Enquanto subiam de elevador até o último andar, Shino explicou para Kiba, em linhas gerais, a situação. Seu avô comprou o prédio logo após a Grande Guerra, e herdou o fantasma como brinde. Antes o terraço não era proibido e os funcionários o usavam para tirar pausas para fumar ou beber um café. Mas acidentes misteriosos aconteceram e assustaram, fazendo boatos surgirem e prejudicarem a reputação da empresa. Como medida preventiva, o líder do Clã na época decretou o isolamento da área e do andar imediatamente abaixo e ficou assim até os dias atuais.

De quando em quando tentavam purificar o lugar, inutilmente.

— Pois seus problemas acabaram — Kiba se vangloriou — Sou muito forte e ótimo em resolver problemas. É a excelência do Clã Inuzuka.

Garantiu com tanta certeza que ninguém duvidaria. Nem mesmo o próprio Kiba que, em algum momento da viagem de elevador, começou a acreditar na própria capacidade. Afinal, um dia ele sonhou em ser Hokage e alguém assim deveria ser capaz de resolver todo tipo de situação...

— Sou muito grato por ao menos tentar.

Foi a frase que marcou a parada final do elevador. Eles saíram no corredor do vigésimo oitavo andar, momento em que Shino indicou a porta que dava acesso ao térreo. Tirou um cartão do bolso e o usou para destrancar a passagem.

Kiba passou primeiro, certo de que não encontraria nada. E realmente não encontrou, a não ser um amplo terraço, um espaço aberto e um tanto mal cuidado, sendo óbvio que ninguém ia ali com frequência. Havia um gradil de proteção cercando o perímetro, bancos velhos de madeira espalhados, corroídos pela exposição ao tempo. A lua cheia parecia muito perto da terra, grande e maravilhosa, iluminando mais do que as luzes de neon da rua.

Olhou de um lado para o outro, tentando captar algo de estranho. E não viu nada suspeito. Avançou alguns passos testando. Nada.

— Cem por cento seguro — garantiu.

— Consegue sentir? — a voz profunda de Shino soou logo atras de si e quase fez Kiba pular de susto.

— Se-sentir o quê, caralho?! — esqueceu de qualquer educação ou respeito para falar com o homem. Virou-se para encará-lo, já que também havia se adiantado alguns passos, ficando um de frente para o outro.

Shino franziu as sobrancelhas. Ele conseguia perceber algo de sobrenatural no lugar, ainda que a afinidade do Clã Aburame fosse mínima. Depois de tudo que ouviu de Kiba, deduziu que seria fácil para ele notar qualquer energia excepcional.

— Algo de excelso no ar? — Shino explicou — Essa energia.

Kiba fez um bico. Não sentia nada de energia nenhuma e não fazia ideia do que “excelso” significava. Mas não daria o braço a torcer mostrando a verdade. Ofertou um gesto de desdém com a mão:

— Nada. Com certeza é um fantasma muito fraco. Tão fraco que é insignificante e...

— Mesmo com ele tão perto de você? — Shino cortou a frase, parecendo impressionado.

Um arrepio gelou mais do que apenas a nuca de Kiba. Foi como se uma mão gélida encostasse nas costas, arrepiando cada pelinho de seu corpo.

— Per-perto? — gaguejou.

O chefe franziu as sobrancelhas. A energia sobrenatural estava fraquinha, mas nítida. Dando a impressão de pairar logo acima do ombro esquerdo de Kiba.

— Sim, — respondeu — bem atras de você.

— Não tem nada atrás de mim, Shino.

— Mas...

— Não tem NADA atrás de mim, caralho! — a voz do rapaz saiu um tiquinho esganiçada — É impressão sua.

Shino recuou um passo sem que pudesse evitar. De repente não era só uma energia pequenina próxima... mas uma luz foi surgindo e ganhando força, até mesmo emanando calor. De maneira tal que até Kiba percebeu.

Enquanto os olhos selvagens se arregalavam de medo, Kiba cobriu as duas orelhas com as mãos. Por qual motivo? Nem ele saberia responder. Nunca sentiu medo de fantasmas antes, mas antes nunca acreditou que pudessem existir!

Que mundo louco! Aquela tarde estava tentando pensar em um bom motivo para não ir à festa da empresa. Agora esse motivo o colocava cara a cara com uma assombração real?!!

Se soubesse teria ido encher a cara e dançar fantasiado sobre a mesa!

— Kiba... cuidado! — Aburame Shino tentou alertar quando a luz misteriosa ficou ainda maior, envolvendo a ambos.

Aquilo jamais acontecera. Sacerdotes e monges passaram por ali sem tirar qualquer reação. Seu jovem funcionário talvez fosse tão poderoso quanto dizia ser, já que fez o fantasma reagir a sua presença!

— Caralho!!

Foi tudo o que Kiba disse antes que a energia ficasse tão poderosa a ponto de cegá-lo. Durou um segundo para que tudo escurecesse e o silêncio se tornasse absoluto.