Loid abre os olhos com dificuldade, sentindo a dor de cabeça pela ressaca, fruto da noite anterior. Seus dias tem sido repletos de comidas saturadas, procrastinação, choro, televisão e, principalmente, álcool. Como nosso amado detetive chegou a esse ponto? Após conseguir êxito em sua missão mais difícil, a operação Strix, sua família foi separada pela organização para qual trabalhava. Yor e Ania foram enviadas para lugares diferentes, também sem contato ou explicação. E o que corrói o coração de nosso herói é a culpa, pois fora capaz de salvar o mundo, mas sacrificou seu lar.

Ele senta-se sobre a poltrona de costume, ainda de pijama, com um copo de whisky na mão.

“Tudo aconteceu tão rápido que mal consegui compreender... Desde quando os dias se tornaram tão longos sem elas ao meu lado? Essa casa foi sempre tão grande? A sala sempre tão silenciosa? Nem a comida tem o mesmo sabor.

Sempre tive uma vida cheia de valor, meus princípios e razões me motivavam a encarar uma jornada solitária, mas completa. Completei minha missão… Conquistei a paz entre dois grandes grupos militares… Mas, e agora? Talvez eu seja o mais egoísta dos homens ao pensar assim, mas não consigo tirar os rostos sorridentes de Ania e Yor da cabeça.

Desde pequeno ouvi que apenas os tolos se apaixonam, mas, antes que pudesse perceber, me apaixonei perdidamente pela família que criei. Talvez essa seja minha cina… Amar aquilo que eu mesmo destruí, que ousei usar dessas mãos para unir e separar. Como posso eu esperar algo além de desespero para minha alma?

O ardor do álcool que ralha na minha garganta só alivia a dor no peito da memória de atravessar essas portas e encontrar aqueles olhos pequenos e brincalhões me procurando. Podia ser mentira… Mas era minha filha de verdade. Lembro de como se orgulhava de mim, mesmo eu sendo um desastre como pai… Ela amava cada mínimo presente, cada momento que passávamos juntos ao redor da mesa ou assistindo seu programa favorito. Como pude enganá-la? Agora sequer sei por onde ela anda… A organização nos separou, assim como já havia sido combinado. Prometeram enviarem-na a um lugar bom, onde ela possa crescer cercada de amigos e com uma família que a ame e proteja… mas quem pode amá-la mais que o seu próprio pai? E eu sou seu pai!

Até o Bond, aquele cachorro desengonçado… Era parte de nossa família… pelo menos sei que irá protegê-la por onde quer que ande. - Apertou os olhos com força ao se lembrar da morena de olhos avermelhados.

E Yor… Céus… Como fui conseguir uma mulher como aquela? - Tomou mais um gole longo e ardido, servindo-se novamente. - Quando a vi a primeira vez jurei que não podia ser real. Ela é linda… Seus cabelos longos e escuros como a noite… Os olhos vermelho sangue… A pele clara e macia como leite. Se fechar os olhos e me concentrar ainda consigo ouvir sua doce voz me convidando para entrar depois de um dia cansativo de trabalho… Era mesmo o paraíso. Lembro quando ela me ajudava a ensinar Ania a estudar… Ela é uma mãe maravilhosa… E a primeira vez que ela cozinhou para nós foi horrível hahaha! Foi um inferno mesmo… Haha… Mas ela se esforçou ao máximo e aprendeu a cozinhar com suas amigas tóxicas. Tudo para me agradar. Cheguei até a por uma escuta nela… Céus… Eu sou um canalha mesmo… Eu nunca a mereci. Sei que tem muito que ela não me conta… Sua força sobrenatural, seu jeito único de ver a vida, suas cicatrizes, que vez e outra conseguia ver… Ela com certeza já passou por muita coisa. E aqueles lábios… Tão rosados… - Pode sentir o gosto salgado das lágrimas amargas em seu lábio. - E eu destruí tudo..."

Enquanto isso, do outro lado do país…

Podia-se ouvir um grande estrondo…

O que diabos foi isso?

Eu sei lá cara! Vamos embora daqui! Anda! Anda! - os comparsas corriam atordoados com o barulho da explosão próxima, segurando a criança firme embaixo do braço.

Foi quando uma voadora acertou a cara do companheiro de mãos vazias, quebrando o nariz dele e fazendo-o cair de costas. O homem de pé agarrou-se à criatura em seus braços, usando-a como escudo, mas gelou ao perceber o olhar brutal que recebia.

“Tira… A mão… Da minha… Filha… AGORA… Seu animal...”