Um milagre como você escrita por Valk


Capítulo 1
Capítulo 1 - O amor é um milagre


Notas iniciais do capítulo

Essa one é toda sua, Pam!

Tenham uma boa leitura e encontro vocês nas notas finais (e nos comentários, por favor)!



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Comecei a ouvir as primeiras batidas de Something. Era a hora. Olhei para baixo e avaliei meu figurino: um vestido branco que se assemelhava a uma camisola, um decote bem generoso para mostrar uma mulher tão sedutora a ponto de fazer o compositor da música não querer deixá-la nunca mais. Sorri de canto com esse pensamento. Quem me dera ser alvo de tamanha devoção. 

Passei as mãos dos dois lados do quadril. Os cabos estavam bem presos e encaixados como sempre. Mas nenhum cuidado é exagerado quando pretendo fazer acrobacias a mais de 5 metros do chão. Ainda mais sendo a minha última apresentação.

Hoje não é dia de tristeza, Bella. É o dia de fechar com chave de ouro os últimos 7 anos entre os melhores artistas circenses do mundo. Não é uma despedida fácil, pois mais do que um local de trabalho, o Cirque du Soleil virou uma família e como uma família saudável e unida, todos ficariam felizes por minhas escolhas mesmo que nem eu soubesse direito o que estava fazendo. 

Quando a palavra “something” ecoou nos meus ouvidos, eu já havia iniciado o meu giro enquanto os cabos me erguiam acima dos olhares dos telespectadores. Quando cheguei no ponto mais alto, olhei para os lados e vi Jane e Bree na mesma posição que eu. Tudo isso durou menos de 20 segundos, mas para nossos olhos e corpos treinados era bastante tempo.

Descemos lentamente fazendo um giro com a perna direita dobrada e o braço esquerdo esticado até chegar próximo ao chão. Uma por uma fazia sua coreografia com o bailarino que estava no palco. James era um dos artistas mais disciplinados que já conheci. Perfeição era o mínimo que ele esperava de si mesmo e de todos ao seu redor. E eu que não sou louca de fazer por menos. 

A ponta dos meus dedos tocaram no chão. James estava na minha frente, passei as costas da minha mão direita sobre o seu rosto, expressão sofrida de quem quer aquele homem, mas sabe que seu coração pertence a outra. Ele pega com veemência o meu braço e o afasta me fazendo girar sobre meu próprio eixo enquanto sou erguida a alguns centímetros do chão. Permaneço executando uma explosão de movimentos ao redor de James, até que o cabo me puxa mais alto e eu começo a balançar por todo o cenário como se estivesse voando. 

É um número um tanto lírico e dramático, mas não tanto quanto a minha segunda apresentação. Quando finalmente tenho os cabos retirados do meu corpo, tenho menos de 10 minutos para trocar o vestido branco por um vermelho e colocar uma peruca ruiva. Mas mais do que isso. São poucos minutos para entrar no personagem. 

Coloco o colar que logo irei entregar para Brandon, o garotinho de 8 anos que contracena comigo neste ato. Ouço gritos do lado de fora do camarim e sei que estão me apressando. Passo como uma bala por todos os meus colegas de trabalho que estão esperando para entrar, parei apenas para enrolar corretamente o tecido e a argola em meus braços. Pois é, sem cabos de segurança neste número. 

Não dá para explicar e emoção da visão que estou tendo agora, a vontade é de chorar, mas apesar de “A Day in the Life” ser trágica e dramática, as lágrimas não faziam parte da encenação. Vi o carro do lado esquerdo saindo de cena. Chegou a minha hora.

Desci como uma mãe desesperada para acudir seu filho, corri até a cama onde Brandon estava, o abracei e beijei sua testa como quem diz “está tudo bem, meu filho, pode dormir agora”. Levanto da cama e antes de ir, ele segura em meu braço, tiro o colar e coloco em suas mãos com devoção, faço um carinho em seu rosto e começo a me afastar dele de forma lenta, com a mão no peito. Viro de forma abrupta em direção aos tecidos e começo a me enrolar neles, a rodar e espernear como se estivesse sendo presa e logo sou erguida até o teto.

Naquele local não consigo enxergar nada e ninguém consegue me ver também. Fico 45 segundos parada me segurando nas argolas para não cair. Quando as luzes se acendem começo a descer e com os pés no palco enceno um acidente de trânsito, sou arremessada para o alto, faço uma série de acrobacias, fico de cabeça para baixo rodando por todo o diâmetro do palco, me enrolo e desenrolo várias vezes do tecido até meu corpo repousar no chão. 

Quando o número acaba, ouço os gritos e aplausos, sou erguida pelo cabo das argolas e sumo mais uma vez da vista dos telespectadores. Pela última vez. Dessa vez, ao descer nos bastidores, as lágrimas caem livremente. Os poucos artistas que ainda estão ali me oferecem abraços, apertos de mão e um conforto que vai me fazer muita falta.

Alguns minutos depois, ainda tentando segurar a emoção, o espetáculo acaba e todos os artistas vão para o palco agradecer ao público. Quando chego ao meio, ouço um coro gritando meu nome. Olho para os lados confusa e vejo James chegando com um buquê de margaridas e Victoria fazendo chover confete em mim. Não consigo entender o que Demetri diz ao fundo, mas sei que está anunciando minha saída.

É assim que deixo para trás o sonho mais lindo que já realizei. Feliz por ter chegado até aqui mesmo com tão pouco incentivo em minha vida pessoal. Grata por todos que me ajudaram a sobreviver em todos estes anos na estrada. Animada porque eu sei que tenho sonhos muito maiores para serem realizados. 

(...)

Acordei na manhã seguinte com as dores de sempre, mas ainda assim relaxada. Era como um primeiro dia de férias e, mesmo sem muitos planos, eu queria aproveitá-los ao máximo. Começando pelo almoço que daria hoje em minha casa para as meninas do trapézio, as minhas amigas de turnê. 

Levantei em um pulo, pois toda a minha disposição me custou 12 horas de sono. Recolhi as roupas que estavam espalhadas pelo apartamento, coloquei alguns morangos e leite para bater no liquidificador e esse seria o meu café da manhã, pois em duas horas, minhas convidadas iriam chegar. 

Aproveitei para dar uma organizada em livros, papéis e alguns acessórios de ginástica que estavam fora do lugar. Dependendo dos meus próximos passos, logo tudo isso estaria dentro de uma caixa de papelão, prontos para uma mudança daquelas. 

Sala organizada, roupas recolhidas, vitamina de morango prontíssima. Agora era só sentar e tomar o meu café acompanhando um bom canal de notícias. O Instagram deve servir. 

E foi assim que passei a próxima hora imersa nas fotos da premiere de Avatar 2, posts motivacionais e muitos, muitos TBT’s. Um deles me prendeu a atenção de verdade. Era de Rosalie Hale. Ou melhor, Rosalie Cullen como está descrito em seu perfil. 

Rosalie e eu nos tornamos amigas inseparáveis no high school, unidas pelo grupo de líderes de torcida, nunca tivemos sequer uma discussão mais séria. Nós nos entendemos como ninguém. Até eu precisar partir. 

Muitas pessoas acham que se aventurar em uma cidade grande é o sonho de todo mundo que nasce e cresce em Forks. Mas esse era apenas o meu grande objetivo. Meninas como Rosalie, Jessica, Angela e tantas outras que estudaram comigo conseguem encontrar o seu propósito exatamente no lugar onde estão. Queria eu ter esse dom. Depois de conhecer mais de 60 países, ainda não encontrei nenhum em que pudesse chamar de lar. 

Cliquei duas vezes sobre a foto de uma Rose sorridente ao lado do seu marido e dos seus filhos Andrew e Joshua. Acho que a última vez que nos falamos foi quando o caçula nasceu e, se não me falha a memória, Josh deve estar com seus 3 anos agora, enquanto Andrew já completou 5. 

Antes que continuasse os pensamentos melancólicos, escutei o interfone tocando e levantei em um pulo. Jane, Bree e Victoria já haviam chegado e eu nem mesmo preparei a salada. Péssima anfitriã! 

— Bella! — Jane gritou já pulando em meu pescoço. A mais animada com certeza! 

— Oi, meninas! Já posso dizer que estava com saudades? — disse abraçando uma por uma. Elas eram o mais perto que cheguei da sensação de estar em casa. 

— A menos que pretenda tomar o lugar de Aro, é melhor ir se acostumando com nossa falta. — disse Vic. Rimos alto com isso. Aro era o palhaço mais velho em turnê do Cirque du Soleil. 

— Não é pra tanto! — respondi balançando negativamente.

— Por que não sinto cheiro de comida neste apartamento? — perguntou Bree com os olhos em fenda me julgando. Dei um sorrisinho amarelo e já ouvi mais risadas, dessa vez rindo da minha cara.

Nos próximos minutos minha cozinha virou o centro de uma força tarefa para que alguma coisa decente e comestível saísse ainda hoje. Jane havia feito uma sobremesa de limão que parecia divina, Victoria e Bree garantiram as bebidas, então só faltava a minha parte. 

— Então, Bella… — começou Jane. Percebi que ela queria falar comigo desde que chegou, mas não sabia como começar.

— Diga, Jane. 

— Quais são os planos daqui pra frente? — perguntou ainda meio receosa enquanto cortava as cenouras. 

Essa era uma boa pergunta. Muito boa, eu diria. Tão boa que eu nem sabia a resposta. Eu tinha sim muitos sonhos, mas como colocá-los em prática, eu não sabia. Na verdade, nem dependiam só de mim, eu só não sabia como explicar. 

— Não vai me dizer que não pensou em nada quando decidiu pedir sua demissão. — disse Bree. — Pegou todo mundo de surpresa, foi literalmente do dia pra noite, então é melhor que você tenha um plano muito bom. 

Eu já disse que Bree é a juíza do nosso grupo? Não literalmente, mas, bem dá pra perceber que julgar é o que ela faz de melhor. Com carinho e amor, claro. 

— Ou você está pensando em voltar para sua cidadezinha, comprar uma casa grande com jardim e cercas brancas, se casar no quintal e passar o resto dos dias correndo atrás de 5 crianças? — questionou Victoria brincalhona.

Confesso que a imagem me pegou de jeito. Era confortável me imaginar no silêncio e na calmaria de Forks após dois anos presa na correria de Las Vegas. E essa casa grande com jardim foi onde cresci, corri com meus amigos, dei as minhas primeiras piruetas. O casamento e os filhos… Bom, talvez seja algo herdado da minha cidade conservadora e pacata, mas eu queria sim. Muito. Era um sonho que veio antes e que sempre foi muito maior do que estar no Cirque du Soleil. 

— Olha só a sua cara! Não é possível, Bella! — gritou Jane com a boca aberta e os olhos esbugalhados. 

— É isso mesmo que ela quer! — exclamou Bree. 

— Eu estou em choque! — Victoria concluiu. 

— Se acalmem! — gritei largando a colher na bancada e tampando a panela de carne. — Vocês nem me deixaram falar. 

— Então se explique. — respondeu Bree mais pacientemente. 

Suspirei enquanto me sentava junto com as meninas à mesa da cozinha.

— Eu sempre quis muito sair de Forks, não me arrependo das minhas escolhas. Mas isso nunca teve relação com ser uma mulher independente e solitária que só vive para o trabalho na cidade grande! — disse com veemência.

— E é assim que você se vê? — perguntou Vic. 

— Não é preciso pensar muito, não é? — é tão óbvio. — Não quer dizer que eu não sou feliz. É só que eu seria muito mais se eu pudesse ter tudo junto: trapézio, amor, casa e família.

— Eu nunca nem vi você paquerando alguém, nunca ia imaginar que você queria um relacionamento! — disse Victoria. 

— Eu sabia que não iria encontrar nada aqui. — disse lembrando de uma tentativa muito frustrada. 

— Tudo culpa de Jacob! — exclamou Jane irritada. 

— Jacob? O cuspidor de fogo? — perguntou Bree espantada.

Se não fosse trágico seria até cômico a forma como Bree se lembrou dele. Infelizmente, além de cuspidor de fogo, Jacob cuspia muita merda também. Foi de longe o pior relacionamento que alguém como eu poderia ter. Ele odiava fazer planos para o futuro, mas garanto que se fizesse, nenhum deles envolveria sequer uma casa compartilhada quanto mais casamento e filhos. 

— O que deu errado? — perguntou Vic.

— Digamos que Jacob prefere ter pés e mãos algemados, ser colocado dentro de um caixão e arremessado no East River com 90 quilos de chumbo a ter que se relacionar seriamente com alguém. — disse fazendo alusão ao feito do grande mágico Houdini. Que Deus o tenha

A gargalhada estrondosa de Victoria acabou me alertando que ainda tínhamos um almoço a terminar. Enquanto as meninas temperavam a salada e organizavam a mesa, eu tirei do forno uma carne cozida com batatas que, modéstia a parte, era de comer rezando. Peguei alguns molhos no armário e levei tudo para a mesa. 

Fizemos toda a refeição em silêncio, vez ou outra escapava um gemido de satisfação pela comida ou um elogio. Ao final, quando cada uma já tinha esvaziado duas taças de vinho e a sobremesa já estava no fundo da travessa, sentamos no sofá e voltamos ao assunto anterior.

— Ai Bella, só você mesmo para se envolver logo com Jacob. — comentou Bree entre risos.

— Ela e metade das bailarinas e figurinistas daquele lugar. — completou Jane. — Me desculpa, amiga, mas se tivesse pedido minha opinião antes eu teria te alertado da quantidade de mulheres pra quem ele já cuspiu aquele fogo. 

— Não posso ser julgada por tentar. Ele até que tem um bom papo, é charmoso, não estava escrito “vou ferrar com você” no meio da testa. — me defendi. — Mas não quero mais lembrar desse passado triste.

— Triste? Foi deprimente.

— Era melhor cair do trapézio de cara no palco que na cama desse homem! 

— Trágico, muito trágico.

Com amigas assim, eu dispenso inimigos, haters e afins. Peguei as almofadas que estavam em minhas costas e acertei na cara das três de uma só vez.

— Eu realmente odeio vocês! — gritei tentando desviar e arrumar munição para a guerra de almofadas que começamos. Conselho: nunca comece algo assim depois de duas taças de vinho, potencializa o efeito do álcool. 

Depois de sentir uma gota de suor escorrer da minha testa deitei no sofá enquanto cada uma se ajeitava em um canto da sala. Eu precisava agora de um copo de água gelada, um bom banho e cama.

— Sabe o que você precisa, Bella? — perguntou Victoria.

Será que ela adivinhou o que eu estava pensando?

— Uma ida até a Floresta Mágica. — completou Jane. Sim, uma ida até a… Que raios é Floresta Mágica? 

— Lá vem… — comentou Bree divertida.

— Não era bem isso que eu iria falar, mas… — Victoria deixou no ar. 

Antes que pudesse verbalizar o que estava pensando, Jane continuou:

— Existem várias atrações, trenzinho, carrossel, mas não é isso que nos interessa agora. — disse se aproximando de onde eu estava e olhando tão profundamente nos meus olhos que eu comecei a acreditar no que me falava. — Lá tem uma casa e nessa casa tem um Papai Noel. Ele é especialista em milagres. 

Não sei se minha mente um pouco alterada estava raciocinando de forma mais lenta, mas não consegui acompanhar Vic e Bree nas risadas. Fiquei até um pouco reflexiva, confesso.

— Por que eu precisaria de um especialista em milagres?

— Porque você quer um amor, filhos, família e não tem nada em vista ainda. E se me permite dizer, você não está ficando mais nova ou mais fértil a cada ano que passa. — delicada como um coice de mula, essa é Victoria. 

— Essa doeu até em mim. — comentou Bree se recuperando da risada.

— E você acha que só um milagre para eu ter isso tudo? — perguntei ficando cada vez mais desolada. Apesar de difícil, eu acreditava que era possível, bem lá no fundo da minha mente, eu ainda acreditava. 

— Não me entenda mal. — disse Jane com o olhar preocupado. Ela se ajeitou no tapete ao lado do sofá e segurou em minhas mãos. — O amor não é uma espécie de milagre naturalmente? Duas pessoas que não se conhecem direito e de repente criam uma conexão, se esforçam para estar juntas, querem cada dia mais uma a outra, fazem planos, sonham juntas, realizam juntas. Parece algo difícil de acontecer todo dia, por isso é um milagre, sim. 

É verdade. Não conseguiria descrever melhor um relacionamento sem usar a palavra milagre. Conviver com familiares, amigos, colegas de trabalho já é algo complicado, mas se unir a alguém que vai construir toda uma vida junto com você, uma casa, um lar, filhos, uma família completa, isso é tão diferente, complexo, mágico. 

— E você já foi neste lugar, Jane? — perguntou Vic realmente interessada desta vez.

— Nunca. — respondeu me deixando desanimada. Como ela me indica algo que nem sabe se funciona? — Mas eu sei que funciona, porque conheço pessoas que foram.

— E por que você nunca foi? — questionei. 

— Porque eu acredito que esse tipo de ajuda a gente só solicita uma vez e tem que ser algo que você queira muito, mais do que qualquer outra coisa, pois pode ser seu último pedido. 

Confesso que considerei a ideia de Jane. Ela era muito boa nos argumentos. 

— Eu ia dizer que a Bella precisava ficar sozinha para tomar um bom banho e pensar no que vai fazer da vida. — disse Victoria. Assenti positivamente e mesmo meio cambaleante, me levantei pronta para me despedir de todas.

Me ofereci para descer até o portão do prédio, mas elas não fizeram questão e logo eu acenava uma última vez enquanto elas entravam no elevador. Tranquei a porta do apartamento e fui direto para o banheiro sem querer saber da bagunça que havia feito na sala. Eu tinha muito o que pensar. 

Pensar foi a última coisa que fiz quando deitei a cabeça no travesseiro. Mas os sonhos vieram com força e todos eles envolviam um rapaz alto que segurava minhas mãos enquanto eu observava duas crianças que pareciam estranhamente comigo. 

(...)

No dia seguinte eu sentei na minha cama com um caderno em mãos pronta para traçar um plano para a minha vida. Aos 28 anos e tendo a profissão que tenho, ter uma vida saudável, aprender um novo idioma e viajar já não são metas mais. E isso é uma benção e uma maldição.

 Talvez eu possa trocar de carro? Comprar uma casa é uma boa, mas onde? Trabalho é importante também, não vou passar o resto da vida sem fazer nada. Talvez tentar um emprego como professora de ginástica? Ou quem sabe… abrir minha própria escola! 

E foi assim que meu caderno de metas virou uma série de rabiscos impossíveis de compreender. Pensa, Bella, com calma. Pensa! Com calma! 

Resolvi procurar na internet alguma inspiração. Com certeza teria alguma influencer compartilhando suas metas no YouTube. Tenho fé que alguma delas vai me dar uma luz. 

Cliquei no primeiro vídeo que achei e levei um choque com o anúncio. Venha para a Floresta Mágica, onde os sonhos se realizem e milagres acontecem. Está de brincadeira, não é?

O anúncio durou exatos 5 segundos, mas foi o suficiente pra me deixar com a pulga atrás da orelha. Por fim, o vídeo da tal influenciadora não me ajudou em nada. E nem os outros 18 vídeos que assisti depois. 

Aparentemente, na minha idade, a maioria já tem casa, marido e planejam o segundo filho. Como se eu precisasse de mais esse lembrete de que estou ficando para trás. 

A Bella de 10 anos atrás estaria um pouco confusa sobre o rumo que as coisas tomaram. Eu sabia desde os 8 que seria trapezista, se o meu ótimo desempenho na ginástica não demonstrasse isso, a minha emoção a cada acrobacia que via nas apresentações de circo dizia por si só. 

Mas eu também sabia, aos 12 anos, que eu encontraria um amor. Ele não seria como os príncipes da Disney, mas seria tão protetor e amoroso como meu pai foi enquanto esteve conosco. 

Quando enfim fiz 16, enquanto minhas amigas passavam a tarde se divertindo com o namorado, eu estava trabalhando na creche da cidade. E ali eu soube que seria uma mãe um dia. Eu conseguia me ver confortavelmente rodeada de crianças, amamentando uma enquanto ensinava o dever de casa para outra e evitava que um terceiro morresse enquanto corria pela casa. 

Ri com esse pensamento. Eu achava que tudo isso aconteceria antes dos 25 ao mesmo tempo em que eu seria aclamada na minha profissão e teria dado a volta ao mundo. É engraçado como cada ano parece uma eternidade quando somos mais jovens, é tanta coisa que queremos faze. Hoje me parece pouco tempo. 

Não perca mais tempo!

Tive um sobressalto ao ouvir uma outra voz dizendo isso. Ao olhar para a tela do notebook vi que era mais um anúncio. 30 segundos e sem chances de pular. Revirei meus olhos. 

Se neste Natal você quer viver uma experiência que o dinheiro não pode comprar, a Floresta Mágica é o seu lugar. 

Imagens infantis e bastante inocentes começaram a aparecer enquanto o narrador dizia ao fundo sobre todas as atrações do parque. Parece um lugar comum pra mim. 

Ao final do anúncio, um banner dizia que os ingressos estavam acabando e esse era o último final de semana que ele estaria aberto. Logo as palavras de Jane vieram à minha mente.

O amor não é uma espécie de milagre naturalmente?

Bom, eu não tinha nada a perder e nenhum plano em mente, uma visita ao Papai Noel não vai me atrapalhar em nada. 

Entrei no site e fiquei surpresa com o tamanho da burocracia para se conseguir um ingresso. Escreva uma cartinha com seu pedido. Seja detalhista! Estava tentada a pular essa parte, mas vi o asterisco em seguida indicando que era um campo obrigatório.

Será que isso significa que eu não vou precisar dizer em voz alta para o Papai Noel que eu quero um amor? 

Escrevi a tal carta, deixei meu nome, telefone e, decidida a finalmente passar o Natal com minha mãe e minha avó, coloquei o endereço de Forks. Como se eu tivesse esperando que o presente chegasse embrulhado na porta da minha casa na noite do dia 24. Chacota! 

Cliquei em confirmar, paguei a taxa de 12 dólares e agora era só esperar o código chegar por email e pronto! 

Para não deixar a ansiedade por esta visita me abater, resolvi começar a arrumar minhas malas para Forks. Ainda não havia contado para minha mãe que estaria voltando para o Natal pela primeira vez em 7 anos, mas não queria que ela fizesse disso um grande evento. Só enviei para ela uma mensagem de bom dia como em todas as manhãs. 

Eram poucas as roupas que eu tinha. Na maior parte do tempo eu estava com uma legging e um top treinando ou o collant base ensaiando os movimentos do trapézio. Em compensação as fotos e recordações dos lugares que já visitei eram muitas e me tomaram um bom tempo para embrulhar e encaixotar tudo. 

Não foi com espanto que perdi a hora do almoço e quando olhei para o relógio, já estava na hora do meu encontro. Com o Papai Noel. Numa sexta-feira à noite. Em que ponto chegamos hein, Bella? 

(...)

Você chegou ao seu destino.

Eu nem precisava desse aviso do GPS, pois a quantidade de luzes, brilho e enfeites de Natal me alertou sobre a Floresta Mágica 500 metros antes. 

Que lugar!

Desci do carro encantada com tudo que estava à minha frente. Logo na entrada fui recebida por dois soldadinhos de chumbo que fingiam marchar e cumprimentar os visitantes. Era tão fofo! 

O caminho parecia ser todo coberto por uma grama verde e tão viva, como se eu estivesse caminhando sobre os galhos de um pinheiro de Natal. Aconchegante. 

Várias crianças passavam correndo por ali enquanto os pais olhavam pra tudo com um espanto alegre. Esse lugar foi feito pensando nos adultos ao que parece. 

Eu só queria rir de tudo o que via. Se em algum momento duvidei da magia daquele lugar, eu não duvido mais. Parecia que ali era assim o ano todo e não apenas um evento montado para o Natal. Se existisse realmente uma cidade do Papai Noel, com toda certeza ela estaria bem aqui. No meio de Las Vegas.

— Logo a neve irá cair, a senhorita não gostaria de um lugar para se aquecer? — me abordou uma mulher vestida de bailarina.

Ela tinha um sorriso enorme no rosto, parecia realmente feliz em me ver ali. Será que eles fazem o mesmo treinamento que os artistas da Disney? Tudo muito bem pensado. 

— Na verdade, eu estou procurando a Casa do Papai Noel. — respondi.

— É claro que está! Vamos pegar o trem, eu te levo até lá.

Ela estava tão animada que fiquei até sem graça de não aceitar a ajuda. Mas deixo bem claro que em dias normais, no meio de uma avenida qualquer, ela não me passaria nenhuma confiança. 

O passeio de trem foi divertido. A bailarina, que descobri se chamar Alice, tinha uma voz doce e entoava as músicas natalinas de forma muito animada. Me peguei cantando uma ou duas músicas junto com ela e ao fim caímos na risada. 

Quando recuperei o fôlego, percebi que estávamos há muito tempo nesta viagem. 

— Falta muito? — perguntei.

— Não, é bem pertinho.

Até pensei em retrucar, mas comecei a sentir um cheiro doce, forte e… delicioso. Parecia que alguém estava tirando uma grande fornada de biscoitos de gengibre bem perto dali.

— Está sentindo? — perguntou Alice respirando bem fundo.

— Não tem como não sentir. É delicioso! — disse já com água na boca.

— Papai Noel está prontinho para te receber. Vamos! — avisou Alice me puxando para fora do trem. 

Assim que consegui firmar meus pés no chão, reparei que o lugar estava tomado por neve. Eu não tinha visto um só floco há meses e do nada parece que nevou aqui a semana inteira? Por quanto tempo eu viajei afinal? Olhei para trás confusa e não encontrei nem trem, nem Alice e nem os trilhos do trem. 

Agora era a hora perfeita pra eu correr. Mas pra onde? 

— A mocinha não vai entrar? — ouvi uma voz forte e suave atrás de mim. Me virei mais uma vez e pude ver um chalé bem… convidativo. Olhei pela janela e vi um homem alto, vestido todo de vermelho com uma xícara e um pratinho de biscoitos nas mãos.

Homem alto, de vermelho, xícara e biscoitos? 

— Papai Noel! — gritei com espanto tapando minha boca logo em seguida. Parece que eu vou acordar a qualquer momento de um sonho bem maluco. 

Ouvi a risada do tal homem. Quer dizer, do senhor que estava dentro da casa. Ele caminhou até a porta do chalé e a abriu me convidando para entrar.

— Você está um pouquinho atrasada, minha filha. — respondeu com carinho. Que novidade. Parece que toda minha vida é um atraso mesmo. — Pare já com essa mente resmungona, criança, hoje é o dia para colocar tudo no seu devido lugar.

Espera um momento.

Ele estava lendo a minha mente? Em nenhuma história de Natal dizia que o Papai Noel tinha esse poder! Que inovação é essa nessa altura do campeonato? 

Ouvi mais uma vez sua risada e tive a certeza de que havia algo estranho com esse senhor. Cala a mente, Bella, ele tá ouvindo tudo! 

— As pessoas ainda se surpreendem com tudo que sou capaz de fazer. — falou o senhor se sentando na poltrona que já vi muitas vezes em shoppings e na TV. 

Varri o lugar com os olhos e se não fosse pelo Papai Noel em pessoa no meio da sala, eu diria que é uma casa normal de algum velho lenhador aposentado. E talvez viúvo porque dá para perceber um toque feminino na decoração.

E não só na decoração. Os biscoitos bem guardados nos vidrinhos não sugerem que foram comprados na padaria ou sequer confeitados pelo senhor que está me olhando agora. 

— O que seria de mim sem a senhora Noel, não é mesmo? 

Então havia uma senhora Noel mesmo. Interessante. 

Papai Noel me estendeu o pratinho com biscoitos e eu logo aceitei. Era deles que eu senti o cheiro quando estava no trem, não dava para recusar. O leite eu não fiz questão, mas se fosse um chá, eu teria aceitado também. 

— E então… — começou o senhor Noel. — Aqui é como você imaginava?

Estranhei a pergunta. Achei que iríamos para os finalmentes e ele iria perguntar qual era o meu pedido. Mas achei interessante quebrar o gelo e me deixar à vontade assim. Nunca fiz isso antes, nem mesmo quando criança fui incentivada a fazer pedidos para o Papai Noel. 

— Bom… é realmente mágico aqui. — respondi simplesmente enfiando todo o biscoito na boca. 

O lugar é muito bonito e me surpreendeu bastante, mas o Papai Noel na minha frente era incrivelmente familiar. Obviamente já vi várias réplicas dele. Bem, ele era uma réplica também, a menos que eu estivesse considerando que realmente exista um idoso por aí invadindo casas pela chaminé e deixando presentes para crianças. Todos eram réplicas porque Papai Noel não existe, por Deus!

— E quem você acha que eu sou? 

Um bruxo. Respondi mentalmente. É isso aí. Já que consegue ler a minha mente, não vou nem me esforçar para abrir a boca.

— Como em Harry Potter? 

Minha boca abriu de espanto. O Papai Noel sabia o que era Harry Potter? Que maneiro! 

— Você é bem moderno, sabia? — perguntei de forma retórica e mesmo assim ele acenou positivamente com a cabeça enquanto abria um sorriso presunçoso. E convencido também. 

— Não gostaria de se sentar? — perguntou apontando para a poltrona à sua frente. 

Pensei em recusar para que a gente fosse logo ao ponto, mas parece que naquele momento me bateu a consciência do cansaço de todos os meses de trabalho. Minhas pernas e costas doíam e aquela poltrona parecia tão confortável. 

Me sentei testando a maciez do estofado, encostei mais um pouco e percebi que ela tinha um balanço suave como a própria poltrona do Noel. Pois é, cinco minutos na casa deste senhor e eu já peguei intimidade para chamá-lo apenas de Noel.

Mais cinco minutos e o estarei chamando de vovô.

E esse foi meu último pensamento antes de cair no sono.

 

(...)

 

Foi como dormir uma noite em alguns segundos. Acordei relaxada como nunca e neste tempo parece que Papai Noel nem saiu do lugar. Fiquei meio sem jeito por tê-lo deixado falando sozinho e estava prestes a pedir desculpas. 

— Está chegando a hora. — disse com um sorriso que parecia preocupado e isso me alarmou.

— Hora de quê?

— Você precisa ir embora.

Como é? Estou sendo expulsa da Casa do Papai Noel? E sem fazer o meu pedido? Não é possível uma coisa dessas. Isso não vai ficar assim!

— Olha aqui, senhor Noel… 

— O que aconteceu com o vovô? — perguntou. Agora ele ia bancar o engraçadinho. Não para cima de mim e não depois que me prometeram mundos e fundos sobre este lugar e até agora nada mágico aconteceu. — Você não sabe disso. Estava dormindo.

Isso é verdade. Ele tem um bom ponto. Mas eu tenho direito a fazer o meu pedido e ele vai ouvir tudo até o final. Tenho muitos detalhes a dar, porque eu quero um amor, mas não pode ser qualquer um.

— Eu entendi. Sua carta foi bem clara. — respondeu sorridente.

Então era isso mesmo. A carta no site era pra evitar que eu passasse a vergonha que eu estou passando agora. Podiam ter deixado mais claro isso!

— É proposital. Você não teria vindo se soubesse que seu pedido já tinha sido entregue. 

— Não mesmo. — respondi em voz alta sem querer. — Não é nada pessoal, é só que… eu nunca fiz isso antes! Me parece um pouco… desesperado da minha parte. 

— O melhor presente de Natal sempre será o amor, minha filha. Não tenha vergonha disso. — respondeu e na hora me veio uma vontade tão grande de abraçá-lo. Ele realmente era um bom velhinho.

Antes que eu pudesse realizar meu desejo, comecei a ouvir um barulho alto de buzina, música, parecia que eu estava no meio de um engarrafamento. Estava tão confusa que saí andando pela sala em busca da origem daquele som.

Eu só não contava que haveria uma pedra no meio do caminho, ou melhor, um fio de pisca pisca. Prendi o meu pé nele e ao cair no chão trouxe a árvore toda junto comigo. Tudo ficou escuro. Inclusive a minha mente. 

 

(...)

 

— Pai, eu estou muito preocupado. Eu encontrei ela desacordada dentro do carro no meio da estrada.

— Ela está ferida? Tinha sangue no carro? Algum sinal de que ela bateu em algo ou foi atingida? 

— Ela não está ferida. Nenhum arranhão na verdade, mas eu não sei como ela foi parar ali. 

— Isso você só vai saber quando ela acordar para contar. 

— Será que ela vai se lembrar do que aconteceu? 

— Se ela souber o próprio nome e de onde veio já vai ser bom o suficiente. Você pegou os documentos dela? 

— Eu só peguei ela e coloquei no meu carro, nem pensei em mais nada. 

Só então, depois de acompanhar todo esse diálogo me caiu a ficha de que poderiam estar falando sobre mim. Se eu entendi certo, eu estava neste momento deitada no banco traseiro de um carro desconhecido com um motorista também desconhecido enquanto ele dirigia e falava ao telefone com o pai dele também desconhecido.

É muita irresponsabilidade da parte desse sujeito!

— EI, PARA ESSE CARRO AGORA! — gritei.

Não sei se pela minha ordem ou pelo susto, mas o desconhecido freou o carro bruscamente me fazendo rolar e cair no chão do carro. A vontade que tenho é de xingar um palavrão agora, bem alto. 

— Santa Mãe de Deus! O que foi isso? — exclamou o desconhecido. Senti uma mão me pegando pelo braço, mas a minha raiva era tanta que comecei a espernear da forma que dava. 

Quando ele me soltou, juntei o pouco de dignidade que ainda tinha e consegui voltar ao banco traseiro, sentada dessa vez. Olhei para frente sem querer fixar meus olhos no desconhecido, respirei fundo e pude observar melhor a situação em que me encontrada.

Olhei para o meu lado direito e não dava para identificar em que cidade estava. Tudo que dava para ver era uma imensidão de estrelas e algumas árvores no cenário. Eu só poderia afirmar que estava num lugar alto. 

Minha mente começou a funcionar de forma acelerada e tudo que consegui pensar era que precisava sair do carro daquele desconhecido. Antes que pudesse tentar abrir a porta e sair do carro, o motorista chamou minha atenção.

— A senhorita está bem? 

Voltei o meu olhar para o desconhecido finalmente e… Santa Mãe de Deus! Levei minhas mãos discretamente aos cabelos para ajeitar o que estava fora do lugar, movi um pouco o meu corpo na tentativa de enxergar o meu rosto no retrovisor e confirmar que estava apresentável.

— A senhorita quer ver se está machucada? Não tenho nenhum espelho de mão aqui, mas garanto que não. — disse o desconhecido, deixando claro que não consigo ser discreta.

Pensei em muitas coisas que poderia dizer, tantas outras que poderia perguntar, mas eu olhava para os seus olhos verdes e seu sorriso que parecia tão inocente e minha mente ficava em tela branca. 

— Falar eu sei que a senhorita fala, mas estou preocupado. A senhorita se lembra de alguma coisa? 

— Nós ainda estamos em 2022? — questionei.

— Sim, estamos. — respondeu meio confuso.

— Então por que está me chamando de senhorita e não ‘você’, simplesmente? 

Vi o lindo desconhecido dar um sorriso sem graça e passar a mão nos cabelos visivelmente sem jeito. Isso, Bella, deixa o senhor educação desconfortável. 

— Me desculpe. Força do hábito. — respondeu simplesmente.

— Então você tem o hábito de pegar moças desacordadas, colocar no seu carro e levá-las sabe Deus pra onde? — perguntei já tentando abrir a porta e descobri que ela estava travada. 

— Não é isso! Me deixa explicar! — disse o rapaz segurando o meu braço. Me afastei novamente do seu toque de forma brusca. — Meu nome é Edward. E o seu?

— Essa é a sua explicação, Edward?

— Só acho que começamos bem mal. Não quero que se sinta em perigo comigo, estou tentando ajudar, é sério. — disse suavemente.

Eu poderia dizer que alguma coisa no seu tom de voz me fez acreditar em suas palavras, mas na verdade foram seus olhos. Em nenhum momento ele deixou de olhar diretamente nos meus. Isso me passou segurança, além de me deixar desconfortável por motivos que era melhor deixar pra lá. 

— Bella. — disse simplesmente.

— Bella de Isabella, talvez? — perguntou como se falasse com uma criança.

— Sim, Bella de Isabella Marie Swan. — disse de forma brusca. — Olha, eu não perdi minha memória, estou muito bem na verdade, é melhor você me deixar ir. 

— Você sabe onde está? 

Agora minha pose de durona foi abaixo. Eu não fazia a mínima ideia de onde estava e, para ser bem sincera, eu não sei nem de onde eu saí. Até onde me recordo eu estava em Las Vegas, mas lá não tem uma estrada que dá para ver as estrelas como estou vendo daqui. 

— Eu sei que saí de Las Vegas, mas não sei onde parei. — respondi com sinceridade.

— E que dia isso aconteceu? — perguntou incrédulo. Era só o que me faltava ser interrogada essa hora da madrugada.

— Sexta-feira, dia 17 de dezembro de 2022. 

— Ainda é 17 de dezembro. Você dirigiu o dia todo? — perguntou dessa vez preocupado.

— Não, até onde me lembro, eu saí de Vegas a noite. 

— Bom, sua história não está batendo. São 22:30 agora, para você ter chegado até aqui vinda de Vegas, você teria pegado a estrada no mínimo às 3 da manhã. 

Quando Edward me deu essa informação, percebi que eu estava muito, mas muito longe de casa. Vi de relance o — agora não tão desconhecido —  motorista ligar o carro e voltar a pegar a estrada. 

— Espera! Onde estamos realmente? — perguntei dessa vez preocupada.

— Estamos a caminho de Forks. 

É pra lá mesmo que eu estou indo! Mas como foi que eu cheguei até aqui tão rápido? Eu lembro que demorei um tempão para organizar minhas coisas e nem acordei tão cedo assim. Enquanto tentava me lembrar da ordem do que aconteceu no meu dia e como vim parar aqui, Edward ligou o som do carro e uma música muito animada começou a tocar. 

Apesar das batidas bem dançantes, o cantor está se sentindo solitário, querendo que alguém o mostre como amar. Cheguei até a me identificar. A diferença era que ele parecia ter alguém em mente já que está tentando falar com a pessoa. 

Quando a música chega no que penso ser o refrão, tenho algumas lembranças do que aconteceu esta noite. 

 

Ooh, I'm blinded by the lights

Ooh, as luzes me cegaram

 

Eu lembro de estar em um lugar cheio de luzes de Natal. Eu fiquei encantada pela decoração, havia até uns soldadinhos de chumbo, muitas crianças correndo, famílias inteiras encantadas com aquele lugar. 

 

I'm running out of time

Estou ficando sem tempo

 

— Está chegando a hora. — disse com um sorriso que parecia preocupado e isso me alarmou.

— Hora de quê?

— Você precisa ir embora.

 

Era isso! Eu estava na casa do Papai Noel! Ele disse que eu precisava ir embora e eu me desesperei porque nem mesmo havia feito o meu pedido. Eu estava ouvindo barulho de trânsito, buzina e tropecei na árvore de Natal. E acordei aqui.

Caramba! Que puta história louca é essa? 

— Você se lembrou de alguma coisa? — perguntou Edward me acordando das minhas lembranças. 

Quais as chances de eu contar para esse cara lindo — e desconhecido — que eu estava visitando o Papai Noel, quase implorando com a minha vida para que ele me desse um amor, tropecei num pisca pisca e acordei a mais de duas mil milhas de onde estava? Zero. Definitivamente, zero. 

— Eu preciso pegar o meu carro. — disse simplesmente.

— Eu já falei com meu pai, assim que amanhecer ele vai pedir pra um amigo dele buscar o seu carro. — avisou.

— Eu preciso pegar o meu carro agora. 

Edward me olhou pelo espelho do retrovisor como se eu fosse louca, uma alienígena talvez. Eu vou voltar para buscar o meu carro nem que eu vá a pé e sozinha por essa estrada escura. Não vou desistir, não adianta ele me olhar desse jeito. 

— Eu vou te levar para um hospital agora. Eles vão te examinar e avaliar…

— E pretende fazer isso sem meus documentos? — interrompi Edward. — Poxa, parece que alguém quer passar a madrugada na delegacia hoje. Sabe, meu pai foi xerife em Forks, mas eu nunca andei na parte traseira do carro da polícia. Depois me conta como é? — disse debochada cruzando os braços.  

— Qual o seu problema, garota? Estou tentando te ajudar! — disse exasperado. 

— Muito me ajuda deixando eu buscar o meu carro. 

— Que diferença isso faz? Estamos a 20 minutos do hospital, depois que você for atendida, pode ir para a casa dos seus pais, descansar e amanhã bem cedo receber o seu carro. 

— Eu estou sem meu celular, sem minhas roupas, sem documento. Eu nem mesmo posso ser atendida nessas circunstâncias, eu nem preciso! Estou ótima! — Comecei a agitar os braços pra cima e rebolar da forma que dava num banco de carro. — Está vendo? 

Só depois de ver Edward ficando vermelho como um pimentão enquanto segurava o riso é que percebi o papel ridículo que estava fazendo. Sério, de verdade, nem Papai Noel conseguiria dar um jeito na minha vida amorosa desse jeito. 

— Me desculpe, Bella, mas você é muito absurda. — respondeu rindo livremente dessa vez. 

Percebi que Edward havia parado o carro novamente, joguei o meu corpo para frente apertando todos os botões do painel ao mesmo tempo e consegui destrancar as portas. Abri a porta do meu lado direito e saí correndo. 

Eu tinha um físico de atleta, uma rotina de atleta, fôlego e condicionamento físico era o básico para a minha profissão, mas correr provavelmente exigia mais do que eu tinha. Talvez coordenação, senso de direção ou até visão noturna no meu caso.  

Edward logo me alcançou, mas em vez de parar o carro e me obrigar a entrar, ele começou a me seguir lentamente, deixando a luz do farol iluminar o meu caminho. Olhei de relance para onde ele estava e vi ele olhando para frente com o maxilar travado. Mesmo não o conhecendo, eu poderia afirmar com muita certeza de que ele estava nervoso. 

— Você pode ir embora. — avisei.

— E deixar você sozinha numa estrada a esta hora da noite? Nem se meus pais não tivessem me dado educação eu faria uma loucura dessas. — respondeu sem nem olhar para o meu lado.

— Então por que não aceitou me trazer de volta ao carro? — perguntei petulante.

— Me desculpe por me preocupar com a sua saúde primeiro e depois com o carro. — respondeu no mesmo tom. — Mas pelo visto tá ótima, nunca vi alguém dar uma arrancada como a que você deu. 

— Estou acostumada com exercícios físicos pesados.

— Você é… uma personal trainer? — tentou adivinhar.

— Passou longe. — Eu que não iria facilitar as coisas. 

Edward passou quase um minuto em silêncio. Olhei rapidamente para ele e continuava concentrado na estrada. Olhei para a estrada e parecia faltar muito para encontrar meu carro.

— Quanto tempo fiquei no seu carro desacordada? — perguntei.

— Agora você está preocupada com a distância de onde está seu carro? — perguntou rindo debochado. — Faltam uns dez quilômetros, pelo menos.

— O quê? — perguntei parando de correr. — E você só fala isso agora?

— Eu deveria ter te avisado quando você pulou no painel do meu carro ou quando precisei infringir duas leis de trânsito para te alcançar? — retrucou Edward parando o carro novamente. 

— O que você quer que eu faça? Eu não entendi como vim parar aqui, não tem ninguém esperando que eu esteja em Forks agora, estou sem poder me comunicar com ninguém e ainda com um desconhecido essa hora da noite! — gritei. Que noite absurda!

— Não sou mais um desconhecido. Podemos até ser amigos. — respondeu Edward suavemente saindo do carro. 

— Melhor não. — disse dando um passo para trás. 

— Essa doeu. 

— Eu disse que seria melhor se não fôssemos amigos, não que eu não quisesse ser. — respondi cruzando os braços.

— E o que isso significa? 

— Que eu preciso saber mais do que só seu nome para você poder ser meu amigo. Onde já se viu uma coisa dessas? — perguntei achando toda aquela conversa sem sentido.

— Podemos descobrir mais um do outro enquanto te levo até seu carro? — perguntou apontando para o seu veículo.

Edward já podia ter me matado nessa estrada se quisesse, principalmente agora que deixei bem claro que ninguém sabia onde eu estava. Mas ele não tem sido nada menos que gentil esse tempo todo. Não custava dar mais um voto de confiança.

Aceitei a carona e nos próximos minutos nos envolvemos numa troca interessante sobre nossas vidas. Edward ficou muito surpreso quando contei sobre a minha profissão e o trabalho no Cirque du Soleil.

— E você está em turnê em Las Vegas? — perguntou bem interessado.

— Na verdade eu estava em uma peça fixa em homenagem aos Beatles, se chama…

— The Beatles Love. Você está brincando? — me interrompeu de forma entusiasmada.

— Você conhece? 

— Eu já fui em vários espetáculos! — exclamou. — Eu gosto muito de Beatles e toda essa magia do circo sempre me chamou a atenção. 

— Isso é muita coincidência! — disse ainda chocada.

— Não acredito em coincidências. — respondeu seriamente. — Acredito em destino. 

Pensei em fazer alguma brincadeira sobre isso, mas assim que olhei para frente avistei o meu carro. Estacionado no acostamento de qualquer jeito como se algo tivesse me forçado a sair da pista, a porta do motorista estava aberta e eu cheguei a pensar em alfinetar Edward por esse descuido, mas resolvi guardar para mim. 

Entrei no meu carro e a primeira coisa que fiz foi verificar minha bolsa. Carteira, documentos, cartões, chaves, celular. Tudo no seu devido lugar. E no fundo da bolsa um papel amassado. Eu não sabia do que se tratava, mas deixaria isso para depois. 

— Tudo certo? — perguntou Edward.

— Sim, tudo certo. Vamos ver com o carro, né? 

Girei a chave do carro e ele ligou na hora. Sem nenhum engasgo, ruído ou qualquer sinal de falha. Tudo em perfeito estado. 

— Você acredita em milagre? — perguntei brincalhona. Eu não fazia ideia de como vim parar aqui com esse carro, mas nenhum de nós tinha sequer um arranhão pra contar história.

— Sim e você? — perguntou Edward.

Olhei para ele sorrindo e percebi que ele falava sério. Agora na segurança do meu carro, com todos os meus pertences, prestes a continuar minha viagem, pude reparar mais em Edward.

Além dos olhos verdes reconfortantes e do sorriso quase infantil, Edward tinha os cabelos de um tom ruivo escuro, quase como um cobre. Lisos e estranhamente organizados sobre sua cabeça. A testa constantemente franzida e as sobrancelhas grossas davam um contraste engraçado para todo o seu rosto delicado e angelical. 

Edward era lindo. E além disso, prestativo, educado, generoso, divertido. Ele também era um artista, fotógrafo. Imagino que seja sensível e focado. Ama os Beatles e o circo, assim como eu. Era a única coisa que tínhamos em comum. Até agora. É assim que as pessoas se conhecem e começam a se relacionar? 

— Bom, posso te acompanhar com meu carro até Forks? — perguntou Edward e eu apenas assenti. 

Durante todo o trajeto fiquei pensando em como nada fez sentido desde que entrei na tal Floresta Mágica até agora. Mas estranhamente parecia que eu estava no lugar certo e na hora certa. 

Assim que passamos a placa de “Bem-vindo a Forks”, Edward buzinou atrás de mim dando seta indicando que iria virar a esquerda, eu buzinei em sinal de “obrigada” e continuei na mesma avenida por mais três quarteirões até chegar de frente a casa da minha mãe. 

O que veio a seguir foi muito choro, muitos abraços e perguntas. Minha mãe espantada por eu chegar aquela hora sem avisar, minha avó preocupada com o tempo que passei na estrada sem comer e eu ainda meio absorta com todos os acontecimentos da noite. 

Mesmo com vários questionamentos em mente, quando deitei a cabeça no travesseiro naquela noite, me esqueci de tudo e dormi de forma rápida e pesada.

(...)

Acordei às 9 horas ouvindo minha mãe cantando no jardim enquanto minha avó gritava para ela parar, pois iria me acordar. A confusão estava armada agora. Certas coisas realmente não mudam. Ri ouvindo a discussão das duas e corri para me preparar para o dia.

Meus planos não eram muito animadores. Eu só queria andar pela cidade e ver o que eu ainda conhecia, reencontrar velhos amigos, saber das últimas notícias. Apenas isso, mas é claro que uma viagem que começou tão conturbada, não ia me deixar ter um dia tão entediante. 

O primeiro lugar que visitei foi o café. E lá estava Edward. 

— Bella! — ele gritou assim que me viu.

Me aproximei meio sem graça com os olhares que recebi no caminho e fui recebida com um abraço. Cheiroso. Mais um item para a lista de qualidades de Edward.

— Não teve mais nenhum imprevisto ontem não é? — perguntou risonho.

— Não. Cheguei em casa intacta. 

Pedimos panquecas e waffles acompanhadas de uma boa xícara de café. A minha sem açúcar e a dele era basicamente açúcar com café. Ninguém é perfeito.

Rimos muito durante todo o café, fomos interrompidos duas ou três vezes por pessoas que me reconheceram e vieram com aquela conversa de que me conhecem desde criança e me pegaram no colo. Fiquei constrangida a maior parte do tempo, mas muito feliz por terem me reconhecido graças às semelhanças com o meu pai. 

Depois de quase ficarmos para o almoço, pedimos a conta e mais uma vez custamos entrar em um acordo. Edward queria pagar tudo, eu achava justo que eu pagasse em retribuição a ajuda do dia anterior. E se não fosse pela atendente, estaríamos lá até agora. No final, dividimos a conta como deveria ter sido desde o início. 

— Alguém já te disse que você é muito teimosa? — perguntou Edward encostado no carro. 

— Nunca ouvi uma acusação dessas. — respondi cruzando os braços.

Edward ficou parado como se estivesse me analisando, abriu um sorriso e cutucou o meu braço como quem diz “estou brincando”. Mas no fundo eu sabia que era verdade. 

Resolvemos andar um pouco a pé e trocar mais algumas figurinhas sobre nossa vida. Edward cresceu sendo o caçula entre um irmão e uma irmã. Ambos casados e com filhos. Ele, solteiro. Seus pais eram uma força da natureza, sempre quiseram ter muitos filhos e com a chegada do neto ficaram pelo menos 15 anos mais jovens. 

— Meu pai é minha maior inspiração. Não há nada que eu faça sem um conselho dele antes, ele sempre sabe o que dizer, como se estivesse lendo nossa mente ou, sei lá, vendo o futuro. — disse Edward com fervor. Ele realmente amava sua família. — E minha mãe, só conhecendo pessoalmente para entender. Ela é doce e forte e muito acolhedora. 

Falar sobre nossas famílias nos colocou num lugar bem sensível. Não foram poucas as vezes que trocamos um abraço ou demos as mãos para mostrar apoio um ao outro. E essa conversa durou horas e, quando assustamos, já estava escurecendo mais uma vez.

Agora sem a preocupação de chegar em casa pude reparar na decoração natalina da cidade. Não tinha sequer uma única casa sem decoração de Natal, todas estavam repletas de luzes, enfeites nas árvores, papais noéis pendurados na chaminé. Uma visão e tanto. 

— Essa é a melhor época do ano, não? — perguntou Edward também encantado. 

— Com toda certeza! — disse e me lembrei da minha aventura no dia anterior. Será que Edward acreditaria? 

— TIO, VOCÊS ESTÃO DEBAIXO DO VISCO! — ouvi um grito estridente atrás de mim.

Um garotinho de uns 5 anos estava parado com a boca aberta apontando para eu e Edward enquanto olhava de cima para baixo. Acompanhei o seu olhar e percebi que havia um visco acima de nossas cabeças. Que ótimo!

— Andrew, cadê seus pais? — perguntou Edward se abaixando de frente para a criança.

— Eles estão comprando pipoca ali. — disse apontando para o outro lado da rua. 

Mesmo com a baixa iluminação, eu pude reconhecer a cabeleira loira de Rosalie Cullen. Aquele então era Andrew, seu primogênito? Olhei mais uma vez para a criança e não tinha como negar. Os traços eram todos de Rose, além dos cabelos loiros. 

— Você conhece Rosalie Cullen? — perguntei para Edward.

— Ela é minha cunhada, casada com meu irmão, Emmett. 

Caramba, Edward que me desculpe, mas isso é muita coincidência, sim. Ou destino.

— Bella? — aproximou Rose.

— Rosalie, quanto tempo! — nem percebi que estava com tanta saudade até abraçá-la. Foi caloroso, acolhedor e forte como se não tivesse se passado tantos anos. 

Logo, Rose me apresentou seu marido Emmett, irmão de Edward, e seus filhos Andrew e Joshua. Começamos a contar de onde cada um se conhecia e antes que pudesse explicar sobre todo o incidente da noite anterior, Andrew deu o ar da graça.

— Mamãe, tio Edward estava debaixo do visco com essa moça. — nos entregou. 

— Isso é verdade, Edward? — perguntou Rose de forma divertida. 

— Parece que sim. — respondeu sem graça.

— Você sabe o que acontece quando um casal está debaixo do visco não sabe? — perguntou Emmett zombeteiro. 

As risadinhas de Andrew contagiaram a todos e apesar das provocações terem parado por hora, eu não esqueci o olhar de Edward para mim durante todo esse tempo. 

 

(...)

 

No dia seguinte, minha avó quis saber tudo sobre o rapaz que me deixou em casa na noite anterior. Contei sobre Edward e a coincidência envolvendo Rosalie. Minha avó achou incrível e pediu que os convidasse para o almoço. Só então lembrei que não havíamos trocado nem o número de telefone. 

Fui ao supermercado com a promessa de convidar Edward e Rosalie para o almoço caso os encontrasse e, o destino realmente estava ao meu favor. Edward estava no corredor dos doces visivelmente em dúvida entre uma barra de chocolate e uma caixa de paçoca. 

— Chocolate é sempre a melhor opção. — disse fingindo não o reconhecer.

— É mesmo, senhorita? — perguntou com um sorriso torto. — Pois eu prefiro mil vezes paçoca. 

Ele colocou a barra de chocolate no lugar olhando para mim como se me desafiasse. Ri muito da cara dele e logo ele caiu na risada também. Dois idiotas no supermercado. 

— Você está convidado para um almoço em minha casa hoje às 13 horas. — disse olhando para baixo, envergonhada com a situação.

— Aceito! — respondeu rapidamente. Pensei em falar para ele chamar Rosalie, Emmett e as crianças, mas assim já estava de bom tamanho.

Apenas assenti e saí para terminar minhas compras.

Ao chegar em casa, ajudei minha avó com alguns preparativos e logo subi para tomar um banho e me arrumar. Não que precisasse, afinal eu estava em casa, não precisava de uma grande produção. E era só Edward que iria ali, nada de tão especial.

Ai, Bella, me poupe! É o Edward! Claro que tem sim algo especial!

Depois de pronta, resolvi organizar minha bolsa para me distrair. Mais uma vez encontrei o papel amassado no fundo. Desdobrei o papel e com uma letra que não é a minha estava escrito “Não fuja do seu milagre” e um número de telefone.

Sem ter mais nada a perder, peguei o celular e disquei o número que estava no papel. Três toques depois fui surpreendida com a voz aveludada de Edward.

— Pois não?

Prendi a respiração na esperança de que sem uma resposta, ele logo desligaria, pois eu estava travada demais para decidir fazer isso por mim mesma. Como eu tinha o número de Edward esse tempo todo? 

— Alguém na linha? 

Soltei a respiração de uma vez e desliguei o telefone, empurrando ele para o outro lado da cama. Isso era demais pra mim. Era Edward o meu milagre de Natal? 

— Bella! Edward chegou! — gritou minha mãe do primeiro andar.

Respirei fundo e desci as escadas lentamente. Ele não precisava saber dessa loucura toda de Papai Noel e milagre. E não seria eu a contar algo do tipo. Só preciso agir naturalmente. 

Cumprimentei Edward com um abraço e o levei para a sala de jantar. Ainda bem que minha mãe e minha avó conseguem puxar assunto como duas maritacas, pois eu não consegui formular uma resposta decente durante todo o almoço. 

Edward era um rapaz muito interessante e aposto que seria um namorado incrível, mas só agora passei a considerar que não era justo que por causa do meu pedido desesperado, ele ficasse comigo. Eu não sei como funciona essa mágica do Papai Noel, mas agora não me parece justo. 

— Responde, Bella! — exclamou minha mãe de repente.

— O quê? — perguntei confusa.

— Edward te chamou para um passeio a noite. — esclareceu minha avó. 

Olhei para Edward e percebi seu olhar cheio de expectativa. Será que ele já estava enfeitiçado e por isso parecia tão… interessado em mim? Não era bem isso que eu tinha imaginado quando fui até a Floresta Mágica. 

— Onde vamos? — perguntei de supetão e a resposta foi “surpresa”.

Eu estava muito ferrada. 

 

(...)

 

Será que eu poderia fazer Edward gostar de mim sem a mágica do Papai Noel? Essa pergunta ficou martelando em minha cabeça durante todo o trajeto até sabe-se lá onde Edward estava me levando. 

— Chegamos! — anunciou e só então saí do meu estado de torpor. 

Olhei para frente e vi uma casa enorme de três andares. Havia pelo menos duas paredes inteiras de vidro em cada andar, parecia que eu estava olhando para uma casa de boneca. Muito mais moderna, é claro. 

Demorei um pouco para entender que estava na casa de Edward e que encontraria seus pais e toda sua família. Santa Mãe de Deus! Desci do carro testando a firmeza das minhas pernas e logo fui pega por vários abraços.

Primeiro Andrew que me reconheceu como “a amiga da mamãe”. Ainda bem, porque podia ser como “a moça que não beijou o tio Edward debaixo do visco”. Em seguida vieram Rosalie e Josh em seu colo, Emmett e as demais crianças. 

Prince e Payton eram os gêmeos da filha do meio dos Cullen, Alice. Eles tinham 4 anos. Prince era um menino bem tímido, me abraçou meio de lado e ficou me olhando com o dedinho na boca, meio desconfiado. Payton era agitada e comunicativa. Pulou em meus braços já me chamando de tia e querendo me puxar para dentro da casa.

Foram Esme e Carlisle, pais de Edward, que conseguiram segurar a mocinha. 

— Payton é igualzinha à mãe. Um furacão. — comentou Esme, me abraçando em seguida. 

Carlisle me abraçou sem falar uma só palavra, mas foi tão cheio de emoção que me fez lembrar meu próprio pai. Foi o abraço mais demorado e só depois fiquei com receio de que Esme achasse ruim, mas ela apenas sorriu. 

Quando chegou a vez de cumprimentar Alice e Jasper, levei um choque. Eu já havia visto Alice antes e conversado bastante com ela enquanto ia para a casa do Papai Noel. Isso não era possível, era? 

— Olá, Bella! — Cumprimentou como se fosse a primeira vez que estivesse me vendo, retribuí confusa. Abracei Jasper em seguida e caminhamos em direção à casa. 

— Você tem algo a mostrar para Bella, certo, Edward? — indagou Esme.

Percebi Edward um pouco desconfortável como se não tivesse certeza do que iria fazer. Olhei em seus olhos estranhando seu comportamento, mas segurei em suas mãos como quem diz que está tudo bem. Mas não sei se está. 

Edward me puxou em direção a floresta que rodeava a casa. Havia uma espécie de caminho de pedras que estava toda iluminada para o Natal. 

— Você não me respondeu naquela noite. — afirmou Edward.

— O quê? — perguntei confusa.

— Você acredita em milagre? 

— Hoje eu acredito. — disse sinceramente.

Como não iria acreditar? Mesmo não entendendo todos os eventos que me levaram até ali, a sensação de bem estar, de aconchego e de certeza que tenho todas as vezes que estou com Edward é exatamente pelo que sempre pedi. Não foi amor à primeira vista, nem uma paixão avassaladora, mas foi uma sensação de que era possível. 

Edward parou na minha frente e segurou meu rosto. Seu sorriso foi tão aberto e convidativo que mesmo sem entender o motivo comecei a sorrir também. 

— Você pode não entender agora, mas você é o milagre pelo qual eu sempre esperei. — disse Edward antes de inclinar o seu rosto sobre o meu e deixar um beijo casto em meus lábios. 

Ele estava certo. Naquele momento eu não entendi o que ele quis dizer e não tenho certeza que consegui compreender nos anos que se seguiram, mas todos os dias Edward me deu a certeza de que havia me escolhido não por uma mágica de algum Papai Noel fajuto por aí…

— Eu ouvi isso, Bella! — me alertou o bom velhinho, não tão velhinho assim.

— Me desculpe, Carlisle.

Com isso eu nunca me acostumei, mas continuando… Não foi por causa de uma mágica que encontrei Edward e ele me encontrou, mas porque nós dois tínhamos um coração disposto a amar e um amor disposto a fazer todos os dias parecerem um milagre.


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Notas finais do capítulo

E então? O que vocês acharam dessa história?

Esse é o segundo POSO que participo e se o primeiro foi muito desafiador, esse foi duas vezes mais. Não costumo escrever histórias pelo ponto de vista feminino, sempre achei difícil desvincular o meu jeito com o da personagem, mas dessa vez resolvi arriscar.

Espero que você também goste, Pam! Foi feito com muito carinho apesar de toda essa viagem que fiz pelo seu combo

Beijos e até o próximo POSO ;)



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