Penumbra escrita por Dafne Guedes


Capítulo 4
Os Rebeldes


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, sei que não tenho postado há um bom tempo. Estar postando agora, infelizmente, também não significa que vou voltar ao ritmo normal. Na verdade, estou trabalhando em outros projetos, e o capítulo de hoje foi um surto que eu tive.



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                O próximo decreto educacional, pregado à parede pelo satisfeito zelados do castelo, o Sr. Argus Filch, instaurava um toque de recolher logo após o jantar, quando todos os alunos deveriam ir aos seus respectivos salões comunais, e não sair até a manhã seguinte, para a próxima rodada de aulas, sob punição severa (o que queria dizer que os Carrow os usaria para praticar a Maldição Cruciatus com os mais velhos).

                Porém, como previsto por Theodore, em nada os decretos afetavam a Casa de Sonserina. Os sonserinos continuavam andando em grupos de mais de quatro pessoas, perambulando no castelo até mais tarde, ouvindo música nas horas de estudo. Suas bolsas nunca eram reviradas em busca de livros de literatura trouxa ou mestiça, ou livros proibidos no geral. Dafne, por exemplo, andava pelo castelo carregando uma escandalosa edição de 50 Tons de Magia que certamente estava entre os proibidos, mas ainda não tivera a atenção chamada por conta disso.

                A surpresa de Olívia foi em perceber que fora inclusa sem cerimônias na lista de “pessoas permitidas a quebrar as regras” pelos Carrow e até pelo diretor Snape. Ela estava, após o horário, voltando ao dormitório depois de uma reunião da Sociedade da Esmeralda, quando Amico Carrow, professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, a encontrou em seu caminho.

                Na ocasião, a espinha de Olívia ficara gelada com a possibilidade de ser punida, mas, bastou uma olhada mais atenta para ela, que o professor decidiu que não se importava com a transgressão.

—Srta. Weasley. –O sr. Carrow a cumprimentou, a lançado um sorriso de dentes muito amarelos. –Pensei que fosse outra pessoa.

                Olívia sabia muito bem quem ele pensara ter encontrado –teria ficado satisfeito em poder dar uma detenção terrível à Gina, ela tinha certeza.

—Sou apenas eu, professor. –Respondeu Olívia, ainda tensa.

                Sem a lançar sequer uma nota de aviso, o professor passou por ela em direção a seja lá onde estivesse indo. Olívia por outro lado, teve que se sentar no chão, as costas apoiadas na parede, até que suas pernas parassem de tremer.

                Mais tarde, quando comentou isso com os amigos, todos sentado à beira do lago recebendo o sol do outono antes que tudo se acabasse em neve, ninguém pareceu particularmente surpreso com a sua história, embora ela mesma estivesse se sentindo assim.

—É. –Mina concordou. –Não reclamaram conosco, também, quando estávamos sozinhos na biblioteca.

                A garota apontou para si mesma, então para Theodore Nott, que concordou com a cabeça. Havia agora um decreto que proibida garotos e garotas de ficarem juntos se sozinhos. Como se para provar um ponto, Mina colocou a cabeça no ombro de Theodore, que passou o braço pelos seus ombros estreitos. Olívia desviou o olhar, e este recaiu sobre a figura de Draco, um pouco afastada do grupo, os olhos perdidos no Lago Negro, as mãos arrancando tufos de grama.

                A ruiva se destacou do grupo na direção do sonserino isolado, sentando-se ao lado dele, a uma distância que, esperava, não estava invadindo o seu espaço pessoal.

                Draco a olhou pelo canto do olho e abriu um sorrisinho.

—Não pode ver um pobre homem sozinho lamentando por si mesmo? –Perguntou ele, a provocando.

                Olívia não pode evitar dar um sorriso ela mesma.

—Eu dificilmente usaria a palavra “homem”. –Pontuou. Então balançou a cabeça com pena. –Essa grama que você está maltratando é beladona sangria. A pele da sua mão vai queimar em poucos minutos.

                Draco soltou uma exclamação alta, rolando na grama para longe dos tufos que ele arrancara. A própria Olívia o deu espaço para que ele se deslocasse ao redor dela, sentando-se do outro lado, ainda em sua companhia.

                O garoto olhou as palmas das mãos, ainda pálidas, mas cujas veias já começavam a se avermelhar, indicando uma irritação por vir. O rosto dele era triste agora.

—Você não saberia como curar isso, saberia? –Ele perguntou.

                Olívia deu de ombros.

—Eu iria para a Enfermaria se fosse você. –Sugeriu.

                Levantando-se, Draco bateu as mãos na calça para tirar pedaços de grama, então fez uma careta para a sensação de contato da pele machucada com o tecido grosso da calça do uniforme. Os olhos dele, então, encontraram com os dela.  

—Me acompanha? –Perguntou a ela. –Eu ajudaria você a se levantar, mas não quero contaminá-la também.

                Ela se pôs de pé em um movimento gracioso.

—Não poderia machucar as mãos. –Concordou. –Uso elas para cozinhar e costurar.

                O olhar que Draco lançou às suas roupas era de silencioso julgamento. Olívia estava usando um vestido de várias camadas que ela havia transfigurado a partir de um buquê de rosas-chá colhidas em Hogwarts, então atacara o tecido macio com linha e agulha, adicionado bordados de rosedais.

—Estou vendo. –Disse ele. –Achei que estava competindo com a Di-Lua pela roupa mais estranha do mundo dos loucos.

                Ele estava sendo injusto, Olívia sabia. Dissesse o que fosse, a roupa era belíssima.

—Da próxima vez vou deixar você descobrir a beladona sozinho. –Ameaçou.

                Draco riu, e se virou para o grupo de sonserinos, que fingia não notar que eles estavam saindo, esperando as suas explicações.

—Estamos indo na enfermaria. –Anunciou. –Alguém precisa de.... –Draco suspirou, notando que não era o tipo de lugar da qual as pessoas pediam algo, e riu para si mesmo. –Alguma coisa?

—Acho que vamos sobreviver com nossas dores. –Foi Dafne quem respondeu, os dedos no cabelo curto de Blaise, fazendo um tipo de cafuné. –O que você tem?

                Draco mostrou as mãos.

—Beladona. –Identificou Astória, que geralmente ficava muda ao lado do sonserino louro. –Madame Pomfrey vai dar um jeito bem rápido. Caldo de dilátex, soro de malagarra e rastro de cinzal. Vai ficar bom em dez minutos.

                Mina lançou um olhar gatuno de um para o outro.

—Talvez você mesma pudesse dar um jeito, Astória. –Sugeriu a bruxa. Os cabelos dela eram voluptuosos, tão cheios de curvas quanto o corpo, e ela tinha um sorriso malicioso. –Aposto que a professora Bloxam não se importaria em emprestar os ingredientes.

                Astória tinha um olhar ansioso, e suas mãos estavam apoiadas no chão de forma que, se Draco confirmasse, ela poderia rapidamente se içar para cima e acompanha-lo. Ao invés disso, o garoto fez um gesto de mão.

—Não precisa, Ast. –A dispensou. –As masmorras são mais longe, de qualquer maneira, e está começando a pinicar.

                Draco colocou uma mão nas costas de Olívia ao se virar, para garantir que ela estaria indo com ele. A grifinória se virou para olhar o grupo. Quase todos tinham voltado às suas atividades, menos Astória, que encarava a nuca do sonserino. Olívia tentou a dizer com os olhos que preferia que ele ficasse com ela, mas Astória apenas assentiu. A ruiva achava que a outra garota sabia muito bem que Draco não tinha olhos para nenhuma delas.

                Para surpresa de Olívia, o outro par de olhos grudados neles enquanto se afastavam era o de Theodore Nott. As pálpebras a meio mastro, ele encarava o casal de colegas a se afastar. Olívia não ficou para encará-lo de volta.

                Madame Pomfrey disse que Draco precisava ficar na ala hospitalar com as mãos embebidas na mistura prevista por Astória até que parasse de arder; então eles ainda teriam que esperar mais cinco minutos para que as manchas vermelhas fossem embora. Olívia, que não podia passar muito tempo em silêncio sem começar a ficar incomodada, sentou-se na cadeira ao lado da dele, longe dos leitos onde estavam alguns alunos machucados pela última aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.

                Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, porém, foi ele quem começou:

—Vai me reprimir pelo modo como rejeito Astória? –O tom dele era seco. –Guilhermina faz isso o tempo inteiro.

                Olívia considerou.

—Não. –Respondeu. –Não tinha percebido que você sabia dos sentimentos que ela tem por você.

                Draco revirou os olhos, como se não estivesse levando os sentimentos de Astória muito a sério. Olívia entendeu o ponto dele; se tinha sentimentos tão profundos quanto parecia ter por Grace, era normal que não levasse outras pessoas muito a sério em suas paixões.

—Todo mundo sabe. –Draco a disse à guisa de aviso. –É por isso que ela fala tão pouco comigo; está tentando convencer a todos que não se importa.

                Agora Olívia achava que Draco estava sendo insensível.

—Ela nunca tentou negar. –O tom de Olívia era de reprimenda. –Talvez ela esteja cansada de ser rejeitada.

—Ah. –Draco revirou os olhos. –Achei que chegaríamos até aqui eventualmente.

—Não estou reprimindo seu comportamento para com ela. Acho apenas que ela sente mais complexamente do que você dá crédito. –Olívia deu uma pausa. –Você já a deu motivos para ter esperança?

                Afinal, Astória era mesmo uma garota bonita, e esse parecia ser o tipo de Draco. Grace tinha isso; uma beleza. Não como Astória, que era toda glamour e aristocracia. Grace era suave; uma suavidade que ela não notara em nenhuma sonserina. Vai ver isso havia atraído o garoto.

—Costumávamos ficar juntos. –Draco parou para pensar. –Eu era quinto, ela quarto ano. Dafne não aprovava; ela gosta de manter as coisas separadas. Irmã, amigo. Preferia que eu namorasse uma estranha. Como Grace. Dafne gostava dela.

—Grace é nascida-trouxa. –Olívia o lembrou.

                Draco fez como se engolisse algo amargo.

—É. –Concordou. –A família de Dafne não é tão tradicional assim. Ou a de Blaise. A mãe de Blaise já foi casada com um trouxa.

                Surpresa se expressou em seu rosto.

—Mesmo? –Draco assentiu com a cabeça. –O que ele achou?

—Nada demais. –Ele deu de ombros. –O homem era rico, como os cinco maridos anteriores. Morreu poucos meses depois do casamento, também como os antecessores.

                Cruzando os braços, Olívia fez cara feia.

—Está fazendo fofoca. –Acusou.

                Draco levantou as sobrancelhas e as mãos, se isentando.

—Não! Pode perguntar a ele.

—Eu não perguntaria.

—Não acho que há alguma coisa que você não perguntaria. –O tom dele era de acusação. –Você é muito curiosa.

                Ela estava pronta para se defender daquela acusação infundada, quando parou, pensando melhor. Então suspirou.

—Está mudando de assunto. –Revirou os olhos. –Não há mesmo chance para Astória, então?

                Ela sabia a resposta mesmo quando fizera a pergunta.

—Não. –Draco olhou para longe dela, e Olívia achou que ele podia ver mais do que apenas as paredes brancas da ala hospitalar. –Eu não vejo as outras garotas. Astória, Mina. Elas poderiam ser uma só, e não ser ninguém. Exceto, é claro, que são minhas amigas. Consigo as ver assim. –Ele deu um olhar a ela, sob os cílios prateados. –Você se faz de inocente, mas Theodore deixou de sumir com Mina para corredores escuros desde que você apareceu.

                Olívia não sabia qual parte era mais chocante; a de que Theodore e Mina saiam ou de que ela poderia estar intervindo nisso. De qualquer forma, ele não a tinha dado a menor atenção desde o dia nas masmorras; e mesmo aquilo fora rápido como o bater de asas de uma borboleta. Ainda assim ela poderia sentir suas bochechas corarem sob o olhar satisfeito de Draco.

                A grifinória estava prestes a informar que Draco era um covarde; sempre mudando de assunto, mas então Madame Pomfrey apareceu, mandou que Draco colocasse o líquido de lado, então os dispensou da ala hospitalar, e o assunto morreu ali mesmo.

 

                Halloween em Ilvermorny havia significado colheita de abóboras e maçãs na vila de Salem. Em Hogwarts, Gina a avisou, eles faziam um grande banquete e era tudo. Em outros tempos, os alunos mais desenrolados, como Fred e George, ou alguém que ela nomeou como Rogério Davies, teriam dado uma festa, mas esses tempos haviam passado, especialmente agora com os Carrow ditando os castigos, ao invés de Dumbledore e Mcgonagall.

                Era o dia do Halloween quando as primas desceram as escadarias infinitas da torre da Grifinória em direção ao Grande Salão. Naquele dia, em exceção, o toque de recolher seria estendido para mais tarde por causa do banquete, no qual os alunos poderiam se demorar mais do que o normal.

                Quando as grifinórias estavam na entrada do grande salão, os alunos passando ao seu redor conversando animadamente sobre as comidas do halloween –que fizeram Olívia ter arrepios; nada como as tartletes e strudels de Ilvermorny –se surpreenderam ao encontrar as amigas, Luna e Mina, descendo da torre da Corvinal.

                Guilhermina e Ginevra tinham muito em comum –talvez por isso não gostassem uma da outra. As duas meninas se ignoraram solenemente enquanto trocavam de dupla; Gina entrou no salão comunal com Luna, e Olívia ficou para acompanhar Mina aos jardins, onde supostamente o resto de seus amigos estavam esperando.

                Ao invés de descerem diretamente na direção dos jardins, porém, na altura do hall de entrada, Mina segurou seu braço e a puxou para um canto.

                Olívia pensou em resistir, achando a situação toda muito estranha. As duas garotas estavam por de trás de uma armadura completa, cujo metal era dolorosamente frio àquela época do ano. Porém, quando olhou no rosto de Mina, ela levou um dedo aos lábios, e fez um gesto de cabeça para que Olívia prestasse atenção.

                A grifinória concentrou os ouvidos, então finalmente pôde ouvir aa vozes dos gêmeos Carrow, vindas do corredor das masmorras, e se aproximando lentamente.

—Montamos guarda na frente dos salões comunais deles, no corredor do sétimo andar, essas coisas continuam acontecendo! –Aleto dizia num sussurro furioso. Olívia se apertou um pouco mais contra Mina. –O que vamos fazer agora? Colocar rastreadores nos pentelhos?

—Eles devem ter aliados fora. –A voz de Amico era mais amena. –Os professores talvez estejam ajudando...

—Ou alguém da Sonserina. –Aleto interrompeu. –Já disse a você. Eles não podem ser todos santos. Nós não éramos. 

—Você vai querer irritar outro comensal torturando os filhos deles? –Amico perguntou, parecendo perder a paciência. –Por que não começamos com o sobrinho de Bellatrix, para termos certeza da morte?

                As vozes deles estavam quase na altura delas agora. Poderia ser apenas impressão, mas Olívia achou que a armadura parecia mais larga, escondendo o corpo das duas meninas entre o ferro e a parede, como se a própria escola as quisesse seguras.

—Não o garoto Malfoy; ele tem a Marca Negra também. –Aleto estalou a língua no céu da boca. –O irmão mais velho de Bulstrode é um traidor, um foragido. As meninas Greengrass também não são filhas de comensais. Ou Zabini.

—Zabini é filho de Isabelle Shafic. –Apontou o gêmeo masculino. –Ela nos envenenaria e morreríamos sem sequer nos darmos conta. Tudo bem. Vamos dar uma olhada nos sonserinos. Manter os olhos abertos.

                Com essas palavras, a dupla se calou, passando pelas duas meninas sem notar que elas estavam ali. Olívia estava assustada; não sabia que estavam sendo vigiados tão de perto. Tinha de avisar à sua prima, e logo, para que ela tomasse cuidado com o que quer que estivesse fazendo. Quando se virou para olhar Mina, a outra garota tinha um olhar de determinação no rosto, os olhos vidrados e pensativos, as sobrancelhas inclinadas.

                Ela piscou para Olívia.

—Bem, sabíamos que isso eventualmente aconteceria. –Concluiu. –Vamos ver o que houve.

                Olívia queria dizer que não havia nada, mas seguiu Mina para dentro do corredor de onde tinham vindo os Carrow de qualquer forma, sempre olhando por cima dos ombros, com medo de que eles voltassem a as encontrassem espiando.

                Elas não precisaram ir longe. No corredor principal de acesso às masmorras, pintado em tinta verde-esmeralda, estava escrito:

“Abaixo o Partido das Trevas! Viva à Resistência! ”

                Ao seu lado, o sorriso de Mina era como deveria ter sido o de Lúcifer, um segundo antes de cair do Paraíso.


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