Belly of the beast escrita por elda


Capítulo 1
único




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Morava num castelo abandonado longe de tudo e de todos, prometia a si mesmo nunca se encontrar com um humano, embora um dia ter sido um. Mas agora Zoro não passava de um monstro, que removera todos os espelhos de cada aposento. Não queria ver aquele rosto que incitava ódio e nojo de forma alguma e, portanto, se isolava no castelo. 

Uma vez um cavaleiro ficou preso no seu jardim espinhento, que fizera para afastar todos da sua propriedade. Zoro logo pensou que se tratava de mais um que veio para matá-lo, mas quando viu tal cavaleiro agonizando de dor, se apaixonou por sua imagem. 

Havia muito tempo que não via uma criatura tão bonita e resolveu levá-la para dentro. Cuidou de suas feridas e removeu o veneno letal de seu sangue. Por mais que fosse errado, os gemidos de dor excitavam o pobre lobisomem. 

Seu coração bombardeava como se tivesse voltado a ser humano. Há quanto tempo não expressava sentimentos além da tristeza?

O cavaleiro ficou inconsciente por três dias e numa noite despertou se sentindo perdido no cenário que se encontrava. Um castelo em ruínas, gelado como as brumas de uma floresta e intimidador como um calabouço que lhe causasse tétano só com o contato do ferro. Seus pensamentos se organizaram e concluiu que estaria no castelo que planejava matar o lobisomem, levantou-se num salto da cama. 

Sua espada não estava por perto, o monstro devia ter a escondido, isso era óbvio. Pegou o candelabro da parede para iluminar seu caminho e desceu as escadas, encontrando-se com a criatura chorando sobre a mesa da sala de estar, fazendo-lhe sentir pena. 

Antes de descer não havia entendido por que não fora devorado, mas agora começava a vir na sua memória as lembranças de quando fora cuidado por aqueles olhos bondosos, que por sinal pertenciam ao monstro a sua frente. 

— Você quem cuidou de mim? — Perguntou, assustando a criatura dos seus lamentos. 

— S-sim... 

O lobisomem parecia tímido quando tentava fugir da luz que o candelabro emitia e tomava todo o cuidado de esconder suas garras e presas. 

— Por que está chorando? 

— Porque você irá partir quando melhorar. 

Confessou nem um pouco inibido, a solidão era pior que sua aparência, ela que deveria ser a real maldição. 

Durante os dias que se passavam, Zoro explicava ao cavaleiro — que dissera que seu nome era Sanji — que sofrera uma maldição de um mago e, como se tornou uma criatura medonha, achou melhor se esconder de todos. 

Sanji percebeu o quanto Zoro era carente e sentiu pena, portanto, resolveu não matá-lo. Pelo contrário, passou a cuidar dele como forma de retribuir o que fez quando esteve ferido. Limpava o castelo, podava as plantas do jardim e, principalmente, cozinhava para o monstro. 

Zoro sentia que estava vivendo os melhores dias da sua vida, nem ao menos se sentira assim quando era apenas um humano, não que se comparasse com o que sofria agora, mas ainda assim era bastante infeliz. Seu coração bombardeava só por ver de relance o olhar do cavaleiro da sobrancelha engraçada. 

Mas adoeceu. Sanji não entendia o motivo, até porque Zoro mantinha em segredo: ele precisava se alimentar feito um animal, ou melhor, feito um monstro.  

Antes de Sanji aparecer, costumava caçar um animal para se alimentar; a carne dura e fria, o sangue quente e fresco. Era esse o tipo que lhe deixava mais forte e saudável. Bufava com a respiração descompassada, sentindo o desejo pela carne... só pensava que deveria estar assustando o humano feito anjo que cuidava de si. 

Pedia para Sanji ir embora rápido, mas o cavaleiro também nutria um sentimento por aquela pobre criatura e um dia compreendeu o que lhe deixava fraco, Zoro precisava se alimentar de uma forma totalmente diferente como Sanji estava fazendo desde que o conheceu. 

No pé da cama em que Zoro estava deitado de fraqueza, Sanji disse: 

— Não tema em caçar para comer, não pense que te acharei um monstro por causa disso. 

Ele tocava a mão com as garras afiadas para lhe dar um carinho. Seu olhar era tenro, tão tenro que se lembrou de um anjo mais uma vez. No entanto, Zoro se viu refletido nas orbes azuladas e soube o quão animalesco aparentava estar. Havia muito tempo que não encarava seu próprio reflexo e nesse momento compreendeu qual era a real maldição por ter se transformado em um monstro; ele devorou a única pessoa que se apaixonou e chorava por ter sido sua melhor refeição. 


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