Teatro Municipal, Center National City.

Dias atuais.

(Trilha Sonora: Swan Lake - Tchaikovski )

Ouve-se uma calma e suave melodia orquestrada no espaço quase escuro do Teatro de CN City. Era a obra musical de Piotr Ilitch Tchaikovski, Lago dos Cisnes que se iniciava pacífica e pequena, porém, pouco a pouco se engrandecia nos tons e ritmos. Totalmente atentos ao palco, o público assistia a cerca de um pouco mais de uma dúzia de bailarinas, todas moças jovens, belas e graciosas, realizando movimentos delicados e precisos com as pernas e as pontas dos pés. Cada uma usava uma vestimenta branca com tutus que rodavam e balançavam junto a seus movimentos. 

Dentre as bailarinas que se apresentavam, três delas eram o foco das atenções da família Tartakovsky que assistia a esse espetáculo: Lee Lee, Mee Mee e claro, Dee Dee. As três melhores amigas eram igualmente talentosas em suas profissões que tomaram como sonho de vida. Esta era sua primeira grande apresentação e estavam muito empolgadas. Não tão empolgados, quantos suas famílias que assistiam hipnotizadas pelo seu talento perfeito. O pai de Dee Dee, Sr. Tartakovsky, um homem loiro que usava óculos e vestia-se com roupas chiques para a ocasião, assistia orgulhoso ao ver sua filha realizar seu sonho. Já sentada bem ao seu lado no, estava a sua esposa, uma mulher ruiva com cabelos curtos e que usava um chique vestido preto. Ela assistia ao espetáculo não conseguindo parar de chorar de felicidade pela sua primogênita estar tão crescida e realizada. Por fim, na cadeira ao lado da mãe de Dee Dee, estava seu irmão, o próprio jovem gênio, Dexter, que usava um terno com colete social e uma gravata borboleta. Ele também estava muito animado por sua irmã, no entanto, não tanto quanto seus pais. 

— Dex, você está gravando isso? — Perguntou sua mãe cutucando seus ombros sem sequer tirar os olhos do palco. 

— Não podemos gravar os espetáculos, mãe. — Lembrou Dexter — Se usarmos os celulares e alguém nos ver, vai ter problema. 

Sra. Tartakovsky apenas sorriu para o seu filho levantando as sobrancelhas. — Eu sei que você tem sempre uma bugiganga científica secreta com você. 

O jovem gênio apenas sorriu para sua mãe e cutucou seus óculos que apesar de parecerem comuns, eram tecnológicos, e capazes de gravar imagens em alta definição sem ninguém perceber e desconfiar.

— Esse é meu garoto gênio. — Disse sua mãe. 

Após mais de uma hora de duração, o espetáculo se encerrou com todos os bailarinos se curvando diante da plateia que aplaudia de pé pela excelente performance do elenco de dançarinos. Com o fim da apresentação, o público foi pouco a pouco indo embora, restando apenas a família de Dee Dee que aguardavam empolgados a saída da moça de seu camarim. Quando ela saiu, ela e sua mãe correram e se abraçaram e duas choravam que nem crianças.

— Filha, você tava tão incrível! Estava tão linda e perfeita…

— Obrigada, mãezinha querida. — Agradeceu Dee Dee. 

Em seguida, a Dee Dee correu para abraçar seu pai. Veio com tanta força que quase esmagou o peito do velho. 

— Calma filha! Você já não é mais tão pequena para me abraçar assim. 

— Eu te amo. — Ela disse. 

— Eu também. Estamos orgulhosos de você. 

Após abraçar seu pai, a garota animada correu para abraçar seu maninho Dexter, que quase sentiu seu corpo magro sendo esmagado de tamanho era o amor da menina. 

— Eu achava que você não viria, irmãozinho. — Ela confessou.

— Por que achou isso? — Perguntou Dexter enquanto ela acariciava a sua nuca.

— Porque achava que você odiava esse meu lance de balé. — Ela respondeu. 

— Eu só não gosto quando você quebra as coisas do meu laboratório. Fora isso, não tem lógica em odiar o que você gosta de fazer. Além disso, minha opinião é irrelevante. O que é relevante é se isso se satisfaz ou não. Eu vim porque eu fico muito satisfeito em ver você estar satisfeita. 

— Sempre sincero e esquisito nas respostas. Por isso que eu te amo.

— Eu também. 

— Vamos comer uma pizza? — Convidou Dee Dee. 

— Vamos. Eu conheço uma ótima nessa cidade. — Alegou o Sr. Tartakovsky.

Então, os quatro saíram alegremente do teatro passando pelo estacionamento aberto do lugar aonde foram até seus carros. Contudo, antes do garoto gênio entrar em seu carro, um alarme dispara em seu relógio especial o alertando de alguma coisa. Ouve-se então misteriosos barulhos que pareciam ser propulsores a jatos. Alguma coisa, estava vindo, alguma coisa perigosa. 

(Trilha Sonora: Mayhem In Monaco - John Debney )

Foi naquele instante que apareceu de supetão uma misteriosa figura que desceu do céu e posou de joelhos bem diante da família Tartakovsky. A figura se levantou calmamente e os quatro puderam ver mais detalhadamente quem era. Era um sujeito que usava uma estranha armadura com a cor dourada em sua maior parte e alguns detalhes específicos em preto. Tinha um peitoral chamativo em forma de coração que brilhava um branco levemente opaco. Usava um elmo também dourado com um tipo de coroa de realeza com uma joia no topo da cabeça, ele tinha um visor azul que cobria quase todo o rosto com exceção do que ficava abaixo do nariz escondendo assim os olhos, mas, mantendo os lábios a vistas. Olhando para os lábios e notando a sutis curvas da armadura, Dexter logo deduziu que se tratava de uma mulher. 

— Dexter Tartakovsky. — Disse a mulher com voz disfarçada eletronicamente. — O garoto mais inteligente do mundo. Por toda a minha vida eu escutei o quão insuperável e inalcançável você é. Vai ser um imenso prazer testar meu novo brinquedinho com você. 

— Quem é você? — Perguntou o garoto nerd confuso com a misteriosa mulher. 

A mulher não respondeu, apenas levantou o braço apontando o punho para o garoto ruivo e um compartimento na parte do antebraço da armadura se abriu onde emergiu um pequeno canhão de energia que rapidamente disparou um raio em direção a ele. Com os olhos arregalados, Dexter rapidamente pressiona um botão nas laterais do seu relógio e um grande escudo redondo de energia azul com estrela no centro surge em seu braço esquerdo. O escudo o protegeu do tiro, mas o impacto foi tão forte que Dexter foi jogado contra a parede. 

— Dexter! — Gritaram a mãe e o pai do rapaz que correram para ver se o garoto estava bem. 

O menino levantou-se e esticou as mãos, indicando aos seus pais para que eles não se aproximassem. Ofegante, Dexter olhou para Dee Dee e sinalizou com a cabeça e ela sinalizou de volta, sabendo o que tinham de fazer. Segurando pelos cotovelos, Dee Dee puxou o casal de meia-idade, afastando-os do perigo à força. Enquanto isso, Dexter ativou a função comunicador de seu relógio e ordenou para Computress:

— Computress, ativar contramedidas de emergência. Mande também a DXTF-1, o mais rápido possível. Protocolo de segurança: HERÓI.

“Entendido” respondeu a voz computadorizada.

Um dos carros do estacionamento ligou sozinho e abriu o porta-malas e deles saiu uma dúzia de drones que voaram imediatamente até a misteriosa mulher e começaram a disparar coisas mirando nela. Os menores disparavam raios de choque e os maiores disparavam ondas sônicas atordoantes. A mulher fez um gesto cruzando os braços e uma barreira de energia de formou ao redor dela protegendo-a dos ataques. Percebendo que os disparos não seriam o suficiente, Dexter ativou o sinalizador do seu relógio e ordenou: 

—  Unir no Angel Guard

Então, os doze drones começaram a se juntar, com um encaixando no outro. Seis deles formaram um par de pernas, dois deles um torço e um peitoral e 4 deles dois braços e dois antebraços. No final, todas se encaixam e formam um robô. Seu nome era DXR-019, apelidado de “Angel Guard”. Criado por Dexter para situações de emergência como esta. Ele fica escondido em seu carro e é capaz de segmentar seu corpo em diversos drones independentes que, por sua vez, podem recombinar-se em sua forma original. Agora na forma andróide, ele começa a socar a investir em socos contra a misteriosa mulher com aquele traje espacial e todos começam a trocar socos um no outro. 

Dexter aproveitou o momento que estava ganhando graças ao Angel Guard para correr o mais rápido que conseguia. Ele correu por trás dos carros estacionados esperando que a mulher no traje preto e dourado não notasse sua discreta saída. No entanto, mesmo na briga com o Angel Guard, ela notou a fuga de Dexter e se deixou dominar pela raiva que tinha dentro de si. Ela agarrou o robô pelos braços e os arrancou em um puxão com força. Depois, um compartimento no antebraço do traje se abriu, revelando novamente o pequeno canhão que dispara uma bola de plasma que faz o robô explodir em pedaços. Rapidamente, a mulher aponta o mesmo canhão mirando na cabeça de Dexter enquanto o mesmo corria desesperado. No entanto, no exato momento que o disparo iria ser dado, um carro verde chegou e atropelou a mulher contra a lataria de outro carro. O disparo errado de plasma quase atingiu Dexter, explodindo o muro atrás dele. No entanto, a explosão gerou uma onda de choque que o arremessou no chão. 

“30 segundos até a chegada do DXTF-1, Senhor” Disse a voz vinda de seu relógio. 

— Bom saber, Computress. — Resmungou o garoto ao se levantar do chão sentindo dores em seu peito. 

Dee Dee e os pais de Dexter saíram do veículo que atropelou a misteriosa mulher e correram até o garoto verificar se ele estava bem.

— Dexter! — Gritaram seus pais.

— Achei que vocês tinham fugido. — Suspirou ofegante o rapaz para sua família. 

— Não iremos deixar vocês para trás. — Respondeu Dee Dee e os quatro trocaram sorrisos entre si. 

De repente, algo veio do céu voando como um foguete. Era um dispositivo em forma de um exoesqueleto de um pouco mais de três metros de altura que aterrissou bem em frente a família Tartakovsky e assumiu uma posição aguardando a presença de seu operador. 

— Essa é a minha deixa. Agora, vocês correm para longe de verdade. — Ordenou o garoto gênio. 

— E se você se machucar? — Perguntou a Sra. Tartakovsky preocupada.

— Vai ficar tudo bem, eu prometo. Agora eu e ela estamos iguais. — Disse o garoto sorrindo e o resto sorriu de volta, sem seguida voltaram a correr. 

(Trilha Sonora: Mayhem In Monaco - John Debney )

No mesmo instante, a mulher se levantou erguendo o veículo que a atropelou para o alto e depois arremessou para longe como se pesasse o mesmo que uma caixa vazia e em seguida, encarou o jovem gênio com expressão furiosa. Rapidamente, Dexter se conectou com seu traje exoesqueleto especial DXTF-1, também chamado de Dexo-Transformer. As longas e grandes mãos e pernas do traje metálico, pintados de branco do traje, vestiram suas mãos e pernas como se fossem luvas e botas, só que de aço e uma placa metálica surgiu para proteger seu peito. Logo, o garoto se levantou e exibiu seus mais de três metros de altura para a adversária. 

Os dois se encaram dramaticamente observando atentamente os movimentos do rival. A mulher com o traje cerrou os punhos e partiu para uma investida. O menino gênio fez o mesmo gesto e os dois foram em rota de colisão um com outro com os punhos erguidos. Por fim, seus socos se chocam um com outro, criando um grande barulho. Porém, o exoesqueleto especial de Dexter era mais forte. Era forte o suficiente para neutralizar o soco da mulher e jogá-la para trás, deixando-a desorientada pelo golpe. Dexter não perdeu tempo, aproveitou a brecha momentânea e realizou um soco certeiro com seus punhos de metal brancos e grossos no rosto da adversária. Depois, agarrou a misteriosa mulher pela cintura e a jogou contra o muro. Finalizando, o garoto ruivo dispara por um compartimento da sua mão direita, três projéteis em forma de disco que grudam no chão ao redor da adversária. Em seguida, assim que ativados, eles criaram uma corrente elétrica que atordoa a mulher e a mantém no chão. 

— Quem é você? Por que está fazendo isso? — Perguntou o jovem gênio. 

A misteriosa mulher lhe deu um sorriso malicioso. — Eu sempre desprezei a sua arrogância, Tartakovsky. Nunca nos conhecemos por trás dessa minha máscara, mas eu sempre odiei você. Mas, não se preocupe, isso não é uma vingança, não ainda. É apenas um… como posso dizer… um Text Drive? Acho que é o termo mais correto. Você não é meu alvo principal, mas eu queria brincar com você e jogar na sua cara que Mandark não é o seu maior erro que volta contra você. 

De repente, a placa branca em forma de coração presente no peito da mulher começa a brilhar fortemente e toda energia dos discos atordoantes especiais de Dexter passou a ser drenada e transferida para a armadura da mulher. Ao ver isso, Dexter achou todo esse processo terrivelmente familiar e ficou horrorizado. Após absorver toda aquela energia, ela libera pelo seu peito um poderoso feixe de energia em direção a Dexter. Ele bloqueia com um escudo de energia, mas é jogado para trás e cai de costas no chão. A misteriosa mulher se levanta gargalhando loucamente e olha para o garoto gênio no chão com desprezo. 

— Foi um teste melhor do que eu pensei. — Disse a mulher em tom de superioridade. — Pode ter tido a vantagem hoje, Dex, mas quando nos encontrarmos, eu estarei muito, mas muito mais poderosa. 

Após o discurso final da figura misteriosa, duas asas incrementadas com foguetes surgem nas costas da armadura e ela decola como um foguete para os céus em alta velocidade, desaparecendo no breu da noite. 

O menino gênio saiu de dentro do exoesqueleto e caiu de joelhos no chão. Começou sentir algo no peito bem forte e sua respiração começou a acelerar. Estava tendo um ataque de pânico e ansiedade. 

— NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO ÑÃO…PODE SER. — Repetia o garoto em desespero. 

“Chefe… Dexter… você está bem?” Perguntou a sua IA pessoal. 

— Você viu não viu? — Perguntou ele para Computress. 

“Eu analisei a armadura e de fato que apesar das mudanças estéticas e do armamento, a tecnologia base e os materiais batem total com a…”

— Puffbuster. — Completou ele. E a confirmação só o deixou ainda mais perturbado. 

Dexter se contorceu no chão e começou a gritar enquanto hiperventilava. Em pânico, colocou a mão sobre a cabeça a gritar o mais alto que podia. Dee Dee apareceu de volta no estacionamento, acompanhada de 20 policiais armados e viu aquela cena perturbadora de seu irmãozinho apavorado gritando e se remexendo e soube exatamente o que estava acontecendo. Desde os cinco anos, Dexter tem ataques de pânico e taquicardias quando fica muito nervoso. Preocupada, Dee Dee correu até o mais rápido que conseguia e o abraçou pelas costas. 

— Tá acontecendo de novo. A culpa é toda minha. — Repetia ele.

— Tá tudo bem, Dex. — Ela sussurrou no ouvido dele com gentileza, tentando acalmá-lo. — Eu estou aqui. Vai ficar tudo bem, irmãozinho. 

Estava funcionando. O jovem ruivo desacelerou a respiração, sumindo com a dor no peito e começou a sentir seus batimentos diminuírem, voltando a pensar e raciocinar como sempre. Já mais calmo, ele saiu do abraço de sua irmã, levantando-se com determinação e olhar sério. Ele olhou para o céu estrelado entre os prédios de CN City e já soube exatamente o que tinha de fazer.

— Precisamos ir até Townsville. Agora!