Tenho andado humano demais... escrita por elda


Capítulo 1
único




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Debaixo de uma árvore, Sanji olhava a pequena vila logo abaixo do despenhadeiro. Nos lábios havia um cigarro, o olho exposto demonstrava cansaço e o calor não o impedia de vestir um terno. Ajeitou o cabelo com a mão, se lembrando de que deveria esconder as orelhas, e depois voltou a colocá-la no bolso como a outra. Pensou que dessa vez Mihawk lhe mandara mesmo pro fim do mundo. 

Ao chegar na vila olhava ao redor com outro cigarro — o 15º do dia em menos de 10h — na boca e as mãos ainda enfiadas nos bolsos da calça. Notou a população simples e trabalhadora do vilarejo focando mais nas tarefas da lavoura. Cogitava não houver internet naquela vila, Franky, o hacker da agência, com certeza acharia um lugar chato. 

“Super chato.” — Imaginou exatamente na voz do colega de trabalho. 

Avistou uma casa com um moinho, a maior delas, e que era o lugar onde o cliente morava. 

— Há alguma besta comendo todo o nosso pasto! — O homem de nariz vermelho e cabelo azul contava a história e o motivo de Sanji estar ali. — Achamos que é o chupa-cabra e por isso telefonamos para sua agência. 

A agência que Sanji trabalhava, Mistery Corporation, usava como disfarce os mitos do mundo, mas na verdade era um pequeno grupo de pessoas atrapalhadas — com exceção de Mihawk — procurando por pessoas meio-yokais e auxiliando que elas atravessassem a fronteira mística de volta para a sua dimensão. 

Não era raro um meio-yokai se perder e parar naquela dimensão, mas aquele pelo visto não só faltava senso de direção, mas como também possuía uma fome fora do comum. Talvez fosse mais de um, talvez fosse um grupo de meio-yokais. Torcia para que fosse atrapalhado também.

— A propósito, adorei vocês terem anunciado o número da agência em caixas de leite. Não sei se percebeu, mas internet é raro por aqui. 

Sanji terminou de anotar tudo o que seu cliente dizia, fechando o bloquinho a seguir. — Obrigado, foi ideia minha. 

Sabia que seria útil. 

Como rondava o chupa-cabra nos arredores, os habitantes costumavam ir pra casa assim que o sol se pusesse. Mas diferente deles, Sanji resolveu procurar por esse meio-yokai — ou um grupo de — durante a noite e costumava adentrar em lugares mais escuros e isolados possíveis. 

— Venha logo, estou doido pra te dar. — Resmungou depois de constatar que seus cigarros acabaram, quando estava no meio de arbustos numa floresta. 

De repente ouviu um barulho de um galho quebrando e olhou para trás. Contava só com a luz lunar, mas percebeu que o meio-yokai tinha cabelo medonhamente verde, quer dizer, percebeu que era um humano meio tigre. 

— E aí... 

Sanji quebrou o silêncio e imediatamente o meio-yokai esverdeado saiu saltando numa velocidade absurda. 

— Que merda, o que eu faço agora? 

Buscou o maço, mas lembrou que havia acabado o cigarro. Bufou, estava muito novo pra já querer desistir da vida. 

Pelo visto ele não se alimenta de humanos, porque se não teria me comido na certa. — Pensou, Sanji. 

Ou então tinha olfato suficiente para saber que o loiro era carente de vitamina D por só se mover a base de cigarro e café. 

Minha carne deve ser muito desgostosa... — Concluiu Sanji, enquanto mexia nos pelos de sua barbicha. — Vou precisar fazer uma armadilha, já que ele não quer me comer... 

Era outra noite, como a anterior, Sanji era o único acordado e que estava do lado de fora. Quando havia ainda sol, Sanji telefonou para Mihawk e pediu a ele algumas armadilhas de urso que distribuiria pela floresta a fim de caçar o meio-yokai. 

— Sanji, você não se esqueceu que ele é ainda um humano, certo? 

— Vai ficar tudo bem. 

Desligou o telefone e o escondeu no bolso do terno, o meio-yokai esverdeado lhe aparentou ser forte e só sendo muito burro pra cair numa armadilha. No entanto, no meio da noite ele ouviu um berro e concluiu que o meio-yokai era mesmo burro. Ademais, não perdeu a chance e passou a correr atrás do berro. 

Encontrou com a criatura se revirando pra lá e pra cá com uma armadilha fechada na bunda. 

Sanji quase riu, mas se apressou para retirá-la. Como ainda sentia dor, o meio-yokai não fugiu igual a noite anterior, ele continuou no chão e Sanji viu a oportunidade perfeita para se apresentar. 

— Não tema! Eu sou como você! 

A criatura piscou os olhos, não compreendendo. Portanto, Sanji teve uma ideia. 

— Veja só. — Disse e assim que viu a criatura tendo sua atenção em si, se virou abaixando as calças. — Olha, eu também tenho uma cauda! — Mostrou o quanto era felpuda. 

— Você podia ter mostrado suas orelhas... — Comentou o meio-tigre, constrangido em poder ver sua bunda. 

Sanji não havia pensado nisso e puxou suas calças imediatamente, depois balançou a cabeça com força e suas orelhas pontudas se levantaram. 

— Eu sou meio-raposa. 

A aurora cobria os céus, o sol surgia no horizonte. O meio-tigre disse a Sanji que se chamava Zoro e que um dia parou naquele lugar com pessoas sem garras ou presas, tendo um único sexo e a relação sexual ser consensual. Uau, Sanji pensou que Zoro fizera mesmo o dever de casa por saber muito daqueles seres sem graças. 

— E é aí que minha agência entra! — Disse Sanji alegre, como se amasse o seu trabalho. — É normal que nós nos percamos, e quando ficamos sabendo de algo sobrenatural acontecendo, um de nós corre pra investigar o caso! Você já ouviu falar de Charles Manson? 

— Não. 

— Pois é, ele fez um estrago nesse mundo! A gente tentou levar ele de volta, mas ele achou as pessoas daqui mais fáceis de enganar. 

— Nossa, ele deve ser do barulho. 

— Muito. 

Zoro parou de andar e deu uma olhada na aurora e no clima agradável. — Como faço pra entrar na agência? 

Sanji também parou os passos depois de ouvi-lo. — Por quê? Esse mundo não é sempre assim... — Gesticulou com as mãos. — Sei que lá não tem uma, mas não é sempre que a aurora aparece aqui. 

Na verdade, ela aparece todos os dias, mas todos estão muito ocupados para ver. 

— Eu gostei do seu cheiro. — Zoro disse do nada, fazendo Sanji corar pela primeira vez ao seu lado. 

— Mas eu sou carente em vitamina D... 

O meio-tigre piscou os olhos sem entender. — Bora, deixa eu entrar no time!! 

— Ah... isso não sou eu quem decide... 

— Então me leva até essa pessoa. 

Sanji revirou os olhos. — Tá, tá, tá, mas não fique muito perto de mim! Sabe, tenho sido mais humano que animal ou demônio ou seja lá o que for... não fique muito perto... 

Torcia para que Mihawk recusasse o chupa-cabra, mas quem ele queria enganar quando o achara tão bonitinho. 


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