistemas de magia, embora não fizesse uso da conjuração, ele se sentia ofendido em usar da força de um deus para combater os seus adversários.

— Viu, Saragat, ele não gostava de apelar.

— Quem fala, os alquimistas usam diversos equipamentos e artefactos...

— Não briguem, não briguem, é apenas uma lenda...

— É, deixem o coroa falar!

Z então lhes contou o fatídico dia em que a sua vida mudou radicalmente. No início da Segunda Grande Guerra, indo na direção Leste de Lashra, com um regimento já em seu comando, recebeu uns violentos ataques de orcs e capelobos. Esses últimos eram monstros traiçoeiros, eles desnorteavam os humanos com os seus estridentes rugidos.

Com os seus corpos semi-humanos e focinho de tamanduá, devoravam os cérebros dos homens, enfiando a sua língua salivante dentro dos ouvidos e nariz dos adversários.

— E então, senhor Z, como o senhor virou um armeiro?

— Acalme-se, guri, já vou chegar lá, Tell, já vou chegar lá... já estávamos recuando, havíamos perdido metade do nosso regimento nesta luta, e a Horda avançava com mais fúria a cada corpo tombado no campo de batalha. Defendendo o perímetro para que outros pudessem evadir, eu fui golpeado na coxa.

E dando pequenos cascudos na coxa, ele indicou o lugar da perfuração.

— A dor foi tão grande que só pude gritar e desfalecer. Por sorte, eles acreditaram que eu estivesse morto, sobrevivi por pura sorte...

De acordo com o narrador, a lança havia perfurado dois dos músculos da coxa: o músculo sartório e o músculo semimembranáceo, devido esse incidente, até hoje ele coxeava.

— E como conseguiu se recuperar, velhote?

— Bem, guria, eu posso dizer que foi a sorte novamente. Uma caravana me encontrou no campo de batalha e me levou até a Federação de Comércio do Norte. Um abrigo me recolheu e fiquei curado ao longo dos meses, embora os ferimentos tenham deixado graves sequelas. O médico do abrigo falou que se eu não tivesse aquele porte físico, com certeza teria morrido. Ele ainda pensou numa amputação, mas graças as minhas orações ao meu deus Al Q’enba, nunca chegou a esse ponto...

Após sua alta, ele ficara depressivo. Vagou a esmo pela 3º Estação vivendo como um mendigo, comendo da mão dos outros até que algo ocorreu.

— Um senhor muito generoso passou por mim. Ele não me viu, estava escuro, mas de dentro do beco eu vi três malfeitores atrás dele. Não pude me conter, saltei de onde estava e impedi que ele fosse assaltado. Ficou tão agradecido que me deu uma chance, mas depois de tanto tempo sem ter a ajuda de ninguém, eu tive medo...

O velhote insistira e resolveu descobrir mais sobre ele. Diante das pressões, Z contou toda a sua história para ele. O velho disse que não se interessava pelo seu passado e sim se o guerreiro desonrado gostaria de escrever um novo futuro.

— O resto da história vocês já sabem, eu me tornei um famoso armeiro, um talento que eu nem mesmo desconhecia, nem mesmo sabia que existia.

Quando ele terminou a sua narração, o grupo já adormecia. Z também foi se deitar.


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