As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas escrita por Aldemir94


Capítulo 5
A Marcha Pelo Pão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807901/chapter/5

O Sol estava se pondo no horizonte, o vento estava frio mas o clima geral permanecia ameno, embora uma série de nevascas estivessem caindo sobre a parte sul do império.

De alguma forma, aquele entardecer trazia ao coração de Aethel um sentimento de saudade inexplicável, como se o jovem rei, em algum momento de seu passado, houvesse se sentado em uma grande rocha e admirado o disco dourado se esconder por trás das grandes montanhas, enquanto o azul do céu se tornava mais escuro, enchendo-se de estrelas e adquirindo uma aparência que, aos olhos humanos, lembrava um misterioso oceano.

Era fácil imaginar as grandes constelações: o caçador, a grande hidra ou o poderoso Héracles com sua clava, dançando pelo manto celeste; todas brigando entre si, admirando a vida dos mortais e se perguntando “estarão felizes? Poderíamos fazer algo por eles?”, enquanto ficavam na espera de uma resposta humana que jamais viria.

Os ghalaryanos contavam sobre outras formações estelares, como a do “sábio dos céus” (lembrado desde épocas remotas por ter vencido o grande demônio do Yggdrasill), o “príncipe dos mares” (um marinheiro que descobriu uma terra distante e se casou com uma sereia) e a mais querida por Aethel: o “dragão do norte”, composta por 12 estrelas brilhantes.

Às vezes Aethel gostava de olhar para o céu estrelado e se imaginar em meio aos grandes heróis e criaturas fantásticas que haviam sido, tão habilidosamente, desenhados no grande manto azul por Deus – talvez no dia em que dividiu o céu e a terra; quem poderia saber?

Aethel enchia a mente desses sonhos pueris, mas conforme se lembrava do baile da coroação, de Danny, Sam, Dipper e Mabel, tudo se tornava menos alegre e fantasioso: Aethel era, acima de tudo, um chefe de Estado e seus deveres não lhe permitiam muitos momentos de descanso.

Enquanto os cinco jovens e o estranho arqueólogo caminhavam para fora da grande floresta, Aethel prestava atenção no que seus quatro amigos conversavam: Danny comentava sobre o quanto Jazz (aparentemente a irmã do garoto) deveria estar preocupada com ele, Sam dizia que aquela floresta sombria era romântica, Dipper conversava com Gemma sobre a placa de pedra e Mabel…

Apenas falava sobre açúcar, festas e dos príncipes bonitos que conheceria no baile.

Será que o jovem imperador deveria sentir ciúmes? Quem sabe? A verdade é que seus pensamentos iam das estrelas e constelações aos problemas do Estado ghalaryano, terminando por chegar a questão que, para ele, era a mais fundamental de todas: sua atração pelo coracor.

Como alguém poderia se sentir atraído por algo tão perigoso? Aethel meditava sobre isso, mas o perigo parecia tornar tudo ainda mais interessante; e o rei sentia-se como um aluno de colégio que, tendo as respostas de uma prova de aritmética, obtidas por “meios pouco dignos”, pensava se deveria ou não usá-las.

O que era o coracor se não um tipo de “trapaça”, que permitia ao usuário ultrapassar limitações e resolver problemas com facilidade? De forma parecida a um código usado em jogos eletrônicos, para vencer um chefe difícil ou superar uma fase demasiada complicada.

“Seria lógico utilizar o código; mas seria moral?” pensava o imperador, enquanto tais pensamentos lhe torturavam a mente.

De repente, o grupo avistou o grande palácio imperial, com suas colunas, torres e outros elementos grandiosos, ao que Aethel respondeu:

— Dr. Gemma, Danny e minha querida senhorita Sam, sejam bem-vindos ao grande palácio de Ghalary, o coração da grande capital da criação.

Seria interessante descrever como o monarca apresentou o arqueólogo e seus dois novos amigos para o mordomo, a maneira como Sam se recusou a usar um vestido rosa (ela preferiu usar um escuro) ou como Danny sentiu-se sufocado com seu smoking (uma vestimenta torturante trazida a Ghalary durante os “loucos anos 20” – e que o próprio Aethel detestava) ou outros detalhes mais…

Mas Aethel sentia-se tão distante de tudo, que pouco percebia essas coisas tão triviais, que tanto alegram as pessoas comuns, quase como se ele mesmo não merecesse estar ali.

“Majestade, o representante de Enchancia" disse o senador Túlio, fazendo Aethel sair de seu estado de distração e perceber uma figura bem trajada diante de si.

Um homem de pele clara, cabelos castanhos e meio claros, com olhos escuros ou cinzentos – Aethel estava aéreo demais para especificar a cor –, com um bonito casaco  vermelho, calças da cor creme e botas de couro, que muito combinavam com sua faixa escura (essa prendendo-se do ombro direito ao lado esquerdo da cintura).

A coroa com pontas curtas denunciavam sua posição real, então o imperador quase não percebeu quando Túlio apresentou o distinto cavalheiro:

— Grande Aethel, meu imperador, apresento-lhe sua majestade o rei Roland II, de Enchancia.

— É uma grande honra conhecer aquele que derrotou Gael e salvou o mundo – disse Roland, alegremente.

— Na verdade, não foi bem assim… – respondeu Aethel, distraidamente – desculpe, acho que as pessoas precisam da sua fantasia.

— Como assim? – perguntou o rei.

— Foi um dia muito cansativo – respondeu Túlio – talvez o imperador esteja um pouco sonolento.

Era verdade, Aethel estava esgotado pelo dia e a grande quantidade de pessoas no salão só pioravam tudo, porém, o rapaz não gostou da intromissão de Túlio, pois aquilo sugeria que ele – que era imperador – havia envergonhado o senador de alguma maneira:

— O senador está certo – disse Aethel – mas pode um homem ir para a cama, quando uma festa está acontecendo? Por favor, rei Roland, me fale um pouco sobre o senhor e sua família.

— Ah, sim, tenho três filhos e uma esposa, mas ela ficou no reino cuidando das coisas… – respondeu o gentil rei.

— Castanhos… – disse Aethel, distraidamente.

— Perdão? – perguntou o rei Roland.

— Seus olhos – disse Aethel – são castanhos… iguais aos meus.

Subitamente, o mordomo real (sempre ajeitando os cabelos grisalhos e seu terno azul) apresentou mais uma figura real para o jovem imperador, vinda de um país do qual Aethel jamais ouvira falar:

— Meu senhor Aethel, imperador do mundo, apresento-lhe a rainha Sophia, quer dizer, Blair, de Gardênia. Ela está ansiosa por ouvir como meu senhor destruiu as ambições de Gael e agora está restaurando a glória de nosso império.

Aethel já estava começando a se aborrecer com a boataria do povo sobre como ele derrotou o mago e salvou a todos, pois sentia que era tudo um grande equívoco: ele não derrotou Gael, apenas conversou com o mago… isso não seria diferente?

Questionamentos a parte, o distinto imperador fitou a rainha Blair por breves momentos, admirando seus cabelos dourados, seus olhos azuis e reluzentes, tais como as safiras de Odin, seu vestido rosa e brilhante (talvez brilhante demais para a ocasião) e seu sorriso honesto.

Enquanto a rainha se abaixava diante do imperador, como mandavam os protocolos reais, Aethel se curvou, segundo a etiqueta dos ghalaryanos:

— Majestade, seja bem-vinda a capital de Ghalary, onde os raios de sol reluzem com mais fulgor que em qualquer outro canto do mundo (pelo menos, segundo o que dizem).

— O sol brilha em todos os lugares, alteza – respondeu a rainha, em tom amigável – como pode saber que aqui os raios dele são mais fortes?

— Não sei, apenas conheço a língua do povo que governo… e suas observações alegres. – admitiu o imperador.

Era divertido ver a diferença de altura entre a rainha – no auge de seus 17 anos – e daquele que era o homem mais poderoso do mundo, ainda trilhando a grande estrada da vida com seus 13 anos.

A tradição dizia que princesas e rainhas em visita oficial tinham direito a uma dança com o imperador de Ghalary, sendo que o não cumprimento deste costume era considerado bastante desrespeitoso, portanto, Aethel se curvou diante de Blair e lhe convidou para a próxima valsa.

Na verdade, o rapaz não gostava de tantos protocolos e etiquetas (especialmente porque a maioria deles parecia não ter maior propósito do que aborrecer aqueles que, por sorte ou azar, eram forçados a cumpri-los), porém, dificilmente um adolescente como ele se sentiria aborrecido em dançar com uma moça tão simpática e agradável quanto aquela que, vinda de um reino distante e desconhecido, se destacava no grande salão de bailes.

Virando-se para o lado, Aethel pôde ver Danny e Sam abraçados, dançando como se o tempo não existisse mais, enquanto Gemma comia uma fatia de bolo de creme e Mabel dançava com um rapaz loiro vestido com um bonito casaco azul, onde havia uma cruz amarela no lado direito do peito.

Dipper estava sentado em uma cadeira, com um olhar que denunciava saudade, enquanto bebia uma taça do mais saboroso suco de manga do universo (pois os ghalaryanos a tinham como uma das bebidas oficiais do império).

— Seus olhos são como safiras – disse Aethel para a rainha – parecem dizer que a senhorita passou por muitas coisas, mas hoje vive seu recomeço feliz.

— É bom em ler as pessoas, alteza – disse a rainha – mas, se me permite uma observação, seu olhar parece distante da festa.

— Ela tem razão, se me permite dizer – disse Roland, enquanto Túlio e o mordomo fitavam o imperador, com curiosidade.

— Só estou um pouco pensativo, não é nada. Roland, tenho certeza de que nossos Estados poderão se beneficiar de uma amizade sincera, especialmente a nível acadêmico, sei que Túlio terá enorme prazer em lhe contar sobre a história do império. Enquanto isso, rainha Blair, aceita dançar comigo a próxima valsa?

Tendo resposta afirmativa, Aethel e Blair se prepararam para dançar sob a maravilhosa valsa n° 2, de Shostakovich.

Com delicadeza, o imperador colocou o braço direito sobre a cintura da rainha, enquanto segurava-lhe a mão esquerda, jamais deixando de fitar aqueles olhos azuis.

Infelizmente, antes que a linda valsa tivesse início, ouviu-se um barulho de vidro quebrando, vindo do lado de fora do grande palácio.

Um homem com casaco militar, cheio de medalhas, portando uma bonita espada, alamares e dragonas dourados – e um bigode super legal, que combinava com seus cabelos crespos escuros e pele morena – correu até o imperador e disse:

— Meu senhor Aethel, receio que haja um assunto que requeira vossa atenção imediata.

— Como assim? O que está acontecendo? – perguntou o imperador.

— Uma grande multidão se aglomera nos portões do palácio… e algumas pessoas bloquearam os estábulos e cercaram as carruagens e veículos. Eles exigem ver o senhor. Receio que negar isso a eles possa terminar em violência.

— Quem me espera? Inimigos?

— Não, majestade; quem o espera é a nação.

Olhando para Blair, Aethel beijou a mão direita da moça, com ternura, enquanto sorria e dizia aos convidados, que começavam a se preocupar:

— Meus irmãos, hoje verão do que é feito o coração Ryu.

Preparando-se para resolver a questão, Aethel pediu que o mordomo real comunicasse Merlin sobre o ocorrido e lhe pedisse para encontrar seu imperador imediatamente.

Sentindo uma tensão crescente, Sam e Danny foram até o jovem rei, sendo seguidos por Mabel e Dipper (que temia pela segurança da irmã); todos determinados a seguir Aethel.

Antes de se retirarem do grande salão, Aethel pediu que a música parasse, pois essa poderia ser interpretada como deboche pelos súditos descontentes, solicitando também que o militar o seguisse com não mais que três guardas com espadas e alabardas.

Seguindo para o exterior do grande palácio, o grupo composto por Danny, Sam, Dipper, Mabel, o oficial militar, três guardas do palácio e Aethel, depararam-se com uma grande multidão, que parecia crescer aos poucos: homens jovens e idosos – alguns portando mosquetes –, mulheres com idades que variavam de 16 a 70, crianças com olhares curiosos ou assustados, lampiões e lanternas elétricas acesas.

As vestes da multidão eram bastante simples (algumas pessoas trajavam andrajos), mas eram seus olhares taciturnos que mais chamavam a atenção do imperador.

De certa forma, era cômico pensar que muitas daquelas pessoas – cujos olhares eram pouco convidativos – haviam saudado Aethel naquela manhã, o que fez o rapaz pensar em Cristo, quando esse entrou triunfalmente em Jerusalém e foi saudado pela multidão – poucos dias antes do povo pedir por sua morte.

Danny segurou a mão direita de Sam, dizendo com um sorriso “vai ficar tudo bem”, enquanto Aethel olhava para o céu e procurava pelo grande dragão do norte, com suas doze estrelas (talvez em busca de orientação).

Com a Excalibur ainda na cintura, Aethel caminhou até um homem grisalho, de pele clara e nariz médio, que parecia ser o líder da multidão:

— Sou Aethel, seu imperador.

— Você é a criança coroada? – disse o homem.

— Sou Aethel, seu imperador – repetiu o rapaz, sem se incomodar com a rispidez do senhor grisalho –, pode me dizer seu nome?

— Sou Flavius, o ferreiro. Venho falar com o dirigente desta nação.

— Fico feliz em conversar – respondeu o jovem rei – mas não acha que tinta e pena seriam mais úteis que esse mosquete?

— Quem sabe? Às vezes é preciso um pouco de “fogo” para remover certos obstáculos… e  com este mosquete carregado, matei muitos ursos nas montanhas.

— Fascinante – respondeu o Aethel – eu não derrubei nenhum urso… mas com minha espada eu venci uma guerra… e não precisei tirar nenhuma vida para isso.

— O senhor venceu mesmo uma guerra? – perguntou um menino que, até aquele momento, se mantinham em silêncio.

Sorrindo para a criança, o imperador respondeu afirmativamente, enquanto a convidava a se aproximar, cumprimentando-o alegremente em seguida, como se ambos fossem irmãos há muito separados.

Havia muitas mulheres com crianças de colo, assim como irmãos mais velhos segurando nas mãos de seus irmãos mais novos, enquanto tentavam responder aos menores sobre como era possível que alguém tão jovem fosse um rei.

Conforme os olhares taciturnos tornavam-se mais amenos, os mosquetes e espadins foram se abaixando e dando lugar a sorrisos tímidos que, embora cheios de receios, ainda eram sinceros o suficiente para que o imperador retomasse o diálogo com a multidão sem precisar temer a violência das balas e baionetas:

— Por favor, não fiquem receosos, pois não vim a vocês para trazer infortúnios. Sou o imperador desta grande nação… e vocês são a nação a quem sirvo. Digam quais são suas aflições e anseios, para que eu tome providências. Acaso alguém os ameaça? Digam-me quem lhes promete o mal, para que eu estenda minha mão esquerda contra ele e seus irmãos de guerra.

— Majestade, senhor… – disse uma mulher ruiva com um bebê ao colo – por favor, nós temos fome… não temos pão… nós e os nosso filhos não comemos nada a quase três dias… majestade, tem misericórdia destes teus filhos… nós temos fome.

A mulher certamente estava enfraquecida, pois desmaiou logo após dizer suas desesperadas palavras. Felizmente, o imperador foi rápido o bastante para segurá-la nos braços e evitar que o bebê se machucasse.

A seguir, algumas vozes fracas começaram a pedir, como se fizessem parte de um coro:“temos fome”, “por favor,  nos ajude”, “salve nossos filhos”, enquanto Aethel segurava a mulher nos braços, buscando desesperadamente uma solução para aquele problema grave.

O império estava em crise desde a morte de Antônio, mas ler sobre um assunto e vivenciá-lo na pele são coisas distintas: fome, frio, medo e desespero eram coisas das quais Aethel não tinha grande familiaridade; mas como poderia ser diferente? Apesar de suas tragédias pessoais, o rapaz sempre teve Merlin para lhe proteger e trazer alegria.

Aquela multidão, por outro lado, só tinha a ele para clamar por ajuda, em suas aflições, ainda que ele fosse mais jovem do que boa parte daquelas pessoas.

Havia chegado a hora de mostrar que a coroa era merecida, ou algum senhor da guerra a tomaria, em meio a um conflito fútil regado a sangue e morticínio – o que não era o desejo de Aethel.

Com um rápido comando, o imperador ordenou aos seus funcionários que trouxessem alimentos para a multidão, assim como deu ordens para que o 2° consul viesse junto com Túlio e mais alguns representantes do senado até ele, pois desejava saber porque o abastecimento de provisões da capital não estava sendo executado como deveria.

Obedecendo seu senhor, os criados voltaram ao grande salão e convocaram as pessoas solicitadas, enquanto Aethel perguntava a multidão se todos eram de Ghalary ou eram de cidades próximas, recebendo do ferreiro uma informação muito grave:

— Alteza, parte de nós veio de um vilarejo chamado Santa Maria, que foi tomado por um homem chamado Cláudio.

— Cláudio Pérdicas, “o oriental” – disse o militar, que até o momento permanecia em silêncio – ele venceu uma revolta na parte oriental do império, por isso recebeu essa alcunha. Deve estar tentando tomar as áreas produtoras de trigo e bloquear o abastecimento das cidades, obrigando as populações a se renderem a ele.

— General – respondeu Aethel ao militar – qual é mesmo seu nome? Me perdoe, acho que não perguntei antes.

— Alteza? Me chamo Felipe, sou general a serviço da VII legião, que tem garantido a segurança de vossa majestade na coroação.

— Quantos homens estão sob seu comando? – perguntou o monarca.

— 2000, majestade. Deveriam ser 5400, mas parte das tropas foi realocada pelo 2° consul para defesa da fronteira… leste eu acho.

— Quantos homens Cláudio comanda?

— Meu senhor, ele comanda as legiões rebeladas, III e IV do norte, possui 10.800 homens.

— Então deve estar marchando até nossa capital – respondeu Aethel – eu faria exatamente isso no lugar dele... haverá uma média de 5 homens para cada um dos nossos. Muito bem, junte 1000 dos seus homens e mande uma carta para que suas tropas dispersas voltem, não faz sentido deixar sua legião tão enfraquecida quando ela é a única que está defendendo a capital.

— Desculpe, majestade, mas nós queremos ajudar – disse uma voz que, a princípio, Aethel não conseguiu distinguir, mas que logo lhe trouxe um sorriso: era Samantha.

— Na verdade – começou Aethel – eu já ia obrigar o Danny a vir junto, mas sua proposta deixou tudo menos “desagradável”.

— É o que?! – Questionou Danny – Porque eu tenho que marchar para a guerra?! Sam!

— Nem vem Danny, essas pessoas precisam de ajuda! Sabe que podemos ajudar!

— Muito bem – disse o imperador – com um contingente tão grande de soldados, Claudio terá de passar pelas montanhas, caso contrário encontraria a resistência das tribos e legiões assentadas ao longo das principais estradas; por isso vamos marchar até o Desfiladeiro de Nimrod e seguraremos seu avanço… assim as tropas de Felipe terão mais tempo para chegarem e protegerem a capital.

— Será como nas Termópilas? – questionou Sam.

— Não Samantha… pois pretendo trazer todos vocês de volta, em segurança. Não vou deixar que ninguém se machuque.

Após encerrar seus comandos, Aethel recebeu Túlio e James Salazar – 2° consul do império ghalaryano –, começando a fazer questionamentos aos dois sobre a realocação de partes da VII legião e da razão de haver falhas no abastecimento das cidades.

Não vale a pena perder tempo descrevendo as nuances políticas do império, ou destacar o semblante profundamente aborrecido de Aethel frente às fracas explicações de Salazar sobre o quanto uma certa muralha estava fraca e precisava de apoio, pois raramente políticos dando desculpas é algo interessante de se ler.

Basta dizer que o imperador ordenou com que a festa recomeçasse e que a multidão fosse recebida com as honras devidas aos filhos da nação, enquanto cerrava os olhos e dizia a Salazar “muralhas de pedra não precisam de proteção mais do que vidas humanas”.

Aethel chamou Roland e Blair e perguntou se esses teriam como estocar um pouco de trigo para, dessa forma, ajudarem a formar um abastecimento que quebrasse o “cerco de fome” promovido por Cláudio, ao que os dois monarcas aceitaram de bom grado, felizes em poder ajudar.

Apesar da amizade entre Aethel e seus dois amigos reais, a rainha Blair disse que não era certo partir para a guerra, sendo melhor buscar o diálogo como alternativa:

— Se você vencer esta batalha, só estará dando uma demonstração de força que, uma hora ou outra, será questionada. Quantos senhores da guerra você ainda pretende derrotar?

— Não vou deixar que tudo acabe em violência  – respondeu Aethel –, tudo vai acabar bem e ainda poderemos dançar aquela valsa – disse o rapaz, piscando o olho direito.

O semblante receoso da multidão já se tornara alegre e cheio de esperança, denunciando que o jovem imperador havia conquistado de vez a confiança de seu povo…

Mas aquele momento alegre foi interrompido por uma risada zombeteira e desafiadora, que fez até mesmo Danny tremer dos pés à cabeça: uma figura encapuzada se aproximava, sussurrando o que pareciam ser fórmulas mágicas e palavras misteriosas, cheias de mal agouro.

Sem perder o semblante confiante, Aethel deixou a mulher e seu bebê nas mãos de  uma funcionária do palácio e questionou quem era a figura estranha, ao que ela, retirando o capuz e expondo lindos cabelos escuros, respondeu:

—Meus cumprimentos, majestade. Sou Nealie, a rainha de todas as bruxas e gostaria muito de lhe fazer um pedido…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dimitri Shostakóvitch:
Dmítri Dmítrievitch Shostakóvitch (1906 - 1975) foi um importante compositor russo do século XX, tendo se destacado no período soviético.

Andrajo:
Roupa velha, em trapos.

Cristo e a entrada triunfal:
Episódio importante do final do ministério de Jesus, a entrada triunfal ocorreu em um domingo, próxima da páscoa, quando Jesus montou uma jumenta e entrou em Jerusalém, sendo saldado pelo povo, que lhe estendia ramos de árvores e dizia "Hosana ao Filho de Davi!". O episódio é narrado nos quatro evangelhos: Mateus 21.1-11; Marcos 11.1-11; Lucas 19.28-44 e João 12.12-19.

Termópilas
Samantha está falando da "batalha das Termópilas", ocorrida em 480 a.C., entre as forças do rei Leônidas de Esparta e de Xerxes I, do império aquemênida, no desfiladeiro das Termópilas (durante a segunda Guerra Médica). Apesar de terem lutado bravamente, nenhum dos espartanos sobreviveu, nem mesmo Leônidas.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.