Edge of Glory escrita por Bianca


Capítulo 1
Capítulo 1




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Destino.

É engraçado pensar nas milhões de ramificações que a menor das suas decisões pode causar. Eu certamente tive minha cota de provas de que o destino pode te alavancar para o lugar mais alto do céu, apenas para que seu tombo seja tão mais espetacular de assistir. 

Mas o que enche minha mente e, sendo bem sincera, todo o meu corpo, é um nervosismo pulsante. Não sei quem sou exatamente neste momento, nem quem serei amanhã de manhã quando este avião pousar. Só espero que o mistério impenetrável do futuro possa me ajudar a desfazer alguns dos meus erros, ou que eu consiga encontrar algum tipo de conforto que me ajude a seguir em frente. Enquanto aguardo o sinal de que podemos desafivelar os cintos e me preparo para as longas horas de viagem, minha mente vaga sem muito controle para os eventos mais marcantes em minha vida. Por mais que muita coisa tenha de fato acontecido até aquele momento, não posso evitar pensar que todas as peças começaram a se mover naquela noite, que poderia ser apenas mais uma. Rio um pouco ao lembrar como costumava achar que vivia em meio ao glamour naqueles meses... Se apenas eu soubesse.

5 anos antes

Beijo o pôster da Dita Von Teese uma última vez antes de correr para fora do camarim. O backstage inteiro está em movimento, é energizante, como se um grande e único organismo estivesse se movendo com o propósito de fazer ele brilhar ainda mais.

Com o coração batendo na garganta, chego mais perto do cortinado que me separa do palco, que daqui parece gigante. A plateia, que gritou alto e claro a noite toda, agora está em frenesi, aguardando o momento em que ele irá cantar a música que está no topo de todas as paradas por tanto tempo que parece que sempre esteve lá. Meu estômago torce, só um pouco. Sou rápida em controlar a breve insegurança antes que a ideia possa sequer ter chance de se prender. Essa noite é minha! 

 

Desde os 16 anos dançar é a minha vida. No momento em que pisei na academia de dança de Lizzie, eu soube que havia encontrado meu propósito, meu lugar. Desde o princípio dançar minha alma para fora pareceu o único jeito de lidar com todos os outros aspectos da minha vida que iam por água abaixo… mas fazem 10 anos e eu não sou mais uma garota perdida, sou Isabella, dançarina do grupo internacionalmente famoso fundado por Lizzie Fernandez. E essa noite eu serei a dançarina principal no show de Edward Cullen, o cantor de pop rock que faz multidões se moverem com ele em todos os continentes. 

 

Normalmente essa coreografia é de Angela, mesmo que eu tivesse interesse nela desde que fomos contratadas pela equipe de Cullen para integrar a turnê. Em todos os shows há um momento em que Edward solta seu violão ou guitarra e ficam no palco apenas ele, o microfone e a dançarina que faz o papel da garota que deixa ele maluco de tesão. Na música tudo soa mais romântico, mas estou simplificando pra você. Essa noite vou rebolar na frente dele, dançar em cima dele no momento que ele estiver sentado na cadeira e… 

 

— Bella, em 3, 2…

 

Lizzie soa em meu ponto. Solto o ar que estive prendendo e caminho a passos largos em direção ao homem parado no meio do palco. Eu acho que nunca o vi tão de perto, Edward é inumanamente lindo. Vou explicar melhor quando não estiver preocupada com errar um passo, prometo.

Ele já está cantando, as primeiras frases sobre saber que está jogando um jogo perigoso, vendo a garota dançar e indo em sua direção sem pensar duas vezes. Chego ao meu lugar, bem em frente ao seu corpo, sinto o calor que ele está irradiando, ele começa a falar sobre os movimentos que ele e a garota da música poderiam fazer juntos. Movo meu quadril, ele encosta em minha cintura, seu queixo em algum lugar acima da minha cabeça, e move seu corpo em sincronia. Ele canta sobre tratá-la com carinho, sobre fazer tudo no tempo dela, os arrepios correndo por todo meu corpo devem ser visíveis para ele, mas não posso ficar constrangida. 

Neste momento da coreografia, viro de frente para ele. Jack, o dançarino que me treinou, não me preparou nenhum pouco para o que estar frente a frente com Edward faria ao meu sistema. Precisamos nos encarar, olhos castanhos em olhos verdes. Ele chega mais perto, a música pedindo para que ela vá, se solte, vá, vá para onde só ele a levará. Caminhamos, Edward de costas, ainda olhando em meus olhos. Ele senta na cadeira colocada no palco, eu danço em volta do seu corpo, seus olhos me seguem. Jack permanecia com os olhos fixos à frente, em outras noites, Edward também. A música vai chegando ao desfecho, ele vibra com a aceitação da garota em saciar seu desejo. Sento em seu colo. Com toda a força e todo profissionalismo que tenho, consigo evitar de pular de volta em pé quando sinto o quão… empolgado, Edward está com a situação. Minha respiração trava em meu peito, não ouço mais a plateia. Ele afirma mais uma vez para a garota que a levará para onde só ele consegue e nossos rostos se aproximam ainda mais.

Bem, aqui a história começa a ficar realmente confusa. Na coreografia, Angela e ele ficam com os rostos bem colados, o cabelo dela caído na frente fazendo a plateia acreditar que um beijo poderia estar acontecendo ali embaixo. Quando meu cabelo cai na frente dos nossos rostos, esqueço um pouco do que está acontecendo. Uma mão dele está em meu quadril, a outra está baixando o microfone, ele não está mais cantando. Minhas mãos estavam em seus ombros, mas no último segundo uma delas resolveu tomar vida própria e eu seguro seu maxilar. Olhando em seus olhos eu vejo o fogo que está crepitando em minhas veias acendido nele também. Pelo mais breve dos segundos, nossas bocas encostam, ainda estamos de olhos abertos. Sua mão aperta meu quadril, parece que estou embaixo d'água.
O tempo para de fazer sentido, em um segundo estou em seu colo e no outro estou no camarim, gloriosamente sozinha. A realidade do que acabou de acontecer começa a pesar em meus ombros. não estava em meus planos beijar o homem que, para todos os efeitos, é meu chefe. Uma hora se passa, ainda estou no camarim, que aos poucos foi se enchendo, fico feliz em constatar que ninguém percebeu o que aconteceu entre Edward e eu.

Depois de algum tempo decido organizar meus pertences que ainda não estão na bolsa e me encaminho para fora, preciso de um banho gelado, uma generosa taça de vinho e alguns momentos de reflexão. Quando alcanço a calçada vejo que há um carro estacionado, um riso de descrença me escapa ao que o vidro baixa e vejo Edward no banco de trás.

 

— Ei, você precisa de uma carona?

 

A voz dele parece mais grossa quando não está cantando, mais atraente. Caminho até estar abaixada em frente à sua janela.

 

— Depende muito de onde essa carona vai me levar, sabe?

 

Falo em tom de brincadeira, mas sei que ele enxerga além das minhas palavras, porque minutos depois estamos no elevador do hotel onde ele está hospedado e sua boca está em todo lugar. Suas mãos contornam meu corpo, se movendo por minhas curvas, apertando minha pele. Quando o elevador para, entramos no apartamento sem olhar para os lados, meus olhos desejosos apenas de seu corpo mal registrando os móveis luxuosos e tecidos elegantes. Ele para de me beijar por um minuto, seus olhos verdes perscrutam meu rosto com atenção, quando ele fala eu meio que desejo que não tivesse falado.

— Me diz como eu nunca te percebi antes. Na verdade, estou convencido que andaram escondendo você de mim porque sabem que no minuto que eu te visse estaria ferrado.

 

Ele diz tudo em uma cadência estranha, por mais que as palavras tenham saído em voz alta, tenho a impressão de que não era para eu ter ouvido. Não sei o que responder, então não respondo. Beijo sua boca até que nossas roupas começam a pesar demais em nossos corpos, até ter que me afastar dele para que ele pegue uma camisinha no interior da gaveta, mas ele retorna, rápido e ágil. Me assusto com o fato de que ter ele dentro de mim faz com que eu me sinta tão completa, não quero que ele saia.
Passamos a noite nos conhecendo, entre algumas rodadas de sexo muito bem feito, Edward me conta sobre o início de sua carreira, de onde veio o seu desejo, como sua mãe Esme sempre fez questão de passar sua paixão por música adiante para ele. Edward pede muito sobre mim, sobre como foi crescer em Nova York, como entrei na academia de Lizzie, descobri que ele escolheu nosso grupo por ver muitos vídeos no youtube, o que me deixa surpresa. Quando a manhã chega, acordo em seu peito e imediatamente me sinto uma intrusa. Quem eu achei que era ontem à noite? Começo a sair da cama, mas seus braços me envolvem com firmeza. 

 

— Bom dia, Bella. Você já estava fugindo de mim?

 

Vou te contar uma coisa, a voz dele pela manhã não é justa comigo. O tom baixo e rouco, misturados com seus olhos inchados e bochechas coradas... ninguém pode me julgar por ter demorado um pouco demais para responder.

 

— Não estava fugindo, só não quis assumir coisas...

 

Ele levanta meu rosto quando olho para baixo, constrangida, e me beija devagar, com um carinho que não sei de onde vem.

 

— Você pode assumir que eu quero que você fique aqui. Se não tiver outro compromisso, pode ficar aqui comigo o dia inteiro, eu vou adorar ter sua companhia, Bella.

 

E assim eu fiz. Passamos o restante da manhã e a tarde inteira conversando e rindo, sem nada sexual a não ser os olhares ferventes que ele me lançava. Este dia juntos levou a uma semana em que não nos desgrudamos a não ser que fosse extremamente necessário. As coisas iam tão bem que quando percebi que um mês havia passado, foi como acordar de um sonho. 

Estamos caminhando por uma rua pouco movimentada em LA, nossas mãos entrelaçadas e Edward está falando sobre sua ansiedade para os shows na Europa em dois meses. Escuto tudo com atenção, pendurada em cada palavra que ele fala, sua empolgação é contagiante e mal posso esperar para vê-lo se apresentando em palcos internacionais, dessa vez não por redes sociais, mas ao seu lado. Desde a noite do nosso primeiro beijo, sou eu que faço o número solo com ele. Angela não ficou exatamente feliz com a notícia, mas a química que temos é inegável e Lizzie bateu o pé falando que precisamos entregar nosso melhor para os shows. Enquanto penso nisso, passamos por uma banca pré histórica, e uma foto nossa juntos estampa a capa. Resolvo parar para ler a matéria, mesmo que a essa altura não seja novidade que falem sobre nós, Edward resolveu deixar bem explícito que estava comprometido desde a primeira semana, fez questão de me demonstrar que não quer que minha estada em sua vida seja passageira. Quando estamos emparelhados com a banca e consigo ler a manchete, meu estômago desce ao chão.

 

“EDWARD CULLEN E SEU CASO DE CARIDADE SUA NAMORADA BELLA SWANN – POR QUANTO TEMPO O ‘AMOR’ IRÁ DURAR?”

 

Mal sinto quando Edward tira a revista das minhas mãos, mas vejo seu rosto chocado lendo a manchete. Ele beija minha testa por um longo tempo, então pede para o dono da banca remover todas as cópias da revista e paga o equivalente. Assisto a tudo enquanto minha garganta fecha cada vez mais, me sinto sufocada pela vergonha de saber que a essa altura milhares de pessoas já leram a tentativa dessa revista de reduzir quem sou a um relacionamento. 

Edward toca meu rosto quando termina de negociar com o senhor.

 

— Bella, você sabe que nada disso é verdade, não sabe? Nada entre nós muda o fato de que você é uma mulher, uma artista incrível. Por favor, não preste atenção no que esses idiotas falam. 

 

Ele me abraça tão apertado que impede que meus pedacinhos se desprendam do corpo, e eu aproveito seu calor e conforto. Ele não deixa de me fazer sentir especial nem por um minuto.

 

— Vamos, Edward. Leve seu caso de caridade para casa.

 

Digo rindo, ele revira os olhos, mas deixa uma risadinha escapar também.

Chegando em casa Edward prepara um banho de banheira para relaxarmos e enquanto ele está no banheiro, cometo o erro de procurar mais matérias sobre nós. É simplesmente revoltante a quantidade de pessoas que realmente acredita que não só eu estou com Edward por interesse como que ele está comigo apenas para ter um enfeite bonitinho pendurado no braço. Sinto tanta vontade de gritar a plenos pulmões que estamos apaixonados, para que todos ouçam, mas sei que isso não mudaria nada. A verdade é que essas pessoas continuarão pensando isso, eu lendo ou não, Edward confirmando ou não que me adora e nosso relacionamento começou de uma forma bastante inesperada. 

Só mais tarde, deitada no peito do homem que me trata como jamais esperei ser tratada que consigo afastar um pouco dos pensamentos nauseantes e inseguranças ridículas que me acompanharam desde a tarde.

 

Os próximos dias são bastante caóticos, com a turnê internacional de Edward se aproximando, ambos temos ainda mais horas de ensaio e preparo, alguns ajustes serão feitos para abranger os diferentes públicos que iremos encontrar, passo horas e horas rindo de Edward tentando aprender frases carinhosas em espanhol, francês, italiano e sabe Deus quantos outros idiomas. Ele aguenta minhas risadas e se empenha mais ainda em caprichar no sotaque, entre risadas, horas de trabalho suado e beijos carinhosos do meu namorado carinhoso, os pensamentos ruins voltam para um cantinho sombrio da minha mente e ficam lá. Edward me encanta um pouco mais a cada dia. Me pego pensando que talvez eu o ame.



 

 

Dois anos depois

 

Enquanto me arrumo, penso um pouco em quando percebi que estava amando Edward. Foi acontecendo gradualmente e com tanta facilidade, quase não reparei que meu amor por ele estava transpirando de todos os meus poros até que fosse tarde demais para voltar atrás. Ou pelo menos assim eu achava. Vivendo numa nuvem de romance, amor, compreensão e companheirismo, levei um tempo para perceber que no mesmo ritmo que eu me aproximava dele, me afastava de mim. Eu queria fazer tudo e mais um pouco para estarmos juntos todo o tempo, queria agradá-lo a todo instante Edward tem essa capacidade de trazer a tona sentimentos que as pessoas não estão acostumadas a ter. Vi por meses toda sua equipe se desdobrando para que tudo em volta dele estivesse sempre correndo perfeitamente bem, porque o sorriso de admiração e as palavras de agradecimento dele eram tão genuínas que se tornavam uma meta para todos. Ele é como um ímã, sua alma magnética é capaz de prender até a pessoa mais solta que você puder pensar. Funcionou em mim! Bom… por um tempo.

Nosso bem montado castelo de cartas começou a ruir duas semanas antes da viagem para a Irlanda, palco do primeiro show da turnê internacional que Edward faria na época. Em um momento de fraqueza tornei a buscar notícias de tabloides sobre nós e refletir sobre tudo o que li deixou meu humor péssimo. Estar com uma grande estrela é incrível, sim. Ter alguém ao seu lado que brilhe tão intensamente é encantador. Aos poucos ver qualquer notícia sobre ele com minha imagem atrelada me levou a ter pensamentos que me assustaram pelo prazer que me causavam. Andar na rua e ser fotografada sem alguém ao meu lado que chamasse mais atenção que eu, ler notícias sobre mim sem ser batizada como “namorada de” … Estar em cima dos meus saltos, dependendo apenas do meu talento e da capacidade que sempre souber ter de conseguir conquistar o que sonhei, fui obrigada a lembrar, de uma vez por todas, que nunca precisei de um homem que me desse suporte. 

Na semana que se seguiu, minhas atitudes revelaram à Edward que algo não estava certo. Com sua gentileza de sempre, ele tentou arduamente entender a situação sem me pressionar para obter respostas, mas não era sua culpa que minha cabeça já estivesse formada. Eu sabia que o magoaria, sabia muito bem que o amor por ele não evaporaria do dia para a noite. Mas meus sonhos não poderiam mais esperar, o primeiro passo era tomar espaço para poder abrir minhas asas.

3 dias antes da partida da equipe, rompi com o homem mais incrível que já havia conhecido. 

 

— Eu espero que você entenda.

 

Foi tudo que pedi a ele depois de dizer que eu já não o acompanharia na turnê e não faria mais parte do grupo de Lizzie. Depois de dizer que daquele momento em diante já não fazíamos parte da vida um do outro.

 

— Eu espero que você saiba que eu nunca quis afastá-la dos seus sonhos, você sempre vai ter para onde voltar se quiser, em algum momento. Amo você, Bella.

 

Foi tudo que ele pôde me dizer nos segundos que levaram para as portas do elevador fecharem. Seu rosto desanimado, ombros caídos e olhos brilhando com lágrimas que ele não deixou que caíssem. Até hoje me pergunto como consegui acreditar tanto nessa última frase… de qualquer modo, eu deveria ter imaginado.

Confirmando que velhos hábitos custam a morrer, fecho a revista de fofocas que surrupiei dos camarins, onde Edward e sua bela nova namorada, Bethany, aparecem de mãos dadas e sorrindo pacificamente enquanto caminham com suas roupinhas casuais e chinelos pelas ruas, sem qualquer preocupação… nada mais do que um erro meu acreditar que ninguém mais veria as qualidades dele. Preciso me distrair, preciso trabalhar. Preciso lembrar que aquele rosto abatido pode ter se tornado um suspiro de alívio quando dei as costas.

 

Algum tempo depois

 

"A liberdade fica bem em Bella Swan!"

 

Mais uma manchete. Mais uma vez meu nome em uma capa. É errado que eu goste mais agora que não está acompanhado de mais um nome? É errado que eu sinta que estou melhor com os dois braços jogados para o alto no ato final do meu show do que quando eles estavam em volta de outro alguém? Realmente, eu gostaria de me importar mais, mas tudo que faço ao ver a revista agora é sorrir e sei que meu sorriso é presunçoso. 

Por meses e meses trabalhei duro em encontrar exatamente o que eu mais queria fazer, qual a forma certa de começar e por onde. 

Os números das danças, os figurinos, a ambientação perfeita. Com esforço tudo entrou no lugar certo. Com a equipe que formamos, não é de se admirar que tenhamos enchido a casa de shows pela segunda semana consecutiva. 

Meus cabelos, antes usados lisos e compridos, agora voltaram aos cachos naturais e bem mais curtos, é incrível como o visual vintage veio a calhar com o restante dos elementos do show. Está tudo tão incrível que consigo ignorar quase totalmente quando as manchetes não são tão simpáticas.

 

"Parece que um homem jamais será capaz de conter a dançarina Bella Swan"

 

"Estamos aguardando ansiosos os próximos passos da inocente Bella"

“Sucesso em lingeries de renda e batom vermelho, Isabella Swan alcança ainda mais lugares com participações em clipes de música.”

 

Devo acreditar que ideias como essa vêm com o território quando seu trabalho é literalmente entregar um show de sedução para um público quase totalmente masculino e que não tenta disfarçar sua atração. 

A dança burlesca sempre me encantou, então foi um passo bastante natural que eu desenvolvesse números assim para meu próprio grupo de dança. Todo o esforço que tive valeu à pena quando recebi a primeira proposta para shows consecutivos em Madrid. Uma coisa levou a outra, de repente eu já não era mais a namorada de um cantor famoso. Eu busquei a fama. Eu a seduzi e a levei comigo para todos os palcos em que subi. Noite após noite tenho a chance de provar o que sempre quis, o ar rarefeito do topo do mundo. É assim que eu me sinto. Quando loto shows, quando sou convidada para um evento, quando dou entrevistas sobre a carreira que construí nos últimos 3 anos. Os comentários negativos deixaram de me incomodar, hoje os vejo muito mais como termômetro do quanto estou incomodando o tradicionalismo. 

Deixando as notícias e divagações de lado, começo a me arrumar para mais uma noite de glamour.

Esta noite estamos em Nova York, meu show será mais intimista e sensual, apenas eu, uma cadeira e as luzes. Subo no palco com a já familiar sensação de euforia, ouço os aplausos da plateia e sorrio fraco. Conforme a dança vai escalando, consigo passar os olhos pelas pessoas que estão assistindo e por um instante fugaz imagino ter visto cabelos louro-acobreados que já foram familiares demais. Tento acompanhar o movimento com os olhos, mas a verdade é que preciso me concentrar nos movimentos. Se ele estiver aqui, claramente o objetivo é que ele me veja, não o contrário. Danço até esquecer do que não devo lembrar, quando chego ao hotel e deito para dormir, combino comigo mesma que não sonharei com ele esta noite.

Como muitos outros aspectos da minha vida, meu conceito de lar mudou muito nos últimos anos. Sempre morei em NY, por mais viagem que eu fizesse, era o lugar para onde voltar, mas com o rumo que as coisas tomaram, nenhum lugar parecia mais óbvio do que LA. Acordar em minha cidade natal em um quarto de hotel e não no apartamento parcialmente depredado em que morei durante tantos anos é um tanto desnorteante, mas vem sendo assim há um tempo agora. Antes que o sol tenha raiado completamente, abro a agenda do meu telefone e me preparo mentalmente para mais um dia cheio.




Edward POV

 

Já vim para cá algumas vezes desde aquela primeira viagem a cinco anos atrás, mas dessa vez as coisas estão um tanto diferentes. 

A necessidade de dar um passo atrás e fazer uma pausa foi prorrogada por tempo demais, mas finalmente estou aqui. A semana anterior foi de organizar minha nova casa e colocar tudo no lugar, resolver pendências e atender telefonemas. Por metade de uma década tenho levado meu corpo e minha mente ao extremo, entre momentos de extrema felicidade e tristezas intensas.

Lembro muito bem de quando vim a esta cidade pela primeira vez, com o coração despedaçado depois de ela ter desistido de nós.

Quando conheci Isabella eu soube que não havia nenhuma parte de mim que gostaria de deixá-la sair do meu lado. Tudo nela me atingiu com a força de um trem de carga, desde o corpo cheio de curvas que instantaneamente chamou minha atenção, até sua mente brilhante e ambiciosa, seu riso fácil. Consigo evocar com tanta facilidade tudo que me capturou. Naquele primeiro momento, no show em que mudaram a dançarina, mudaram também o meu destino. Por curtos meses eu tive a chance de tê-la ao meu lado, andar de mãos dadas na rua, ver ela dormir e me preocupar com o tanto que aquela garota rangia os dentes durante o sono. Enquanto caminho pela calçada rio relembrando de quando pedi para Rosalie, minha agente, marcar uma consulta no dentista para Bella e precisei trabalhar para convencê-la a ir à consulta durante dias, ela ficou furiosa quando descobriu que precisaria usar proteção nos dentes todas as noites antes de dormir. Recordo o dia em que estávamos de bobeira no meu apartamento, um dos poucos dias de folga no meio de uma turnê e ela decidiu fazer uma tatuagem de lâmpada no braço. Quando perguntei qual o significado ela me explicou que queria ter sua própria fonte de luz sempre consigo e eu soube que a amava e admirava mais do que qualquer pessoa que já havia passado em minha vida. Nos curtos meses em que estivemos juntos, da nossa maneira e no meio de um ambiente um pouco caótico e bastante agitado, não posso deixar de acreditar que fomos importantes demais. Guardei todas as lembranças com o mesmo carinho que sempre tive por Bella, mesmo no dia em que nossos caminhos se separaram. 

No fundo da minha mente eu sempre soube que ela almejava algo grande, algo que sem dúvida ela encontraria, não existia outra opção. O que é difícil de digerir, mesmo depois de tantos anos, é que ela realmente acreditou que precisaria estar sem mim para trilhar esse caminho. Ao longo dos cinco anos que estamos distantes, por mais que eu tenha tentado, não consegui evitar acompanhar os seus passos da forma que pude. Soube quando ela decidiu que formaria seu próprio grupo depois de sair da companhia de Lizzie, que inclusive me forneceu um precioso ombro amigo nas noites em que eu fiquei me arrastando pelos lados quando não precisava estar no palco. Vi um vídeo do seu primeiro show em uma casa famosa em Madrid, o quanto Bella brilhava enquanto se movia pelo palco, com a graciosidade que sempre me encantou. Fui em um show seu em Nova York quando estivemos na cidade ao mesmo tempo, mas não consegui ver até o final, estar tão perto e não poder falar com ela foi uma agonia. Soube de cada um dos homens que esteve ao seu lado, ao menos publicamente, e senti a dor do ciúme e rejeição a cada foto em que ela aparecia sorrindo nos braços de alguém que não era eu. Apesar de nunca desaparecer por completo, essa dor se tornou mais suportável quando Bethany entrou em minha vida. A conheci em uma festa, ela era amiga de amigos. Conversamos a noite toda sobre milhões de assuntos e ideias em comum, essa conversa levou a um encontro surpreendentemente agradável proposto por ela. Aos poucos ela se tornou uma confidente, alguém que eu poderia contar para trazer paz e alegria aos meus dias. Nosso primeiro beijo selou o que sabíamos que estava acontecendo. Quando ela disse que me amava pela primeira vez, me senti extremamente sujo por lamentar brevemente que jamais tive a chance de ouvir essas palavras da boca de Bella. Amar Bethany era fácil e tranquilo, nos entendíamos bem e nos complementávamos, ela se deu bem com todos os meus amigos, se empenhou para conquistar minha família, eu não poderia encontrar um defeito imperdoável nela. Nos três anos que durou nosso relacionamento, a única coisa que eu jamais pude ignorar era que, por mais que eu a amasse, independente de tudo de bom que ela sempre foi, ela jamais seria Bella. Um dia, caminhando pela cidade, passei em frente a uma joalheria, a vitrine exibindo tantas coisas cintilantes que era quase impossível de se concentrar em alguma coisa em específico, mas aninhado em uma caixinha de veludo, vi um anel de noivado. No instante que vi, imaginei ele na mão de Bethany, a imagem dela dizendo sim enquanto eu me ajoelhava em sua frente parecia nítida. Fiquei parado por um bom tempo contemplando a joia, mas no fim das contas acabei passando reto. Algumas semanas depois, após muita reflexão e algumas ligações para Lizzie, decidi terminar nosso relacionamento. 

Não comprar a aliança de noivado que eu tive certeza de que ela aceitaria foi a comprovação final de que eu não era o que ela merecia. Quando disse isso para ela, apesar das lágrimas, ela aceitou. Foi uma dor diferente deixá-la ir, fiquei extremamente triste por não ter ela ao meu lado, mas me senti aliviado por não permanecer prendendo alguém que merecia muito mais em um relacionamento sem futuro. Precisei terminar de gravar algumas coisas no estúdio em Nova York e neste tempo percebi que precisava desesperadamente colocar minha cabeça no lugar. Comprei a passagem antes de sequer avisar à Rosalie que estaria me mudando para a Europa sem um prazo para voltar, ela ficou sabendo, de qualquer forma, quando precisei de ajuda para comprar uma casa. Achei que ouviria um sermão sem fim por tomar uma decisão como essa sem consultar sua opinião e pedir que ela limpasse minha agenda, mas recebi seu apoio incondicional, acho que estando ao meu lado durante todas as etapas da minha vida nos últimos anos, ela deve ter sentido tanto quanto eu que essa pausa só viria para o bem. E é assim que cheguei até aqui. 

A Irlanda será meu refúgio. 

Por alguns dias foi, na verdade. Ao cruzar a esquina vejo um pôster em tamanho real de uma das maiores causas da confusão que minha cabeça tem estado, mas o que está ao lado do pôster é simplesmente  inacreditável.




Bella POV



O avião pousa.

Parece que toda a minha vida, minhas decisões, todo o conceito que tive sobre os mais diversos assuntos, está finalmente entrando em consenso em minha mente.

Sigo para a área de retirada de bagagens e mando uma mensagem para minha agente avisando que está tudo bem e perguntando as últimas informações sobre o apartamento que ela alugou em meu nome.

As paisagens do lado de fora da janela do carro, algumas horas de viagem depois, são de tirar o fôlego. Dirigir aqui é tão pacífico que minha vontade é fazer isso por dias e dias, até a gasolina acabar, mas em quarenta minutos acabo chegando ao destino final. 

A cidade é ainda mais charmosa ao vivo do que nas centenas de fotos que vi antes de decidir vir para cá, prédios baixos, calçadas com floreiras a cada tantos metros, vitrines modestas e simples… algo completamente diferente do que estive acostumada por, bem, toda a minha vida, mas de certa forma a sensação é de que este é o único lugar para mim neste momento.

Eu espero de todo o meu coração que minha estadia aqui não me devolva para casa com mais monstros do que cheguei.

A primeira noite que passo no apartamento é ocupada tirando roupas de malas, enchendo os armários do banheiro com milhões de coisas que provavelmente esquecerei onde estão até a primeira vez que precisar usar. O sono custa a me visitar, mas quando durmo é com tranquilidade.

No dia seguinte quando acordo, decido que uma caminhada pela vizinhança talvez me ajude a espairecer um pouco enquanto planejo exatamente quais serão as próximas etapas, e é o que faço.

Visto uma roupa leve e discreta, não posso evitar notar a diferença imediata do que costumo vestir em LA. As ruas são tranquilas e o sol ainda está baixo neste início de manhã.

Caminho por quase uma hora, sem qualquer pressa, até chegar em uma área mais interiorana da cidade, com casas maiores e poucos comércios. Me aproximo devagar do que parece ser um antigo cinema e fico encantada ao ver que estão apresentando um filme onde fiz uma breve participação como dançarina. Chego mais perto e vejo que há um pôster enorme onde estão os personagens principais do filme e eu, logo atrás dele, com meu outfit artístico em seu melhor estado. 

Ainda estou olhando o pôster quando um homem para bem ao meu lado. Ouço ele arfar e olho para o lado. Edward Cullen me encara.

 

O que você faz aqui?

 

Ele pergunta em um tom de voz baixo. Me dou um minuto para olhar em seu rosto.

 

Acredite ou não, vim na esperança de encontrar você.

 

Ele arregala os olhos em descrença, mas não rebate o que falei. Em uma demonstração clássica de nervosismo de Edward, sua mão corre pelos cabelos que estão mais curtos do que eu lembrava. Gesticulo em direção ao banco na calçada que está a alguns passos de nós, ele me acompanha e senta ao meu lado. Limpo a garganta e vou direto ao ponto.

 

Nestes últimos cinco anos eu fui muito feliz, Edward. Segui meus objetivos e aqueles sonhos que te contava. Estive livre e consciente dessa liberdade, fiz as coisas que quis fazer… 

 

Ele olha para o chão enquanto eu falo, os cotovelos apoiados nas coxas. Quando paro de falar ele me olha de canto de olho e assente uma vez, confirmando que quer que eu continue.

 

O motivo de eu estar deixando isso claro é para que você entenda que não é falta de nada que me trouxe aqui, me sinto realmente plena. Mesmo assim, sinto que isso ainda pode melhorar. Estive sozinha por bastante tempo, mas mesmo quando alguém estava ao meu lado… não era nós.

 

Quando termino de falar olho em seu rosto e vejo algo que me enche de esperança. Talvez ter vindo à Irlanda tenha sido a decisão certa, talvez Lizzie precise dar mais atenção aos seus netos e cuidar menos da minha vida. Sorrio um pouco, decido falar o que vim aqui para dizer a ele.

 

Ainda quero tudo que queria antes, quero o glamour, as noites e as luzes do palco. Mas quero poder contar para você como foi a noite quando eu chegar em casa. Quero que você me conte as coisas que o estão inspirando para novas músicas. A questão é essa, Edward. Eu sempre vou querer você. Demoraram longos cinco anos para que eu percebesse que ter uma coisa não precisa me impedir de ter a outra. Quando encontrei com Lizzie a algumas semanas e ela me deu um leve sermão sobre as coisas importantes da vida, tudo clicou. E é isso. 

 

Ele fica em silêncio por tempo demais, começo a ficar nervosa. Finalmente ele levanta, sacode os ombros e estende a mão para mim.

 

Minha casa é aqui perto, vamos tomar um café e você pode me contar como foi o sermão da Lizzie, quero ver se foi parecido com os que sempre recebo.




Ao longo das próximas semanas são repletas de reconexão e sentimentos borbulhantes. Tudo que eu sempre quis foi sentir que tenho o mundo só para mim, acho que estou mais perto do que nunca de conquistá-lo.


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